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SÍNTESE REFERENTE ÀS PRODUÇÕES ACADÊMICAS Nesse levantamento dividimos os trabalhos em dois grupos de

DOCUMENTOS DO ESTADO DE SANTA CATARINA

1.5 SÍNTESE REFERENTE ÀS PRODUÇÕES ACADÊMICAS Nesse levantamento dividimos os trabalhos em dois grupos de

produções. No primeiro, agrupamos as produções nas quais percebemos que os autores se apropriaram do discurso oficial e procuraram soluções para os problemas de aplicabilidade das políticas, sejam elas referentes à educação especial ou à inclusão escolar, mas não realizaram uma análise no sentido amplo, procurando entender a totalidade. No segundo grupo estão as obras dos autores que procuraram, em suas análises, entender o processo histórico e a constituição da sociedade, considerando as disputas entre grupos e classes e, nesse processo, analisaram as questões específicas da educação e da educação especial.

Destacamos, contudo, que esse agrupamento não pretende rotular autores e produções, mas contribuir para a análise das produções na

área, de maneira a considerar elementos que julgamos importantes, tais como a consideração da história, a construção de elementos da educação em geral, do papel atribuído aos professores e a própria apreensão em relação à política educacional para a área.

Nos trabalhos tomados como expressão daqueles que se apropriaram do discurso oficial presente nas políticas públicas de educação especial como encaminhamentos possíveis para a área, os autores buscaram soluções para os problemas da educação, seja ela pensada como educação especial ou política de inclusão. Percebemos que esses autores procuraram, em seus escritos, apontar alternativas ou as possíveis falhas dos processos de inclusão, principalmente na busca de culpados. A culpabilização da não formação de professores é apresentada, por exemplo, nas pesquisas de Vizim (2009) e Fontes (2007). Brizolla (2007, 2009) e Matos (2007) percebem o Estado como principal articulador e responsável pela educação inclusiva, enquanto Dutra e Griboski (2005) consideram que o surgimento de uma sociedade democrática é possível por meio dos programas de educação inclusiva. Bylaardt (2007) e Prieto e Souza (2006) entendem o Estado como principal causador dos problemas, principalmente pela falta de investimento e pela deficiência na formação dos professores que trabalham com alunos deficientes. A ação estatal passa a ser a única responsabilizada, ausentando-se de suas discussões as relações capitalistas e suas ações. Algumas pesquisas analisaram a aplicação das políticas públicas de educação especial sem atentarem para seus determinantes ou suas implicações estruturais, como as de Buccio (2007) e Goes (2009).

Outra característica identificada nesse grupo é a relação entre o que está previsto na legislação oficial e o que está se realizando na educação especial. Nesse caso, algumas pesquisas apontaram como problemática não a proposição política, mas a sua falha na execução diante das recomendações oficiais, conforme observamos nas produções de Lopes (2008), Ogura (2002), Mori e Brandão (2009).

Entendemos que as produções que assumiram uma postura no sentido de problematizar a aplicação das políticas sem realizar uma análise na constituição dela contribuíram para a construção do discurso hegemônico e, ao mesmo tempo, consolidaram a perspectiva de que o importante é apontar caminhos e possíveis soluções de problemas focalizados. Por irem ao encontro da maioria dos documentos oficiais que, por sua essência capitalista, não têm pretensão de mudar a estrutura, provavelmente ganharam legitimidade e espaço, principalmente junto aos órgãos oficiais.

No segundo grupo de trabalhos, percebemos maior preocupação em entender o processo histórico presente na sociedade e que envolve uma série de disputas entre grupos e classes dentro da educação e da educação especial. A categorização desses autores passou pelo entendimento de que, longe de formarem um bloco homogêneo, colocaram posições fundamentadas e que, em determinados pontos, até divergiram, como Bruno (2010), que apresentou uma discussão sobre as perspectivas da legislação e suas contradições, mas ao mesmo tempo defendeu a organização de uma nova legislação que permita a entrada de todos na educação, com os serviços de apoio e o atendimento educacional especializado. Ao mesmo tempo, autores como Silva (2009), Garcia (2004, 2009), Lopes (2008), Pereira (2010) e Wilheln (2010) se utilizaram do materialismo histórico para fundamentar suas pesquisas — característica presente também nas produções de Garcia e Michels (2011), Meletti e Bueno (2010) e Silva (2010) — e realizaram análises no sentido de entender os diferentes elementos constituidores da política e também a própria política como resultado do movimento e das disputas entre grupos e classes.

Enfatizamos que essas produções apresentaram diferentes perspectivas teóricas, mas o que caracteriza e aproxima esse grupo são os questionamentos realizados sobre o mesmo objeto: a política pública de educação especial. Apesar de tais questionamentos não serem uniformes, os autores procuraram ir além da análise acerca de sua aplicação ou execução, propondo discussões sobre os objetivos e interesses daqueles responsáveis pela sua formulação, como Viegas (2010), Garcia (2006), Meletti e Bueno (2010), Pereira (2010), Laplane e Prieto (2010), Mendes (2010) e Kassar (2011).

As análises realizadas pelos autores do segundo grupo nos ajudaram a entender o processo de constituição das políticas públicas de educação especial e nos deram condições de realizar uma análise aprofundada nos documentos dos estados do Paraná e de Santa Catarina. 1.6 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO

Esta dissertação está organizada em introdução, três capítulos de discussão teórica e apresentação dos documentos, considerações finais e referências.

Na Introdução apresentamos a problemática, os objetivos, os procedimentos metodológicos e o balanço das produções acadêmicas referentes ao tema, com algumas considerações iniciais a respeito dos conceitos utilizados no decorrer da pesquisa.

No capítulo denominado ―A problemática da conceituação de exclusão/inclusão‖, procuramos, por meio da construção de uma base teórica, apoio para os dados empíricos conseguidos com os documentos e para que possamos entender a totalidade do discurso e das ações nas quais se inserem as disputas educacionais. Buscamos as discussões presentes no campo acadêmico e que têm sustentado o diálogo dentro da universidade, principalmente em torno das relações entre inclusão e exclusão.

No capítulo intitulado ―Identificação da educação especial no estado do Paraná‖ apresentamos as explicitações referentes às ações e estratégias da implementação de políticas para a educação especial e seus relativos serviços, caracterizando o estado do Paraná, explicitando a organização política e suas estruturas educacionais, bem como identificamos os caminhos de organização da política. Destacamos, entre os diversos aspectos que caracterizam o estado, a eficiência do Paraná em sustentar um discurso de proximidade com as instituições filantrópicas, exemplificadas pelas APAEs.

O capítulo ―Identificação da educação especial no estado de Santa Catarina‖ apresenta as análises das estratégias do estado relacionadas às suas características e organizações das políticas de educação especial e de seus serviços. Em Santa Catarina, enfatizamos a organização dos serviços de atendimento educacional especializados. Explicitamos quais os mecanismos utilizados pelo estado a fim de manter uma organização que aparentemente proporciona uma aproximação com as propostas nacionais, mas que mantém serviços como o SAEDE, inexistentes, nesse molde, na esfera nacional.

Nesses dois capítulos (três e quatro), realizamos a análise empírica, buscando os documentos que nos ajudaram a compreender a estruturação das políticas de educação especial dos dois estados, como objetivávamos, fato que permitiu a compreensão de quais elementos são constantes tanto na política do Paraná quanto na política de Santa Catarina e quais são próprios de cada estado.

Nas Considerações Finais apresentamos algumas conclusões a partir das análises das estratégias de implementação e formulação de políticas da educação especial nos estados do Paraná e de Santa Catarina no período de 2006 a 2011, com apontamentos dos elementos constantes e aqueles particulares de cada estado, bem como de suas relações com a política de educação especial da esfera nacional.

2 A PROBLEMÁTICA DA CONCEITUAÇÃO DE