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3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS INFORMANTES

3.1.1 S OBRE AS IDADES

A antropóloga brasileira Guita G. Debert (2004: 41) chama a atenção para a importância da explicitação dos grupos de idade nas pesquisas desenvolvidas nas sociedades ocidentais contemporâneas, enquanto dimensão fundamental na experiência dos atores e na organização social, sendo “elementos privilegiados para dar conta da plasticidade cultural e também das transformações históricas” (p. 40). A ocorrência de heterogeneidade das experiências no interior do grupo estudado torna imprescindível especificar os recortes que traduzem esses fenômenos diferentes no objeto investigado. Neste trabalho, percebi claramente essa perspectiva de Debert (2004), ao cotejar diferenças nas experiências dos homens que estão na mesma categoria de situação (Bertaux: 1997), que, neste caso, são viúvos. A perda das esposas ocorreu em momentos desiguais quanto às fases de desenvolvimento dos grupos domésticos atingidos, aparecendo especificidades se os viúvos eram mais novos ou mais velhos. Daí que trago estas ocorrências por grupos etários

No presente trabalho, resolvi adotar, para a classificação das idades dos viúvos, um padrão de distribuição especificamente montado para ele. Isto decorreu da inexistência, nos serviços oficiais1 consultados, de um consenso nas definições de grupos etários para a idade adulta. Senão, vejamos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na divulgação de seus indicadores sociais de 2006, identifica o idoso como aquele indivíduo com idade igual ou superior a 60 anos. Ainda seguindo o IBGE, na pesquisa Perfil dos

idosos responsáveis pelos domicílios no Brasil, realizada no ano 2000, é referido que a

Organização Mundial da Saúde (OMS) define a população idosa como aquela a partir dos 60 anos de idade, mas faz uma distinção quanto ao país de residência dos idosos: esse limite é válido para os países em desenvolvimento, subindo para 65 anos de idade quando se trata de países desenvolvidos (2008). Entretanto, o IBGE não é tão explícito em relação às outras idades, classificando-as em grupos etários variáveis, cuja composição distributiva varia na dependência do que suas tabelas querem informar.

Já os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS/LILACS: 2008) dão as seguintes informações para as faixas etárias adultas: 1) adulto: pessoa que atingiu crescimento total ou maturidade. Adultos vão dos 19 até 44 anos

1Considero, aqui, como serviços oficiais algumas instituições públicas, nacionais (IBGE) ou internacionais

(OMS, LILACS), reconhecidas por comunidades científicas ou leigas como instâncias competentes na definição e regulamentação de dados populacionais.

de idade; 2) Meia-Idade: dos 45-64; 3) Idoso: pessoa de 65 a 79 anos de idade. Para uma pessoa acima desta última idade, usa-se a denominação idoso de 80 anos ou mais.

Em dicionários de língua portuguesa (Aurélio, 1975: 40; Michaelis, 2000: 65; Barsa, 2004: 24), encontra-se como definição de adulto: indivíduo que atingiu o máximo do seu crescimento e a plenitude de suas funções biológicas e que também atingiu plena maturidade, isto é, adequada integração social e controle das funções intelectuais e emocionais, além de estar em pleno gozo de seus direitos civis. Contudo, os marcos etários da adultidade/adultícia classificada nas categorias adulto, adulto de meia-idade e velho variam, mas não se tem uma padronização uniforme. O que encontrei foi uma referência explícita à meia-idade, sendo esta definida como a correspondente a pessoas de 30 a 50 anos de idade (Aurélio, 1975: 912, Michaelis, 2000: 1346), não ficando aí indicado a que categoria pertence o grupo de 51 a 59 anos de idade. No dicionário Barsa da Língua Portuguesa (2004: 666), meia-idade compreende a idade entre 40 e 60 anos

Por causa dessas classificações variáveis e até indeterminadas, dividi o contingente total de viúvos em dois grupos: adultos de meia idade e adultos idosos; estas categorias são classificadas a partir do limite inferior de 30 anos e com distribuição das idades dentro de intervalos de 30 anos. Seguindo esse padrão, observei que, na época da entrevista, 50% do conjunto total de viúvos estava na categoria de adultos de meia-idade, e igual percentual na de adultos idosos, não tendo sido proposital estas escolhas, mas apenas coincidentes, como se vê no Quadro 3.1.1, abaixo.

Quadro 3.1.1 - Distribuição das idades dos informantes

Total Grupos

/Idades Nome e idade (anos) nº (%)

Éder (36) Plínio (41) Tácio (47) Renato (48) Roberto (53) 10 (50) Meia-idade

30 – 59 anos Anísio (59) Josué (57) Josias (54) Hélio (51) Valter (58)

Ivan (60) Artur (62) Petrônio (62) Adonias (65) Elísio (69) 10 (50) Idoso

60 e + anos Élcio (68) Adolfo (69) Rui (75) Jonas (78) Gerson (82)

Fonte: Entrevistas narrativas da pesquisa Homem não chora... 2007

Ao analisar as duas categorias, observo que alguns fatores são mais comuns em um grupo de idade do que no outro, entre esses viúvos. Por exemplo, os homens de meia-idade têm filhos pequenos ou adolescentes com quem moram e de cuja manutenção cuidam; os mais idosos ou moram sozinhos ou com algum filho adulto solteiro que é, em grande parte,

responsável por suas despesas pessoais. Todos os informantes mais novos trabalham e todos os mais velhos são aposentados, com exceção de Adonias que se aposentou pelo INSS, mas continua lecionando.

Ainda em relação aos idosos, o avançar da idade vem atrelado a algumas inconveniências. Embora tenha havido poucas queixas em relação ao estado de saúde física ou mental, os mais velhos sempre referem mais achaques ou indisposições que os viúvos mais novos. Entretanto, isto não chega a comprometer nem a memória nem o desempenho deles nas pequenas tarefas cotidianas de que se encarregam (como sair para comprar pão, olhar pelos ou brincar com netos, fazer pequenos passeios e viagens), sendo motivo de orgulho para todos. Alguns consideram que a boa saúde que têm ainda hoje é devida a toda uma vida pregressa sem exageros: não beber, não fumar, ter alimentação saudável, não ser farrista2.

Se se considerar o recasamento, antecipo que menos da metade do total dos viúvos entrou em novo matrimônio, após a viuvez, enquanto o restante desse contingente não o fez. O recasamento aconteceu mais para os viúvos mais novos, mas a idade aumentada não chega a ser um empecilho, até porque muitos desses idosos são “idosos novos”.

Entretanto, há um fator importante que aparece nos dois grupos, independentemente da idade. É em relação às redes de sociabilidade, onde quase todos os viúvos referem modificações nos grupos de amizades, sem vinculação com a idade e sim com a condição de viuvez. Torno a abordar, de forma mais aprofundada, as redes de sociabilidade e o recasamento nos Capítulos 5 e 6, respectivamente.

3.1.2

-S

OBRE AS MORADIAS

Todos os viúvos entrevistados residem em bairros ocupados, não apenas mas predominantemente, por camadas médias altas, com exceção de Janga, Candeias3, Cordeiro e Várzea, que correspondem, em geral, a residências de camadas médias baixas. Todos são proprietários do imóvel que habitam, sendo que a grande maioria mora em apartamento, e

2 O qualificativo “farrista”, enquanto categoria emic, se refere a alguém dado a farras, isto é, tem vida ou

procedimento dissoluto e desregramento moral, que se expressam, por exemplo, em passar noites fora de casa, bebendo, jogando, tendo aventuras extraconjugais, etc.

3 Convém esclarecer que o bairro de Candeias é ocupado por uma população altamente diversificada em

relação à classe social, sendo a região da orla marítima predominantemente de camadas média alta e rica, enquanto que o padrão econômico-social vai caindo quanto mais se afasta daí. O informante mora exatamente na área de camada média baixa, bastante afastada da zona praieira.

apenas cinco, em casas, correspondendo a três destes o nível sócio-econômico aparentemente menor. Os dados de moradia são vistos no Quadro 3.1.2, abaixo.

Quadro 3.1.2 - Distribuição por bairro e tipo de moradia

Nº Nome Bairro Moradia Nº Nome Bairro Moradia

01 Roberto Boa Viagem Apto 11 Jonas Várzea Casa

02 Anísio Boa Viagem Apto 12 Hélio Boa Viagem Apto

03 Josué Boa Viagem Apto 13 Élcio Candeias Apto

04 Renato Aflitos Apto 14 Adolfo Cordeiro Casa

05 Josias Graças Apto 15 Valter Espinheiro Apto

06 Elísio Boa Viagem Apto 16 Ivan Ilha do Leite Apto

07 Rui Boa Viagem Apto 17 Tácio Jaqueira Apto

08 Artur Encruzilhada Casa 18 Petrônio Derby Apto

09 Gerson Janga Casa 19 Éder Parnamirim Casa

10 Adonias Casa Forte Casa 20 Plínio Aflitos Apto

Fonte: Entrevistas narrativas da pesquisa Homem não chora... 2007

Quem casa, quer casa, diz o dito popular, representação cultural. Para esses homens também. Por isso, seus projetos de vida incluíam, quase sempre, elevar o grau de instrução e galgar postos empregatícios mais altos, - facilitadores de ascensão social -, de forma que lhes permitissem dar conforto e segurança a suas famílias4 nucleares, quando já constituídas ou em vias de constituição, e que inclui uma casa para morar. A referência a esses elementos, aqui, visa explicitar algumas categorias estabelecidas pelos entrevistados que refletem sua autoconsciência, enquanto maridos, do papel de mantenedor da família num certo grau de consumo e de pertença a camadas médias, fatores que consolidam sua identidade social e masculina, na cultura ocidental moderna. Pelos depoimentos5 de Elísio e Petrônio, por exemplo, possuir residência própria e, às vezes, carro, eram pré-requisitos para os passos seguinte no planejamento de vida com as namoradas, ou seja, casar e ter filhos:

4Alguns dos enviuvados, ainda hoje, dão ajuda financeira também a parentes da família extensa,

particularmente a mãe e a sogra.

- E começou a se organizar pra casar porque:: um pressuposto de que isso não tivesse sido feito antes, era exatamente porque não havia:: havido a = a base econômica para suportar a família, e tal. Já não era mais o caso nessa época que nós nos reencontramos, (...) E aí nós decidimos nos CASAR, e::: durante um ano nós nos preparamos e:: nos casamos, né? É::: Compramos um imóvel, foi uma preocupação de comprar um imóvel pra morar, né? (Elísio, E06: 05).

- Porque inicialmente nós passamos cinco anos (.) eu passei cinco anos, quer dizer, PRA:: haver um = um equilíbrio financeiro e econômico, pra poder a gente constituir uma família, pa num ter aquela dificuldade (ao mesmo tempo) (.hh) Então eu preferi antes comprar:: eu preferi comprar inicialmente uma casa:: primeiro, comprei a casa; comprei a casa, comprei um carrinho, tudo pago; aí foi que nós programamos, então:: Bem planejado. Porque a gente::, eu tinha um certo sentimento a esse respeito, (.hh) de achar que muito casamento se acabava até por (.) por esse = por uma dessas RAZÕES, quer dizer, até, às vezes, financeiras, né? (Petrônio, E18: 07).

Neste último depoimento, vê-se expressamente a imagem de provedor que esse homem carrega. Em nenhum momento ele coloca que cuidar da família é uma responsabilidade do casal. Isto é uma idéia ainda muito presente na sociedade urbana brasileira, com bastante vigor no Nordeste. Para o homem, a capacidade de oferecer boas condições para a manutenção da família, de forma a inseri-la numa posição social mais elevada, é prestigiosa (o que se traduz também pelo local de moradia), parecendo refletir e demonstrar, inclusive, o valor atribuído socialmente ao cargo que ocupa no trabalho e, habitualmente, que lhe permite usufruir melhor salário e sustentar alguns luxos da família, o que fecha o círculo. Este é um ponto proeminente, numa sociedade urbana complexa, na caracterização do papel de virilidade que o homem se concebe, como destaca Vale de Almeida (1995a: 56-57): “Eu defendo que, se o trabalho e o status social são importantes para a definição da identidade social, são-no também para a masculinidade”.

Trazendo essas observações para a viuvez masculina, agora, almejo salientar a valorização atribuída pelo homem à vida confortável que pôde proporcionar à esposa em vida, inclusive no período de doença, resultante, em grande parte, do bom emprego que tinha. Os viúvos se esforçam, assim, para deixar claro que o seu papel de bom provedor foi devidamente cumprido, no passado, e continua no presente, pois a morte da mulher não repercutiu nos sobreviventes sob o aspecto de descida social, visto que a maioria dos viúvos manteve suas famílias no mesmo patamar e não precisou, por exemplo, mudar de

local de residência para áreas mais populares. Estas questões são revisitadas em capítulos seguintes deste trabalho.

No entanto, alguns viúvos declaram uma certa queda no padrão de renda, no momento atual de sua vida, embora não a vinculem à viuvez, mas antes à situação de aposentadoria. São os homens mais idosos que vivem essa realidade. É interessante notar que os cruzamentos da idade, tipo de imóvel residencial, bairro de moradia, escolaridade e situação trabalhista desses informantes idosos (inativos), mostram que a metade deles habita casas, e, entre estes, suas moradias se situam em bairros periféricos do Recife ou em município adjacente, bem como aí estão os que têm menores níveis de escolaridade, como mostra o Quadro 3.1.3.

Quadro 3.1.3: Correlação da idade com tipo e local de moradia, escolaridade e situação trabalhista no grupo de idosos

Nome Idade Imóvel Bairro de Moradia Escolaridade Situação

Ivan 60 Apto Ilha Leite / Recife 3º Grau Aposentado

Artur 62 Casa Encruzilhada/Recife 3º Grau Aposentado

Petrônio 62 Apto Derby / Recife 3º Grau Aposentado

Adonias 65 Casa Casa Forte / Recife 3º Grau Aposentado

Élcio 68 Apto Candeias / Jaboatão 3º Grau Aposentado

Elísio 69 Apto Boa Viagem / Recife 3º Grau Aposentado Adolfo 69 Casa Cordeiro / Recife 1º Grau Aposentado Rui 75 Apto Boa Viagem / Recife 3º Grau Aposentado

Jonas 78 Casa Várzea / Recife 2º Grau Aposentado

Gerson 82 Casa Janga / Paulista 2º Grau Aposentado

Fonte: Entrevistas narrativas da pesquisa Homem não chora... 2007

O que o quadro acima expõe é a realidade que os viúvos viviam, por ocasião da entrevista. Como antes referido, o nível de escolaridade é um dos atributos considerados, em nosso meio, como facilitador para acesso a emprego de melhor salário e que favorece a entrada/inclusão e permanência/manutenção numa classe social mais elevada. Por extensão, e de maneira geral, o recebimento de uma aposentadoria de valor mais alto estaria também vinculado ao grau de escolarização do indivíduo. Nesta perspectiva, aquele aposentado com menor nível escolar e mais idade, condições que não favorecem ter um emprego adicional que lhe permita complementar sua renda, tenderia, então, ao empobrecimento, que viria atrelado ao desligamento do emprego formal. O depoimento de

Rui denuncia a situação: “_A aposentadoria, no início, era = era relativamente boa; mas, hoje em dia, tá caindo o = o valor da aposentadoria; é cada vez menos, né?” (Rui, E07: 12). Para Ivan (E16: 29), houve também queda no padrão de vida quando se aposentou, e a renda caiu para menos de um terço do que ganhava na ativa; e, ainda, nas palavras de Gerson:

- Eu sou = sou = sou aposentado. Comecei muito novo, como eu disse à senhora., então muito novo me aposentei, né? Foi em 1971, acho que faz:: quase 30 anos que me aposentei pela Previdência. MAS, A CADA ANO, eu tô ganhando um tanto mais pobre, porque o:: que o governo DÁ, vai matando a gente, né? De formas que é isso. (...) JÁ TIVE PLANO DE SAÚDE. Hoje num posso mais. Num posso mais, porque o::: dinheiro que eu ganho:: (E09: 25).

A partir destas declarações, reflito sobre um argumento apresentado por Debert (2004: 17) quando discute, entre outras questões, a aposentadoria em pessoas idosas. Diz a autora que

Estudos comparativos sobre renda e grupos etários rediscutem a idéia de que a pauperização caracteriza o envelhecimento nas sociedades ocidentais contemporâneas. Especialmente nos momentos em que o desemprego ou o subemprego atingem proporções alarmantes, a universalização das aposentadorias e da pensão na velhice garantiria aos idosos direitos sociais dos quais é excluída a população de outras faixas etárias, sobretudo o jovem.

Isto, possivelmente, é verdadeiro para uma classe social mais pobre, mas para as camadas médias penso que não, como os depoimentos acima comprovam. Os viúvos idosos entrevistados por mim sentem que há perda financeira e empobrecimento concretos, que limitam a margem de consumo e exigem, freqüentemente, uma reconfiguração nas despesas pessoais e no lar, ou, como falou Adonias, “tinha que fazer uma limpeza no orçamento, tirar uma série de excessos do que achava supérfluo” (E10: 24).

Portanto, repito, a situação de viuvez não concorreu para a diminuição do padrão de consumo da família, bem como não influiu para sua elevação. E o fato mesmo de ficar recebendo a pensão da esposa falecida não modifica esta realidade, visto que esse benefício é todo repassado para a prole do casal, e o viúvo faz questão de deixar isto bastante claro. Somente dois, dentre os entrevistados, declaram utilizar, na manutenção do lar, a renda

mensal deixada pelas esposas falecidas. E Tácio menciona que, se necessitar em algum momento futuro, usará o dinheiro obtido desta fonte, mas avalia isso como uma medida de exceção:

- COM Taciana, o companheirismo, a gente dividiu tão bem as coisas, que tanto ela teve sucesso profissional como eu; então nós fizemos um bom patrimônio, (.) num é? E::: esse patrimônio:: deu. Pra eu me manter na minha vida, [graças a Deus, até hoje.

?- [E tem pensão dela, alguma coisa assim de renda?

– Tenho! Tenho uma pensão, recebo uma pensão dela, e essa pensão:: eu, desde que:: ela faleceu, eu boto a metade numa poupança pra um filho e a outra metade pra o outro filho, que amanhã, quando eles fizerem 21 anos, eles vão ver o que é que eles fazem com o dinheiro. E, se eu precisar, evidentemente, eu vou fazer uso, mas, graças a Deus, até hoje não. (E17: 25).

Outra questão que apareceu, no momento da entrevista, ainda relacionada com a residência, é a condição de morar só ou acompanhado. Entre todos os viúvos, havia, até o momento da entrevista, a seguinte composição do núcleo familiar: seis moram sozinhos, nove só com os seus filhos do casamento no qual enviuvou, três com esposas de novos casamentos6 e sem filhos, dois com novas esposas e filhos. Neste último caso, um dos viúvos tinha em casa os filhos do seu casamento em que enviuvou, e um outro, ao contrário, morava com os filhos da nova esposa, que vieram junto.

3.1.3-S

OBRE A PROFISSÃO

/

OCUPAÇÃO

A distribuição por profissões, dos viúvos entrevistados, está colocada no Quadro 3.1.3, no qual se vê que a maioria conseguiu completar o curso superior. Estes trabalham ou trabalharam em instituições públicas e nas suas próprias áreas de graduação, enquanto que alguns estão aposentados - exceto Petrônio, formado em Direito, mas que exerceu função de bancário durante toda sua vida profissional.

6Os termos “novos casamentos” e “novas esposas” são aqui empregados para se referirem à relação afetivo-

sexual atual do viúvo, independente do tempo decorrido entre a morte da esposa e a formação do arranjo doméstico - um dos pesquisados, por exemplo, tinha já 17 anos no segundo casamento.

Quadro 3.1.4 - Relação entre profissão de graduação e ocupação dos viúvos

Nome Profissão Ocupação (passada e/ou atual)

01 Roberto Medicina Médico, Servidor Público. Ativo 02 Anísio Medicina Médico, Servidor Público. Ativo 03 Josué Medicina Médico, Servidor Público. Ativo 04 Renato Administração Profissional Liberal. Ativo

05 Josias Educação Física Professor, Educação Física. Servidor Público. Ativo

06 Elísio Administração Militar/Reserva. Administrador. Servidor Público. Aposentado 07 Rui Direito Advogado, Servidor Público. Aposentado

08 Artur Direito Advogado, Servidor Público. Aposentado 09 Gerson Não Funcionário construção civil. Aposentado 10 Adonias Filosofia Professor, Servidor Público. Aposentado 11 Jonas Não Militar Reserva. Aposentado 12 Hélio Não (Técnico) Profissional Liberal. Ativo 13 Élcio Não Jornalista. Aposentado

14 Adolfo Não Operário Mecânico. Aposentado 15 Valter Engenharia Engenheiro, Servidor Público. Ativo 16 Ivan Geografia Professor. Aposentado

17 Tácio Direito Advogado. Servidor Público. Ativo 18 Petrônio Direito Bancário. Servidor Público. Aposentado 19 Éder Letras Professor. Ativo

20 Plínio Não Comerciante. Ativo

Fonte: Entrevistas narrativas da pesquisa Homem não chora... 2007

Continuando a observar o quadro acima, vê-se que, para os não graduados não houve vínculo empregatício com órgãos estatais, com exceção de um militar. Neste grupo, os mais idosos haviam sido empregados em empresas particulares e estão aposentados, hoje em dia, e os dois mais jovens são, na atualidade, um, profissional liberal que trabalha com um tipo de terapia alternativa, e um outro, proprietário de um atacado de peças para veículos.

No Quadro 3.1.57, abaixo, busco mostrar essas informações profissionais em valores numéricos e percentuais, observando-se que, dos 20 entrevistados, 14 (70%) são formados, enquanto que seis (30%) não o conseguiram. Entre os graduados, 12 (86%) são ou foram empregados na mesma área de graduação, sendo que 10 (83%) no serviço público, e dois (17%) no particular. Para os não-graduados, vê-se que apenas um viúvo esteve vinculado a serviço público, e os demais trabalharam em empresas privadas, onde

7 Em nenhum momento tento generalizar os resultados destes dados para a população mais ampla no campo

da viuvez, obviamente: tanto pelo número reduzido de sujeitos como pela não padronização instrumental para tratamento estatístico. A colocação em percentagem tem uma intenção meramente especulativa, podendo ser ponto de partida para futuras pesquisas propriamente sociológicas.

mudaram de emprego algumas vezes no transcurso da vida profissional; desses, quatro são aposentados e dois estão em atividade.

Quadro 3.1.5 - Distribuição dos viúvos quanto ao nível de escolaridade e relação da