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A SAÚDE E SUAS RELAÇÕES COM A BIODIVERSIDADE, A PESCA E A PAISAGEM EM DUAS COMUNIDADES DE

2.1 Saúde, Meio Ambiente e Biodiversidade

As questões de saúde relacionadas ao meio ambiente vêm sendo apresentadas e debatidas de forma mais intensa a partir de 1990, o que acontece de forma concomitante com uma série de eventos onde prejuízos à saúde de populações de animais e plantas, bem como de populações humanas, se mostraram fortemente correlacionados com a crise global da perda de diversidade biológica, ou outros impactos ambientais decorrentes das atividades antrópicas sobre os ecossistemas (GARRETT, 1994 passim; DASZAK, CUNNINGHAM e HYATT, 2000; AGUIRRE et al. 2002 passim; MANGINI e SILVA, 2007). A sociedade globalizada está apenas começando a compreender as conexões entre saúde do ecossistema, saúde humana e saúde animal frente à situação atual de mudanças globais em grande escala e da crescente influência em todo o planeta dos efeitos negativos das atividades antrópicas sobre os ecossistemas. Uma dentre cinco preocupações da sociedade em relação à saúde humana tem causa ambiental (SOULÉ, 2002). Com o crescimento sem precedentes da população, a consequente pressão sobre os recursos do planeta e a globalização econômica, os regimes ecológicos do planeta têm experimentado mudanças dramáticas, manifestadas por recentes consequências para a saúde global (SOULÉ, 2002). Enquanto as mudanças no ambiente permanecerem aceleradas e contínuas, os padrões das doenças e seus efeitos na saúde das populações humanas e animais, também se manterão em contínua alteração (ELSE e POKRAS, 2002). Assim, a série de eventos, representados pelo surgimento de doenças e de perturbações sobre a saúde dos ecossistemas, disseminados por diferentes áreas do planeta nas últimas três décadas, tem sido entendida como uma crise global da saúde (GARRETT, 1994 passim; AGUIRRE et al. 2002 passim).

Contudo, a interdependência entre saúde e ambiente não foi identificada como uma questão relevante apenas no período atual, em diferentes regiões do planeta e em períodos históricos variados essa relação entre saúde e ambiente foi ressaltada. De fato, a percepção de que a saúde está ligada às relações do homem com o meio ambiente faz parte do senso comum, e figura em diferentes filosofias médicas e de saúde coletiva,

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desde a antiguidade (NAZARENO, 1999). Percepções focadas em causalidades externas ou no desequilíbrio entre elementos constituintes do organismo foram ressaltadas por diferentes culturas. Na cultura médica ocidental a maior influência destes pensamentos se deve a Hipócrates que, segundo Nazareno (1999), desenvolveu a prática clínica com cuidadosas observações da natureza. No pensamento Grego a saúde era dada por um estado de harmonia entre os elementos constitutivos do corpo, e a doença resulta do desequilíbrio desses constituintes, como resultante de fatores e influências externas. Hipócrates desenvolveu seus princípios terapêuticos buscando restabelecer o reequilíbrio do organismo, usando o princípio da contraposição entre elementos. O pensamento de Hipócrates também reconhecia a grande importância do ambiente físico, conferindo à influência dos ventos, das águas, da posição das cidades, das estações do ano, entre outros fatores, como importantes aspectos para a aparição e o curso das epidemias. Deixando claro que a percepção existente na época era de que as agressões do ambiente natural provocam reações no homem, produzindo doenças (NAZARENO, 1999).

Ao final do século XVIII, depois da Revolução Francesa, outra percepção, relacionada ao ambiente social passa a fazer parte da discussão sobre saúde. A concepção de causa social para o surgimento das doenças se destaca no meio médico, relacionando o aparecimento de doenças às condições de vida e trabalho das populações. Essa abordagem associada ao desenvolvimento das ciências sociais permite o surgimento da medicina social, que atribuiu uma origem social às doenças, substituindo então a importância do ambiente natural, pelo ambiente social, para a explicação da causalidade das doenças (NAZARENO, 1999).

Contudo, na segunda metade do século XIX, os avanços da microbiologia e os trabalhos de Henle, Pasteur e Koch (que ressaltam que a maior parte das doenças tem um agente etiológico e uma causa identificável) criam um ambiente científico e acadêmico que alterou profundamente o pensamento e a prática médica. As doenças passam a ser vistas como disfunções objetivas, podendo ser perfeitamente diagnosticadas e reparadas. Essa abordagem, representada por uma relação quase direta de causa e efeito entre a presença do agente patogênico e o surgimento da doença, reduzem significativamente, da prática e do pensamento médico, a relevância das relações entre saúde e meio ambiente (NAZARENO, 1999). Em muitos campos das atividades ligadas a saúde, dentro da medicina humana e da medicina veterinária, esse posicionamento permanece ainda predominante na prática diagnóstica e terapêutica, com exceções em algumas áreas específicas das atividades médicas.

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Contudo a abordagem conjunta do ambiente e da saúde não foi totalmente eliminada do pensamento médico, e voltou ser discutida com mais propriedade, seguindo os moldes da ciência moderna, a partir do início de século XX, fundamentados por estudos epidemiológicos como os apresentados por Gordon, 1920 (apud NAZARENO, 1999) que apresenta o modelo epidemiológico ecológico, composto por uma tríade onde o agente, o hospedeiro e o meio ambiente devem estar em equilíbrio. Posteriormente, a escola soviética de epidemiologia também contribui para essa abordagem com os trabalhos de Evgeny N. Pavlovsky representados pela Teoria da Nidalidade das Doenças (1939) e pela Epidemiologia da Paisagem (1964) (LEVINE, 1966), que demonstram a importância de se analisar características físicas do hábitat, como clima, altitude, latitude, e aspectos geológicos, além de características biológicas do ecossistema, como nicho ecológico das espécies envolvidas, dinâmica populacional e localização das espécies na cadeia trófica.

Mais recentemente essas abordagens centradas no estudo dos fenômenos ecológicos e biológicos foram transpostas para os ramos da medicina ligados as ciências sociais, como a geografia médica que ressalta que o estudo do enfermo não pode ocorrer separado do seu ambiente, do biótopo, onde se desenvolvem os fenômenos de ecologia associados com a comunidade a que esse indivíduo pertence (LACAZ, 1972 apud PIGNATTI, 2004)

Nesse contexto as ciências veterinárias, que englobam conhecimentos tanto de saúde animal como humana, seguiram a tendência de pensamento sobre saúde e ambiente descrita anteriormente. Contudo, a importância das interações entre ambiente e saúde permaneceu com certa relevância na prática médica veterinária, sendo considerada em alguns campos fundamental para a manutenção da saúde. Como exemplo, ressalta-se a medicina de animais selvagens, onde o ambiente e o estresse decorrente da má adaptação do indivíduo ao ambiente são vistos como pontos determinantes para o surgimento de doenças infecciosas, traumáticas e metabólicas, bem como de comportamentos patológicos nos pacientes cativos. Na medicina de animais selvagens o planejamento e o manejo ambiental são fundamentais para a manutenção da saúde de animais não domésticos em cativeiro (WALLACH e BOEVER, 1984 passim; FOWLER, 1986 passim; PACHALY, 1992; PACHALY et al. 1993, CUBAS, CATÃO-DIAS e SILVA, 2007 passim). Atualmente, essa mesma abordagem que atribui importância significativa para estresse, decorrente da má interação entre indivíduo e ambiente, como fator determinante para o surgimento das doenças vem sendo também empregada como

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referência para o entendimento das enfermidades em populações de animais de vida livre. Mudanças severas e aceleradas nos padrões de uso do espaço, a fragmentação dos habitas e outras consequências das atividades humanas sobre os ambientes naturais geram novas formas de estresse. Estes novos estressores, em associação com a perda de recursos naturais, a introdução de novos agentes patogênicos e o acúmulo de toxinas no ambiente alteraram significativamente as relações entre hospedeiros e agentes patogênicos, aumentando de forma expressiva o risco do surgimento de doenças em populações selvagens (MUNSON e KARESH, 2002, MANGINI e SILVA, 2007).

A noção de saúde, em geral, é empregada para denotar a vitalidade de indivíduos, porém pode ser empregada também para populações de pessoas, animais e plantas, sejam domésticas ou selvagens. Atualmente, a saúde (que pode ser entendida como um estado de balanço dinâmico entre diferentes componentes de um determinado sistema ou organismo) é analisada sob a ótica de muitas disciplinas, incluindo medicina humana, saúde pública, epidemiologia, medicina veterinária, toxicologia, ecologia, biologia da conservação e medicina da conservação (TABOR, 2002). Dessa forma, o estudo da saúde nos dias atuais compreende as relações entre os componentes de um determinado organismo ou sistema, abordando uma ampla escala espacial, desde o nível químico e molecular até as inter-relações ecossistêmicas, como por exemplo, aquelas dadas pelas mudanças climáticas globais (TABOR, 2002; EPISTEIN, 2002).

A aplicação do conceito de saúde para ecossistemas e paisagens pode ser visto como uma progressão natural do uso do termo saúde aplicado às populações. Adicionalmente, estender a noção de saúde para o nível do ecossistema, da paisagem, ou bacias hidrográficas oferece novas oportunidades para integrar as ciências sociais, naturais e da saúde (RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). Dentro dessa abordagem desenvolve-se a teoria e as ferramentas destinadas ao entendimento da Saúde do Ecossistema apresentada por COSTANZA, NORTON e HASKELL (1992). Essa abordagem de saúde sobre a funcionalidade do ecossistema é uma resposta ao acúmulo de evidências de que os ecossistemas dominados pelas atividades humanas se tornaram altamente disfuncionais (RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). De fato, nessa abordagem o termo saúde pode ser entendido como uma analogia ao termo funcionalidade, porém a correlação entre funcionalidade e saúde para o ecossistema parece válida, pois se fundamenta em um estreito relacionamento entre o funcionamento dos ecossistemas e a resposta destes frente ao estresse antropogênico. De acordo com Odum (1988) o estresse sobre os ecossistemas, representado pelas perturbações, pode

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ser agudo ou crônico, levando às respostas de diferentes naturezas, as quais dependem da ―estabilidade de resistência‖ e ―estabilidade de elasticidade‖ do sistema (mais

recentemente denominada como resiliência do sistema). Assim, a associação entre

perturbação (ou estresse) e funcionalidade (ou saúde) fundamenta o conceito de Saúde do Ecossistema. Essa saúde é determinada então pelo seu grau de organização, resiliência e vigor, bem como ausência de danos por estresse e a presença de funções essenciais e atributos essenciais à sustentação da vida. O ecossistema saudável é definido como aquele que permanece estável e sustentável, mantendo sua organização, autonomia e resiliência ao estresse ao longo do tempo (RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). Assim, a alta prevalência de doenças em seus componentes é um dos pontos-chave para indicar o estado de saúde dos ecossistemas. Por sua vez um ecossistema doente faz com que seja aumentado o risco à saúde dos seus componentes. Outras características gerais podem ser observadas como: a) retroalimentação positiva aos agentes estressantes, com rápida recuperação; b) máxima diversidade em espécies nativas, ocupando todos os níveis tróficos e nichos ecológicos; c) taxas de reprodução sustentáveis; e d) diversidade genética (HASKELL, NORTON e CONSTANZA, 1992; RAPPORT, COSTANZA e McMICHAEL, 1998). Dentro dessa abordagem sistêmica o termo saúde pode ter diferentes significados como: homeostase; ausência de doença; diversidade ou complexidade; estabilidade ou resiliência; vigor ou capacidade de crescimento; e balanço entre componentes do sistema conforme o nível onde a análise da saúde se insere (COSTANZA, 1992).

A teoria da saúde do ecossistema prevê que sistemas sujeitos a constantes estressores externos e perturbações internas, decorrentes destes estressores, tornam-se menos saudáveis. Adicionalmente, o principal indicador de um ecossistema doente é a alta prevalência de doenças nos grupos bióticos que o compõe; de forma recíproca, um ecossistema doente aumenta o risco de saúde destes mesmos componentes bióticos (RAPPORT, 1989; RAPPORT, 1998).

Outra abordagem de saúde que se refere diretamente ao meio ambiente, e que

merece destaque, é a denominada ―Saúde Ambiental‖. Para a Organização Mundial de

Saúde (OMS), para serviços de saúde pública e para o setor empresarial e industrial esta denominação se refere mais a um campo operacional da saúde, do que a uma filosofia do

pensamento médico. Para a OMS1 a área denominada Saúde Ambiental aborda a

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avaliação e o controle dos fatores ambientais que podem afetar a saúde, incluindo todos os fatores físicos, químicos e biológicos, externos a uma pessoa, e todos aqueles que geram impactos relacionados ao comportamento. Esse campo de ação tem como objetivo a prevenção de doenças e a criação de ambientes que sustentem a saúde. A OMS, em suas orientações e documentos, aborda dentro deste contexto principalmente assuntos relativos à poluição do ar, ambiente infantil, clima, saúde ocupacional, radiação eletromagnética, qualidade da água e tratamento de resíduos.

A abordagem de Saúde Ambiental da OMS apresenta também a necessidade de promover o manejo ambiental em prol da saúde dos componentes de um sistema socioambiental, estratégia que se baseia no pressuposto de que um conjunto de condições favoráveis, as quais podem ser manejadas, são capazes de promover e sustentar a saúde (ou o funcionamento adequado) de um determinado sistema. Esse mesmo pressuposto de que as condições ambientais podem ser manejáveis também é uma das bases da Saúde do Ecossistema proposto por COSTANZA, NORTON e HASKELL (1992), assim como a orientação para a prática da Medicina da Conservação, área do conhecimento que tem como metas implantar estratégias para atingir, de forma global, a saúde ecológica e do ecossistema (KOCH, 1996, TABOR et al., 2001; ELSE e POKRAS 2002; TABOR, 2002).

O conceito de Saúde do Ecossistema aliado à necessidade de melhor entendimento da interdependência entre saúde humana e animal, frente aos riscos crescentes para a saúde dos ecossistemas originou o conceito de Medicina da Conservação. A qual pode ser entendida com como área do conhecimento que tem como objetivo promover a saúde de uma forma sistêmica. Isso seria alcançado, inicialmente, pela junção das ciências da saúde com a ecologia, aplicadas em um amplo contexto ecossistêmico, onde a saúde humana e animal quando em equilíbrio promovem a saúde do ecossistema (KOCH, 1996; TABOR, 2002) (Figura 1). Segundo ELSE e POKRAS (2002) a meta primária da medicina da conservação é promover a saúde ecológica e, por extensão, a saúde dos ecossistemas e seus habitantes. Meta que, todavia, não deixa claro em que nível se dá a diferenciação entre a saúde ecológica e do ecossistema.

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Figura 1: Diagrama conceitual da

interação entre saúde animal, humana e do ecossistema proposto inicialmente como base para ações em medicina da conservação (Ilustração: Paulo Rogerio Mangini).

Utilizando o mesmo princípio, de amplas interações ecológicas entre os componentes bióticos e abióticos dos ecossistemas, Mangini e Silva (2007) ampliam a base teórica original de Medicina da Conservação, propondo que a saúde humana, animal e vegetal se sobrepõem, pelo menos parcialmente, influenciando-se de forma mútua contribuindo então para manutenção da Saúde do Ecossistema (Figura 2).

Figura 2: Diagrama conceitual revisado da interação entre as diferentes esferas da saúde associadas ao ambiente, proposto como base para ações em medicina da conservação (Ilustração: Paulo Rogerio Mangini).

Com essa ampliação os autores sugerem também que o conjunto de ecossistemas saudáveis fundamenta um estado mais amplo de saúde, contudo, esse não é denominado Saúde Ecológica (como proposto por ELSE e POKRAS, 2002), e sim Saúde Ambiental, que por sua vez abordaria por completo as três esferas de saúde, servindo como base para sua sustentação e para sustentação de um ecossistema saudável. A saúde do ambiente, nesse contexto, é explicada como algo dinâmico, em um estado de constantes alterações autorreguladas, o que significa que os padrões de surgimento de enfermidades e seus efeitos sobre a saúde humana, animal e vegetal também permanecem dinâmicos e interdependentes (MANGINI e SILVA, 2007).

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Analisando a proposta dos autores acima verifica-se que o termo saúde ambiental é utilizado para definir um estado sistêmico mais amplo da saúde. O que pode ser entendido como uma extensão do conceito de saúde ecológica, porém nesta extensão a esfera da saúde ambiental serve como base para a saúde do ecossistema, sendo também influenciada pelo estado de funcionalidade dos próprios ecossistemas. Abordagens dessa natureza, onde ocorrem alimentação e retroalimentação, concomitantemente, entre diferentes níveis hierárquicos de um sistema, também aparecem nas definições de Rapport (1998) sobre saúde do ecossistema, onde o ecossistema doente aumenta o risco de doença para os seus componentes bióticos e, de forma recíproca, a alta incidência de doenças nos grupos bióticos prejudica a saúde do ecossistema.

Dessa forma, os autores julgam ter revisado o conceito de Medicina da Conservação definindo esse campo como ―a ciência para crise da saúde ambiental e a

consequente perda da diversidade biológica” a qual deve ser implantada por meio da “transdisciplinaridade na execução de pesquisas, ações de manejo e políticas públicas ambientais voltadas à manutenção da saúde de todas as comunidades biológicas e seus ecossistemas‖. Ressaltando ainda, como principal objetivo desse campo de atividade, a necessidade de promover pesquisas sobre saúde que contribuam com a manutenção da diversidade biológica e por consequência da qualidade de vida e da saúde para as pessoas, espécies domésticas e selvagens, tendo como meta a manutenção de um ambiente saudável e a plena saúde ecológica (MANGINI e SILVA, 2007).

Com essas abordagens os autores propõem identificar com mais propriedade as dinâmicas da saúde entre os principais componentes bióticos dos ecossistemas, quando comparados com o modelo conceitual de Tabor (2002). Adicionalmente, identificam o posicionamento da esfera da saúde humana, em separado da saúde animal, como uma escolha institucional que tem como objetivo ressaltar a relevância do componente humano para estabelecimento e manutenção da saúde do ambiente. Justificando essa escolha pela necessidade de enfatizar a sociedade humana como precursora das alterações, que afetam o estado de saúde dos demais componentes dos ecossistemas, bem como o próprio estado de saúde da sociedade. Enfatizando que as alterações positivas, ou negativas, sobre o estado de saúde ambiental serão, preponderantemente, decorrentes das mudanças de atitude desta mesma sociedade humana. Ponto de vista que se justifica também em consequência da forte pressão que as alterações ambientais,

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constantemente produzidas pela sociedade, impõem sobre o estado de saúde dos componentes biológicos dos ecossistemas (MANGINI e SILVA, 2007).

Como crítica a abordagem apresentada pelos autores acima se pode salientar que institucionalmente o termo saúde ambiental é amplamente empregado também para definir uma área de atividade composta por normas técnicas e procedimentos relacionados à saúde coletiva, ou seja, a saúde ambiental como definida pela OMS. No entendimento dos autores o termo tem outro significado, representando um estado de saúde, ou funcionalidade, e não uma determinada área normativa, o que pode gerar conflitos de entendimento sobre a validade do uso do termo, ou a que contexto o termo se aplica em um determinado momento. Contudo, para a concepção de Mangini e Silva (2007) o conceito de Saúde Ambiental da OMS, pode fazer sentido operacionalmente, mas é estritamente antropocêntrico e desconsidera que todos os elementos bióticos de um determinado sistema estão sujeitos aos mesmos fatores ambientais, em menor ou maior grau, e que relações de reciprocidade acontecem entre as esferas de saúde animal, humana e vegetal, interagindo com outras dinâmicas ecossistêmicas e ambientais. Assim, para que não se perca de vista toda a complexidade das condições de saúde, que podem afetar simultaneamente animais e pessoas, o conceito de Saúde Ambiental deve ser ampliado, o que é necessário tanto para a pesquisa quanto para a gestão dos problemas de saúde, em escala local ou global.

Assim, sistematizando as abordagens apresentadas sobre saúde e ambiente, é possível observar duas utilizações principais para o termo saúde. A primeira emprega o termo como parâmetro de sanidade individual, referindo-se à saúde de organismos biológicos, sejam animais ou plantas. A abordagem da saúde nessa escala emprega conceitos de medicina, biologia e relações ecológicas, sobretudo as relações entre hospedeiros e parasitos, bactérias, fungos, vírus ou qualquer outro agente etiológico. A segunda forma de uso do termo refere-se às abordagens sistêmicas da saúde, nessa escala o termo é aplicado como medida das condições de funcionalidade de um determinado ecossistema; ou das relações entre o meio ambiente e os organismos. O estado de saúde sistêmico pode ser representado, entre outros, por parâmetros como