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Saberes docentes

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (páginas 37-42)

O professor universitário é considerado sujeito do conhecimento e tem direito de repensar sua formação em relação aos saberes essenciais à sua atuação em sala de aula e diante dos desafios que surgem no cotidiano.

Gonçalves e Gonçalves questionam a formação dos professores universitários dos cursos de licenciatura, pois:

Os cursos de mestrado e doutorado procuram formar pesquisadores nas diversas áreas do conhecimento, mas, via de regra, não estão voltados à formação do professor universitário, em seu sentido amplo, uma vez que o concebemos atento não só aos conteúdos de sua disciplina, como à formação do cidadão, do profissional que está a formar, numa visão ampla dos aspectos sociais, éticos, políticos do meio em que está inserido

Considerando que a pós-graduação nem sempre oferece ao futuro professor subsídios para atuar em sala de aula, então, quais seriam os conhecimentos e/ou saberes necessários para exercer a docência?

Os pesquisadores Fiorentini, Souza Júnior e Melo afirmam que os termos “conhecimento” e “saber” não possuem uma distinção específica:

Os textos em educação normalmente usam os termos “conhecimento” e “saber” sem distinção de significados. Reconhecendo que nem os filósofos possuem uma posição clara sobre a diferenciação de significado destes termos, (...) usaremos ambas as denominações sem uma diferenciação rígida, embora tendamos a diferenciá-las da seguinte forma: “conhecimento” aproximar-se-ia mais com a produção científica sistematizada e acumulada historicamente com regras mais rigorosas de validação tradicionalmente aceitas pela academia; o “saber” por outro lado, representaria um modo de conhecer/saber mais dinâmico, menos sistematizado ou rigoroso e mais articulado a outras formas de saber e fazer relativos à prática não possuindo normas rígidas formais de validação (FIORENTINI; SOUZA JÚNIOR; MELO, 1998, p. 312).

No Brasil, a introdução da temática dos saberes da docência deu-se, inicialmente, pelas obras de Shulman (1987); Tardif;Lessard e Lahaye (1991) de Gauthier et al. (1998). Posteriormente, pelos trabalhos divulgados de autores brasileiros PIMENTA (1998) e CUNHA (2004) que analisam os saberes docentes em relação ao ensino superior.

Os saberes, conhecimentos e competências necessários à profissão docente vêm sendo um dos temas mais discutidos pela literatura científica. Shulman (2005, p. 5) é o autor que em um primeiro momento trabalhou a questão da base de conhecimentos que o professor necessita para ensinar. Para o autor,o “conhecimento sobre a docência é aquilo que os professores deveriam saber, fazer, compreender”. O autor considera o conhecimento pedagógico do conteúdo, o principal para o trabalho docente, pois integra os demais conhecimentos visando a tornar os conhecimentos do conteúdo compreensíveis e ensináveis, proporcionando a aprendizagem dos alunos.

Gauthier et at.(1998, p. 34), também abordam a natureza dos saberes subjacentes ao ato de ensinar. A contribuição mais importante dos autores está precisamente no alongamento do campo teórico sobre o saber da ação pedagógica. “[...] não poderá haver profissionalização do ensino enquanto esse tipo de saber não for mais explicitado, visto que os saberes da ação pedagógica constituem um dos fundamentos da identidade do professor”.

Outro autor considerado importante no Brasil é Tardif e no texto produzido em parceria com Lessard e Lahaye (1991), propõe uma solução para a questão dos diferentes saberes do professor, e apresenta uma nova classificação e concepção integrada por quatro saberes diferentes.

Para os autores supracitados, “a relação dos docentes com os saberes não se reduz a uma função de transmissão dos conhecimentos já constituídos, pois sua prática integra diferente saberes, com os quais o corpo docente mantém diferentes relações” (1991, p. 218).

Assim, afirmam que, para dar conta dos objetivos traçados, os professores comumente utilizam alguns saberes. Dentre eles, os saberes das disciplinas que são reconhecidos e identificados, como pertencentes aos diferentes campos do conhecimento (linguagem, ciências exatas, ciências humanas e ciências biológicas, etc.).

Concretamente os saberes curriculares apresentam-se sob a forma de programas escolares (objetivos, conteúdos, métodos) que os professores devem aprender e aplicar.

Já saberes da formação profissional constituem o conjunto dos saberes da formação profissional os conhecimentos pedagógicos relacionados às técnicas e métodos de ensino (saber-fazer), legitimados cientificamente e igualmente transmitidos aos professores ao longo do seu processo de formação.

E, por fim, os saberes da experiência que resultam do próprio exercício da atividade profissional dos professores. Ou seja, “esses saberes brotam da experiência individual e coletiva sob forma de habitus e de habilidades, se saber- fazer e de saber-ser.” (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991, p. 39)

Pimenta e Anastasiou (2010) também abordam a questão dos saberes que se articulam em torno da experiência do professor; fazem uma divisão do que denominam área do conhecimento pedagógico e didático.

Esses saberes diferenciam o docente de qualquer outra profissão, pois ele é estimulado pela necessidade de uma formação própria para o desempenho da função e reconhecimento socialmente profissional.

Dessa forma, Roldão (2006) afirma que os saberes relacionados ao ato de ensinar podem ser de vários tipos e passiveis de diversas formalizações teóricas, tais como científicas, científico didáticas, pedagógicas (o que ensinar, como ensinar, a quem e de acordo com que finalidades, condições e recursos), que, contudo, se apoiam em um único saber integrador, situado e contextual – como ensinar aqui e agora –, que se configura como “prático”.

Partindo da exploração dos aspectos que o próprio Tardif trouxe em sua análise dos saberes Cunha (2004), propõe uma classificação dos saberes dos professores que se relacionam, especificamente, com o campo da didática. De acordo com a autora, o exercício da docência exige múltiplos saberes que precisam ser apropriados e compreendidos em suas relações.

Aprofundando a reflexão sobre saberes dos professores, Soares e Cunha (2010) apresentam a organização dos saberes docentes necessários à docência, relacionados ao campo didático.

As pesquisadoras explicitam que os saberes relacionados ao contexto da prática pedagógica implicam a compreensão do papel da universidade na construção do Estado democrático, bem como das políticas que envolvem essas instituições.

Os saberes relacionados à ambiência da aprendizagem envolvem o conhecimento das condições da aprendizagem das pessoas adultas e das múltiplas possibilidades que articulam conhecimento e prática social e os caminhos da integração no processo de aprendizagem do desenvolvimento cognitivo, afetivo-emocional, de habilidades e atitudes.

No que se refere ao contexto sócio histórico dos alunos, estes saberes traduzem-se em habilidades de compreensão da condição cultural e social dos estudantes, de estímulo às suas capacidades discursivas e da recomposição de suas memórias educativas, favorecendo uma produção do conhecimento articulada, de forma autobiográfica, e a afirmação de sua identidade, social, cultural e pessoal.

Em relação aos saberes do planejamento das atividades de ensino, estes envolvem as habilidades de delinear objetivos de aprendizagem, métodos e propostas de desenvolvimento de uma prática pedagógica efetiva, à capacidade de dimensionar o tempo disponível, em função da condição dos estudantes e das metas de aprendizagem e do domínio conhecimento específico de forma a situá- lo histórica e conjunturalmente e a estabelecer relações com outros conhecimentos.

Os saberes relacionados com a condução da aula em suas múltiplas possibilidades pressupõem a condição do professor de ser o artífice com os estudantes das estratégias e procedimentos de ensino que favoreçam uma aprendizagem significativa, ancorada nas estruturas culturais, afetivas e cognitivas dos estudantes.

Agora, os saberes relacionados com a avaliação da aprendizagem exigem conhecimento técnico e uma sensibilidade pedagógica que permita ao professor a identificação das estratégias avaliativas que melhor informem sobre a aprendizagem dos estudantes, com base na retomada dos objetivos previstos e da trajetória percorrida. Os saberes relacionados com a avaliação pressupõem, ainda, um posicionamento valorativo sobre os objetivos em questão e a capacidade de comunicar a avaliação aos estudantes.

Diante do exposto, fica evidente a importância dos saberes docentes para o trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores.

Consideramos que as contribuições apresentadas pelos autores são de fundamental importância para orientar o trabalho docente no que concerne a mobilização/construção dos saberes necessários ao ensino.

Em suma,

O professor ideal é alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa,além de possuir certos conhecimentos relativos as ciências da educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experência cotidiana com os alunos. (TARDIF; LESSARD; LAHAYE, 1991, p. 39).

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (páginas 37-42)