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Socialização: apoio ao professor iniciante

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (páginas 78-84)

A entrada na sala de aula constitui uma etapa marcante na vida dos docentes. Trata-se de um período vivido com muito entusiasmo, mas também com alguma apreensão. Nesse período, a socialização nesse período, seja por parte da instituição e/ou dos colegas mais experientes, torna-se fundamental ao iniciante.

A socialização docente tem sido, geralmente, definida como um processo por meio do qual o indivíduo torna-se parte de um coletivo docente.

Para Freitas (2002), o processo de socialização não ocorre de forma linear, por meio de uma incorporação progressiva dos valores do grupo de pertencimento, nem o agente socializado é objeto passivo dos agentes e condições socializadoras. Para a compreensão do processo de socialização profissional é necessário levar em conta, tanto a história do professor iniciante, suas expectativas e projetos quanto às características do grupo profissional a que irá pertencer.

As dificuldades vivenciadas por muitos professores no início da carreira docente podem ser agravadas pelo modo como ocorre o processo de

socialização, relacionado, tanto por parte da instituição e/ou colegas de trabalho. A socialização “[...] é o processo mediante o qual um indivíduo adquire o conhecimento e as destrezas sociais necessários para assumir um papel na organização”. (VAN MAANEN; SCHEIN (1979, apud MARCELO GARCIA, 2010 p. 211).

Para os referidos autores, os professores iniciantes precisam de ideias e habilidades críticas, bem como de disposição para refletir, avaliar e aprender sobre o ensino, para, assim, poderem sempre melhorar como docentes. A organização da instituição também exerce uma grande função na socialização do professor, pois é a responsável pelo acolhimento do iniciante e, ainda, por oferecer o apoio necessário para que ele possa sentir-se seguro dentro da organização.

Lortie (1975 apud Flores, 1999), considera três etapas fundamentais na socialização dos professores.

A primeira, decorre da experiência dos longos anos de escolaridade antes da entrada na universidade, na qual o iniciante viu atuar diferentes professores.

A segunda, circunscreve-se ao período de formação propriamente dito, na universidade, que permite a formação teórica e prática sobre o currículo, o ensino e a aprendizagem.

E, por fim, a etapa de indução, durante a qual o professor assume a atividade docente e as funções a ela inerentes e que ocorre ao longo dos primeiros anos de profissão.

É muito comum o fato de os professores, ao iniciarem a carreira no ensino superior, sentirem-se isolados e começarem a exercer a docência muito baseados em “vocações naturais” advindas das práticas que vivenciaram como estudantes, o que pode remetê-los à “solidão pedagógica” que, conforme Isaia (2006, p. 373) é compreendida como “sentimento de desamparo dos professores frente à ausência de interlocução e de conhecimentos pedagógicos compartilhados para o enfrentamento do ato educativo.”

Em relação aos sujeitos da pesquisa, o professor Wander sempre que precisa tem apoio dos colegas, e isso, possibilita-lhe segurança na realização de suas atividades.

Foi uma acolhida normal, tranquila. Não tive muita preocupação, porque dois professores eu já conhecia de outros encontros e congressos e me ajudaram muito [...] Sempre que preciso recorro a algum deles (Wander).

A colaboração é sempre positiva para o docente iniciante, mas também ao professor experiente que se vê provocado a discutir suas práticas como apontam Stivanin et al (2012).

É importante considerar que a colaboração entre os colegas dentro dos departamentos se caracteriza por ser um caminho de duas vias, pois ao mesmo tempo auxilia os professores iniciantes e os professores mais antigos. Para os iniciantes, o acolhimento inicial lhes dá mais segurança e anemiza as angústias decorrentes do período de inserção neste novo espaço; para os professores mais experientes, pode ser uma possibilidade de discutir o ensino e as práticas desenvolvidas, possibilitando a renovação e o seu desenvolvimento profissional (STIVANIN et al 2012, p. 13)

A tarefa de assumir o papel de professor não é fácil e, para o iniciante, o acolhimento inicial torna-se um diferencial em relação à sua prática. Para o professor experiente, como bem citado por Stivanin et al (2012) é a oportunidade desse professor reavaliar e renovar suas práticas desenvolvidas.

Nos depoimentos dos professores Regina e Daniel podemos identificar a necessidade de um apoio pessoal, que seria desejável no inicio do exercício docente, no sentido de vencer as dificuldades iniciais de integração. Regina relata que teve apoio de antigos colegas da instituição onde trabalhava anteriormente.

Olha, eu tive o apoio dos colegas que trabalhavam comigo lá na outra faculdade, e isso foi fundamental. A coordenadora também na época foi muito boa comigo, e eu nunca tive vergonha de perguntar, pois se eu não sei, eu pergunto mesmo (Regina).

Flores (1999) ressalta que, de uma dia para outro, o professor iniciante assume as mesmas responsabilidades de um professor com experiência, encontrando-se, por vezes, isolado e com pouco apoio. Esta situação causa no professor iniciante um sentimento de insegurança e incerteza, e o modo que ele encontra para desenvolver seu trabalho é procurar apoio de outros colegas.

O professor Daniel teve apoio da coordenação, relata que não tem contato com os outros colegas por falta de tempo nos intervalos.

Bom, o acolhimento que eu tive foi da coordenadora. Estou lecionando há quase 6 meses, mas não tenho assim muito contato com os professores, porque o intervalo só tem 10 minutos. Então, eu acabo não tendo muito contato com os colegas (Daniel).

No caso do professor Daniel, o que mais o incomoda é a falta de trabalho colaborativo, pelo fato de não haver encontros, trocas ou qualquer forma de compartilhamento das necessidades e dificuldades, causando certa tensão profissional nos professores iniciantes (RUIZ, 2008).

Isso é o que Sorcinelli (apud RUIZ, 2008, p. 184) chama de “inadequado feedback e reconhecimento ao trabalho dos professores iniciantes, que necessitam desse apoio para diminuir sua inquietude profissional”

Para Hargreaves (1996), as relações com colegas constituem um elemento crítico na socialização e no desenvolvimento profissional dos professores.

Já Nunes (2002, p. 7) menciona que o papel dos colegas é essencial na socialização, “enquanto possível fonte de conhecimentos de natureza prática e, quando uma interação significativa se estabelece, isto serve de modelo de trabalho colaborativo”.

Aqui cabe uma reflexão no sentido de entender, porque para alguns professores, é difícil receber “bem” um colega iniciante, visto que esse experiente já passou por essa fase e sabe como enfrentar esse desafio inicial.

Ao falar de socialização, é importante também ressaltar o papel da equipe gestora, pois é parte fundamental no acolhimento dos professores em início de

carreira. É por meio desse acolhimento que o professor iniciante sentir-se-à mais seguro para o exercício da função.

No caso do professor Daniel, em seu depoimento fica evidente o trabalho solitário que vem desenvolvendo, e ele vai adaptando-se da melhor forma possível.

Quando chego à sala dos professores, sempre tem alguém tomando café, conversando, mas ninguém da minha área. São diversas áreas lá. Então, eu não consigo trocar experiências sobre minha disciplina com os outros. É uma pena!. Porque é um momento muito rico e ajuda principalmente quem é iniciante. Acho que ajuda muito, então, vou me adaptando a essa situação (Daniel).

Para Cunha (2004, p. 113) “a docência é uma jornada solitária, pois cada um tem de se haver com seus estudos, incluindo o aprender a ensinar”. Nesse sentido, é possível compreender a responsabilização individual que se imputa aos professores, e como eles assumem essa condição que, muitas vezes, mascara a compreensão de autonomia, tão acarinhada historicamente.

Nos depoimento dos entrevistados, não pudemos constatar que as instituições apresentam projeto de integração ou de socialização do professor iniciante.

Pimenta e Anastasiou (2010, p. 143), já haviam chamado a atenção para essa condição, dizendo que “a universidade reforça o trabalho solitário, extremamente individual e individualizado; o professor é deixado à sua própria sorte e, se for bastante prudente, evitará situações extremas nas quais fiquem patentes às falhas de seu desempenho”.

Nessa perspectiva, Cunha (2004, p. 113) explícita que o trabalho solitário do professor também protege sua autoridade científica que, no imaginário social e do próprio docente, já lhe é atribuída pelo simples fato de ser reconhecido como professor.

Já a professora Regina, embora não tenha apoio dos outros colegas de trabalho, sente-se acolhida pelos profissionais do mesmo curso em que leciona.

Entre os professores do curso de Pedagogia nos damos muito bem. Um sempre ajuda o outro. Porém, os professores dos outros cursos não se misturam, são bem diferentes (Regina)

É essencial salientar que a postura por parte dos professores em se ajudar, é muito importante aos colegas iniciantes, porque contribui para minimizar as dificuldades iniciais da inserção na carreira. Essa relação mais próxima com os professores do curso de Pedagogia parece indicar uma característica desse curso que forma professores das séries iniciais. Os professores desse segmento vivenciam uma cultura colaborativa mais forte em relação àqueles professores de outros segmentos.

Para Marcelo Garcia (2009, p. 13) as possibilidades de melhorar o ensino e aprendizagem ampliam-se quando os professores questionam de forma coletiva as rotinas de ensino que não obtêm sucesso e “examinam novas concepções de ensino e aprendizagem, encontram formas de responder as diferenças e os conflitos e se implicam ativamente em seu desenvolvimento profissional”.

Diante da falta de acolhimento ou programa de inserção dos novos docentes, as dificuldades encontradas vão tornando-se ainda mais complexas, conforme a percepção das especificidades da docência (MACIEL, 2010).

Os professores da pesquisa demostraram por meio de seus depoimentos, que o processo de adaptação foi solitário, e, para alguns contínua ainda sendo difícil, e a maneira que conseguiram encontrar para enfrentar esse desafio foi apoiando-se em outros colegas.

É fato a importância do acolhimento institucional diante a esses desafios, “a entrada no mundo do trabalho é uma etapa marcante na vida de qualquer pessoa. Trata-se de um período vivido com emoção e entusiasmo, mas também com alguma apreensão e ansiedade face às novas responsabilidades que se assumem” (FLORES, 1999, p. 171).

Nesse sentido, a socialização quando ocorre de modo natural e eficaz se reflete muito positiva no início da carreira do professor, ou seja, apoio de colegas e da direção nesse primeiro momento fazem toda a diferença.

4.6 Papel dos alunos frente à dificuldade com a Matemática:

No documento MESTRADO EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO (páginas 78-84)