• Nenhum resultado encontrado

1 DESCREVENDO O CASO ENEM: OS DESAFIOS EM SER MAIS

1.5 Sistema de monitoramento e gestão de risco

1.5.1 Sala de situação

Desde 2011, foi estruturada uma Sala de Monitoramento e Gestão de Riscos no Inep, local em que uma equipe de especialistas e servidores visualiza o andamento da operação, desde a publicação do edital até a divulgação dos resultados. A tarefa consiste na avaliação dos riscos e na emissão de alertas em diferentes graduações, de maior ou menor criticidade, de acordo com o seu nível em termos de relevância e impacto, acionando a alta gestão da operação para a tomada de decisões.

37 Trata-se de atividades críticas consideradas como ponto de atenção máxima, sob a ótica de que sua inexecução ou execução imperfeita compromete a cadeia causal da logística da operação. 38 SIMEC é o Sistema Integrado de Planejamento, Orçamento e Finanças do Ministério da Educação no Brasil. A ferramenta permite ao MEC planejar o orçamento público no que diz respeito aos gastos em educação do Governo Federal.

39 Considerado como um americanismo que significa "lista de verificações". Esta palavra é a junção de check (verificar) e list (lista). Uma check list é um instrumento de controle, composto por um conjunto de condutas, nomes, itens ou tarefas que devem ser lembrados e/ou seguidos.

40 Software Risk Manager é uma solução para a automatização da gestão de riscos, no sentido de evitar sigilos e garantir maior transparência e consistência nos processos corporativos.

Figura 3 - Foto e layout da sala de monitoramento

Fonte: Inep.

Regularmente, com periodicidade quinzenal, são realizadas reuniões gerais de alinhamento com a presença de todos os parceiros para avaliação do andamento da operação, ajustes no cronograma, tomada de decisões e planejamento dos passos seguintes.

Enfim, com a sala de monitoramento e os painéis de controle, é possível visualizar a execução, a validação e a certificação de cada tarefa, com o registro do CPF41 do responsável, a data e o horário em que foi realizada. Por consequência, permite também verificar o que deixou de ser executado ou foi executado fora do prazo, gerando alertas aos executores. Persistindo o fato, os alertas são elevados ao nível da alta gestão.

Inegavelmente, por tudo que se descreveu até aqui, observamos que a operação Enem foi se ajustando ano a ano, com melhorias significativas em seus processos. Inclusive, seu modelo de gestão, em 2013, obteve o 2º lugar na 18ª edição do Concurso Inovação na Gestão Pública Federal, promovido anualmente

41 É um banco de dados gerenciado pela Secretaria da Receita Federal do Brasil

– RFB, que armazena informações cadastrais de contribuintes obrigados à inscrição no CPF, ou de cidadãos que se inscreveram voluntariamente.

pela Escola Nacional de Administração Pública-ENAP42, para a disseminação de práticas comprovadamente bem-sucedidas na administração pública.

[...] O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) teve dois trabalhos entre os vencedores do 18º Concurso Inovação na Gestão Pública Federal. Foram premiados os modelos de monitoramento de processos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que ficou em segundo lugar, e do Banco Nacional de Itens (BNI) do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), que obteve a sexta colocação (BRASIL, PORTAL MEC, 2014).

Este prêmio, obtido dentre as mais de sessenta e cinco iniciativas inscritas naquele ano, poderia ser suficiente para considerar que o Enem alcançou níveis de excelência em sua estrutura operacional, e que seu processo está pronto e acabado, capaz de suportar os desafios que seguirão nos próximos anos.

Mesmo com os potenciais avanços obtidos em todas as suas fases, há um momento de vulnerabilidade na realização do Enem, que é a Fase 5 de preparação e aplicação, sobretudo nos dias de realização do exame, quando os malotes são entregues em mais de 24 mil locais (às 7 horas) ficando um período de (05:00 horas) sob a guarda exclusiva de coordenadores e assistentes até a abertura dos portões (às 12 horas) para a entrada dos participantes. Devido aos registros das últimas ocorrências, no período de 2010 a 2014, depois que o exame passou a ser adotado por múltiplas e diversas finalidades, temos evidências de que este é um momento de fragilidade com uma capacidade imperfeita de observação. Os fatos relacionados a seguir demonstram tal assertiva:

Na cidade de Remanso-BA, uma professora do local de aplicação Colégio Ruy Barbosa abriu antecipadamente o malote de provas, acessou o tema da redação e transmitiu para o marido, pois seu filho era um dos participantes inscritos no Enem. Depois, no Rio de Janeiro, numa falha de monitoramento ou relaxamento dos procedimentos de controle da aplicação, um jornalista do jornal O Globo facilmente se dirigiu ao banheiro e postou o tema da redação quinze minutos após o início da prova.

Outra ocorrência marcante ocorreu na cidade de Timom-MA, quando um participante residente na cidade de Teresina-PI foi flagrado com um texto quase

42 A Fundação Escola Nacional da Administração Pública (Enap) é uma escola de governo, do poder executivo federal, que oferece formação e aperfeiçoamento em Administração Pública a servidores públicos federais.

pronto sobre a redação, sendo eliminado do Exame. Outro fato foi relatado por um participante em Picos -PI que confirmou ter recebido o tema horas antes do início das provas e não deu crédito ao conteúdo da mensagem. Porém, ao final de sua prova, vendo que o tema de fato era verdadeiro, foi à Polícia Federal para denunciar o ocorrido. A suposição em investigação pela polícia é de que um dos membros das equipes de coordenação de local de aplicação, nos estados do Piauí ou Maranhão, abriu o malote antes do horário estabelecido, transmitindo parte do conteúdo da prova para um grupo restrito, via WhatsApp Messenger.

Portanto, o objetivo desta é, com os fatos conhecidos e com aqueles determinados nas análises da Fase 5 de preparação e aplicação dos testes, comprovar as hipóteses que consideramos e que levaram o Enem a alcançar a escala, a dimensão e a complexidade logística em termos de segurança:

a) o Enem se estabeleceu e ocupou um lugar que estava vago em termos de geração de oportunidades para muitos, dando a chance às pessoas de prestarem o exame e tentarem o acesso ao ensino superior. Isso é feito sem custos auspiciosos para os pagantes e nenhum custo para os carentes e isentos de pagamento; ou seja, trata-se, portanto, de uma logística que se baseia na regra de tratar diferentemente os diferentes, permitindo a inclusão social através da maximização de oportunidades com vistas ao ingresso em uma universidade brasileira.

b) Ainda com respeito à seleção, o exame possibilitou que os participantes sem condições financeiras para arcar com os custos de deslocamento participem de processos seletivos para ingresso nos cursos de graduação, que antes eram organizados de forma centralizados e isolados. Isso porque as provas do Enem são aplicadas nas localidades escolhidas pelas pessoas na inscrição, possibilitando, desse modo, que jovens sem condições de custear seu deslocamento possam comprovar mérito para adentrar o espaço universitário.

c) O Enem passou a ser mais do que uma aplicação de testes e se transformou em um serviço público, necessitando de todo um instrumental para que o participante encontre assento reservado no local designado para fazer sua prova. Isso deve acontecer o mais próximo possível de seu domicílio, o que representa mais inclusão social.

d) Por consequência da nova dimensão dada aos resultados do Enem pelas políticas públicas do Ministério da Educação, constituindo-se como uma forma

de acesso ao ensino superior, o exame encontrou maior ressonância entre os participantes, o que promove o aumento da demanda nos municípios, requerendo mais locais de aplicação.

e) Para atender às novas finalidades que foram agregadas ao exame ao longo dos anos, o Enem passou de um mecanismo de avaliação low stakes – “pouco em jogo” para o estudante avaliado, para high stakes – “muito em jogo” para o candidato que estará competindo por uma vaga no curso da educação superior.

f) A expansão do serviço público do Enem levou ao fato de que vários locais utilizados para aplicação fossem escolhidos sem serem adequados em termos de infraestrutura (salas, acesso, mobiliários etc.) e, principalmente, em termos de segurança.

g) Por consequência, a necessidade de disponibilização de mais locais de aplicação agregou mais pessoas com menor experiência, menor espírito público para atuar, sobretudo na função de coordenador de local.

Tais questões serão objeto de nossa análise, considerando os aspectos que envolvem os critérios de escolha dos municípios em que são realizadas as provas, a definição dos locais de aplicação, a seleção de pessoas, o treinamento das equipes, e os procedimentos de aplicação antes, durante e após a realização do exame.

No Capítulo 2, a seguir, apresentaremos o caminho percorrido para a análise da Fase 5, que diz respeito à preparação e à aplicação dos testes, abordando o referencial teórico do trabalho, a metodologia de pesquisa – embasada na realização de dois grupos focais com os gestores públicos que prescrevem as ações do Enem e com os agentes privados que organizam a aplicação das provas –, além da análise dos dados e dos resultados.

2 OS DESAFIOS DA APLICAÇÃO DO ENEM NA PERSPECTIVA ANALÍTICA DA