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Seguimento tardio dos pacientes fora de tratamento oncológico (follow up)

da criança oncológica

C Bloqueadores de canal de cálcio B

15. Seguimento tardio dos pacientes fora de tratamento oncológico (follow up)

O prognóstico do câncer pediátrico melhorou significativamente nas últimas três décadas. Atualmente mais de 70% das crianças e adolescentes com câncer sobrevivem mais de cinco anos após o diagnóstico da doença, e isto resultou em um aumento do foco nos efeitos tardios da terapia e na qualidade de vida dessa crescente população de sobreviventes. O termo “efeito tardio” é utilizado para sequelas, tanto físicas quanto psicológicas, que persistem ou se desenvolvem após cinco anos do diagnóstico do câncer. Aproximadamente 70% dos sobreviventes do câncer experimentam pelo menos um efeito tardio, porém menos de 40% desenvolvem condições graves, incapacitantes ou ameaçadoras de vida306.

Cardiotoxicidade é uma das complicações mais graves da terapia oncológica. A mortalidade relacionada à cardiopatia é quase 10 vezes mais alta entre os sobreviventes do câncer infantil do que um grupo-controle da mesma idade307.

Doenças cardiopulmonares são a terceira causa de morte nesta população, depois de recidiva do câncer primário e segunda neoplasia307,308.

Pela definição original de cardiotoxicidade de início tardio, há um período durante o qual nenhuma disfunção ventricular esquerda ou arritmia é detectada, a função cardíaca parece normal e o paciente é assintomático. Seguindo esse período de latência, há deterioração progressiva da função ventricu- lar esquerda, com surgimento de sintomas clínicos, que são associados à alta incidência de morbidade e mortalidade. Esse período de latência, antes do diagnóstico de cardioto- xicidade tardia, tem-se tornado relativo, já que a cardiomio- patia assintomática tem sido detectada por meio de exames ecocardiográficos – convencional em repouso e sob estresse farmacológico, avaliação da deformidade miocárdica –, testes eletrofisiológicos e angiocardiografia com radionuclídeo.

A cardiotoxicidade tardia em crianças é presumivel- mente causada pela redução do potencial de crescimento do miocárdio, secundária à lesão dos miócitos pelas an- traciclinas. Com o crescimento somático dessas crianças, há uma inadequação da massa ventricular esquerda, com excessiva pós-carga e função diminuída308. Uma terapia

com hormônio de crescimento poderia desencadear des- compensação cardíaca, por exacerbar esse mecanismo309.

O reconhecimento dessa forma de cardiotoxicidade tardia tem levado à necessidade de monitorização por tempo indeterminado dos sobreviventes de câncer infantil.

cardiotoxicidade pode manifestar-se como cardiomiopatia, pericardite, insuficiência cardíaca congestiva, doença valvar ou doença coronariana prematura. Quimioterapia com antracíclicos e radioterapia mediastinal e/ou cervical são as causas mais comuns de complicações cardiovasculares nos sobreviventes de câncer infantil, porém uma variedade de outros agentes também podem estar implicados.

O Childrens Oncology Group (COG), um grupo cooperativo norte-americano que coordena pesquisas relacionadas à oncologia pediátrica, publicou em 2008 diretrizes especificamente desenhadas para dirigir o seguimento de pacientes tratados por neoplasia pediátrica310. A Diretriz

do COG é baseada no risco que cada sobrevivente tem de desenvolver determinado efeito tardio tendo como base a exposição terapêutica, incluindo cirurgia, quimioterapia, radioterapia e transplante de células-tronco hematopoiéticas. Nós propomos a utilização dessas diretrizes no nosso meio (Quadro 12)310. Lembramos que essas são recomendações

conservadoras para triagem periódica do sobrevivente de câncer pediátrico baseada na idade do paciente ao

diagnóstico, tratamento recebido e dose cumulativa de radiação e antraciclinas. O conhecimento adquirido por meio do seguimento contínuo dos sobreviventes deve ajudar a refinar essas recomendações no futuro.

O escore utilizado foi o National Comprehensive Cancer

Network (NCCN) Categories of Consensus modificado311.

O escore reflete o peso da evidência na literatura médica, ligando a doença cardiovascular a exposições terapêuticas específicas durante o tratamento oncológico, considera também a adequação da recomendação de triagem de acordo com a experiência clínica do painel de especialistas. Considerou-se evidência de alto nível aquela derivada de estudos caso-controle ou de coorte de alta qualidade, com amostragem adequada e poder estatístico suficiente para provar a hipótese. Considerou-se evidência de baixo nível aquela derivada de estudos não analíticos, séries ou relato de caso, e experiência clínica dos autores. Para as diretrizes do COG foram avaliados cerca de 500 estudos, publicados entre 1985 e 2005. As recomendações foram graduadas de acordo com o nível de evidência mostrado no Quadro 13.

Quadro 12 – Monitoramento de doença cardiovascular após o tratamento oncológico

Agente

Terapêutico Efeito Tardio Fatores de Risco Recomendações Score

Antracíclicos Cardiomiopatia Arritmia Disfunção subclínica de ventrículo esquerdo

<5 anos de idade na época do tratamento Sexo feminino Raça negra ou afro-descendente Dose cumulativa: 300mg/ m² (<18 anos na época do tratamento), 550mg/m² (≥18 anos na época do tratamento),

qualquer dose em lactentes RXT tórax: ≥30Gy Tempo decorrido do término

do tratamento

História clínica e exame físico anual ECO de base e periodicamente – frequência de acordo com a idade ao tratamento, dose de RXT

e dose cumulativa de antraciclinas ECG de base para avaliação de QTc

1 RXT mediastinal ICC Cardiomiopatia Pericardite Fibrose pericárdica Doença valvar IAM Arritmia Doença aterosclerótica Sexo feminino Raça negra ou afro-descendente <5 anos de idade na época do

tratamento Campo de RXT anterior RXT sem escudo subcarinal Doses ≥30Gy em pacientes que receberam antraciclinas Doses ≥40Gy em pacientes

que não receberam antraciclinas Tempo decorrido do término

do tratamento

História clínica e exame físico anual ECO de base e periodicamente – frequência de acordo com a idade ao tratamento, dose de RXT e

dose cumulativa de antraciclinas ECG de base para avaliação de QTc Glicemia de jejum e perfil lipídico a cada 3-5 anos

1 RXT de pescoço ≥40Gy Doença de artéria coronária e subclávia ND

História clínica e exame físico anual US Doppler conforme indicação clínica

RXT de pescoço

≥40Gy

Quadro 13 – Categorias de consenso das diretrizes do COG

Categoria Estado do Consenso

1

Há consenso uniforme entre os especialistas do painel de que existe alto nível de evidência associando o

efeito tardio à exposição terapêutica, e a triagem recomendada é apropriada baseada na experiência

clínica dos membros do painel.

2A

Há consenso uniforme entre os especialistas do painel de que existe baixo nível de evidência associando o efeito tardio à exposição terapêutica, e a triagem recomendada é apropriada baseada na experiência

clínica dos membros do painel.

2B

Há consenso não uniforme entre os especialistas do painel de que existe baixo nível de evidência associando o efeito tardio à exposição terapêutica, e a triagem recomendada é apropriada baseada na

experiência clínica dos membros do painel. 3 Há considerável divergência de que a recomendação

é apropriada.

16. Profilaxia contra endocardite infecciosa