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A SEGUNDA DERROTA DE SILVIO BERLUSCON

2.1 1994: A ENTRADA “TELEVISIVA” NA POLÍTICA

2.6. A SEGUNDA DERROTA DE SILVIO BERLUSCON

Entretanto, tendo em conta os resultados das últimas eleições regionais, pelos partidos do centro-esquerda se espalha um sentimento de optimismo em vista das eleições do novo parlamento. Será, mais uma vez, Romano Prodi, que voltava para a Itália depois da experiência da Presidência da Comissão Europeia, em Bruxelas, a liderar a coligação do

Ulivo. O desafio em 1996 será, portanto, repetido.

2.6.1. A “quase vitória” de Romano Prodi

O período pré-eleitoral é inflamado pela publicação de sondagens de opinião, encomendadas principalmente por vários jornais nacionais, que prevêem uma vitória de

L'Unione, a coalizão de centro-esquerda formada para apoiar a segunda candidatura de

Romano Prodi para o cargo de chefe de governo, com cerca de 5% de vantagem sobre a Casa das Liberdades de Silvio Berlusconi. Apenas três pesquisas de mercado encomendadas por Berlusconi e desenvolvidas por uma empresa dos EUA dão uma ligeira vantagem à aliança chefiada pelo Cavaliere.

Enquanto isso, no dia 1 de Março de 2006, Silvio Berlusconi fala perante o Congresso dos Estados Unidos, em sessão plenária, convidado a dar uma palestra para ambas as Casas do Congresso dos EUA, reunidas em sessão conjunta, como tinha acontecido anteriormente com outras personalidades da política italiana como De Gasperi, Craxi e Andreotti. Durante a sua intervenção, o primeiro-ministro agradeceu aos Estados Unidos

pela libertação da Itália durante a Segunda Guerra Mundial. Em dezembro de 2010, um documento da Embaixada dos EUA na Itália, que remonta a alguns dias antes da reunião com Bush em Outubro de 2005 e lançado pela WikiLeaks, revelou que esta intervenção foi explicitamente solicitada por Berlusconi, desde o Outono, para fins da campanha eleitoral, e que ele teria apontado na sua campanha eleitoral para uma política externa pró-EUA, em oposição ao pró-europeu Prodi, especialmente sobre a questão do Iraque, na altura, particularmente importante. O evento teve, de facto, grande eco mediático, sendo transmitido em directo televisivo, pelos canais de propriedade de Berlusconi.

Desta vez, porém, a vitória vai para a coalizão da Unione de Romano Prodi, não sem abrir alguma frente polémica: o ex-presidente da Comissão Europeia, de facto, ganhava por pouco mais de vinte mil votos (24.755 votos equivalentes ao 0,06%) na Câmara dos Deputados, e alguns milhares de votos até mesmo menos do que a aliança oposta, liderada por Berlusconi, no Senado. Para a vitória do centro-esquerda, contribuíram decisivamente os eleitores italianos residentes no exterior que votaram na sua maioria para a coalizão de Romano Prodi.

A Unione, portanto, ganhava por pouquíssimos votos por causa de uma nova e complicadíssima lei eleitoral que tinha entrado em vigor sob o governo Berlusconi, nos últimos dias do seu mandato, e que o seu próprio criador, o membro do partido da Lega

Nord, Roberto Calderoli, tinha definido como uma porcata, uma porcaria, de maneira

que, a partir daí, será chamada lei porcellum.

O Cavaliere nunca se considerou vencido e, na sequência dos acontecimentos mencionados, denunciou fraudes eleitorais. Solicitou e conseguiu que os votos fossem novamente contados, e, não satisfeito, sugeriu formar um governo institucional de unidade nacional, julgando o resultado da eleição praticamente um empate. A Unione é contrária e, apesar de uma maioria mínima no Senado, forma um novo governo, relegando, pela segunda vez, Silvio Berlusconi à oposição. De resto, os comités para as eleições, que se activaram para a recontagem dos votos, em Setembro de 2007, irão confirmar o resultado da vitória de Romano Prodi.

2.6.2. Nasce o Popolo della Libertà

Berlusconi, porém, nunca reconhecerá a sua derrota e, não desistindo, inventará uma útil e extraordinária operação de marketing: a transição de Forza Italia para o novo Popolo

della Libertà. De 16 de maio até 18 de novembro de 2007, Berlusconi patrocina, de facto,

uma petição para pedir eleições antecipadas, com o objectivo de recolher, pelo menos, 5 milhões de assinaturas. O resultado anunciado, de acordo com fontes do partido, era de 7.027.734 adesões, embora existam dúvidas sobre o número e a verificação da regularidade dos acessos via Internet e via SMS.

Com esse número em mãos, em 18 de novembro, durante um comício na Piazza San Babila, em Milão, Berlusconi anuncia, sem antes consultar os seus aliados políticos, a dissolução de Forza Italia e comunica o nascimento iminente do Popolo della Libertà (PDL), um partido único de centro-direita. Ele o faz de repente, usando o estribo de um Mercedes como um “palco”, até o ponto que este anúncio será lembrado nas crónicas políticas como o "discurso do estribo" (discorso del predellino). O objectivo da nova criatura política era recuperar o consenso de todos os moderados que não se identificam com os valores da esquerda. O PDL era, portanto, não só um novo partido, mas sim um grande projeto de uma única força política que apontava para a democracia e a liberdade que, por si, só Forza Italia não podia garantir.

Uma posterior petição, realizada a 1 e 2 de Dezembro de 2007, confirma, com 63,14% dos votos, o nome da nova formação política Popolo della Libertà, designação que já tinha sido anteriormente usada para indicar os manifestantes de uma enorme iniciativa anti-governamental, promovida e organizada pelo partido de Berlusconi e realizada em Roma em 2 de Dezembro de 2006, que tinha visto, de acordo com os organizadores, a participação de mais de dois milhões de pessoas. Entre os aliados da coligação de Berlusconi só Alleanza Nazionale fará parte do PDL: o seu líder, Gianfranco Fini decidirá, de facto, dissolver o partido para se juntar à nascente formação política.