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Segunda dimensão dos direitos fundamentais: direitos sociais

CAPÍTULO 1 PREMISSAS TEÓRICAS: LIBERDADE, DIREITOS

3. Liberdade e os direitos fundamentais

3.1 Aspecto dimensional dos direitos fundamentais

3.1.2 Segunda dimensão dos direitos fundamentais: direitos sociais

A segunda dimensão dos direitos fundamentais se cristalizou no século XX, como os das Constituições do México (1917), Weimar (1919), Tratado de Versalhes – OIT (1919) e na Constituição do Brasil (1934), são os sociais, culturais e econômicos, bem como os direitos coletivos ou de coletividades, introduzidos pelos Estados Sociais de Direito, como as Cartas Marxistas ou de Weimar, da Segunda Grande Guerra, que exsurgiram com o sentimento antiliberal e burguês do antigo regime. São inerentes a isonomia sem a qual não podem se separar, já que imiscuídos em suas estruturas, como fundamentais um ao outro.

Dependem de atuação legiferante, o que o faz passar por sérias crises de baixa normatividade, já que muitas vezes deixam de ser aplicáveis, sob a desculpa de carência ou limitação de meios materiais. Por isso que possuem eficácia diferida, como leciona Jorge Miranda, e estão na esfera programática.81

80 Ibidem.

81 Apesar de parte da doutrina ser relutante no que toca a estes direitos de segunda

Concluindo que quase todos os sistemas jurídicos denotam a noção que apenas os direitos anteriores eram de aplicabilidade imediata e os direitos sociais tem aplicabilidade mediata, por via legislativa.

Os direitos sociais trouxeram a nova consciência de que tanto quanto resguardar o individuo per si, conforme a clássica dos direitos de liberdade, o importante era proteger as instituições, em uma realidade social muito mais pujante e aberta à participação de todos e a valoração não só da chamada solidão individualista, do homem abstrato e insular, agora se fala em garantias institucionais, que são pertinentes a instituições de direito público que

destes direitos perante o corpo social dominante do pós-guerra. Justificados sob um prisma especial, os direitos sociais como fundamentais, se previstos na Constituição de forma incompleta e que demandem uma atuação do legislador infraconstitucional, não deixam de ser fundamentais e ainda menos ausentam de um dever Estatal, muito pelo contrário. As normas programáticas que possuam um caráter fundamental não são ínfimos programas que não necessitam de obrigatoriedade, são imposições legislativas concretas, em que o Estado e todos os órgãos de poder, bem como as entidades públicas estão vinculadas, seja qual for seu trejeito ou forma de atuação, deve toma-las como referencial e fundamento, tendendo a conferir-lhes a máxima eficácia possível, assim como em relação ao conjunto dos preceitos normativos e atos jurídicos-públicos (ou administrativos) os quais devem criar condições capazes de permitir ao corpos sociais de usarem e gozarem efetivamente dos seus direitos em um âmbito de Estado Democrático de Direito, mesmo ainda que exista alguma alegação de incapacidade material e econômica para a execução de tais políticas para aplicação dos mesmos. Essa justificativa não enseja o fundamento necessário para que não haja uma serventia destes a sociedade. Restrições orçamentarias e escassez de recursos não seriam suficientes, de forma absoluta, para afastar a aplicação mínima de direitos sociais, pois o Estado tem de dispor e poder dispor dos correspondentes fundos econômicos objetivamente exigidos para a realização destes direitos. Deve-se levar em conta um standart mínimo (ou minimum core), prioridades de opções políticas acerca de um equilíbrio de recursos e necessidades para determinar a existência de direitos em cada caso concreto, dado que não são aceitáveis um imperativo de otimização, é claro, com um pressuposto necessário de gradualismo e flexibilidade de realização. In ANDRADE, José Carlos Vieira de. Os

Direitos Fundamentais..., p. 153; MIRANDA, Jorge. Op. cit., pp. 382-383 e NOVAIS,

Jorge Reis. Direitos Sociais..., pp. 59 e 243. Aliás a professora Katharine Young lembra que este tal de minimum core está amplamente interligado além da dignidade da pessoa humana a igualdade e a liberdade: “A value-based core goes further than the “basic needs” inquiry by emphasizing not what is strictly required for life, but rather what it means to be human. There is, of course, a connection between these teleological theories and those related to life, especially the most expansive conceptions of life, which seek to imbue human life with a special meaning and give substance to the right to live as a human being. Nonetheless, I distinguish the value- based core by its more pointed emphasis on human dignity, equality, or freedom. This Section focuses on how human dignity, a value that arguably represents the reigning ideology of both human rights and liberal constitutionalism, substantiates the minimum core.” In YOUNG. Katharine G. The minimum core of economic and social rights: a

concept in search of content. Connecticut: Yale International Law Journal 33, 2008,

“compõem uma parte da administração de assuntos públicos”, conforme diz Carl Schmitt.82

Emerge uma nova conceituação de direitos fundamentais, inovadora tanto quanto as diversas outras dimensões, mas que foi inaugurativa, já que vinculou materialmente a uma liberdade “objetivada”, envolta em vínculos normativos e institucionais, com valores sociais que demandam realização fática, onde o Estado se transmuta em um artífice e um agente de deveras importância para que se concretizem os direitos fundamentais desta segunda dimensão.

Esta concepção de objetividade fez com que a igualdade, quiçá a liberdade, tomasse um nuperrímo aspecto, deixando de ser apenas considerado um mero direito individualista que demanda cuidado igualitário e horizontal, para ir além, conforme demonstra os estudiosos do constitucionalismo alemão, por exemplo, em uma dimensão objetiva de garantir em face de abusos e arbítrios do Poder Estatal.83

3.1.3 Terceira dimensão dos direitos fundamentais: direitos coletivos