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Fonte: YouTube (2015d)

Juntamente com os vídeos já vieram as ideias de como mobilizar os amigos, e demais conhecidos, a votar no seu vídeo durante os próximos dias. Rafael, por exemplo, criou algumas

imagens que ia publicando diariamente no Facebook para mobilizar os amigos e incentivar a campanha por votos, como esta série, ilustrada na imagem a seguir, vinculando elementos que os unem – no caso, o gosto pela série Star Wars, já que se intitulam como um “casal nerd”:

Figura 14- Imagem de campanha para casamento de Rafael e Ana Carolina

Fonte: Acervo do pesquisado

4.2.6.2.4 O encontro dos vencedores e a emoção do momento

A divulgação dos vencedores ocorreu no final da tarde do dia 11 de junho de 2015, sendo que os casais ganhadores da votação deveriam estar na sede do Rock in Rio, no Rio de Janeiro, no dia 12 de junho de 2015 para receber as instruções de como seriam realizados os casamentos e conhecer a equipe responsável por acompanhá-los nessa trajetória até o grande dia.

Nesse dia, foram passadas todas as orientações, e os casais também puderem se conhecer, além de realizar o sorteio dos dias que cada um iria realizar a cerimônia no festival. Os casais comentaram que tiveram uma recepção muito calorosa, com um corredor de balões e muito carinho por parte da equipe do festival quando todos comentavam suas histórias. Disseram que chegaram a se sentir “celebridades”. A seguir, fotografia dos casais ganhadores juntamente com a equipe do Rock in Rio (Figura 15):

Figura 15- Casais ganhadores do concurso “Eu vou casar” no Rock in Rio 2015.

Fonte: Acervo dos pesquisados

No que se refere às instruções, a equipe do festival falou da questão de que era realmente um casamento, um momento especial, e não algo solto no meio do festival. Assim, eles deveriam ir bem vestidos, por exemplo, pois seria um momento importante. Também passaram para todos o manual de procedimentos a serem seguidos – tendo como base os trâmites nos cartórios do Rio de Janeiro –, o que fez com que os pesquisados de fora do estado tivessem alguma dificuldade em conseguir os documentos conforme instruído. No entanto, as dúvidas foram supridas, segundo eles, com apoio da equipe do festival.

No que se refere à escolha dos dias de casamento, foi realizado um sorteio, no dia 12 de junho, dependendo do interesse dos casais em cada dia. Todos saíram com as suas datas de casamento confirmadas e satisfeitos, com exceção de um casal, Bruna e Willian, que pegaram um dia que tinha uma banda com a qual não se identificavam, no dia 25 de setembro, quando a atração principal era a banda Slipknot, que toca rock pesado e se veste com máscaras no estilo de filmes de terror. O casal ficou muito triste, pois não conseguia imaginar seu casamento, um momento tão importante, num dia em que o público e a banda principal não tinham nenhuma conexão com eles. Em virtude disso, mandaram uma carta para a comissão do festival explicando a situação e perguntando se não poderiam casar no mesmo dia de outro casal, pois, se não fosse possível, estavam muito gratos, mas iriam abrir mão do casamento. A equipe do Rock in Rio considerou a situação e, junto com o casal, ficou acordado que o casamento seria realizado no dia 18 de setembro. Tal alteração, que ocasionou a inclusão de mais, um casal em

um dos dias, gerou alguns desconfortos entre os casais selecionados, pois o casal que havia ficado para casar no dia 18 não gostou da ideia de ter que dividir o seu dia de casamento.

Ainda com relação ao encontro dos ganhadores do concurso, os casais ganharam uma lembrança da produção do festival para marcar aquele momento. As noivas receberam uma gargantilha com pingente em forma de guitarra, e os noivos, uma guitarra em miniatura (Figura 16).

Figura16 - Rafael com aslembranças encontro casais ganhadores

Fonte: Acervo do pesquisado

4.2.6.3 A relação com o Rock in Rio durante o concurso

Os casais foram unânimes em afirmar que a esquipe que ficou em contato com eles do festival estava sempre disponível para auxiliá-los, não importava a hora que fosse, com respostas rápidas ou ligações para esclarecer os pontos de dúvidas ou inquietações dos noivos. Durante o período posterior à confirmação do concurso, quando começou a organização do casamento, propriamente dito, os casais estavam em constante contato com a equipe do festival, que tirava dúvidas, e também criaram um grupo no aplicativo WhatsApp para compartilhar seus anseios, dúvidas e planos. Para cinco dos casais pesquisados, a satisfação com essa fase pré- casamento foi total. Apenas um dos casais declarou ter ficado insatisfeito por ter que dividir o seu dia de casamento com outro casal, alegando que isso não estava previsto no regulamento e que eles haviam cumprido tudo o que lhes cabia. A organização do festival não comentou muito o caso; apenas disse que fez o necessário para que os noivos pudessem casar em dias que tinham uma identificação com o festival e que o regulamento previa alterações.

Quanto à preparação para o evento, inicialmente o festival estava comprometido apenas com as despesas do casamento civil e a decoração da capela (conforme regulamento, apresentado no Anexo C). No entanto, no decorrer do período, a organização do festival incluiu quatro ingressos para os padrinhos, além de estabelecer parcerias e ofertar aos casais os seguintes itens aluguel de vestido e traje para os noivos, buquê da noiva, bolo de casamento, um “camarim” para a noiva e outro para o noivo, maquiagem e barbeiro (realizados no dia, no camarim dos noivos), orquestra tocando quatro músicas escolhidas pelos noivos durante a cerimônia, além de filmagem e fotografia. A estrutura e o tamanho do camarim os noivos só ficaram sabendo no dia do casamento, que contava com ar-condicionado, bebidas, alimentação e serviço de copa e limpeza.

Esses serviços foram ofertados a todos os casais, mas o aluguel de vestido e traje ficou restrito aos casais do Rio de Janeiro, em virtude de ser a sede dos parceiros. No entanto, esse não foi necessariamente um ponto de crítica, pois os casais afirmaram que já estavam bem felizes com tudo o que estavam recebendo a mais do previsto no regulamento. Em alguns casos, como os casais de Belém e de Vitória, as noivas já estavam com seus vestidos providenciados junto a estilistas locais. A seguir, o relato de uma das noivas envolvendo a roupa para o casamento:

As noivas do Rock do Rio, quase todas conseguiram [alugar vestido], porque, assim, quem era de fora do Rio tinha toda aquela questão da logística, né. Não tinha como experimentar e tudo mais. Acho que eles não conseguiram fornecedores, parceiros, né, fora do Rio [...], mas eu fui uma dessas privilegiadas, que foi muito engraçado porque, como não estava no orçamento vestido, eu falei, cara, como é que eu vou arrumar um vestido, né? O que tem pra hoje e, assim, seja o que Deus quiser. O importante é eu casar e me divertir. E, se alguém reclamar da minha roupa, fique à vontade pra me dar uma. Mas eu estava, assim, bem, poxa, bem triste com o vestido que eu ia arrumar. O pessoal estava todo empolgado com a roupa deles, de como ia se vestir e tudo mais, aí o Rock in Rio foi e perguntou se tem interesse em aluguel de roupa de noivas. Na mesma hora eu queria. O Rafael disse: “não quero casar de terno”, eu falei, “mas você vai”. Mas aí, no fim, eu falei pra ele que provavelmente teria opções se ele queria casar só de gravata e colete. (Ana Carolina)

Naiara e Mayara, que já haviam comprado os vestidos, gostaram da novidade e ainda não haviam decidido se iriam casar-se com os vestidos que tinham ou se iriam optar pelos do fornecedor do festival. Essa foi uma das características desses elementos novos concedidos: os casais iam recebendo, a cada semana ou mês, uma novidade sobre o casamento, de modo que a experiência era gradualmente enriquecida pelos novos elementos. Esse processo também foi novo para o festival, pois foi a primeira vez que realizaram casamentos – tantos e nesse formato – no Brasil.

Os pesquisados relataram que a equipe de organização, além de estar sempre disponível para tirar dúvidas sobre situações que poderiam afetar o casamento, também auxiliou nos processos legais, já que alguns casais tiveram dificuldade com a documentação. Quando surgia um assunto mais delicado, como o caso de Bianca, cuja mãe havia sofrido um acidente e precisaria de suporte para chegar de cadeira de rodas, os casais mencionaram que o pessoal do Rock in Rio sempre ligava para conversar, evitando uma conversa mais fria por e-mail e mensagem. Essa atenção fez com que eles se sentissem mais acolhidos e mais confiantes quanto à seriedade e ao comprometimento da equipe em realizar uma cerimônia especial.

Sobre os parceiros, os casais pesquisados elogiaram o carinho e a atenção com que foram tratados pelos fornecedores dos serviços e produtos - do aluguel do vestido à maquiagem- , visto que todos estavam comprometidos em tornar aquele dia mágico para eles. No entanto, observaram que, como os fornecedores eram distintos para cada casal, houve algumas diferenças, como o tamanho e o modelo dos bolos (uns com um andar e outros com três).

4.2.6.2.4 O grande dia

O grande dia foi marcado por muitas emoções e situações inusitadas. Teve um casal cujo carro estragou a caminho do festival, e outros que haviam passado a semana tentando ingressos para os pais e que receberam a confirmação de um dos patrocinadores apenas no dia do casamento. Assim, a emoção fez parte desses casamentos mesmo antes do momento do “sim”. O casal Ana Carolina e Rafael havia decidido não levar os pais porque não sabia a estrutura que haveria para eles; no entanto, após ficar sabendo do camarim com ar-condicionado do primeiro dia de casamento, começou uma corrida para conseguir três ingressos para seus pais. Para isso, Rafael apelou para a Pepsi, uma das patrocinadoras do festival, através de e- mail, Facebook e Twitter:

Aí na quinta-feira de manhã [dia do casamento], fui, peguei as camisas, voltei pra casa, a Pepsi não falou nada, tá. Foi, deu 10:20, eu estava indo tomar banho, meu Deus, [fui] fazer a barba e tal, cabelo, e a Pepsi mandou a mensagem: “Se prepara que essa noite vai ser épica. Nós conseguimos os três ingressos para você, e seus pais vão assistir ao casamento”. Pô, foi uma loucura. Foi um desespero total, eu não sabia se eu comemorava, chorava, sorria, se eu ligava pra eles, se eu falava com o celular do meu pai e o telefone de casa com a minha mãe. A Carol foi lá pra casa, que eu tinha mandado mensagem pra ela “oh, a tua mãe vai pro casamento”, só que ela não conseguia falar comigo porque eu estava usando uns dois telefones de casa. “Ela falou que está precisando de ajuda”. Aí foi uma correria, minha mãe mora num bairro um pouco distante daqui – mora não, a minha irmã mora, mas a minha mãe estava lá, né. Meu pai mora no outro lado, na outra cidade que é vizinha, aqui, da cidade do Rio de Janeiro. E ele estava ajudando um pedreiro lá na obra na casa dele, foi uma correria absurda, absurda. “Sei lá, vou dar um jeito”, falei pro meu pai, “pai, não vai dar tempo, pai, vai

pra casa, toma banho, pega a primeira roupa que tiver, se não der pra tomar banho, a gente dá um jeito lá, a gente tem que – você vai, a Pepsi conseguiu e, pô, não vai dizer não pra Pepsi”. Todo trabalho que eles tiveram, pô, e o meu também, né, de conseguir o ingresso. Aí, meu pai é taxista, né, ele veio aqui, buscou minha sogra, foi lá, buscou minha mãe, a gente foi na frente, porque tinha que pegar as credenciais e tal. (Rafael)

Os seis casais pesquisados definiram a experiência de casar no festival como um dia perfeito, inesquecível, emocionante, sensacional, inacreditável, ou “sem adjetivos para explicar tamanha emoção”.

Figura 17 - Casal Ana Carolina e Rafael na Capela montada na Rock Street onde foi celebrado o casamento.

Fonte: Acervo dos pesquisados

A seguir, frame do vídeo que mostra os preparativos no camarim e o casamento de Naiara e Mayara, que protagonizaram o primeiro casamento homoafetivo do Rock in Rio. As noivas comentaram que foram tratas com muito respeito e carinho pela organização o que incluiu até a descrição da porta do camarim no dia do casamento (ambas com a inscrição “Noiva”).