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1.1 O Programa Nacional de Alimentação escolar: seu histórico, arcabouço

1.1.1 Segurança e educação alimentar e nutricional do escolar

As escolas públicas são locais que atendem a grande número de pessoas vulneráveis em relação à nutrição e questões socioeconômicas, e por isso, deve-se atentar para as condições do alimento servido já que, muitas vezes, esse alimento é a única refeição consumida no dia pelos escolares (BRASIL, 2006b). Sabidamente, a escola é reconhecida por participar de forma expressiva na vida dos alunos quanto à construção de conceitos e opiniões, atuando como referência para a implantação de programas educativos que irão permitir políticas públicas para melhorar as práticas estabelecidas para a execução do PNAE, garantindo refeições adequadas e seguras aos alunos.

A importância da alimentação durante a permanência dos alunos na escola envolve não somente a questão da fome e satisfação de nutrientes em si, mas também se faz necessária por promover a operacionalização do corpo humano, em especial o cérebro, que na falta de energia não consegue realizar funções básicas como pensamento, reflexão, memória, assimilação, aprendizagem, atenção para demandas orgânicas tais como a fome, a sede, o sono, a vontade de ir ao banheiro, a falta de ar, o calor ou o frio (CARVALHO e CASTRO, 2010).

Nesse sentido, defende-se que quando os alunos são bem alimentados, com uma refeição de qualidade, se consideram parte atuante das escolas na tomada de

decisões, dessa forma, passam a ter um maior interesse em consumir os alimentos ofertados pela escola, demonstrando um melhor desenvolvimento social e pessoal. Consoante a isso, Maria e Rezende (2014) destacam:

O serviço de alimentação escolar envolve a expectativa do aluno para o alimento oferecido em relação à qualidade, sendo essa relação fundamental para o bom funcionamento dos programas de alimentação escolar e ainda garantirá que o aluno tenha vontade de continuar se servindo do alimento distribuído (MARIA e REZENDE, 2014, p. 8).

A alimentação escolar abrange importante significado em seu conceito, que vão além da satisfação das necessidades biológicas, englobando também a satisfação do indivíduo ao se alimentar, podendo ser uma porção definida de alimento, suprindo a necessidade momentânea, ou um prato cheio com alimento servido à vontade. No entanto, segundo Bezerra (2009), esse conceito de merenda escolar satisfatória diverge quando se considera os diferentes grupos envolvidos com a escola: professores, gestores, merendeiras e alunos.

Quando há disponibilidade de alimentação escolar, os alunos se apresentam mais alegres, não faltam às aulas e têm rendimento satisfatório quanto à aprendizagem e que, na falta da alimentação escolar o rendimento escolar e a concentração dos alunos diminuem, além de ficarem mais tristes, irritados e difíceis de controlar (BEZERRA, 2009). Considera-se, portanto, que a segurança alimentar seja efetivada pela oferta da alimentação escolar como um direito fundamental, auxiliando de forma direta o desenvolvimento do aprendizado do escolar, principalmente nas fases iniciais de sua formação, dependendo também das condições de vida da criança.

Entretanto, a temática da alimentação escolar não envolve apenas a questão do “saciar” a fome temporariamente. Pois, ao ouvir pela primeira vez o termo alimentação escolar, é possível imaginar tratar-se de uma política pública de aplicabilidade factível, mas ao analisar o tema sob um olhar mais profundo observa- se a quantidade e variedade de aspectos que se relacionam ao tema. Tornando o assunto inesgotável, sem dogmas ou verdades incontestáveis. Isto nos leva a perceber que, trata-se de uma matéria que necessita de muita reflexão.

Nessa lógica, o fornecimento de alimentação escolar possui em seu bojo a expressão de óticas diferenciadas como a ótica da saúde que visa prevenir problemas de desnutrição. A ótica da escola que busca evitar o fracasso escolar, a

ótica assistencial que objetiva matar a “fome do dia” como produto de uma única necessidade insatisfeita e a ótica da demanda que prima pelo respeito para com os alunos. Esta última ótica está relacionada às questões como a atenção das crianças nas atividades escolares, a frequência, a evasão e a repetência escolar, e a necessidade decorrente das energias gastas durante o período escolar (PEDRAZA e ANDRADE, 2006).

Ademais, uma vez que a oferta da alimentação escolar serve para sanar a fome no período letivo, o estudante apresenta um melhor rendimento ao conseguir desenvolver uma melhor atenção na sala de aula. Esse aspecto, por sua vez, favorece o objetivo educativo incutido na alimentação escolar, pois, quando os alunos estão com fome, é impossível que o processo de assimilação de conhecimentos possa ser consolidado de forma satisfatória.

É importante mencionar, que cabe à escola o papel do reconhecimento de que a alimentação escolar por si mesma, quando bem concebida, pode ser aplicada como fonte de conhecimento sobre alimentação, meio ambiente, agricultura, ecologia, e outros aspectos. O reconhecimento dessa transformação deve contemplar o fato de que a alimentação ofertada no ambiente escolar tem como premissa o consumo de gêneros alimentícios regionais e saudáveis.

Por sua vez, permite, ainda, a garantia do respeito aos hábitos alimentares dos escolares e uma integração às propostas pedagógicas da escola, uma vez que, possibilita discussões sobre alimentação, produção agrícola, saúde e higiene. Nessa acepção, Pedraza e Andrade (2006) recomendam:

Para desenvolver um projeto ou estratégia de educação alimentar e nutricional nos escolares não é imprescindível a criação de uma nova matéria para a sua abordagem. São muitas as áreas de estudo que podem encontrar na alimentação escolar um meio de educação e ensino. Graças a estas relações, é possível debater nas salas de aula os aspectos da boa alimentação, é só relacionar uma atividade básica do dia-a-dia (a alimentação) com as matérias de ensino (PEDRAZA e ANDRADE, 2006, p. 171).

Com o avanço das reformas ocasionadas no sistema educacional brasileiro, tornou-se necessário que a escola reconheça que a alimentação escolar faz parte do processo educativo, principalmente nas asserções relacionadas às condições em que o programa se desenvolve. Permitindo, assim, que haja um ciclo educativo ao passo que, as crianças compartilham esses conhecimentos no âmbito da família,

das amizades e da comunidade. O que nos leva a refletir que é importante ampliar o olhar sobre a alimentação escolar, haja vista que este programa não está limitado somente aos benefícios físicos ou fisiológicos, mas também participa do processo de educação, assim como do processo de socialização e da convivência no âmbito escolar.

A hora da alimentação escolar é instituída por meio do convívio entre alunos, professores e comunidade escolar, tendo o recreio como intenso espaço de socialização. Há uma grande tendência em repetir o comportamento de professores e de outras crianças, que podem ser bons ou ruins. Por isso, ocorre a indispensabilidade de uma alimentação saudável em grupo como parte significante na construção do conhecimento. Neste mesmo sentido, Amaro (2002), enfatiza:

Na medida que tais conhecimentos se constituem em um sistema de significação, também estão vinculados a uma relação de poder, pois fazem parte da disputa na construção de significados sociais (AMARO, 2002, p. 13).

Dessa forma, a prática da alimentação na escola vai adquirindo sentido, características e significações, constituindo espaços e tempo nesse lugar, implicando no processo de transformação da identidade e na construção de conhecimentos dos escolares.

É possível considerar que a alimentação escolar é detentora de significações, as quais envolvem fatores de ordem fisiológica, psicológica, social e cultural. A escola enquanto instituição que dispõe de espaço estruturado, possuidora de objetivos a cumprir, envolve as relações de organização de rotinas e horários, mas, principalmente, a relação entre os alunos no momento socializador que a alimentação escolar proporciona, oportunizando a convivência e a interação entre alunos, professores e funcionários da escola.

Destarte, a alimentação na escola transforma-se em uma prática ou ferramenta pedagógica facilitadora da educação, ao passo que possui características próprias, constituídas em um espaço e um tempo. Entretanto, suas especificidades são inerentes às questões culturais mais amplas sobre alimentação. Dessa forma, os alunos são sujeitos produtores de representações e significações relacionadas ao próprio processo de escolarização, assim, a informação veiculada

por cada alimento se associa às situações nas quais ele é consumido (AMARO, 2002).

Por conseguinte, a escola possui potencial para estimular a formação de hábitos alimentares adequados, pois os momentos das refeições na escola são considerados como atividades pedagógicas de grande valor no aprendizado infantil. E essa relação de aprendizado instituída por meio do consumo de refeições no âmbito escolar permite que o aluno aprenda o valor da alimentação saudável, a diferença entre os alimentos, elaborando um entendimento sobre tudo isso.

1.2 Panorama da rede estadual de ensino da Secretaria de Estado de Educação