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Segurança: “paz aos moradores”

Um dos primeiros aspectos que abordamos foi a sensação de segurança dos moradores na comunidade, perguntando o quanto diriam que se sentiam segu- ros hoje em dia, solicitando que se posicionassem numa escala de 1 a 5 — sendo 1 muito inseguro e 5 muito seguro. Em 2011, 67% dos moradores do Cantagalo disseram que se sentiam seguros e no Vidigal esse total foi de 73%. Em 2013, quando repetimos a pergunta, no Cantagalo o total permanece praticamente inalterado, com 66% dos moradores declarando sentir-se seguros na comuni- dade. Já no Vidigal o percentual aumentou para 82%, num indicativo de que há um efeito positivo na sensação de segurança vindo com a UPP. Na Fazendinha 51% declararam sentir-se seguros na comunidade.

Na rodada de 2013, solicitamos também que indicassem sua sensação de segurança em casa e na cidade, com 90% dos moradores declarando-se seguros em seus domicílios no Cantagalo, 94% no Vidigal e 85% na Fazendinha. Já na cidade, o percentual dos que se sentem seguros é muito baixo, ficando em 22% entre os moradores do Cantagalo, 13% entre os moradores do Vidigal e apenas 5% dos moradores da Fazendinha.

Podemos analisar esses dados tendo como referência aqueles produzidos

pela Pnad 2009,9 em que, entre os moradores da região Sudeste, 79,1% disse-

ram sentir-se seguros em seus domicílios, 67,7% em seu bairro e 51,6% em sua cidade. A grande distância está na sensação de segurança na cidade, que parece ainda negada aos moradores, que não se sentem seguros (ou mesmo confortá- veis) fazendo parte dela.

JANEIRO (Estado). Decreto no 42.787, de 6 de janeiro de 2011: dispõe sobre a implantação, estrutura,

atuação e funcionamento das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) no Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências. Rio de Janeiro, Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, 7 jan. 2011).

9 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amos-

tra de Domicílios: características da vitimização e do acesso à justiça no Brasil, 2009. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

UM B AL AN ÇO D AS UPPS N AS F A VEL AS DO C ANT A G AL O, DO VIDIG AL E DO C OMPLEX O DO ALEMÃ O 151 Esses dados vão no mesmo sentido dos encontrados por Márcia Leite e Luiz

Antonio Machado da Silva ao abordarem a juventude nas favelas pacificadas, identificando desconforto e insegurança na ultrapassagem de fronteiras invisí-

veis ao experimentar a cidade.10

Gráfico 1 | Percentual de moradores que declararam se sentir seguros ou muito seguros

Base: 1.220 entrevistas.

Abordamos, na sequência, a percepção dos moradores com relação aos efeitos que atribuem à UPP na segurança da comunidade, e a grande maioria respondeu à pergunta: “Na sua opinião, após a vinda da UPP para a comunida- de, a situação de segurança melhorou, ficou igual ou piorou?” A maioria res- pondeu no sentido de melhoria (77% no total), sendo na Fazendinha o maior percentual: 87% do total de entrevistados disseram que a segurança melhorou.

10 LEITE, Márcia P.; SILVA, Luiz Antonio Machado da. Circulação e fronteiras no Rio de Janeiro: a

experiência urbana de jovens moradores de favela em contexto de “pacificação”. In: CUNHA, Neiva Vieira da; FELTRAN, Gabriel de Santis (Org.). Sobre periferias: novos com flitos no Brasil contem- porâneo. Rio de Janeiro: Lamparina, 2013. p. 152.

90 90 94 85 63 66 82 51 13 22 13 5 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Cantagalo Vidigal Fazendinha Total Local

152 CID AD ANIA , JUS TIÇ A E “P A CIFIC A ÇÃ O” EM F A VEL AS C ARIOC AS

Quando perguntamos, em 2011, aos moradores do Vidigal, “Na sua opi- nião, caso a UPP seja instalada aqui no Vidigal, como ficaria a segurança na co- munidade, melhoraria, ficaria igual ou pioraria?”, 41% tinham expectativa de melhoria, 26% acreditavam que permaneceria igual, 17% esperavam uma piora e 16% não sabiam o que esperar. Comparando essa expectativa de 2011 com a avaliação do que aconteceu um ano após a instalação da UPP nas entrevistas de 2013, temos que 5% dos moradores avaliam que a segurança piorou, 19% não percebem diferença entre o antes e o depois da UPP no quesito segurança, e 74% acreditam que houve melhoria, com uma minoria de 2% não sabendo avaliar.

A percepção dos moradores do Cantagalo não se alterou entre as duas roda- das da pesquisa, sendo que, em 2011, 71% avaliavam que a vinda da UPP havia melhorado a segurança, percentual que permanece inalterado em 2013. Gráfico 2 | Percepção com relação à segurança na comunidade após a vinda da UPP (%)

Base: 1.220 entrevistas.

Ao falarem sobre como é a vida nas favelas pós-pacificação no que se refere à segurança, os depoimentos vão em dois sentidos. De um lado, relatam o au- mento de furtos, que associam ao sentimento de insegurança, e, de outro, reco- nhecem que o fim das trocas de tiros entre traficantes, e entre estes e a polícia, dá mais tranquilidade para a vida local.

5 8 5 3 4 8 5 1 3 6 15 19 19 8 15 15 17 6 15 16 77 71 74 87 79 75 76 91 80 76 2 2 2 3 3 2 2 1 2 2 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Cantagalo Vidigal Fazendinha Até 4a 5a-8a Médio Superior Branco Preto/

Pardo Total Local Escolaridade Cor

UM B AL AN ÇO D AS UPPS N AS F A VEL AS DO C ANT A G AL O, DO VIDIG AL E DO C OMPLEX O DO ALEMÃ O 153 Aumentou muito. Roubo e furto, aumentou muito. Na época não tinha muito rou-

bo aqui. Antigamente, você poderia dormir até com a tua porta aberta, que ninguém entrava para roubar a sua casa. Hoje, se você deixar a sua casa aberta, nego leva tudo de dentro [liderança, Fazendinha].

As pessoas não têm mais a confiança de sair, viajar e deixar a casa fechada. Não tem mais isso [liderança, Fazendinha].

Ouvimos também críticas à limitação da política, unicamente voltada para o aspecto da segurança, não vindo acompanhada de projetos sociais, conside- rados necessários pelos moradores, assim como relatos quanto à dúvida que paira sobre o tempo de duração e permanência da política — crítica apontada em diversos estudos.

É para melhor, a gente entende que é, mas a nossa realidade os nossos olhos não veem como sendo, entendeu? […]. As nossas favelas foram maquiadas, será que essa questão da UPP é uma maquiagem ou é real? Tudo era questão de prender o trafi- cante [ONG, Cantagalo].

Teve [diferença], não tem como você falar que não teve porque teve! Nós éramos acostumados sair da porta de casa e ver arma, a qualquer momento ter uma guerra. Hoje em dia não temos mais esse problema, mas o Vidigal necessita bem mais do que isso, os projetos que vieram ainda são poucos [liderança, Vidigal].