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Seleção de conteúdos e a zona de desenvolvimento proximal

No documento ENSINAR E APRENDER NA UNIVERSIDADE (páginas 102-105)

PARTE 3 - A AULA UNIVERSITÁRIA E SUA

5.5 Seleção de conteúdos e a zona de desenvolvimento proximal

A relevância da adequação dos conteúdos às características cognitivas dos alunos, retratada acima, é melhor compreendida se levamos em conta a “zona de desenvolvimento proximal” (ZDP). Você já ouviu falar desse conceito? A imagem do bolo, conforme descrita por Ivanilde Moreira no vídeo disponibilizado neste link http://youtu.be/7L2Msmncjys é útil para compreender o conceito. A ZDP pode ser também entendida como uma ponte entre dois pontos: o espaço de travessia entre o que se sabe e o que se pode saber, como representado na figura 12 abaixo:

Figura 12 – Zona de desenvolvimento proximal e a imagem da ponte

Fonte: https://educacaopublica.cederj.edu.br/revista/wp-content/uploads/2015/04/clip_image006.jpg

O lugar correspondente ao doce de leite no bolo ou à ponte entre o saber atual e o saber a ser alcançado, na figura acima, é o onde o educador-mediador deve atuar em sala de aula. O rosto que aparece acima, ao lado da figura da ponte, é o de Vygotsky, quem originalmente apresentou o conceito de ZDP:

A zona de desenvolvimento proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser chamadas de "brotos" ou "flores" do

desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento mental prospectivamente (VYGOTSKY, 1991, p. 97).

Considerando essa formulação teórica de Vygotsky, há uma distância entre o nível de desenvolvimento requerido – uma situação de desenvolvimento almejada na qual sujeito procede autonomamente –, e um outro nível, anterior, em que procede com a ajuda de pares mais capazes. A ZDF consiste, então, na:

Distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1991, p. 97).

Trata-se, portanto, de um instrumento teórico-conceitual que auxilia muitíssimo no ofício o educador, uma vez que por meio dele pode-se considerar mais detidamente o curso interno do desenvolvimento das capacidades nos processos de ensinagem, já que permite “dar conta não somente dos ciclos e processos de maturação que já foram completados, como também daqueles processos que estão em estado de formação, ou seja, que estão apenas começando a amadurecer e a se desenvolver” (VYGOTSKY, 1991, p. 97).

Uma decorrência direta dessa construção teórica incide diretamente sobre a nossa discussão acerca do lugar dos conteúdos no processo de ensinagem: os conteúdos a serem tratados devem estar adequados às características cognitivas do sujeito que aprende. Na zona de desenvolvimento proximal o instrutor, o aprendiz e o conteúdo interagem com o problema para o qual se busca solução (FINO, 2001). Em outras palavras, o professor, atuando na ZDP, utiliza-se instrumentalmente do conteúdo, considerando o que os alunos já sabem, isto é, o que eles já apreenderam com sucesso para, então, mediar novas aprendizagens, aquelas de maior complexidade.

Você já deve ter percebido que a consideração de zonas de desenvolvimento proximais na atividade docente contribui significativamente para a decisão acerca de quais conteúdos usar em sala de aula, e sobre como utilizá-los. Veja que a atenção primordial é direcionada às possíveis aprendizagens, as quais serão mediadas pelo

professor ao trabalhar com os diversos elementos da intervenção pedagógica, dentre os quais o conteúdo, entendido como um dos ingredientes, não como o único ou o mais importante.

Há três implicações pedagógicas apontadas por Fino (2001) em seu estudo sobre a zona de desenvolvimento proximal que me parecem bastante relevantes para pensar a aula universitária. São elas: 1) a noção de “janela de aprendizagem”, 2) o papel do tutor como agente metacognitivo e 3) a importância dos pares mediadores da aprendizagem.

A primeira implicação é que existem janelas de aprendizagem, de formas variadas, a depender do sujeito que aprende, nos diversos momentos de seu desenvolvimento cognitivo. Isso é dizer que numa sala de aula não existe uma única janela de aprendizagem, mas várias, já que são individualizadas. Em alguns casos elas podem ser mais estreitas; noutros, mais largas. Isso, evidentemente, salienta o aspecto subjetivo das aprendizagens. Uma decorrência direta disso é que o educador deve prover uma série de possibilidades (atividades e conteúdos) a fim de que os educandos personalizem suas aprendizagens, considerando os objetivos comuns de uma aula ou curso.

Segunda implicação: o professor-mediador atua no processo metacognitivo, encorajando e proporcionando meios para que os sujeitos reflitam sobre suas próprias aprendizagens e sobre como cada um as apreende mais eficazmente. O professor, então, como agente metacognitivo, inicialmente catalisa o processo a fim de que as percepções dos educandos se efetivem. Mas no decorrer do processo de ensinagem esse controle metacognitivo deve passar para o educando, à maneira dos andaimes na metáfora que utilizamos anteriormente, neste mesmo capítulo.

A terceira implicação está diretamente relacionada com a questão do número elevado de alunos numa sala de aula universitária. Como pode o professor desempenhar o papel de agente metacognitivo num contexto em que são diversas as

“mais capazes”, por assim dizer. Noutras palavras, esses pares mediadores seriam aqueles que mais rapidamente ou melhor desenvolvem as competências e habilidades almejadas no planejamento do ensino. Esses pares podem desempenhar o papel de mediadores no processo de ensinagem por meio de configurações que possibilitem a interação entre educandos com vistas a alcançar os objetivos do processo formativo. Evidentemente, tais configurações somente podem emergir num contexto em que o professor possibilite, por meio de seu papel diretivo, circunstâncias adequadas para uma adequada interação educando-educando, que efetivamente permitam as aprendizagens e a instalação de processos metacognitivos.

5.6 A perspectiva colaborativa, organização didática da aula

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