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2.2 A ESCOLHA METODOLÓGICA: PESQUISA QUALITATIVA COM

2.3.2 Planejamento da intervenção

2.3.2.1 Seleção dos contos

No processo seletivo, escolhemos contos clássicos e contemporâneos, privilegiando histórias que problematizassem a vivência humana e apresentassem conflitos envolvendo as personagens (e, consequentemente, permitissem a interlocução sobre o bullying), de modo que tornassem “acessíveis ao leitor experiências imaginárias que [fossem] catalisadoras dos problemas do desenvolvimento humano e assim [proporcionassem] autoconfiança sobre o seu próprio desenvolvimento” (AMARILHA, 2004, p. 73).

Os contos selecionados foram os seguintes:

1. A Gata Borralheira (GRIMM; GRIMM; TEIXEIRA, 2003a); 2. As Cegonhas (ANDERSEN; PEDERSEN; FROLICH, 2002);

3. Um-olhinho, Dois-olhinhos, Três-olhinhos (GRIMM; GRIMM; GRABIANSKI, 2003b);

4. João-trapalhão (ANDERSEN; FRANÇA; FRANÇA, 2004); 5. O Patinho Feio (ANDERSEN; PEDERSEN; FROLICH, 2002); 6. Um garoto chamado Rorbeto (PENSADOR; BUENO, 2005); 7. Raul da ferrugem azul (MACHADO; FARIA, 2012); e 8. Obax (NEVES, 2010).

Ressaltamos o fato de que os cinco primeiros contos listados formaram o corpus da nossa pesquisa bibliográfica desenvolvida na dissertação de mestrado. Optamos por revisitar esses contos em razão de compreendermos, a partir das análises realizadas, o potencial das histórias para discutir o bullying. Além disso, entendendo este estudo como uma continuidade do anterior, consideramos de fundamental importância colocar em prática as constatações teóricas, alcançadas outrora, da maneira como aqui propomos: realizar a leitura e a discussão de contos literários na sala de aula. Os outros três contos foram selecionados visando expandir o leque de características das práticas de bullying na discussão com os sujeitos, enriquecendo, assim, as dinâmicas de pós-leitura e ampliando a visão desses sujeitos com relação a esse tipo de violência.

Tendo em mente a plurissignificação intrínseca ao texto literário (FIORIN; SAVIOLI, 1992), que possibilita ao leitor diversas interpretações, faz-se necessário esclarecer que os contos selecionados para este estudo não foram escritos com a finalidade de servirem à discussão sobre o bullying, mas, exatamente em decorrência da polissemia presente na literatura, permitem que decidamos seguir por esse caminho. Outro esclarecimento que consideramos imprescindível diz respeito à nossa convicção de que, mesmo trabalhando textos literários para discutir sobre o bullying, não significa, de modo algum, que daremos à literatura uma abordagem pragmática ou meramente utilitária, uma vez que o texto literário, por permitir a katharsis,

[...] [concretiza o] [...] processo de identificação que leva o espectador a assumir normas de comportamento social [...] [coincidindo] com o prazer afetivo resultante da recepção de uma obra verbal e que motiva “tanto uma transformação de suas [do recebedor] convicções, quanto a liberdade de sua mente”. A catarse constitui a experiência comunicativa básica da arte, explicitando sua função social, ao inaugurar ou legitimar normas, ao mesmo tempo que corresponde ao ideal da arte autônoma, pois liberta o espectador dos interesses práticos e dos compromissos cotidianos, oferecendo-lhe uma visão mais ampla dos eventos e estimulando-o a julgá-los (ZILBERMAN, 1989, p. 57, grifo da autora).

Considerando esses aspectos (temático e literário), passamos a apresentar os contos selecionados:

 A Gata Borralheira (GRIMM; GRIMM; TEIXEIRA, 2003a): conta a história de uma garota que perde a mãe e passa a conviver com a madrasta e suas duas filhas. A garota, apesar das maldades praticadas pela madrasta e pelas “irmãs”,

não revida, submetendo-se às tarefas domésticas mais pesadas e às constantes humilhações.

Figura 2 – Capa do livro A Gata Borralheira (GRIMM; GRIMM; TEIXEIRA, 2003a).

 As Cegonhas (ANDERSEN; PEDERSEN; FROLICH, 2002): conta a história de quatro filhotes de cegonha que vivem em uma cumeeira, sob os cuidados da mãe e do pai-cegonha, e sentem medo da cantoria dos meninos da rua que afirmam que eles serão queimados, enforcados e trancafiados. À medida que os filhotes vão crescendo, aflora neles o desejo de vingança frente à tortura psicológica exercida pelos meninos. Esse sentimento vai sendo nutrido até o momento em que obtêm sucesso e podem, enfim, se vingar.

 O Patinho Feio (ANDERSEN; PEDERSEN; FROLICH, 2002): conta a história de um patinho que, em razão de sua feiura, sofre todo tipo de intimidação − verbal, física e psicológica − por parte dos irmãos e de outros grupos com os quais interage ao longo da vida.

Figura 3 – Capa do livro que contém os contos As Cegonhas e O Patinho Feio (ANDERSEN; PEDERSEN; FROLICH, 2002).

 Um-olhinho, Dois-olhinhos, Três-olhinhos (GRIMM; GRIMM; GRABIANSKY, 2003b): conta a história de três irmãs que têm aspectos físicos diferentes – a primeira possui apenas um olho, a segunda, dois olhos, e a terceira, três olhos. A diferença, nesse contexto, apresenta-se de maneira pouco frequente, uma vez que é a irmã com dois olhos quem é alvo de diversas agressões ao longo do conto, em razão ser “comum”, se comparada às irmãs.

Figura 4 – Capa do livro que contém o conto Um-olhinho, Dois-olhinhos, Três-olhinhos (GRIMM; GRIMM; GRABIANSKY, 2003b).

 João-trapalhão (ANDERSEN; FRANÇA; FRANÇA, 2004): conta a história de João, que é desacreditado pelo pai e pelos irmãos, sendo, portanto, apelidado por

eles de João-trapalhão. João, entretanto, no decorrer de todo o conto, demonstra não se importar com as investidas de seus agressores, que menosprezam completamente as suas habilidades.

Figura 5 – Capa do livro que contém o conto João-trapalhão (ANDERSEN; FRANÇA; FRANÇA, 2004).

 Um garoto chamado Rorbeto (PENSADOR; BUENO, 2005): conta a história de Rorbeto, menino em fase de alfabetização, que adora enumerar suas coisas prediletas. É numa dessas enumerações que ele descobre que tem seis dedos em uma das mãos, constatação que o deixa extremamente envergonhado!

 Raul da ferrugem azul (MACHADO; FARIA, 2012): conta a história de um garoto chamado Raul que, ao se manter inerte diante da violência que presencia, observa o surgimento gradativo de manchas azuladas pelo seu corpo.

Figura 7 – Capa do livro Raul da ferrugem azul (MACHADO; FARIA, 2012).

 Obax (NEVES, 2010): conta a história da pequena Obax, que habita uma aldeia na savana africana. Obax é uma menina solitária, que se diverte enormemente com suas aventuras imaginárias, as quais faz questão de relatar aos adultos e às demais crianças. Todavia, suas histórias sempre são postas em “xeque” – uns duvidam, outros riem –, deixando a menina muito triste e desiludida.