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A mutação é uma propriedade dos seres vivos, independentemente do ambiente no qual o organismo está localizado. Certas mutações são letais, em curto ou médio prazo, de tal forma que os indivíduos não podem sobre- viver, nem se reproduzir. Muitas outras mutações não têm efeitos visíveis no funcionamento da célula ou do organismo. Por fim, algumas são viáveis e os indivíduos portadores desse caráter recém adquirido poderão transmiti-lo à sua descendência.

O que opera aqui é a influência do ambiente, no qual vive a espécie. A mutação terá tanto maior chance de propagar-se, que ela conseguirá uma vantagem psicológica ou biológica sobre os indivíduos que a possuam, em relação aos indivíduos, que são desprovidos dela e que vivem nas mesmas condições ecológicas. Dizendo de outra forma, se uma mutação hereditária consegue uma vantagem que se traduz por um melhor sucesso na reprodu- ção do grupo que é portador dela, este último terá tendência a se propagar dentro da população, eliminando, progressivamente, os indivíduos portado- res do caractere menos vantajoso. É o princípio da seleção natural: em uma população ocupando um ambiente qualquer, a frequência de indivíduos que apresentam performances superiores no plano reprodutor, aumenta regu- larmente no curso das gerações, após os ajustes sucessivos. Como essas performances estão controladas pelo genótipo, é a variabilidade genética, portanto, que estará na origem de uma evolução, que se traduz, por um lado, na busca permanente de um melhor ajustamento entre o genoma e suas manifestações biológicas e, pelo outro, as condições do ambiente no qual a espécie vive.

As mutações são processos aleatórios, a seleção, pelo contrário, é um processo adaptativo e oportunista. É por isso que François Jacob, prêmio Nobel em 1965, ressaltou que “a evolução é uma sucessão de subterfúgios”.

A noção de espécie

Durante muito tempo, a noção de espécie esteve baseada na descrição morfológica do tipo (chamado de holótipo), considerado como a referência para a caracterização da espécie. Uma concepção mais moderna baseia-se na possibilidade de produzir ou não descendentes fecundos: dois indivíduos pertencentes a espécies diferentes poderão, eventualmente, reproduzir-se, mas seus descendentes são estéreis. É o caso da mula, resultado do cruza- mento do asno com o cavalo.

Na realidade, a noção moderna de espécie é difícil de ser aplicada, já que é materialmente impossível cruzar a maior parte das espécies selvagens. Além disso, ela somente se aplica com todo o rigor às espécies de reprodução bissexual, já que numerosas plantas e animais possuem uma reprodução partenogênica (fenômeno de reprodução sexuada, na ausência do macho).

Há algumas décadas ape- nas, pensava-se que a maioria dos mamíferos (animais dotados de pêlo, de sangue quente e que amamentam) do mun- do já estava catalogada. Hoje, sabe- se que não, diz a revista U.S.News &

World Report. “Entre as

edições de 1983 e 1993 da publicação Mammal Spe-

cies of the World (Espécies

de Mamíferos no Mundo), acrescentaram-se 459 entradas. Nos últimos quatro anos, biólogos des- cobriram outras dezenas — entre roedores, mor- cegos, cervos, antílopes, búfalos selvagens e até macacos.” Prediz-se que a lista de 4.600 espécies de mamíferos hoje reconheci- dos aumentará para perto de 8.000. Alguns “mamí- feros são ‘descobertos’ em museus, quando os cien- tistas examinam melhor um espécime coletado anos atrás”. Além disso, “muitas espécies novas hospedam uma comuni- dade de parasitas e outras minúsculas criaturas que também são desconheci- dos à ciência’, diz o artigo, e “1 em cada 3 mamíferos recém-descritos é um ani- mal nunca antes visto por um cientista”. A maioria das descobertas está sen- do feita em florestas tro- picais e em outras regiões isoladas do mundo.

Assim, continua-se a utilizar a descrição morfológica para identificar as espécies, apelando, se necessário, às ferramentas da biologia molecular, para verificar se um conjunto de indivíduos tem as mesmas características externas correspondem, no plano genético, a uma só espécie.

Foi colocada em evidência a existência de complexos de espécies mor- fologicamente similares, chamadas espécies gêmeas. Para certos grupos, como as bactérias e os vírus, só os critérios genéticos são utilizáveis.

A especiação

A especiação é o fenômeno que leva à formação de espécies novas a partir de uma espécie ancestral. Em geral, é um fenômeno muito lento que nem sempre é acompanhado por uma diferenciação morfológica. Além disso, em longo prazo, a especiação conduz à diferenciação dos grupos ta- xonômicos (gêneros, famílias, etc.). Os trabalhos com os fósseis mostram que todas as espécies aparecem, se desenvolvem e depois desaparecem; ou seja, cada espécie tem uma duração de vida limitada. Isto é, numerosas espécies, que existiram sobre a Terra desapareceram. Tomando-se como exemplo, os dinossauros.

Há muito tempo, os mecanismos da especiação suscita o interesse dos cientistas. De maneira geral, um pré-requisito ao processo de especia- ção parece ser o isolamento das populações que irão, em seguida, evoluir de maneira independente. No modo de especiação alopátrico, duas popula- ções de uma mesma espécie, isoladas geograficamente durante um lapso de tempo suficiente, terminam por se diferenciar suficientemente a ponto de não mais serem interfecundáveis (Figura 8.2). Mais frequentemente, o iso- lamento geográfico é conseqüência de processos climáticos ou geológicos ou de eventos acidentais que terminam na colonização de um ambiente novo ou isolado (uma ilha, por exemplo). A acumulação de micromutações e a ação da seleção natural nos diferentes ambientes conduzem, num primeiro momento, à diferenciação de raças ou ecotipos, ou seja, de subpopulações geneticamente diferenciadas, mas capazes de interfecundação, se forem reunidas novamente. Com o tempo, se o isolamento geográfico prossegue, essas raças geográficas divergem e não são mais interfecundáveis: as duas subpopulações tornaram-se, agora, duas espécies. Outras teorias conside- ram que a especiação pode, da mesma forma, ocorrer nas populações que ocupam um mesmo conjunto geográfico contínuo. Isto é, enfocar-se-á agora a especiação simpátrica. Esta situação pode ser encontrada entre as espé- cies muito sedentárias, que ocupam um mosaico de habitats específicos, para as quais as probabilidades de cruzamento são limitadas, em razão do comportamento da espécie.

Segundo o modelo pro- posto por Watson e Cri- ck, a molécula de DNA é constituída por duas cadeias polinucleotídicas dispostas em hélice ao redor de um eixo imaginá- rio, girando para a direi- ta (uma hélice dupla). As duas cadeias polinucleo- tídicas mantêm-se unidas por pontes de hidrogênio, que se estabelecem entre pares de bases específi- cos: adenina com timina e citosina com guanina. As- sim, as duas cadeias que constituem um segmento de DNA, são complemen- tares entre si: onde em uma cadeia existir uma timina, na outra existirá uma adenina, e onde em uma existir uma guanina, na outra existirá uma ci- tosina.

Fonte: www.biomol.org

Figura 8.2 Suponha que a espécie 1 ocorra nas áreas A e B, e que a espécie 2 ocorra nas áreas B e C. As populações das duas espécies na área B são simpátricas, e a população da

espécie 1 na área A é alopátrica com a espécie 2 na área C. Se as áreas A, B e C todas ti- verem condições ambientais e habitats semelhantes, e se a competição causa divergência, esperaríamos que as populações simpátricas das espécies 1 e 2 na área B diferissem mais umas das outras do que as populações alopátricas daquelas espécies nas áreas A e C. Este

fenômeno é conhecido como deslocamento de caractere. Fonte: RICKLEFS (2005).

Existem outros modos de especiação, cujos mecanismos são bem co- nhecidos. Admite-se, por exemplo, que a hibridação interespecífica é um dos principais mecanismos de criação de novidades evolutivas no reino ve- getal. Também existem as mutações cromossômicas, relativas a porções dos cromossomos ou aos cromossomos inteiros: as seções dos cromossomos podem quebrar-se, colocar-se de novo em posição inversa ou intercambiar- -se entre os cromossomos; os próprios cromossomos podem se fundir ou se dividir, de tal forma que seu número seja modificado. Um fenômeno co- nhecido entre as plantas e alguns grupos animais é a poliploidia: o estoque de cromossomos é duplicado ou triplicado, após anomalias no decorrer da divisão dos gametas. Essas diversas modificações cromossômicas criam os isolamentos reprodutivos que levam, às vezes, à aparição de novas espécies.

A seleção natural leva à criação de novas espécies?

Darwin acreditava que aquilo que ele chamou de seleção natural favore- ceria as formas de vida que melhor se adaptassem ao ambiente, enquanto as formas de vida menos adaptadas acabariam se extinguindo. Os evolucionistas modernos ensinam que, ao passo que as espécies se espalharam e se isolaram a seleção natural escolheu as espécies cujas mutações genéticas as tornaram mais adaptadas ao novo ambiente. Eles afirmam que, em resultado disso, es- ses grupos isolados, por fim, evoluíram para espécies totalmente novas.

Conforme observado anteriormente, as provas obtidas pelas pesquisas científicas indicam fortemente que mutações não podem produzir espécies

Saccharomyces cere- visiae é um organismo

eucariota unicelular que pertence ao Reino dos Fungos. A levedura é uti- lizada na produção de pão e de cerveja, além de ser usada para a produção de etanol.

Fonte: www.microbiolo- gyonline.org.uk

de animais e plantas totalmente novas. Mesmo assim, que provas são dadas pelos evolucionistas para apoiar sua afirmação de que a seleção natural escolhe as mutações mais favoráveis para produzir novas espécies? Uma brochura publicada em 1999 pela Academia Nacional de Ciências (NAS), nos Estados Unidos, diz: “Um forte exemplo de especiação [a evolução de novas espécies] envolve as 13 espécies de tentilhões estudadas por Darwin nas ilhas Galápagos, conhecidos como os tentilhões de Darwin.”

Nos anos 70, um grupo de pesquisa liderado por Peter e Rosemary Grant começou a estudar esses tentilhões e descobriu que, depois de um ano de seca, os tentilhões que tinham o bico ligeiramente maior sobrevi- viam com mais facilidade que os de bico menor. Visto que o tamanho e o formato do bico é uma das principais maneiras de classificar as 13 espé- cies de tentilhões, essas descobertas foram encaradas como significativas. A brochura prossegue: “O casal Grant calculou que, se houvesse uma seca a cada dez anos nas ilhas, uma nova espécie de tentilhão poderia surgir em apenas cerca de 200 anos.”

No entanto, a brochura da NAS deixou de mencionar alguns fatos significativos, mas embaraçosos. Nos anos que se seguiram à seca, os ten- tilhões com bicos menores voltaram a dominar a população. Assim, Peter Grant e o universitário Lisle Gibbs escreveram na revista científica Nature, em 1987, que eles haviam observado “uma inversão da seleção natural”. Em 1991, Grant escreveu que “a população, sujeita à seleção natural, oscila entre um tipo de tentilhão e outro” cada vez que o clima muda. Os pes- quisadores também perceberam que algumas das diferentes “espécies” de tentilhões estavam cruzando entre si e produzindo descendência que sobre- vivia melhor do que as suas “espécies” de origem. Peter e Rosemary Grant concluíram que, se esse cruzamento continuasse, o resultado poderia ser a fusão de duas “espécies” em apenas uma, dentro de 200 anos.

Em 1996, o biólogo evolucionista George Christopher Williams escre- veu: “Considero lamentável que a teoria da seleção natural tenha sido de- senvolvida inicialmente para explicar os processos da evolução. Ela é mui- to mais relevante para explicar a preservação das adaptações.” O teórico evolucionista Jeffrey Schwartz escreveu, em 1999, que se as conclusões de Williams estiverem corretas, a seleção natural pode estar ajudando as espécies a se adaptar às exigências variáveis da existência, mas “não está criando nada novo”.

De fato, os tentilhões de Darwin não estão se transformando em “nada novo”. Ainda são tentilhões. E o cruzamento entre eles lança dúvidas so- bre os métodos usados por alguns evolucionistas para definir uma espécie. Além disso, fica exposto o fato de que mesmo academias científicas de pres- tígio não estão imunes a apresentar provas de maneira tendenciosa.