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6.4 GERAÇÃO E SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS

6.4.2 Projeto gráfico

6.4.2.3 Seleção tipográfica

Em relação à tipografia utilizada na publicação, segundo a pesquisa bibliográfica e as entrevistas realizadas, o formato fonte ampliada recomendado é fonte Arial ou Verdana, estilo negrito com tamanho do corpo de letra de 24 pontos (DOMINGUES et al., 2010). No entanto, isso não se constitui uma regra e, sim, uma orientação, para a produção de materiais acessíveis às pessoas com baixa visão. Como pode ser percebido na análise de similares realizada anteriormente, a Coleção Adelia em formato fonte ampliada utiliza para o corpo de texto a tipografia Scala Sans em tamanho de 28 pontos.

Sendo assim, para o texto foi realizada uma pré-seleção de tipografias que levassem em consideração as necessidades do público com baixa visão. A tipografia Matilda, criada pela designer Ann Bessemans em seu projeto de doutorado foi desenvolvida para crianças com baixa visão que estão nas fases iniciais do processo de leitura. A designer realizou análises quantitativas e qualitativas de fontes já existentes com um grupo de crianças de 5 a 10 anos de idade, algumas com baixa visão e outras videntes para então, desenvolver a nova tipografia com base nos resultados dessas análises.

Segundo Bessemans (2016c), Matilda foi baseada em uma tipografia serifada com a finalidade de reduzir a disparidade visual entre os materiais voltados para crianças videntes e com baixa visão. Ela pode ser caracterizada como uma fonte de tipos largos, com contraformas grandes e curvas abertas. Apesar de seus traços orgânicos, as letras são estruturadas a partir de um eixo vertical estável. Suas serifas são assimétricas, variando entre convexas e côncavas. Os terminais das letras são arredondados e enfatizam a individualidade e distinção de cada letra, além de passar uma sensação amigável. Matilda também apresenta baixo contraste o que possibilita alterações em seu tamanho sem a perda de suas características e legibilidade (Figura 63). Sua altura-x não é grande, no entanto, suas ascendentes e descendentes são acentuadas, o que facilita a diferenciação das letras.

Figura 63 – Tipografia Matilda

Fonte: Bessemans (2016d).

Apesar da ampla pesquisa empregada em seu desenvolvimento e argumentos consistentes que fazem com que a tipografia Matilda seja uma ferramenta para auxiliar a leitura de crianças com baixa visão, esse é um projeto ainda em desenvolvimento que não está disponível para aquisição. Foi realizada uma tentativa de contato com a designer para a aplicação da tipografia no material do presente projeto, porém, não houve resposta.

Outra tipografia voltada para a leitura de pessoas com baixa visão encontrada foi a APHont desenvolvida pela American Printing House for the Blind (APH), que a disponibiliza para download mediante o preenchimento de um formulário em sua página da internet. Ao contrário da fonte Matilda, a APHont é uma tipografia que atende as necessidades de pessoas com baixa visão de forma geral e não apenas crianças. Há ainda uma nota advertindo que a APH não assegura que a sua tipografia seja adequada para crianças que estão em fase de alfabetização.

Conforme a APH (2018), a fonte APHont promove facilidade e eficiência na leitura de pessoas com baixa visão. Suas características melhoram a velocidade de leitura, compreensão e conforto visual do leitor. A fonte é sem serifa, possui altura-x grande, espaçamento entre as letras suficiente para que não encostem umas nas outras, distinção clara entre o “i” em caixa alta, o “l” minúsculo e o número “1”, sinais de pontuação maiores e arredondados, maior entrelinha; e descendentes acentuadas nas letras “q” e “j” (Figura 64). Pesquisas também apontam que as letras “c”, “a”, “g”, “j” e “q” apresentam formas mais adequadas à leitura por pessoas com baixa visão e que, no geral, a tipografia possui letras com formas mais abertas.

Figura 64 – Tipografia APHont

As tipografias Arial Bold e APHont foram aplicadas ao conteúdo do livro e analisadas de forma comparativa. Não apresentaram uma diferença significativa quanto a altura-x, forma dos caracteres, contraforma, contraste dos traços e o peso do tipo (Figura 65). No entanto, como já apontado, a tipografia APHont apresenta alguns caracteres e sinais de pontuação diferenciados, como a letra “q” em caixa baixa e os acentos agudo e circunflexo que foram configurados dessa forma para sua melhor identificação e diferenciação durante a leitura.

Figura 65 – Tipografias Arial Bold e APHont Bold em comparação

Tendo em vista que o presente projeto é uma publicação voltada para a inclusão de crianças com deficiência visual no ambiente da escola regular tendo também como usuários crianças videntes, decidiu-se por utilizar a tipografia Arial Bold com tamanho de corpo de texto de 24 pontos. Amplamente utilizada em materiais em fonte ampliada e também naqueles não acessíveis para o público com baixa visão, a Arial é uma tipografia familiar tanto para as crianças videntes como as com baixa visão.

Para os títulos, foi realizada uma pré-seleção de fontes que apresentam características lúdicas e um nível adequado de legibilidade. Foram selecionadas as tipografias, Nunito Sans nos pesos Bold, Extrabold e Black, Bubblegum Sans, Claire Hand e Patrick Hand. A Figura 66 abaixo mostra cada uma das tipografias aplicadas ao título de um poema sendo acompanhada por versos na tipografia do texto.

Figura 66 – Pré-seleção de tipografias para os títulos

Fonte: Elaborado pela autora.

A fonte Nunito apresenta legibilidade adequada e terminais arredondados que lhe conferem uma aparência mais amigável. No entanto, os pesos Bold e Extrabold

apresentaram baixo contraste com a tipografia do texto, o que poderia prejudicar a hierarquização do conteúdo. O peso Black apresentou contraste adequado com o texto, porém, devido à espessura das hastes, alguns espaços internos das letras como os miolos das letras “a” e “e” são menores, o que pode prejudicar a identificação dos caracteres pelas crianças com baixa visão. Além disso, suas formas são amigáveis devido aos terminais arredondados, mas seu desenho geométrico que preza pela simetria dos tipos, acabou conferindo um aspecto mais sério à publicação e não lúdico, como almejado.

As tipografias Claire Hand e Patrick Hand, como o próprio nome já diz, são fontes cursivas, ou handwritten, ou script, baseadas ou desenvolvidas para imitar a escrita à mão. Esse tipo de fonte apresenta uma personalidade mais lúdica devido à sua natureza informal, com formas assimétricas e traços orgânicos. Porém, a fonte Claire Hand é composta apenas por caracteres em caixa alta, o que limita as possibilidades de apresentação do título. Além disso, apresenta pouco espaçamento entre letras, pouco peso e contraste insuficiente com o texto. A fonte Patrick Hand também apresenta pouco espaçamento entre letras e contraste insuficiente com o texto. Alguns de seus caracteres possuem pouca distinção entre si, como é o caso das letras “a”, “o”, “q” e “g” (Figura 67).

Figura 67 – Pouca diferenciação entre caracteres da fonte Patrick Hand

Fonte: Elaborado pela autora.

A fonte Bubblegum Sans é uma tipografia cursiva do tipo brush que imita a escrita manual, mas como se fosse utilizado um pincel para escrever, o que, geralmente, faz com que as letras apresentem hastes mais espessas. Essa tipografia apresenta um peso com contraste adequado ao texto e formas que diferenciam os caracteres entre si. Seu desenho é orgânico, mas apresenta traços consistentes e seus terminais têm cantos levemente arredondados e angulares que tornam a tipografia mais amigável. Apresenta leves variações na altura-x, na altura das ascendentes e profundidade das descendentes conferindo aos títulos ritmo e

movimento. Devido a essas características foi selecionada como, dentre as fontes analisadas, a mais adequada para compor a tipografia do projeto.

Para formatação do texto foi definido que o convencional alinhamento à esquerda, é a alternativa mais adequada levando em consideração a quantidade de texto e o público-alvo do trabalho. Segundo John Kane (2011, p. 94), o alinhamento à esquerda reflete “a experiência assimétrica da escrita à mão”, onde o texto sempre começa alinhado à margem esquerda e termina desalinhado à direita. Esse tipo de alinhamento faz com que o espaço entre palavras seja consistente em todo texto e que assim, “o tipo crie um valor de cinza equilibrado.”. Para as crianças com baixa visão, principalmente aquelas com visão periférica reduzida, que podem não possuir uma visão completa da página do texto, sua leitura pode ser facilitada por um alinhamento que faça com que a linha de texto sempre inicie no mesmo ponto, sem recuos.