• Nenhum resultado encontrado

3.1 E. E. Júlio Mesquita: percursos de uma escola

A escola E. E. Júlio Mesquita, cenário onde se desenvolveu o trabalho de campo desta tese, foi criada por decreto de lei publicado no Diário Oficial do Estado em 25 de Julho de 1962. Recebeu o nome, inicialmente, de Grupo Escolar Vila Georgina e foi instalada num terreno doado pela prefeitura com uma área de 5,2 mil m2. Sua construção iniciou-se em fevereiro de 1961 e foi concluída em Agosto de 1962. Nesse mesmo mês, através do Decreto 40.544ª, de 04/08/1962, o Grupo Escolar Vila Georgina teve seu nome alterado para Grupo Escolar Júlio Mesquita, em comemoração aos cem anos de nascimento do jornalista e político da cidade, Júlio Cesar Ferreira de Mesquita (1862 - 1927), ator político importante no cenário local e militante republicano que contribuiu para fundar o jornal O Estado de São Paulo24.

A escola foi formada para atender uma clientela escolar de 7 a 10 anos, com 13 classes de 1ª a 4ª série. Junto com as classes comuns, foi instalada uma classe especial que foi transferida da escola Milton de Tolosa. Em 1972 foram criadas classes de 5ª a 8ª série, sendo instaladas 14 quintas séries. Foi criada para suprir a necessidade da clientela local situada no entorno da escola. Na década de 1990 a escola começou a receber alunos do ensino médio.

A mudança de nome da escola, de acordo com um dos ex-diretores, professor Saulo Godin25, ocorreu porque era um procedimento comum aplicado pelos administradores públicos. Segundo Saulo, a Escola Estadual Luis Galhardo, criada posteriormente à E. E. Júlio Mesquita, recebera o nome inicial Grupo Escolar Vila Ipê (nome do bairro onde ela se situava) e só depois é que fora dado o nome atual.

24

Há na escola E. E. Júlio Mesquita um documento Ata intitulado Termo de Abertura, que contém informações sobre a história da escola, tal como está sendo apresentada nesse texto, e informações sobre o patrono da escola Sr. Júlio Mesquita. O documento possui também informações relacionadas com as festas de comemoração do Jubileu de Prata da unidade escolar como também dois artigos. Um deles foi elaborado por uma ex-diretora e versa sobre a criação da escola e um pouco de sua história. O outro foi escrito por um ex-aluno formado em jornalismo e trata-se de um artigo de jornal que foi publicado no Jornal Roteiro, no dia 3 de Setembro de 2002, na cidade de Campinas, SP. Há ainda, nessa Ata, uma biografia de ex-diretores da unidade.

25 A elaboração que segue foi feita a partir de análise de dados variados. Além de informações oficiais

sobre a escola, obtidos em registros encontrados na unidade escolar, como atas e fotografias, houve também a aquisição de informações obtidas a partir de conversas informais com ex-diretores, ex- professores e ex-funcionários da escola, além da realização de conversas com alguns moradores do bairro e ex-alunos. Entrevistou-se em conversas informais, o Sr. Saulo, Sr. Nelson, Dona Joaquina, Dona Teresinha Gallo, Dona Sonia, Dona Ana Luiza Ide, Sebastião Arcanjo, entre outros.

A E. E. Júlio Mesquita foi criada seguindo as orientações de uma política pública promulgada pelo Governador Carvalho Pinto. Essa política pública, denominada

plano de ação, teve como objetivo patrocinar e estimular o desenvolvimento estrutural

do estado de São Paulo, da mesma maneira que a desenvolvida pelo presidente Juscelino Kubitschek com o seu plano de metas. Carvalho Pinto incumbiu muita gente no desenvolvimento desse processo.

Muitas escolas públicas, construídas nesse período, obedeciam a um padrão que se propunha inovador, seguindo as diretrizes em voga na época, com relação à modernização e à constituição de novos padrões civilizatórios. Objetivava-se, segundo pesquisas realizadas (Costa)26, criar construções que permitissem o pleno acesso da comunidade aos prédios escolares, padrão esse que se contrapunha a outros modelos de prédio escolar construídos anteriormente – a escola não podia mais ostentar grandiosidade, nem ser inacessível à população.

A E. E. Júlio Mesquita seguiu esse padrão e foi construída para se integrar com o entorno. Ela não tinha muros e era bem aberta, pois se pretendia transmitir a noção de que o espaço era acessível à comunidade.

26

COSTA, Angélica Irene da. As obras escolares do Plano de Ação do Governo do Estado (PAGE): A educação em novas formas – Projeto de Pesquisa. s/d Projeto apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Arquitetura e Urbanismo Escola de Engenharia de São Carlos Universidade de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Miguel Antônio Buzzar.

Figura 1 - Vista da escola como se apresentava logo após sua formação, sem os muros laterais, apenas com o alambrado circundando-a. Fonte: acervo E. E. Júlio Mesquita (1962).

Logo nos primeiros anos de funcionamento da escola, houve uma forte tempestade, segundo moradores, e o telhado desabou. Os alunos da escola tiveram que ser removidos para outra unidade pública, a Escola Estadual Milton de Tolosa e permaneceram lá por um ano. Aconteceu situação semelhante com a Escola Milton de Tolosa27, a qual também teve seu telhado despencado e seus alunos foram abrigados durante o período de reforma na E.E. Júlio Mesquita.

No início do funcionamento da escola, não havia muitas outras na região e as salas de aulas chegavam a ter 45 alunos. Foi necessário construir duas salas de madeira no pátio e trabalhar nesse espaço era muito ruim, segundo relatos de Dona Ana Luiza Pedroso Ide, uma das primeiras professoras a lecionar na escola.

Havia também uma sala de alunos especiais e no corredor ficavam os gabinetes dentários. A escola funcionava em apenas dois períodos. Dona Ana Luiza relata que os docentes tinham que seguir as orientações programáticas do livro didático e

27

A Escola Milton de Tolosa também fora construída segundo o Plano de Ação, do Governo de Carvalho Pinto.

semanalmente o diretor verificava o diário das matérias a serem ministradas. O curso ginasial foi implantado somente em 1972.

Os bairros que se situavam no entorno eram Vila Marieta, Vila Georgina, Vila Ipê e o local onde foi construída a E.E. Júlio Mesquita ficava quase no final dessa região. Sebastião Moreira Arcanjo – conhecido como Tiãozinho pela população –, ex- morador da Vila Georgina, ex-aluno da escola Júlio Mesquita, o qual também já foi vereador e deputado estadual, em relato informou que esses bairros, muitos deles, ainda eram fazendas de café na época em que era criança.

Dona Joaquina, a primeira diretora da escola, e a qual fora convidada a organizá- la e colocá-la para funcionar, diz que era um pouco difícil se deslocar até a escola Júlio Mesquita e enfrentar o córrego Piçarrão em dias de chuva. Os moradores que atravessavam o córrego davam as mãos e se apoiavam um no outro para poderem atravessar o rio.

As pessoas que moravam distante da escola e pegavam ônibus para chegar à unidade enfrentavam também dificuldades, pois o ponto de parada do transporte era a uns cinco quilômetros da escola, onde hoje se situa a Avenida Engenheiro Antônio Francisco de Paula Souza, Praça da Fraternidade. Dona Joaquina, assim como Dona Sônia, uma das primeiras assistentes de direção da escola, informaram que havia pouca estrutura no bairro e que elas almoçavam, muitas vezes, nas residências de moradores, próximas à unidade.

A escola se constituía como um ambiente onde havia uma circulação cultural da região: funcionava, aos fins de semana, nesse espaço, um cinema, montado para arrecadar algum dinheiro para o caixa da escola, além de permitir que a comunidade tivesse acesso a alguma diversão. Organizava-se, ainda, nesse lugar, muitas festas que, de acordo com os ex-diretores, faziam muito sucesso na comunidade, atraindo muitas pessoas para a escola.

Alguns ex-professores e diretores, em conversa, informaram que os alunos que frequentavam a escola, eram, na maioria, de baixa renda familiar. A escola também não tinha muitos recursos e Dona Joaquina e Dona Sônia informaram que costumavam arrecadar, entre os professores, dinheiro para comprar a merenda das crianças. Lembram que algumas vezes, elas próprias produziam goiabada para pôr nos pães, e que, embora fosse feita sempre com adição de muita água para fazê-la render, fazia sucesso entre a criançada.

Sebastião relata que a construção da Avenida Washington Luís possibilitou o fluxo de Campinas a São Paulo e houve a edificação de uma estrutura para possibilitar mobilidade na região, o que acabou sendo efetivado em algumas décadas. Ele também conta que, com a construção da avenida Engenheiro de Paula Souza – nome dado em homenagem ao mentor do plano gestor que visava buscar água para Campinas nas cidades vizinhas –, a cidade aumentou e se desenvolveu.

Com o tempo os muros da escola também se levantaram. E outras mudanças foram ocorrendo...

Figura 2 - Área lateral da escola, por onde entram os alunos. Com o tempo, junto às colunas laterais, foi levantada uma parede, fechando, desse modo, o pátio. As escadarias mantiveram-se com vistas para a rua e há uns dois anos, colocaram grades cercando-as. Fonte: acervo E. E. Júlio Mesquita (1962).

Figura 3 - Área lateral da escola, por onde entram os alunos, já gradeada. Fonte: acervo pessoal (2015).

A partir de 1995, devido às reformas educacionais implantadas e à aplicação da política de reorganização dos ciclos, houve o deslocamento de docentes da E. E. Júlio Mesquita para a E. E Neli Helena – situada na Avenida Washington Luís –, e desta para a E. E. Júlio Mesquita. Ocorreu, desse modo, uma mudança brusca dos espaços de vinculação dos profissionais28.

Alguns professores antigos na unidade, que vivenciaram essa época, comentam que a mudança de local possibilitou também diminuir o número de períodos de funcionamento da escola. Antes funcionavam quatro períodos para atender os alunos pequenos (de 1ª a 8ª série)29 e até os alunos maiores do curso colegial30.

Depois da mudança, a escola Neli Helena passou a abrigar somente os alunos de 1ª a 4ª Série e a E. E. Júlio Mesquita passou a receber alunos de 5ª série31 até alunos do

28 No capítulo 1 fornecemos informações que podem contextualizar o momento referido no texto. Trata-se

do episódio de mudança de ciclos iniciada com a gestão do governador Mario Covas. Houve uma política de desterritorização, prejudicando tanto docentes, quanto alunos.

29 Equivale ao que hoje denominamos de ensino fundamental, que comporta do 1º ao 9º Ano. 30

Equivalente ao ensino médio.

3º ano do ensino colegial32, o que fez diminuir de quatro para três os períodos de funcionamento da escola – manhã, tarde e noite.

Após essa mudança, formou-se um grupo de docentes da E. E. Júlio Mesquita que já eram da unidade e outro grupo constituído por docentes advindos da E. E. Neli Helena e ora ou outra os dois se opunham e entravam em atritos.

Outra mudança significativa ocorrida na escola decorreu de lei que passou a exigir a licenciatura plena dos professores. Segundo alguns professores da unidade, muitos docentes antigos, com bastante experiência profissional, mas tão somente com licenciatura curta, passaram, nas atribuições de aula, a ocuparem o final das listas de classificação, podendo pegar aulas somente depois que todos com licenciatura plena já haviam escolhido suas turmas, independente do tempo de serviço que tinham e da pontuação que haviam acumulado ao longo dos anos. Mesmo se considerarmos que uma melhor formação poderia corroborar uma melhor atuação profissional, o problema aponta que não houve preocupação com os profissionais antigos que não possuíam a formação esperada. Muitos profissionais, mesmo não possuindo a formação universitária exigida, possuíam experiência profissional e capital corporativo e com a medida acabaram ficando sem emprego, ou sem as aulas, no lugar onde lecionavam, na ocasião dessa reforma, como já vimos no primeiro capítulo. De acordo com Passegi, Souza, Vicentini (2011), esse tipo de política, como a lei de número 9.394/1996, que estabeleceu a exigência de nível superior para o exercício da docência nas séries iniciais do ensino fundamental, embora tenha acertado em cobrar formação acadêmica universitária dos profissionais, acabou deslegitimando os docentes que não tinham uma certificação pelos órgãos oficiais, embora pudessem mesmo possuir qualificada experiência.

Atualmente a escola funciona em três turnos. No período diurno funcionam doze salas, sendo que nove delas são de ensino médio e as outras três são de nonos anos. No período da tarde funcionam doze salas de ensino fundamental II (do sexto ao nono ano) e no noturno funcionam três salas de ensino médio. É importante destacar que, quando começou a funcionar o ensino médio na escola, ela recebia muitos alunos e montava várias turmas que frequentavam o noturno. Porém, com a criação da escola E. E. Dr. Disnei Francisco Scornaienchi33, no Parque do Jambeiro, a escola começou a perder alunos do ensino médio noturno. Com as atuais políticas públicas, a Secretaria da

32

Atual ensino médio, terceiro ano.

Educação do Estado de São Paulo comunicou que fechará salas pouco numerosas, portanto, o ensino médio do período noturno será encerrado caso não aumente o número de matrículas.

A seguir apresentaremos como os colaboradores narram o ingresso na escola estadual Júlio Mesquita e como representam o significado que a escola tem para eles.

3.2 O lugar de trabalho e o seu significado para os docentes

Após perguntarmos aos depoentes sobre o início da trajetória profissional, conforme apresentado no capítulo anterior, lhes indagamos as seguintes questões: Quando ingressaram na escola? Por que vieram para a E. E. Júlio Mesquita? Quando foi? Como foi esse processo? E o que significa essa escola para você?

Antes de trazer os depoimentos, é válido destacar que a prática no local onde se trabalha ocupa uma dimensão importante da constituição da identidade profissional. Segundo Lüdke e Boing (2004):

Somente a prática dará consistência ao repertório pedagógico que os professores foram assimilando ao longo de sua formação. Assim, não se pode falar de profissionalização docente sem se referir ao estabelecimento de ensino. Existe uma íntima relação entre o estabelecimento de ensino e a profissionalização docente. (1174).

Margarida, professora de Matemática, concluiu a graduação na PUC Campinas, em 2000. Veio para a escola em questão em 2006. Antes lecionava na Escola Estadual Teresina, região do Parque Oziel, uma área pobre da cidade que abriga uma das maiores ocupações da América Latina. Como se mudou para o Parque Jambeiro, resolveu pedir remoção para escolas mais próximas de sua residência. Escolheu três escolas nas proximidades do Parque Jambeiro e acabou sendo removida para a E. E. Júlio Mesquita, situada no Jardim dos Oliveiras, Campinas. Disse que a escolha da escola se deu pela proximidade com sua residência, mas também por se situar perto da escola onde estudavam suas filhas, uma escola particular localizada na Vila Marieta.

Margarida, ao responder sobre o significado da escola, disse ter criado muito vínculo com esse local e que, em várias ocasiões, já a defendeu. Em uma delas, ouviu de alguém da comunidade críticas negativas por conta das atitudes de uma direção muito ruim que a escola teve em anos anteriores, mas contra-argumentou dizendo que a E. E. Júlio Mesquita havia ficado em sexto lugar no Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo) da cidade e isso ocorreu devido à luta e ao comprometimento dos docentes com aquela unidade escolar.

Hortência formou-se em Geografia em 1994, na PUC Campinas. Ingressou na rede pública paulista quando estava no terceiro ano de licenciatura em Geografia. E está na E. E. Júlio Mesquita desde 1996. Antes de lecionar na escola, passou por várias outras unidades escolares da região. Quando ingressou na E. E. Júlio Mesquita achou a escola extremamente organizada e isso a fez rememorar a escola onde estudou em sua infância. Segundo Hortência, seu marido, que a acompanhava na ocasião de seu ingresso nessa unidade, teve essa mesma impressão.

Efetivou-se nessa escola em 2000 e na época era uma escola acima da média: o rendimento escolar dos alunos, para ela, era muito melhor do que as outras escolas por onde passou. Quando lhe perguntei qual era o significado da escola para ela, respondeu que ainda não conseguiria avaliar tudo o que ela representa, pois está lá há uns vinte anos e que só saberá quando deixá-la.

Ah, hoje com todo esse tempo aqui! O Júlio é parte de minha vida, [...]! Enterrei aqui quantos anos de trabalho! Por isso que, às vezes, eu me sinto devendo para a escola. Agora eu amadureci e tudo que eu posso ajudar eu vou. Eu acabo me mobilizando, né? E vou mesmo, vou atrás. Por que eu enfiei aqui vinte anos da minha vida, né [...]? Profissional! O que você acha que isso significa para mim? Tenho até medo em pensar! (risos). Eu acho que eu só vou saber o que isso significa para mim o dia que eu sair mesmo daqui [...]. Aí eu vou ter noção, não vou?

Rosa ingressou na E. E. Júlio Mesquita em 2000, como professora efetiva em inglês, pois não conseguiu efetivar-se na escola onde lecionava, E. E. Jamil Gadia. Tinha muito vínculo com essa escola, conhecia muitas professoras, ela era mais perto de sua casa, porém a escola mais próxima a ter vaga no processo de efetivação foi a E. E.

Júlio Mesquita. Ficou triste, entretanto hoje fala que possui muito vínculo com a equipe e com a comunidade e, por isso, se sente mais à vontade. Além disso, construiu, juntamente com o grupo, um histórico de pequenas lutas – experiências que foram compartilhadas – que a vincula a esse lugar.

Eu sinto assim muito mais confortável aqui por conta do tempo, por conta de tudo que a gente já passou, né? Por troca de direção, né? Mas também sinto assim [...] que o nosso grupo talvez [...], eu, e um pessoalzinho que está há mais tempo a Acácia [...] e um pessoal que vai mais, que luta mais, né? Mas sinto assim que tem outros professores que são mais acomodados. Mas também não julgo, acho que é por que tem pouco tempo, tem poucas experiências, porque eu também fui construindo as minhas experiências, minhas lutas, o que eu tinha que reivindicar, isso fui construindo, foi no dia a dia, porque se hoje, se eu tiver que levantar agora e falar assim: ah, vamos lutar, vamos na diretoria, eu vou, mas isso eu consegui há pouco tempo. Porque até então, ah, mas será que vai dar certo? Ah! Sabe aquelas questões assim: ah, será que eu posso, que vão implicar, o que será que isso vai implicar na minha vida? Por que a gente fica questionando, mas hoje eu não estou nem aí. Que implique, que eu fique com falta, sabe? Mas isso foi uma coisa que eu estou construindo junto com todo mundo, eu acredito! E junto com o que a gente tem passado, né?

Rosa vem percebendo, ao longo dos anos trabalhando na instituição, que a luta pela profissionalização – obtenção de direitos tendo em vista melhorar as condições de trabalho e/ou de vida –, se dá pela via da participação coletiva. A partir das trocas de experiências, dos debates travados e, principalmente, da tomada de consciência de que muitos trabalhadores vivenciam a mesma realidade, é que ocorre a identificação com o grupo. A identidade profissional de Rosa vem sendo reelaborada de acordo com as experiências constituídas na relação com o grupo.

Quando Violeta deixou a escola onde lecionava, a E. E. Milton de Tolosa, por considerar que ela não estava tão organizada, indicou duas escolas no processo de remoção, situadas nas proximidades de sua casa: E.E. Disnei Francisco Scornaienchi e

E. E. Júlio Mesquita. Acabou sendo removida para a E. E. Júlio Mesquita. Escolheu-a por ser mais próxima à sua residência, mas também por ter tido boas referências dela. Segundo Violeta, disseram que ela era uma escola muito organizada, mas não foi bem isso que observou quando chegou. Violeta vai descrever o ambiente escolar de maneira muito negativa. Refere-se a ele como inapropriado, sujo e feio, pouco adequado para a realização das atividades escolares.

Ela, ao falar de seu processo de ingresso nessa escola, ficou um tanto emocionada. Conta que encontrou resistência e dificuldades para se integrar ao grupo de docentes, que era muito antigo e fechado.

Eu senti uma certa rejeição dos professores. Assim todos os professores muito antigos de casa e para você adentrar o grupo parece que tinha alguns códigos a serem cumpridos e eu estava totalmente fora daquilo. Então eu me senti fora do aquário. Demorei a me adaptar, a conhecer as pessoas, cheguei a ser