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O vinho fino brasileiro é mais delicado se comparado ao dos países vizinhos. Os tintos são jovens e também vinhos de guarda com boa acidez, fruta fresca e taninos bem domados e não muito excessivos. Os brancos geralmente são mais leves e os espumantes possuem alta qualidade reconhecida no mercado externo (FARINA, ROLOFF, 2015).

Em números, o Brasil é o 19° país em área cultivada com uvas (mais de 82 mil hectares), o 12° em produção de uvas (1,5 milhão de toneladas) e o 13° em produção de vinhos (350 mil toneladas). De 2004 a 2014 houve 100% de crescimento da produção nacional de vinhos finos, passando de 25 milhões para 50 milhões de litros. As principais uvas tintas são Merlot, Cabernet Sauvignon e Tannat e as uvas brancas: Chardonnay, Moscato branco e, para espumantes, Pinot Noir (COPELLO, 2015).

Do total produzido 45% é destinado à produção de vinhos, sucos e derivados e 55% é consumido in natura. São produzidos 212,01 milhões de litros de vinho de mesa, 78,2 milhões de litros de suco de uva e 34,9 milhões de quilos de suco concentrado de uvas americanas. Para a uva Vitis vinífera são produzidos 20 milhões de litros de vinhos finos, sendo 15,88 milhões de litros de espumantes, sendo o quinto maior produtor de vitivinícola do Hemisfério Sul. Atualmente o Brasil possui 83,7 mil hectares de produção (IBRAVIN, 2014; APEX, 2014; FARINA, ROLOFF, 2015).

Possui seis indicações geográficas registradas no INPI, a saber: Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira, Vale da uva de Goethe, Altos Montes, Monte Belo e Farroupilha. E, em 2012, o vinho do Vale dos Vinhedos foi registrado também como Denominação de origem. Possui as

marcas coletivas ACAVITIS, CPEG. Na marca setorial, há 31 empresas que utilizam Wines of Brasil. Têm-se ainda as marcas coletivas Vinhos do Brasil e Vinhateiros do Vale, sendo que Wines of Brasil tanto é uma marca coletiva quanto uma marca setorial (SEBRAE, INPI, 2011; INPI, 2014; ACAVITIS, 2014; CPEG,2014, SEBRAE, INPI, 2014c; VALEDOSVINHEDOS, 2015; WINESOFBRASIL, 2015; VINHOSDOBRASIL, 2015; AFAVIN, 2015).

Como aponta Niederle (2011), o Vale dos Vinhedos foi uma das primeiras zonas da Serra Gaúcha a receber imigrantes italianos, os quais ali se estabeleceram a partir de 1875. Trata-se da mais tradicional e reputada zona vitivinícola do país. Reputação conquistada em virtude de uma trajetória histórica vinculada à produção vinícola e pela recente construção de uma nova “marca identitária” que procura expressar sua excelência na produção de vinhos finos.

Os imigrantes italianos trouxeram o conhecimento no cultivo da uva e o domínio do saber elaborar o vinho. Além disto, uma cultura em torno do consumo do vinho durante as refeições e festas. Eles também trouxeram as ideias de cooperativismo que favoreceu a formação das cooperativas que perduram até nos dias atuais como a Cooperativa Aurora em Bento Gonçalves (RS) e a Cooperativa Garibaldi em Garibaldi (RS) (GRIZZO, BRUGOS, MILAN, 2015; FARINA, ROLOFF, 2015).

A vitivinicultura da Serra Gaúcha produzia vinhos de mesa com castas americanas e híbridas como Isabel, Bordô e Niágara. Depois chegaram as multinacionais como a Chandon e a Almadén. E, na década de 1990, os produtores começaram a investir na produção de uvas viníferas como Cabernet, Merlot e Chardonnay e a produzir vinhos finos (FARINA; ROLOFF, 2015).

Somado a isto, no início da década de 1990 houve a abertura do mercado para vinhos estrangeiros no governo do Collor e a indústria começou um lento processo de modernização e é deste cenário que nasce a história do moderno vinho brasileiro. Neste período muitos filhos de produtores se profissionalizaram por meio do curso de enologia e sommeliers e também com visitas e trocas de experiências com países como Argentina, Chile e Europa. Assim, há a reconversão do sistema de parreiras, gestão das vinícolas, controle de qualidade e empreendimentos na área do turismo (FARINA; ROLOFF, 2015).

Atualmente, o Vale dos Vinhedos é responsável por cerca de 20% da produção brasileira de vinhos finos, sendo que 80% estão concentrados nas três grandes empresas locais, assim definidas aquelas onde o volume ultrapassa 500 mil litros anuais: Miolo, Chandon e Casa Valduga. Enquanto as maiores empresas têm ocupado um espaço crescente dentro do grande varejo, e ampliado suas estratégias comerciais para atingir o mercado europeu, as pequenas vinícolas apostam em estratégias diferenciadas, mantendo a venda direta ao consumidor, sobretudo associada ao turismo, como o principal meio de comercialização. Nesta perspectiva de mercados diretos, uma estratégia que também tem adquirido importância é a comercialização via Internet (NIEDERLE, 2011).

Segundo o presidente da APEX, o setor de vinhos tem crescido no mercado externo devido à qualidade dos vinhos finos produzidos e as ações promocionais, como participação em feiras, teem levado o vinho brasileiro ao conhecimento de consumidores de países que já são referências neste produto como França, Espanha, Portugal, Itália. De 2013 para 2014 as exportações cresceram 83,7% em valor. Só no Reino Unido, as exportações cresceram 422,9% neste período. O ranking de países consumidores de vinhos brasileiros por ordem decrescente de compras pode ser assim descrito: Reino Unido, Bélgica, Paraguai, Holanda, Alemanha, Colômbia, EUA, Japão, China, Suíça e Canadá (COPELLO, 2015).

Entretanto, o consumo médio do brasileiro ainda é abaixo da média mundial, mostrando que há espaço de crescimento para o setor. Na França, por exemplo, o consumo per capita de vinho é de 45 litros/ano e, no Brasil, em média cada brasileiro consome 50 litros de cerveja por ano e 6 litros de cachaça e apenas 2 litros de vinho em geral (de mesa e finos). E se considerar somente os vinhos finos o consumo per capita é de apenas 0,7 litros/ano (COPELLO, 2015).

A grande prova anual brasileira de vinhos acontece com um júri de 4 especialistas e o procedimento de prova é às cegas com notas até 100 para cada produto. Para o ano de 2015 houve 678 amostras de 87 produtores de sete estados. O resultado mostra que os vinhos brasileiros continuam evoluindo. Para medalha de ouro são necessários 88 pontos ou acima e para a medalha de prata entre 86 e 87 pontos. Foram 80 medalhas de ouro e 127 de prata, com destaque para os espumantes. Nos últimos anos, o Brasil alcançou mais de três mil medalhas em concursos e eventos mundiais na França, Espanha, Itália, Grécia, Reino Unido, Bélgica, Canadá, EUA entre outros (FARINA, ROLOFF, 2015; COPELLO, 2015).

Porém, o apreciador de vinho tem a sua disposição mais de 40 mil rótulos de mais de 30 países. O Brasil importa vinhos principalmente do Chile, Argentina, Portugal e Itália.O brasileiro educou seu paladar nas últimas décadas consumindo vinhos do Chile e Argentina, preferindo vinhos tintos encorpados, macios, frutados, madeirados e alcoólicos e de preferência em imponentes garrafas pesadas. E ainda associa a experiência de consumir o vinho ao inverno, lareira e queijos (COPELLO, 2015).

Atualmente a produção de vinho já se encontra em 13 estados brasileiros: Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco, Ceará, Maranhão e o Rio Grande do Sul (COPELLO, 2015).

O estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor de uvas e vinhos do país, sendo responsável por 90% das garrafas disponíveis no mercado. O estado está em uma zona temperada de clima subtropical úmido. O estado possui 4 sub regiões importantes:

 A Serra Gaúcha é o epicentro da produção vitivinícola brasileira. Esta região bucólica com traços e clima marcadamente europeus colheu em 2014, 581 milhões de quilos de uva, sendo que destes, 54 milhões foram de uvas vitis vinífera para a produção de vinhos finos e espumantes. Elaborou-se 192 milhões de litros de vinho de mesa e 34 milhões de litros de vinhos finos. Recentemente houve um avanço na produção de espumantes, constantando um ótimo terroir para este produto com clima úmido e solos ácidos para a produção de Chardonnay, Riesling Itálico e Pinot Noir. Em 2013 foram produzidos 15,8 milhões de espumantes. As propriedades da Serra Gaúcha em geral não passam de 14 hectares/propriedade, sendo minifúndios com herança da tradição dos antepassados e com mão-de-obra familiar. Os parrerais ocupam em média 2,6 hectares/propriedade com média de 4 moradores por propriedade, totalizando 57 mil pessoas (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; COPELLO, 2015)

 Serra do Sudeste com clima mais estável e é um dos novos terrois do Rio Grande do Sul e tem vinícolas importantes como Chandon, Casa Valduga e Lídio Carraro. O terroir do município de Encruzilhada do Sul é versátil e oferece resultados positivos para diferentes uvas como Tempranillo, Touriga Nacional e Tannat. Entretanto, a vinificação geralmente ocorre em Bento Gonçalves/RS (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; FARINA; ROLOFF, 2015)

 Campos de Cima da Serra que possui os invernos mais rigorosos e produzem uvas em altitude com uvas do tipo Merlot, Cabernet Sauvignon, Chardonnay e Sauvignon Blanc. Tem um bom final de maturação das uvas principalmente para as variedades de colheita tardia (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; FARINA; ROLOFF, 2015)  Campanha Gaúcha com clima mais continental que tropical com solo e temperatura

favoráveis para produção em larga escala e, possivelmente, mecanizada. As uvas produzidas na região da Campanha geralmente são vinificadas na Serra Gaúcha. Em 2013 foram produzido 5,23 milhões de quilos de uvas viníferas e 3,86 milhões de litros de vinhos finos. Com as uvas de mesa produziram 110 mil litros de sucos e derivados. Produzem Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Pinot Noir, Tempranillo e Touriga Nacional. Tannat é muito bem adaptada à Campanha, pois a região faz divisa com o Uruguai onde é largamente produzida esta casta (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; COPELLO, 2015).

No Paraná, Planalto Catarinense, há cerca de 150 rótulos de vinhos elaborados na região de São Joaquim/SC como vinhos finos de altitude com ênfase na produção de Cabernet Sauvignon. Em todo o estado, em 2014, havia uma área plantada de 4225 hectares de videiras, somando 11 milhões de litros de vinhos de mesa e 12 milhões de litros de vinhos finos. Na região de Urussanga/SC a produção é das uvas de Goethe, uma casta híbrida utilizada para a produção de sucos e vinhos de mesa e que é registrada junto ao INPI como Indicação de Procedência. Possuem 40 hectares plantados e produzem 750 mil litros de vinho de Goethe (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; COPELLO, 2015).

No Nordeste, nos estados da Bahia e de Pernambuco – região do Vale do São Francisco, há uma zona de produção vitícola recente que tem apresentado um terroir diferenciado com promissora produção da uva Syrah e outras específicas para o clima da região como Touriga Nacional, Tempranillo e Petit Verdot com 370 hectares plantados com 3,5 milhões de litros de vinhos finos, sendo 1,5 milhões de litros de espumantes moscatéis (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; COPELLO, 2015).

Há novos terroirs sendo estudados e trabalhados no Brasil com iniciativas no Centro-Oeste, Sudeste e regiões de altitude do Nordeste. Os primeiros vinhos do Sudeste começaram a chegar ao mercado recentemente e ainda há muito para se descobrir sobre este terroir. No

Centro-Oeste na região da Serra dos Pirineus iniciam-se os primeiros testes para empreendimentos vitivinicultores (GRIZZO, BURGOS, MILAN, 2015; COPELLO, 2015). Destaca-se ainda, a prática do enoturismo, que além da concentração de cantinas, conta com a presença de museus, restaurantes, hotéis e queijarias, tornando o local um dos principais destinos turísticos do sul do Brasil, recebendo cerca de 300 mil pessoas anualmente Os circuitos de comércio visados são restaurantes, sites especializados e, notadamente, a venda direta aos consumidores através do enoturismo. Assim como no Vale dos Vinhedos, os produtores locais têm investido em estrutura física (pousadas, hotéis, restaurantes, rotas etc.), atividades (culinária, dança, música) e marketing para atrair turistas (NIEDERLE, 2011; COPELLO, 2015). Dentro do setor vitivinicultor, optou-se por estudar três grupos de interesse que serão descritos na sequência.