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A SIGNIFICAÇÃO NOS ESTUDOS SOBRE DESIGNAÇÃO, REFERÊNCIA, DENOTAÇÃO E NOMEAÇÃO

1 OS ESTUDOS DA SIGNIFICAÇÃO: A SEMÂNTICA

1.4 A SIGNIFICAÇÃO NOS ESTUDOS SOBRE DESIGNAÇÃO, REFERÊNCIA, DENOTAÇÃO E NOMEAÇÃO

Muito se desenvolveu em relação aos estudos sobre referência, denotação, nomeação e designação. Russell, Lyons, Strawson, Ducrot, assim como Frege, apresentam modos distintos de se trabalhar a significação a partir desses conceitos. Apresentaremos aqui essas distinções que se fazem relevantes para entendermos a maneira como a Semântica do Acontecimento, a partir de Guimarães, desloca esses sentidos apresentados, estabelecendo um outro modo de se considerar o funcionamento da designação, da referência e da nomeação.

Russell (1974), por exemplo, trata da questão do sentido a partir da denotação e diz que uma expressão é denotativa a partir da sua forma e o significado só pode ser apreendido por meio das expressões denotativas. Para ele, “as expressões denotativas nunca têm qualquer significado em si próprias, mas cada proposição, em cuja expressão verbal elas ocorrem, tem um significado” (p. 10). Acrescenta, ainda, que as expressões denotativas acompanhadas

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rigorosamente de artigo estabelecem unicidade. Em contrapartida, expressões falsas não denotam nada.

Para desenvolver uma teoria da denotação, esse autor apresenta três pontos cruciais: identidade nas proposições (“A idêntico a B”), o que é verdadeiro em um é verdadeiro em outro e a substituição de um pelo outro em nada altera

seu valor de verdade ou falsidade; exclusão dos meios (“A é B” ou “A não é B”),

em que um ou outro deva ser verdadeiro; e, diferenciação (“A diferente de B”). Ele acrescenta que “a relação entre significado e denotação tal como ela se dá na expressão não é meramente linguística: deve haver uma relação lógica envolvida, que expressamos dizendo que o significado denota a denotação” (RUSSELL, 1974, p. 15).

Russell (op. cit.) afirma, ainda, que se não temos conhecimento de uma coisa de imediato, mas somente pelas definições através de expressões denotativas, as proposições não são constituídas por essa coisa, mas pelas palavras das expressões denotativas. E complementa: “com nossa teoria da denotação somos capazes de sustentar que não existem indivíduos irreais; de tal forma que a classe vazia é a classe que não contém membros e não a classe que contém como membros todos os indivíduos irreais” (p. 19).

Diferentemente, Lyons (1982) diz que o sentido é o meio pelo qual uma palavra se relaciona a outra, enquanto que denotação é o meio pelo qual uma palavra se relaciona com a realidade. Sentido e denotação são interdependentes e, a partir de uma visão racionalista, é o sentido que determinada a denotação de uma palavra; pode-se saber o sentido de uma palavra sem saber sua denotação. Assim como a denotação, a referência é dada por uma relação com o mundo; mas, a referência, diferentemente da denotação, está ligada ao contexto da enunciação. Para ele, a grande maioria das expressões referenciais em uma determinada língua está relacionada ao contexto e nem os nomes próprios fogem a isso.

Em outro momento, Lyons (1977) afirma que a denotação é parte de uma relação mais complexa entre a linguagem e o mundo, pois:

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Usamos a linguagem não apenas para descrever as pessoas, as coisas e as situações no mundo físico e no mundo social com o qual interatuamos na nossa vida diária, mas também para controlar e nos ajustarmos, de várias maneiras, a essas pessoas, coisas e situações. A função descritiva da linguagem, por mais importante que seja, não é a sua única função, nem sequer a mais fundamental (LYONS, 1977, p. 175).

Lyons (1977) afirma ainda que podemos dizer que a denotação é o processo de classificação de objetos e propriedades, aplicado a expressões, como, por exemplo, „cão‟ para denotar classe dos cães, ou um membro ou um exemplar da classe, e „canino‟ para denotar a propriedade. Enquanto a referência está ligada ao enunciado, às expressões em um determinado contexto, como expõe o autor, a denotação se aplica a palavras, independente de situações particulares de enunciação. Para ele, a denotação de uma palavra determina a sua referência, não enquanto palavras, mas sim quando empregue em expressões referenciais. Por conseguinte, o termo denotação pode ser empregado em determinadas expressões que podem substituir palavras simples nas frases e ser denotacionalmente equivalentes.

Para o autor, sabemos os sentidos de determinadas palavras, tenham elas denotação ou não, porque sabemos os sentidos das palavras que compõem sua definição o que permite afirmar, segundo o autor, que o sentido é, em alguns casos, anterior à denotação. Há uma interdependência entre a denotação e a predicação, pois quando atribuímos uma propriedade a um indivíduo ou grupo de indivíduos, segundo o autor, aplicamos como predicado ao indivíduo ou ao grupo uma palavra ou expressão denotando a propriedade. Dessa maneira, podemos afirmar que as expressões predicativas têm uma denotação. Esse autor considera que a referência é do enunciado e a denotação das palavras e são as expressões dotadas de sentido.

Já a referência não é aplicável a palavras isoladas, mas sim dependente do enunciado, é a “relação existente entre uma expressão e aquilo que essa expressão designa ou representa em ocasiões particulares de sua

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enunciação” (LYONS, 1977, p. 145). Para que uma frase seja dotada de referência, é preciso ser enunciada com um valor de comunicação particular, num determinado contexto. Segundo o autor, é o locutor quem refere, a partir de uma expressão referencial apropriada, a um determinado referente, identificável, e suas

intenções se refletem nas marcas de seus enunciados2.

A referência só é satisfatória, segundo o autor, se o locutor escolher uma expressão referencial que permita ao interlocutor, num dado contexto, escolher o referente entre os referentes potenciais. É também por essa via que o autor pensa a unicidade em semântica linguística, ou seja, é pelo contexto que o interlocutor identifica de forma unívoca o referente que o locutor tem em mente; o autor acrescenta, ainda, que “o locutor, ao usar a expressão referencial singular definida, vincula-se, pelo menos temporária e provisoriamente, à crença na existência de um referente que satisfaz a sua descrição, e convida o auditor a fazer o mesmo” (p. 152).

Strawson (1985) afirma que, para referir, utilizamos de expressões; já as sentenças são sentenças que se iniciam com expressões. Para ele, essas expressões nunca constituem nomes próprios e nem descrições, por conseguinte, ainda segundo ele, não há “nomes logicamente próprios e tampouco existem descrições” (p.264).

Quando uma expressão referencial diz algo, não sobre este ou aquele grupo, ou sobre este ou aquele objeto individualizado, mas acerca de determinada classe, é chamado de referência genérica (LYONS, 1977). As proposições genéricas, que nada têm a ver com geral, não são marcadas quanto ao tempo gramatical. Se estiverem marcadas temporalmente, são expressões referenciais gerais, apresentadas pelo autor como opostas a referências singulares.

Para Lyons (1977), o linguista deve preocupar-se com o estudo da referência no que tange à descrição das estruturas gramaticais e os processos de

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O autor usa o termo expressão referencial geral para aquelas que se referem a classes de indivíduos e expressão referencial singular para as que se referem a indivíduos. Usa, também, a noção de expressão definida, quando se refere a um indivíduo específico (ou classe de indivíduos), e indefinida, quando não se refere a um indivíduo específico (ou uma classe específica).

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referências a indivíduos e a grupos de indivíduos, sem se atentar à referência real das expressões, pois os nomes próprios, afirma o autor, não têm sentido, diferente das descrições definidas.

Sobre a particularização de pessoas, Strawson (1985) acrescenta que:

não podemos dizer que a sentença é acerca de uma pessoa particular, dado que a mesma sentença pode ser utilizada, em épocas diferentes, para falar acerca de pessoas particulares totalmente diferentes; podemos falar apenas de uma utilização da sentença para falar acerca de uma pessoa particular (STRAWSON, 1985, p. 265).

Por conseguinte, para ele, é pela utilização de sentenças que podemos falar sobre uma pessoa em particular e não por meio da expressão em si, que, segundo ele, não refere, assim como as sentenças não são nem verdadeiras, nem falsas. Para esse autor, é a utilização das sentenças e expressões o que interessa e não as sentenças e as expressões em si, pois as sentenças e as expressões em si não referem a nada, assim como a significação não é a coisa em particular ou um conjunto de coisas. Essa utilização mencionada por Strawson (1985, p. 267) não está relacionada com uma situação específica, mas é dada por convenções:

com efeito, falar acerca da significação de uma expressão ou de uma sentença não é falar acerca de sua utilização numa ocasião particular, mas, sim, falar das regras, hábitos e convenções que governam em todas as ocasiões, a sua utilização correta para fazer referência ou para acertar (STRAWSON, 1985, p. 267).

Já segundo Russell (1974), a significação está nas sentenças e nas expressões e a referência no uso das sentenças e expressões. A significação de uma expressão é o objeto a que ela faz referência e a significação é o próprio objeto designado. Ele acrescenta que, para ser nome, é preciso designar alguma coisa e uma descrição definida denota um indivíduo se esse indivíduo se encaixar na descrição de forma unívoca.

Para Lyons (1977), os nomes próprios têm uma função referencial e vocativa, apesar de serem usados, frequentemente, para chamar a atenção do

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interlocutor para a presença ou existência da pessoa que se nomeia. Podem ser usados para avisar, evocar, sem necessariamente haver uma predicação precisa ou explícita. São usados para referir ou dirigir-se a indivíduos. O nome de uma pessoa, afirma o autor, é considerado como “uma parte essencial dela” (p. 179).

Os nomes próprios podem até ter referência, afirma esse autor, mas não têm sentido ou nenhum tipo de significado único e especial que os distinga dos nomes comuns como uma classe e, por conseguinte, não podem ser usados como predicados; seu significado simbólico depende de convenções específicas de uma dada cultura. O autor questiona, ainda, a distinção, na aprendizagem da linguagem, entre nomes próprios e nomes comuns, pois, para ele, em determinadas situações, nomes próprios podem funcionar como nomes comuns e vice-versa.

Lyons (1977) trabalha, ainda, com o termo nominação por considerar os termos „nomear‟ e „denominar‟ obscuros. Para ele, nominar é atribuir um nome a uma pessoa, o que ele chama de nominação didática. “Por nominação didática entendemos ensinar a alguém, formal ou informalmente, que um nome particular está associado por uma convenção preexistente a uma pessoa, objeto ou lugar particular” (p. 179).

Em contrapartida, Rancière (1994, p. 43) considera que “Um nome identifica, não classifica” e só existe história porque os nomes identificam (vale retomar que história, para ele, são as narrativas de fatos acontecidos).

Compartilhando dessa afirmação, Guimarães (2002) diz que a designação é constitutiva do sentido dos nomes e a nomeação é o funcionamento semântico pelo qual algo recebe um nome. O autor acrescenta, ainda, que a designação é a significação de um nome, não de forma abstrata, mas sim como algo próprio das relações de linguagem, relação simbólica remetida ao real, exposta ao real, uma relação tomada na história. Já a referência é a particularização de algo pela enunciação. Essa particularização também está relacionada com a história, não se dá de forma mnemônica ou como representação da realidade.

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Para esse autor, as referências feitas com um nome são elementos constitutivos da designação. Num acontecimento em que um certo nome funciona, a nomeação é recortada como memorável por temporalidades específicas. É preciso, ainda, observar como um nome aparece referindo no texto em que ocorre, como o nome está relacionado pela textualidade com outros nomes ali funcionando. Esse modo de referir organizado em torno de um nome é um modo de determiná-lo, de predicá-lo.

No que concerne às expressões referenciais, Lyons (1977) diz que os nomes próprios, empregados como expressão referencial, identificam os seus referentes, associando, única e arbitrariamente, o nome ao seu portador; ter um determinado nome é possuir uma certa propriedade. O autor acrescenta que os pronomes pessoais e demonstrativos também podem ser usados como expressões referenciais, mas sua referência é dependente do contexto.

Para ele, duas expressões só possuem a mesma referência se uma puder ser substituída pela outra sem que o significado descritivo e o valor de verdade sejam afetados. Quando esse autor fala sobre conceito de verdade, considera-a como sendo a crença do locutor a respeito de algo, que nada tem a ver com fatos empíricos ou necessidade lógica. Para ele, tanto as palavras quanto as expressões têm sentido, mas somente as expressões têm referência e “o sentido de uma expressão é uma função dos sentidos dos lexemas que a compõem e da sua ocorrência numa construção gramatical particular” (p. 170).

O filósofo Frege (1892) afirma que as diferentes designações utilizadas para o mesmo objeto trazem um conhecimento real sobre esse objeto. Para ele, aquilo que é designado é a sua referência, que pode ser a mesma, mas com sentidos diferentes.

O autor associa nome próprio à designação (a designação é considerada como um modo de representação do nome próprio) e essa designação pode ser constituída de várias palavras ou até mesmo outros sinais. Segundo ele, o sentido do nome próprio é, então, as designações a que ele pertence, isto é, à expressão liga-se um sentido (mas o mesmo sentido pode ser

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dado por expressões diferentes) e ao sentido uma referência. Com isso, o autor não está afirmando que ao sentido corresponda sempre uma referência ou, como ele mesmo afirma, “entender-se um sentido nunca assegura sua referência” (p. 63).

Frege acrescenta, ainda, que o nome próprio exprime seu sentido e designa a sua referência e ele distingue referência de representação. A referência, para ele, é o objeto e a representação é a imagem, resultante de lembranças, é subjetiva:

A referência de um nome próprio é o próprio objeto que por seu intermédio designamos; a representação que dele temos é inteiramente subjetiva; entre uma e outra está o sentido que, na verdade, não é tão subjetivo quanto a representação, mas que também não é o próprio objeto (FREGE, 1892, p. 65).

De acordo com a teoria por ele desenvolvida, muitos indivíduos podem ter o mesmo sentido sobre um determinado nome, mas nunca a mesma representação. Para elucidar essa afirmação, ele apresenta o exemplo clássico de um observador olhando a lua através de um telescópio, em que, por comparação, a lua seria a referência, o objeto de observação, fruto da imagem real projetada pelo telescópio (o próprio sentido) e, ao mesmo tempo, pela imagem retiniana do observador (a representação), ou seja, a imagem projetada pelo telescópio, apesar de objetiva, de estar disponível a muitos observadores, ela depende do ponto de vista de cada observador.

No que tange à sentença assertiva completa, Frege (1892) a considera a partir do pensamento (conteúdo objetivo, comum a muitos) e a substituição de uma palavra por outra nessa sentença, com a mesma referência (quando houver) e sentido diferente, não afeta em nada sua referência, mas o pensamento muda. A partir dessa afirmação, e apresentando outro exemplo clássico, o da “estrela da manhã” e da “estrela da tarde”, esse autor complementa que “o pensamento, portanto, não pode ser a referência da sentença, pelo contrário, dever ser considerado como seu sentido” (p. 67-68).

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Com isso, ele afirma que a necessidade da verdade é o que nos desloca do sentido para a referência e, por suposição, esse valor de verdade, a partir de um contexto dado, seria a referência, mas nem sempre. Não é o pensamento, isoladamente, que nos dá um conhecimento, mas o pensamento com a referência, com o valor de verdade. Mas, quando analisam as sentenças subordinadas, o sentido pode ser todo o pensamento ou apenas uma parte dele e o valor de verdade não é sua única referência. Mesmo assim, Frege (1892, p. 85) conclui afirmando que “o valor de verdade é a referência da sentença cujo sentido é o pensamento”.

Já para Ducrot (1989), a palavra não exerce uma função criadora, mas sua significação se projeta a um exterior e, ao mesmo tempo em que diz sobre um objeto, sobre um acontecimento, o constitui. Mas esse dizer, apesar de fazer uma alusão ao objeto, ao acontecimento, difere deles. É esse externo ao dizer por ele constituído que o autor chama de referente:

Desde que haja um acto de fala, um dizer, há uma orientação necessária para aquilo que não é o dizer. É a esta orientação que podemos chamar “referência”, chamando “referente” ao mundo ou objeto que ela pretende descrever ou transformar. (O referente de um discurso não é, assim, como por vezes se diz, a realidade mas sim a sua realidade, isto é, o que o discurso escolhe ou institui como realidade) (DUCROT, 1989, p. 419).

Ele acrescenta que a significação não é simplesmente o fato de uma coisa ser etiquetada pela palavra, pois, se assim fosse, seria necessário conhecer a coisa e a sua realidade ser inscrita no interior da língua e, “a partir daí, a bem dizer, deixa de haver referência visto que coisas e palavras são dadas conjuntamente” (p. 424). Por conseguinte, a significação estaria ao lado do mundo, sem estabelecer relação entre as palavras e as coisas.

Segundo Ducrot, a referência funciona na dualidade exterior/interior; exterior ao discurso, pois se trata do objeto, e interior ao discurso, pois está

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(DUCROT, 1989, p. 429). As expressões, segundo ele, veiculam descrição de seu referente; já os nomes próprios apenas designam.

O autor acrescenta que o referente não é simplesmente aquilo que é

descrito na expressão referencial, mas como ele é descrito, isto é, “o referente,

aqui, não são os seres, mas as personagens criadas dentro do discurso” (p. 434). Por ser criado no discurso, o referente não tem relação direta com a existência física, isto é, falar de algo que não existe é, segundo ele, dar uma certa existência a esse objeto. Portanto, não dá para julgar um discurso a partir do conhecimento prévio de seu referente, pois, para ele, é o discurso como um todo que refere e não uma parte ou outra que o constitui.

Para a teoria que embasa esta tese, diferentemente, pensar a designação é considerar o processo de identificação que funciona quando as palavras identificam as coisas simbolicamente, numa relação em que a linguagem constrói com o mundo e não apenas refere, a designação é a significação que identifica. Dessa forma, o sentido está relacionado com a significação do enunciado e a referência é parte do sentido desse enunciado e tem a ver com a relação entre a expressão linguística e algo no mundo, particularizado por essa expressão. Com isso, não se quer dizer que a referência indica sempre um objeto único, nem um entre vários, ela pode ser, também, geral e indicar um conjunto de objetos (GUIMARÃES, 2006).

A designação, como afirma Guimarães (2006), é a relação das palavras com as coisas, por um processo de identificação simbólico. Portanto, a designação é, também, parte do sentido da expressão, por uma relação que a linguagem constrói com o mundo; não se trata do modo de referir, mas da produção de sentidos, pelas expressões linguísticas, recortados pelo acontecimento, e isso só se faz possível pelas relações de determinação. Uma palavra designa aquilo que por ela é significado, pela sua relação com outras no texto.

A Semântica do Acontecimento analisa questões de significação fora do campo referencialista, diferenciando-se da Semântica Formal, por exemplo, pois o

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significado não é visto de forma denotativa. Considerar a linguagem pela perspectiva dessa semântica é considerá-la em curso, com a significação construída enunciativamente no/pelo acontecimento da enunciação, por uma relação de sentidos entre as palavras, funcionando nos textos em que emergem.

Sob essa perspectiva, não dá para tratar da designação sem pensar na referência, pois é a partir do que a palavra designa que podemos observar como ela refere às coisas. Como acrescenta Guimarães (2007), a referência é, também, construída por uma relação de determinação e não há designação sem referência, e esse é ponto nodal da teoria para se considerar o referente. Para ele, referir é particularizar algo pela enunciação e só é possível particularizar e referir porque as palavras designam. O autor diz, ainda, que cada vez que se refere, produzem- se as designações. A referência é a particularização pela enunciação e a designação é o modo de significação, uma construção do sentido, numa relação entre elementos linguísticos. Cada vez que se refere, produzem-se designações. Dessa forma, a designação não é um modo de apresentar a referência, como uma etiqueta colada ao objeto, mas sim a construção de sentidos estabelecida nesse funcionamento, a significação construída pela linguagem, bem como a referência não é externa ao sentido, não é o objeto no mundo, mas significada pela designação.

Assim, podemos afirmar que a designação não representa o real, mas o significa, numa relação de sentidos construída pela linguagem, enunciativamente, e a referência, a particularização é constituída linguisticamente, no/pelo acontecimento, e não se dá independente do sentido, como se a palavra classificasse algo existente no mundo, como propõem os estudos lógicos fregeanos.

O modo como a Semântica do Acontecimento apresenta a designação e a referência é determinante para as análises e descrições do Domínio Semântico de Determinação, que será explicitado na próxima seção. É relevante, previamente, trazermos as considerações de Benveniste sobre a análise linguística, para entendermos o deslocamento estabelecido por Guimarães ao