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2.4. AMUNAM: cosendo nossas próprias golas, batendo nossos próprios surrões

2.4.1 Do silêncio nasceu um grito

Convido a leitora a fechar os olhos e, como exercício de memória, resgatar a imagem que abre esse capítulo...

A imagem de um fogo que queima e destrói, de uma chama devastadora como a das queimadas e dos incêndios. Chamas essas que, como foi visto, destroem e matam as possibilidades de diversidade e biodiversidade e com elas, se vai a multiplicidade de vidas. No centro dessa destruição está o homem. O homem, não como representante macro da espécie humana, mas como figura opressora e responsável por alimentar essas ações, um homem que alimenta esse incêndio agindo como um lenhador que mantém o fogo para que ele siga comendo terras de saberes, tradições, conhecimentos e cultivos variados.

No interior do estado de Pernambuco, dentro da Zona da Mata Norte, os canaviais tomam conta das terras há séculos e, junto a eles, seus incêndios e queimadas. Dentro dessas labaredas estão a dominação da monocultura, a exploração das trabalhadoras e trabalhadores rurais, as opressões de classe e raça e, como esperado: as opressões de gênero. Há anos alimentando e girando a economia açucareira, os engenhos - berços culturais do Maracatu Rural - são espelhos da cultura patriarcal. Na Brincadeira, como já dito anteriormente, só os homens podem protagonizar, só eles podem brincar de Caboclos de Lança. As mulheres, no entanto, estão presentes nos bastidores: são as responsáveis pela alimentação e vestimenta dos brincantes. Novamente, a invisibilidade e desvalorização de seus trabalhos repete-se na tradição.

Se o maracatu inaugura um espaço de resistência às opressões sofridas pelos trabalhadores (homens) da cana, mas deixa de lado as mulheres, nas lutas sindicais não era diferente. Durante as décadas de 70, 80 e 90, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nazaré

da Mata, Tracunhaém e Buenos Aires reunia homens e mulheres que trabalhavam no corte da

cana em torno das necessidades e lutas pela melhoria das condições de trabalho e em debates sobre a reforma agrária. A presença das mulheres era aceita, porém apenas os homens podiam opinar e ter direito a voz nas decisões políticas do Sindicato. Elas poderiam estar apenas como ouvintes. Condicionadas ao silêncio durante as reuniões, muitas vezes essas mulheres saíam do espaço interno onde seus parceiros de trabalho estavam e iam ficar embaixo das árvores, tomando um ar e conversando descontraidamente sobre assuntos de seus cotidianos60. Reunidas, elas falavam sobre seus filhos e a educação deles, gravidez, maternidade e confessavam e compartilhavam sobre violências sofridas em casa, praticadas pelos seus parceiros que, não raro, estavam reunidos com os outros homens dentro da sala de reunião.

Nazaré da Mata é uma cidade com elevados índices de violência doméstica e carrega em sua história marcas do feminicídio.

Embora venham surgindo iniciativas, no local, de inserção social da mulher, a exemplo da colocação delas em novas atividades econômicas, a Mata Norte pernambucana, ainda registra índices que atestam situação de desfavorecimento das populações femininas, com números que confirmam, por exemplo, a situação de violência que muitas mulheres vivem e a vulnerabilidade familiar. Dados de uma pesquisa* realizada com 2.645 mulheres, com idades entre 15 e 49 anos da cidade de São Paulo e da Zona da Mata Pernambucana, em 2002, pelo Departamento de Medicina

60 Essas informações sobre a organização dos sindicatos é de Dona Eliane Rodrigues, a fundadora da

Preventiva da Faculdade da Universidade de São Paulo (USP), apontam que 34% das pernambucanas entrevistadas já tinham sofrido algum tipo de violência sexual ou física praticada pelo parceiro (VELOSO, 2005 apud SILVA; PINTO; FILHO, 2015, p50).

Eliane Rodrigues de Andrade Ferreira era uma jovem funcionária do sindicato, trabalhando na função de escriturária e percebia, estando junto a elas e eles, indícios de agressões físicas. No dia 05/05/2018 cheguei à Nazaré ainda pela manhã e fui até a sede da AMUNAM. Íamos conversar sobre o carnaval e os planos da Associação para o próximo ano. Como sempre acontecia, depois que conversamos na sala da diretoria, Dona Eliane e eu fomos para a cozinha comer a comida que Mariinha tinha acabado de pôr à mesa. Sentamos juntas e seguimos falando, enquanto ela me contava essas ocasiões do passado, chegou ao momento em que notou as marcas da violência:

“... Aí já era muita violência. E no sindicato também, a gente lidando com as mulheres trabalhadoras rurais ou as mulheres de trabalhadores rurais, então, você também na conversa, você percebia isso e eu que gostava muito de estar nesse meio, nas reuniões com elas, eu sempre ia. Não era obrigada, mas eu gostava de ir. E aí você percebia isso, era muito visível. De você chegar numa casa de uma liderança e a mulher tá com o olho roxo, ou ta com... enfim. E quando você ia conversar sempre tinha a ver com violência, sempre tinha a ver com maus tratos, enfim...”

Foi então que ela enxergou, nesses momentos de espera das mulheres, a oportunidade de fazer com que essas reuniões informais encontrassem escopo para se transformarem em um movimento consciente e útil a todas elas. Ele já estava acontecendo, de forma natural e orgânica, apenas precisava se organizar, para assim, se fortalecer.

Dessa forma, um espaço que de antemão figura como uma terapia, uma troca de experiências sem intenções políticas declaradas, transforma-se em um espaço potencialmente político e transformador. Isso porque a esfera pessoal pode ser política, na medida em que ela é contextualizada, criticada e coletivizada. Na década de 60, a segunda onda feminista traz essa ideia, na máxima “O Pessoal é Político”. Carol Hanisch traz à tona essa discussão, ao perceber que os grupos políticos da esquerda menosprezavam ou diminuíam os espaços onde as mulheres compartilhavam seus problemas, suas questões cotidianas.

(...) o motivo para eu participar dessas reuniões não é para resolver qualquer problema pessoal. Uma das primeiras coisas que descobrimos nesses grupos é que problemas pessoais são problemas políticos. Não há soluções pessoais desta vez. Só há ação coletiva para uma solução coletiva. Eu fui, e continuo

indo a essas reuniões porque adquiri uma compreensão política que toda a minha leitura, todas as minhas “discussões políticas”, toda a minha “ação política”, todos os meus quatro anos e pouco no movimento nunca me deram. Eu fui forçada a tirar os óculos cor-de-rosa e encarar a horrível verdade de quão deprimente minha vida é na condição de mulher. Eu estou adquirindo uma compreensão mais profunda de tudo, se comparado com a compreensão esotérica, à compreensão intelectual e sentimentos de noblesse oblige que eu tinha das lutas de “outras pessoas” (HANISCH, 1969).

Indagada sobre como surgiu esse impulso feminista pela justiça e equalização dos direitos das mulheres, Dona Eliane, hoje a presidenta e coordenadora geral da AMUNAM encontra a resposta nos ensinamentos de luta de outra mulher, sua mãe. Na mesma conversa, ela explica como foi parar no Sindicato tão jovem:

“Eu acho que minha mãe tem um pouco dessa história porque ela ficou viúva com cinco filhos aos 27 anos, e o mais velho era eu que tinha sete anos e o mais novo ia fazer um. Daí naquele tempo se costumava, as mulheres, depois que ficava viúva distribuía os filho, ficava com um ou dois e o resto distribuía, pra avô, pra tia, madrinha e ela num quis. Onde ela ficasse, onde ela comesse os cinco comia, onde ela ficasse os cinco ficava. E daí mesmo ela tendo estudado até, não completou nem o Ensino Fundamental I, mas ela deu oportunidade da gente estudar. Num tinha nada de luxo, mas estudar, ela botou pra estudar. Dos 5, 3 teve profissões de formação e dois que não quiseram estudar de jeito nenhum então não se formaram. Então tem eu, que fiz biologia, tem uma que fez relações públicas e hoje tem uma empresa em São Paulo, é pequena empresária lá e tem uma que é fisioterapeuta e um é caminhoneiro e outra é dona de casa. E daí eu com 16 anos já estava trabalhando no sindicato, eu comecei a trabalhar com 15 coordenando um grupo jovem do sindicato dos trabalhadores rurais.”

Com espaço para compartilhar suas dificuldades e dores, essas mulheres puderam perceber que tinham coisas em comum, que compartilhavam dos mesmos problemas e questões cotidianas e no ambiente do trabalho. Começaram a reivindicar um espaço dentro do Sindicato e em pouco tempo, conquistaram uma sala dentro da sede. A organização do grupo foi rápida e eficiente. Nomearam e criaram o 1º Estatuto da Associação, que inicialmente se chamava Associação das Mulheres Rurais de Nazaré da Mata, Tracunhaém e Buenos Aires. No documento, organizaram seus objetivos principais e seus fundamentos e princípios. Os homens passaram a aceitar a participação ativa das mulheres, mas segundo Dona Eliane, elas existiam apenas “como um fantoche”. Serviam para dar número e volume mediante as ações do Sindicato, o que era interessante para os homens. Na prática, entretanto, continuavam tendo suas contribuições menosprezadas. Agora organizadas, conseguiam elencar as

necessidades específicas para mulheres, porém, nas palavras da diretora, podemos notar as barreiras impostas: “só que quando você queria fazer um encontro específico pras mulheres, um trabalho específico para as mulheres, nunca podia, nunca tinha dinheiro nunca tinha condições, quando era pros homens, tudo podia, mas para as mulheres não podia.”.

Figura 27 - Chitas ao vento no varal da AMUNAM. Foto: Monique Luca Maritan, maio de 2018.

Depois de uma mudança de diretoria, Dona Eliane sofreu uma demissão que mudou para sempre os rumos da Associação. Segundo ela, a perda do emprego estava diretamente ligada ao seu ímpeto feminista, mas mesmo assim o ‘tiro saiu pela culatra’ e ao invés de erradicar, impulsionou o crescimento do que posteriormente seria a AMUNAM, como ela me disse, em minha primeira visita à Associação, dia 06/12/2017. Nessa conversa, estávamos sentadas na mesa do salão central da sede e conversávamos sobre o surgimento da Associação e as primeiras barreiras que elas enfrentaram:

Dona Eliane: Só que dois anos depois houve mudança da diretoria e se uma diretoria era muito machista, a outra era que era. Daí me demitiu. Ela me demitiu achando que me demitindo ia acabar com o trabalho e foi melhor, assim, entre aspas, né. Porque foi melhor porque eu tinha as obrigações com o Sindicato e fazia as da Associação em outro horário e com a Associação a gente se dedicou única e exclusivamente à Associação.

Dona Eliane: Com meu seguro desemprego! HAHAHAHA! Daí a gente alugou essa casa e o Sindicato fica aí na frente e aí nos demitiram e a gente alugou a casa e daí foi quando as mulheres da cidade começaram a reivindicar e a pedir pra participar, foi quando houve a alteração do estatuto e tirou o ‘rurais’ e tirou Tracunhaém e Buenos Aires, porque a gente não tinha carro, não tinha pernas pra dar conta dos três municípios e ficamos só com um. E ajudamos as outras mulheres se fortalecerem e fundarem as associações de lá.

A AMUNAM fica localizada em um ponto central da cidade, em frente ao Sindicato. A sede é um casarão antigo, que estava desgastado, porém com o tempo conquistaram uma reforma e ainda hoje seguem preservando e mantendo sua estrutura arquitetônica. A quantia do seguro desemprego de Dona Eliane, no entanto, era pouca e elas começaram a frequentar a casa em condições precárias. Desde 1996 a casa da sede foi comprada, com ajuda financeira de uma organização internacional da Itália e com a renda de vaquinhas, festas, bingos, sorteios e brechós que as mulheres se organizavam, unindo forças para levantar fundos. O senso comunitário estava extremamente aflorado e as reais necessidades desse grupo de mulheres, somadas à suas grandes capacidades em empreender e gerar possibilidades de uma existência de luta comunitária, deram resultados. Dona Eliane seguiu me contando, ainda nesse dia:

“E aí foi assim que a gente fundou e não tinha nada, não tinha uma cadeira pra sentar. A gente fazia tudo no chão, escrevia tudo depois eu ia pro escritório de contabilidade e datilografava, que não tinha computador e fazia tudo na máquina. Daí com o tempo, no governo Arraes, aí a gente tava aqui e tinha um secretário que eu conhecia de antes e foi que a gente pediu, pra ver se ele podia ajudar a gente a pelo menos comprar umas cadeira, um birô, uma máquina, uma contribuição do estado nesse sentido pra a gente comprar os primeiros móveis mas passamos um bom tempo ‘se virando’, né. Fazendo cota, fazendo vaquinha, pra comprar um banquinho aqui e outro acolá pra poder manter.”

Só com a mudança de endereço para o centro da cidade que a Associação chegou ao seu nome atual, retirando o termo ‘rural’ e deixando apenas: Associação das Mulheres de

Nazaré da Mata. O aniversário da AMUNAM, data das primeiras reuniões e é comemorado

no dia 23 de janeiro de 1988.

A face do machismo logo começou a se mostrar. Boatos de que dentro daquela casa aconteciam coisas imorais e que as mulheres que frequentavam a Associação ‘não prestavam’. A diretora, logo foi taxada e era alvo de críticas dos homens da cidade, como ela mesma me contou: “Porque aí se criou aquele estigma de que a AMUNAM ia ensinar as mulheres a brigar com os homens, então era isso. E eu fui taxada de tudo quanto foi, de tudo que era

palavrão. De tudo que pudesse me chamar me chamava. Menos de mulher direita né. Eu era mulher esquerda, mulher errada, mulher não sei o quê”. Com a resistência dos maridos, as mulheres passaram a ser impedidas de frequentar a AMUNAM.

Figura - 28 Slogan e logotipo da Associação. Fonte: site da AMUNAM.

Dona Eliane e as outras mulheres que estavam à frente das ações da Associação perceberam que tinham que atrair os olhares de todos da cidade, justificando de maneira utilitária a ida das mulheres para dentro daquela casa rosada. Segue mais um trecho dessa conversa, no momento em que ela explica como driblou essas barreiras:

“Aí começamos trazendo as mulheres pra aprender corte e costura, pra aprender fazer lacinhos de cabelo. A gente criou alguns cursos que era a forma de elas saírem de casa e dizer assim: ‘eu tô indo aprender isso’. E nesse ‘estou indo aprender’, a gente tirava sempre um intervalo pra fazer umas conversas. Então foi assim que começou né e aí fomos criando os cursos, mas mesmo assim ainda existia, mesmo os homens estando mais calmos, mais aceitando, mas tinha aquela coisa assim de dizer assim ‘ensina coisa errada’, aquelas coisas que só passa em cabeça de homem, né não passa na das mulheres. A gente começou dando os cursos e quando foi em 94 nós começamos o curso de cabelereiro e aí abrimos as portas para os homens. O homem que quisesse fazer curso de cabelereiro, aí eles vinham também fazer o curso. Abrimos as portas para os homens né. Que antes era só mulheres. No primeiro ano do curso, era o primeiro curso desse tipo em Nazaré da Mata e o professor, ele era homossexual.”

Dona Eliane sublinhou a sexualidade do professor em sua fala porque isso foi posteriormente um impeditivo na realização da formatura do curso. Segundo ela, no dia da formatura, que ia ocorrer em um clube, com os preparativos todos acertados, a diretoria do

clube voltou atrás em sua palavra e se negou sediar o evento, pois descobriu sobre a homossexualidade do professor. Essa passagem revela o quanto a comunidade do município é machista e conservadora, tendo o preconceito e a discriminação extremamente arraigados entre a população.

Figura 29 - Coliseu na área externa da AMUNAM, um espaço de confraternização. Foto: Monique Luca Maritan, maio de 2018.

Com o passar dos anos, a AMUNAM foi criando forças, visibilidade política e reconhecimento de seus trabalhos e ações. Com isso, os apoios e conquistas de verbas públicas também foram batendo à porta do casarão rosa que ainda hoje funciona a todo vapor no centro do município. É um ponto de referência conhecido por todas as moradoras e moradores da cidade. Ainda há na trajetória da AMUNAM o curioso caso de um apoio financeiro fundamental e surpreendente, que permitiu que a Associação se mantivesse sempre funcionando: o suporte financeiro da rainha da Suécia, que é alemã, porém foi criada no Brasil. A rainha, conhecida por levar adiante pautas feministas na monarquia sueca, identificou-se com a AMUNAM e suas ações e ‘amadrinhou’ a Associação, impulsionando-a com verba e alguma visibilidade estrangeira.

Reconhecida como Serviço de Utilidade Pública pela Lei Municipal 07/92, a Associação é um exemplo prático e eficaz de como o feminismo pode acontecer e acontece

fora das arestas das universidades, aproximando-se de princípios coletivos e comunitários, com extrema consciência crítica, política e social.

Abaixo, uma lista que reúne princípios, ações e objetivos da Associação, que no livro “AMUNAM - uma história de amor à vida” consta no tópico “a AMUNAM em síntese”:

• Trabalhar a mulher a partir dos 8 anos de idade, com projetos específicos por faixa etária.

• Trabalha a prevenção e o enfrentamento da violência doméstica e sexual junto às mulheres, independente da faixa etária.

• Busca levar a participação das mulheres nos diversos espaços de discussão e decisão das políticas públicas, inclusive acompanhando as sessões da Câmara de Vereadores. • Concebe a comunicação como um item dos direitos humanos.

• A inclusão digital como direito de todos.

• Vislumbra o resgate e valorização da cultura através das danças culturais (coco-de- roda, ciranda, maracatu rural, caboclinho, frevo e capoeira).

• Envolve, nas suas ações, o público atendido, atores sociais, família, escolas, poder público, voluntários, sociedade parceiros locais, regionais, nacionais, internacionais. • Não agride o meio ambiente, sendo esta temática um viés em todas as ações.

• Trabalha para que os projetos desenvolvidos tenham características reaplicáveis.

Atualmente AMUNAM segue com diversas ações, acolhendo mulheres de todas as idades, abrindo cursos e formações para crianças e adolescentes, que abrangem diversos temas, mas sempre incluem o pensamento crítico em relação a cidadania, vida política, diversidade, gênero e coletividade. Oferta cursos de confecção e manutenção de golas e chapéus de Maracatu Rural. Dentro da sede, tem um ateliê com todas as vestimentas e indumentárias. Oferece a realização de matrimônios para pessoas carentes que desejam oficializar suas relações, em um projeto chamado “Casamento Comunitário”, que está indo para sua 5ª edição e tem alto índice de procura no período de inscrição. Sua sede abriga também uma de suas principais ações: a Alternativa AMUNAM FM, rádio comunitária que mantém sua programação diária ativa, com programas de utilidade pública para as mulheres e homens da comunidade, bem como programas que debatem sobre as ações de culturas e artistas locais e tradicionais. A rádio também realiza transmissões ao vivo por redes sociais, como o Facebook. Por fim, Associação é responsável pelo feito histórico e inédito de ser a fundadora do único Maracatu Rural

feminino do mundo: o Maracatu Coração Nazareno. Nele, as Caboclas de Lança puderam pela primeira vez mostrar suas caras, empunhando suas lanças pelas ruas e estradas da Zona da Mata.

Figura 30 – Livro AMUAM – Deixando marcas. Arquivo pessoal.

Figura 32 -. Adesivo na janela da Rádio Alternativa AMUNAM. Foto: Monique Luca Maritan, maio de 2018

Figura 31 - Livro AMUNAM –Com a cara e a coragem. Arquivo pessoal

Figura 33 – Livro AMUNAM – Educar para transformar Arquivo pessoal.

2.4.2 - Coração Nazareno – a rosa do maracatu

Olha, eu sendo uma mulher Dizem que eu canto muito bem Não tiro o chapéu pra mestre Porque sou mestra também. Maracatu de mulher Mostrando a cultura viva (Mestra Gil – álbum “A rosa do maracatu”)

É nesse contexto de luta por mudanças e ressignificações dos lugares da mulher na comunidade local que nasce o Maracatu Coração Nazareno, no Dia Internacional das Mulheres (dia 08 de março), no ano de 2004. No seio da tradição cultural, ele é um dos símbolos mais fortes de enfrentamento e desafio ao patriarcado reinante entre os canaviais e ruas de Nazaré e região. Na Capital do Maracatu, as mulheres da AMUNAM tiveram coragem de fazer a pergunta que nunca ninguém fez: Porque as mulheres não podem brincar de Caboclas? Se a AMUNAM já nasceu enfrentando barreiras impostas pelo machismo e quebrando paradigmas, esse desafio foi um dos grandes, que elas toparam enfrentar com orgulho e sem medo, como consta no livro da AMUNAM:

Maracatu é coisa de homem? Pode até ser, em outros lugares, mas, na

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