8 ANÁLISE CONJUNTA DOS CASOS 109
8.1 Similaridades e Particularidades entre os Casos 109
Os quatro casos apresentados neste trabalho dizem respeito a grupos do estado de São Paulo. Três deles possuem origem em famílias tradicionais do setor sucroalcooleiro que até hoje continuam ligados de alguma forma ao dia-dia das empresas. O Grupo A nos mostra um caso atípico, mas de extrema relevância para o setor. Com uma ação conjunta entre produtores e o poder público, foi possível estabelecer uma empresa com formação versátil e que proporciona uma distribuição de renda mais efetiva do que uma Usina comum.
Com relação ao porte dos casos discutidos, pode-se encontrar um Grupo com capacidade de moagem um pouco maior de 1 milhão de toneladas ao ano, o que pode ser considerado como de pequeno porte, até um Grupo com capacidade próxima de 20 milhões de toneladas, o que faz dele um dos maiores grupos produtores de açúcar e álcool do país.
Essa diversidade entre os casos é benéfica ao trabalho, pois permite conhecer como o objeto de estudo desse trabalho é tratado em empresas com realidades e objetivos distintos.
Casos como dos Grupos B (leveduras) e C (bioplástico), que buscam na inovação formas para se diferenciar – e diversificar negócios -, mostram como esses grupos pensam de forma distinta a respeito da expansão dos seus respectivos negócios. Inclusive, a forma como esses grupos foram criados e a forma como são gerenciados tem impacto brutal na maneira como eles determinam sua estrutura de governança. O Quadro 20 apresenta uma síntese das características de cada um dos Grupos estudados.
Variáveis CASOS A B C9 D Unidades 1 3 4 5 Capacidade de Moagem 1,8 milhões de Toneladas 9 milhões de toneladas 7 milhões de toneladas (4 milhões de toneladas Usina principal) 18 milhões de toneladas Funcionários 130 2.300 1.450 14.000 Origem Sociedade entre Cooperativa e Grupo do Setor.
Origem familiar Origem Familiar Origem Familiar
Estru. Societária
-Cooperativa + multinacional americana
Família Família Família + Fundos
de Investimento+ Empresas de Outros Setores Estratégia de Expansão -Aumento da Capacidade Atual. -Produção de açúcar e energia. - Novas unidades de negócio. - Aumento da capacidade atual. - Aumento da Capacidade de moagem dos novos projetos. - Investimento em plástico derivado da cana - Novas Unidades. - Investimento em novos produtos derivados da cana. Prod. Álcool (08/09)* 116 milhões de litros. 470 milhões de litros. 203 milhões de litros. 800 milhões de litros. Prod. Açúcar
(08/09)* - 560 mil toneladas. 195 mil toneladas. 1.250 mil toneladas.
Prod. Energia
(08/09)* Não informou.
1 milhão de MWh
(total) Não informou.
400 mil MWh (excedente) Fonte: O autor, com base em informações cedidas pelos quatro grupos.
Quadro 20 – Síntese das características dos casos estudados.
A definição da estrutura de governança adotada pelos Grupos não pode ser considerada como uma decisão pontual e facilmente reversível. A busca pela redução nos custos da transação no suprimento de cana conta muito com a ajuda da experiência adquirida pelos anos de atuação no setor como pelo perfil de cada um desses Grupos. Uma das estruturas mais distintas é a utilizada pelo Grupo B. Nesse caso, a empresa levou mais de 5 anos para que seu projeto piloto de parceria agrícola substituísse a estrutura utilizada anteriormente. A forma como esses Grupos gerenciam os custos de transação presentes na transação de cana-de-açúcar para a usina ajuda a entender como eles determinam sua estrutura de governança.
Portanto, as usinas não utilizam sempre as mesmas variáveis para a determinação de como será realizado o suprimento de matéria-prima. Pelos casos aqui expostos, fica evidente que a aptidão agrícola ou não dos produtores da região onde as Usinas estão instaladas é um
9 As informações repassadas pelo entrevistado do Grupo C dizem respeito a sua principal Usina, a qual foi o
fator primordial na definição da estrutura de governança. O suprimento de cana-de-açúcar a Usina é uma transação de alta especificidade de ativos. Isto reflete em um alto risco que as usinas devem assumir quando delegam a terceiros a produção de sua matéria-prima. Isto é ainda mais evidente nas especificidades locacional e temporal da transação, abordadas na seção 4.2 deste trabalho.
O planejamento da moagem é de extrema relevância e também sofre um grande O planejamento da moagem é de extrema relevância e também sofre um grande impacto das especificidades da transação. O mais seguro para os Grupos seria a integração vertical, garantindo assim um total controle na colheita e subseqüente transporte da cana. No entanto isto é muito custoso tanto no aspecto financeiro como estrutural da empresa.
Com relação a isto, o Grupo A tomas as decisões de planejamento de moagem em total sinergia com a Cooperativa Agrícola, responsável exclusiva pelo fornecimento de cana. Os riscos são atenuados pelo fato de a Cooperativa ser uma das proprietárias da Usina e também por ela contar um diretor que a representa dentro do Grupo. As decisões em conjunto tendem a compartilhar os riscos de fornecimento.
A maneira que o Grupo B utiliza para isto é estabelecendo um arranjo contratual extremamente complexo com seus parceiros agrícolas. Ao repassar a produção agrícola aos parceiros, o Grupo B procurou maior eficiência na especialização de atividades, mas precisou de grande competência para manter os custos de transação baixos. Apesar de parte dos parceiros serem ex-funcionários da área industrial, portanto, sem tradição agrícola, o Grupo B teve a atitude e a confiança necessária para capacitá-los e profissionalizá-los para esta nova atividade. Isto reduz muito o risco de insucesso do projeto e abre oportunidade de ser utilizado como um modelo para as áreas de expansão.
De uma maneira um pouco diferente da adotada pelo Grupo B, os Grupos C e D apostam na tradição e no relacionamento de longo prazo estabelecido com seus fornecedores. Ambos dispõem de corpo técnico próprio que acompanha de perto as lavouras de seus fornecedores. O Grupo D vai além e estabelece que as atividades de CCT sejam realizadas pela própria Usina.
Devido a incertezas na garantia de suprimento, em áreas de expansão da cana-de- açúcar (Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul), os Grupos tendem a começar suas atividades principalmente com produção própria, em áreas arrendadas ou até mesmo próprias. No caso do Grupo D, existindo a disponibilidade de capital, o Grupo chega a adquirir parte das terras necessárias para sua demanda, mas pensando em uma valorização no curto prazo e conseqüente venda da área.
O Quadro 21 apresenta uma síntese das estruturas de governança utilizadas pelos grupos estudados nesta pesquisa, com a porcentagem que cada tipo de estratégia de suprimento representa do total, e as razões que os levaram a adotar tal prática.
Fonte: O autor, com base nos casos.
Quadro 21 – Síntese das Estruturas de Governança e as razões que os quatro grupos levaram em conta na definição dessas estruturas.
Governança
Própria) Minoritária Parceiro
Descrição Geral dos Relacionamentos - A Usina é responsável por todo o plantio, tratos culturais e colheita. - Parceiro Agrícola faz as operações de plantio, tratos culturais e CCT. - Usina recebe participação minoritária na receita da cana em parceria.
- A Usina firma contratos com os parceiros, que são os proprietários da terra, por 5 anos.
- A Usina é responsável por todo o plantio, tratos culturais e CCT - A Usina recebe uma
participação majoritária na receita da cana em parceria. - Fornecedor realiza o plantio e tratos culturas. - CCT realizado pela Usina - A Usina firma contrato anual de compra e venda. - Produtores plantam em terras próprias ou arrendadas.
- Plantio e Tratos Culturais realizados pelos próprios produtores. CCT pode ser próprio ou terceirizado. - Fornecedor entrega a cana direto na Usina.
CASO A - - - - 100%
- Presença de outras usinas na região de atuação. - Riscos da produção de cana-de-açúcar. - Presença de fornecedores qualificados.
- Capacidade de coordenação (fornecedores, contratos e outros).
- Obtenção de vantagens de operações integradas. - Aspectos Culturais.
CASO B - 81% 5% - 14%
- Riscos da produção de cana-de-açúcar. - Capacidade de coordenação
- Obtenção de vantagens de operações integradas. - Capacidade financeira da usina.
- Logística.
- Presença de outras culturas.
CASO C 15% - 30% - 55%
- Presença de outras usinas na região de atuação. - Custo do hectare e tendências de preços de terras. - Presença de Fornecedores qualificados. - Capacidade agrícola da usina. - Capacidade financeira da usina. - Riscos de Produção de cana. - Capacidade de coordenação - Aspectos Culturais. - Logística.
CASO D 3% - 44% 53% -
- Presença de outras usinas na região de atuação. - Custo do hectare e tendências de preços de terras. - Presença de Fornecedores qualificados. - Capacidade agrícola da usina. - Capacidade financeira da usina. - Riscos de Produção de cana. - Capacidade de coordenação - Aspectos Culturais. - Logística.