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5 METODOLOGIA

5.1 Área de estudo

5.1.1 Sistema bancário brasileiro

Pode-se afirmar que o marco do surgimento do sistema bancário brasileiro foi a criação do Banco do Brasil, em 1808 (COSTA NETO, 2004). Em 1829, já com a Independência do país promulgada por D. Pedro I, o Banco do Brasil teria suas atividades encerradas para surgir novamente em 1853, fruto da fusão do Banco do Brasil, fundado por Mauá em 1851, com o Banco Comercial do Rio de Janeiro, fundado em 1838 (BEZERRA, 2005). Contudo, o sistema bancário brasileiro apresentava indefinição do padrão monetário,

passando pela adoção de moeda física (ouro) ou papel-moeda conversível (ainda que com estritas regras de reserva aurífera). Os poucos bancos que atuavam no país, todos em praças locais, emprestavam todos os recursos próprios (COSTA NETO, 2004).

Muitos autores defendem, contudo, que esse movimento inicial não pode ser entendido como o início do sistema financeiro, já que, na economia de então, a quantidade de moeda lastreada era determinada fora do setor bancário por fluxos de comércio externo, investimentos estrangeiros ou produção de ouro (BEZERRA, 2005). De forma simplificada, portanto, a atual formação do sistema bancário nacional poderia ser entendida através de períodos históricos posteriores, cujos marcos são os anos de 1905, 1945, 1964-1965, 1988, 1994 e 2002.

O ano de 1905 marca a quarta recriação do Banco do Brasil, com o governo detendo 50% do capital da instituição, e a abertura financeira ao exterior, permitindo o ingresso de capitais externos e o predomínio de bancos estrangeiros, em sua maioria britânicos (COSTA, 2012). É no período da República Velha, que se estenderia até 1930, que surgem as condições institucionais necessárias para a criação da moeda bancária, ou seja, uso generalizado de cheque. Em 1921, a reforma do sistema bancário resulta na criação da câmara de compensação de cheques e na abertura de uma carteira de redescontos no Banco do Brasil para títulos de outros bancos.

Em 1945 já são mais de quinhentos bancos comerciais atuando no país (BEZERRA, 2005). Para aumentar o controle do sistema, o governo cria a Superintendência de Moeda e Crédito (SUMOC), para formular a política monetária e lançar as bases para a criação de um banco central. A SUMOC põe fim à chamada “fase competitiva” do mercado bancário através da implantação de medidas para impedir a criação de novos bancos, atuando por meio de políticas restritivas à concessão de licenças para criação de novas instituições financeiras e do encorajamento de fusões (COSTA, 2012). Tem início o processo de concentração bancária. A partir de então, tem-se a evolução de sistema bancário, com processo de concentração simultâneo ao de ampliação da rede nacional de agências.

Já no governo militar de Castello Branco, o biênio 1964-1965 marca uma alteração estrutural do sistema financeiro nacional, que se moderniza e fortalece. Em agosto de 1964 é criado o Sistema Financeiro da Habitação (SFH) e, em 31 de dezembro de 1964, por meio da Lei Nº 4.595, conhecida como a Lei da Reforma Bancária, foi criado o Banco Central do Brasil (BACEN). Além disso, a lei cria também o Conselho Monetário Nacional

(CMN) e novos tipos de instituições financeiras, como bancos de investimento e corretoras. Outra medida importante foi o fim do limite máximo para as taxas de juros (COSTA NETO, 2004).

O resultado da reforma foi a concentração e o aumento do volume de ativos. Em 10 anos os ativos passaram de US$ 22 bilhões para US$ 173 bilhões e o número de instituições passou de 320 para 105 (COSTA, 2012). Bezerra (2005, p. 54) resume como se deu a redução no número de instituições bancárias:

Conglomerados financeiros foram formados desde fins dos anos 1960 e, principalmente, na década de 1970. A concentração ao final da década de 60 coincide com a expansão da economia e com a desenfreada acumulação financeira, correspondendo a um crescente processo de fusões e incorporações. Muitas casas bancárias rentáveis desapareceram, ao contrário da fase anterior, onde mais frequentemente a quebra de bancos incidia sobre os mal administrados e/ou de capital inexpressivo.

A partir da década de 1970 inicia-se o chamado “regime de alta inflação”. Devido ao mecanismo de proteção via correção monetária aplicada às aplicações e aos empréstimos, inicialmente restrito aos efetuados em longo prazo, e, depois, com o progressivo encurtamento de prazos, sua contrapartida foi o regime monetário com a chamada “moeda indexada”. Segundo Corazza (2000), com a crescente inflação, os bancos passaram a ter receita de floating, ou seja, receita obtida pela captação sem correção monetária (depósitos à vista e disponibilidades líquidas) e da aplicação dos recursos em trânsito em operações com correção monetárias (empréstimos ou títulos de dívida pública). Os bancos “lucravam com a valorização dos ativos bancários, proporcionada pela alta inflação” (BEZERRA, 2005, p. 55), deixando assim de cumprir suas funções de intermediação financeira.

Em 1988, por meio da Resolução do Conselho Monetário Nacional Nº 1.524, uma nova reforma bancária foi formalizada no Brasil, com a extinção da obrigatoriedade da carta- patente e a criação dos bancos múltiplos. As instituições teriam que se transformar em banco múltiplo e possuir um capital mínimo exigido em substituição às cartas-patentes. Paula (1998) enfatiza que, paralelamente à transformação dos antigos conglomerados em instituições múltiplas, neste período observou-se a proliferação de pequenos e médios bancos.

Outro fator que fez com que o sistema bancário voltasse a crescer em ritmo acelerado foi a aprovação das Resoluções Nº 1.289, de 1987, e Nº 1.832, de 1991, que mudaram as regras referentes a investimentos estrangeiros no mercado financeiro nacional

(COSTA, 2012). A Tabela 1 mostra que a liberalização do mercado bancário com o fim da exigência de carta-patente e abertura à entrada de capital externo resultaram em um expressivo crescimento no número de instituições financeiras.

Tabela 1 – Evolução do Número de Bancos entre 1988 e 1995

Ano 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995

Nº de bancos 124 196 229 236 245 253 246 259

Fonte: Barbosa ([200-?], p.8).

Em 1994, o Plano Real põe fim ao regime de alta inflação, forçando os bancos a reverem suas estratégias de atuação, tendo em vista que a receita de floating desapareceu com estabilização da economia. Com a necessidade de fontes de receita alternativas, os bancos começaram a cobrar tarifas e aproveitaram o aumento do consumo de bens duráveis e semiduráveis para expandirem suas carteiras de crédito (CORAZZA, 2000). Entretanto a falta de controle nas carteiras de crédito resultou em alta inadimplência. Em 1995, alguns bancos quebraram por não suportarem as perdas, enquanto outros viram seus resultados diminuídos por causa das perdas e da necessidade da criação de provisões para absorver novas perdas (CORREIA, 2012).

Conforme Las Casas (2007), após a introdução do Plano Real em 1994, houve acentuado número de aquisições de bancos públicos e privados que apresentavam problemas de adaptação aos tempos de baixa inflação, aumentando a concentração da indústria financeira no Brasil. O Plano Real não apenas reduziu o número de bancos atuantes no SFN, como também impôs novas regras competitivas ao setor, que, com a perda dos ganhos inflacionários, foi obrigado a ampliar o leque de negócios e receitas. Embora ainda hoje o patamar de receitas advindo de serviços bancários esteja abaixo da média observada em muitos países, entre 1994 e 2002 observou-se um crescimento de 429% nas receitas com serviços quando considerados os dez maiores bancos atuantes no mercado brasileiro (LAMUCCI, 2003 apud GUARITA, 2005).

O cenário atual do mercado bancário no país apresenta poucos grupos concorrendo entre si. Após a estabilização da moeda durante o Plano Real e a reestruturação regulatória do Sistema Financeiro Nacional, iniciou-se um período de aquisições e fusões que resultou em uma sensível redução na quantidade de bancos operando no Brasil. Além disso, a entrada de conglomerados estrangeiros, como o Santander e o HSBC, impulsionou esse movimento. Em

um intervalo de dez anos, a participação dos dez maiores bancos nos ativos totais do setor passou de 65% para 85% (SCOFIELD JUNIOR, 2012).

Apesar da crescente concentração no mercado bancário, vale salientar que não se deve confundir concentração com redução de competição.

Competição acirrada não necessariamente exige fragmentação do mercado ou multiplicidade de agentes. Mercados que demandam escala podem ter as condições de concorrência equilibradas com poucos agentes, mas com elevado grau de rivalidade. A competição se verifica e pode ser estimulada, nesses casos, com mecanismos que acirrem a rivalidade ou impeçam a indução de comportamentos cooperativos (MARANHÃO, 2008, p. 1).

É fato que a concorrência no mercado bancário brasileiro não se dá em torno de inovações ou preços (no caso, taxas administrativas e juros). Um mercado muito regulado tende a ser menos dinâmico, e os produtos e serviços costumam ser semelhantes nas organizações, o que leva à conclusão de que a concorrência no setor se dá principalmente por marca e pela concorrência genérica.

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