• Nenhum resultado encontrado

Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-Sic)

5.6. Cinco experiências de inovação

5.6.4. Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (e-Sic)

O Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão, conhecido como e-Sic, tem como principal objetivo a universalização do serviço de acesso à informação do Poder Executivo Federal. Surgiu de uma ideia e iniciativa da Diretora de Prevenção da Corrupção da Controladoria-Geral da União (CGU), como uma ferramenta para dar cumprimento efetivo à transparência ativa, conforme aprovada pela nova Lei de Acesso à Informação brasileira (LAI).

A LAI (Lei n. 12.527/2011) destacou a Internet como um espaço privilegiado tanto para disponibilizar as informações públicas (transparência ativa) quanto para receber pedidos de informação da sociedade (transparência passiva) (BARBOSA, 2014). O prazo dado pela lei para efetivo vigor dos dispositivos foi muito curto, seis meses, considerado o mais ambicioso entre os institutos similares internacionais. Na opinião da diretora entrevistada, a inovação foi a própria LAI e esse curto prazo imposto à União, Estados e Municípios. O Sistema e-Sic, nessa visão, foi uma inovação operacional para dar capacidade de adaptação rápida de todos os órgãos do poder executivo federal para atender a

esse prazo de seis meses. E, cabe ressaltar, foi implementado em toda a administração pública federal, direta e indireta, como porta de entrada única para os pedidos de informação e interposição de recursos (BRASIL, 2013).

Para prestar um serviço célere ao cidadão e fazer valer a Lei, a equipe da CGU entendeu como imperativo que o atendimento aos pedidos de informação feitos pelo cidadão fosse realizado de modo eletrônico, pela internet, em paralelo ao canal físico, de atendimento de balcão, criado em cada portaria de entrada em Ministérios e outros órgãos públicos. As experiências internacionais similares de referência para a equipe foram a do Reino Unido, e mais fortemente a experiência do México, com o sistema desenvolvido pelo Instituto Nacional de Transparência, Acesso a Informação y Proteção de Dados Pessoais (IFAI), o órgão independente no México responsável pelo cumprimento da LAI. Cabe ressaltar o engajamento da CGU em processos de aprendizagem e inovação em sistemas de

accountability e monitoramento de municípios à época (OLIVIERI et al., 2013). Em articulação com

centros acadêmicos, a CGU possibilitou análises comparativas internacionais sobre as leis e formas de implementação do acesso à informação pública pelos cidadãos de diversos países. Essa interação com pesquisadores e experiências internacionais foi relatada como muito importante para a segurança das tomadas de decisão no âmbito do Poder Executivo. Os avanços pretendidos estavam na mesma direção dos avanços internacionais (LOUREIRO et al., 2012).

O processo de proposição, aprovação e implementação da Lei de Acesso à Informação brasileira representou um processo de aprendizagem organizacional para a CGU, no nível dos relacionamentos interorganizacionais. Houve articulação para a preparação e aprovação do projeto de lei no âmbito do Poder Executivo (Ministério da Justiça e Casa Civil, especialmente), atuação junto ao Congresso para a aprovação do projeto, houve interação com os órgãos com o objetivo de implementar o Sistema e-Sic e fazer valer a lei aprovada. A Controladoria Geral da União, nessas circunstâncias, operou de forma colaborativa, deixando de lado suas tradicionais funções de auditoria, correição e ouvidoria. Em esforço concentrado, a CGU capacitou todos os órgãos com o fito de obter sucesso no funcionamento do processo padronizado de pedido de acesso à informação, pelo Sistema e-Sic, nos termos definidos pela nova Lei e do Decreto regulamentador n. 7.724/2012. Esse esforço junto aos órgãos foi considerado um dos principais responsáveis pelo sucesso da iniciativa. Todos os órgãos desenvolveram processos internos de respostas aos cidadãos e aprenderam a utilizar o sistema e a padronizar o atendimento, com o apoio da CGU.

Foram inúmeras as interações que permitiram o desenvolvimento e implantação do e-SIC. Primeiro, com as organizações não governamentais que militam em defesa do cumprimento do direito ao acesso à informação, como o Artigo 19, a Transparência Internacional, e a Transparência Brasil, cujo dirigente foi quem provocou, no âmbito do Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, órgão colegiado e consultivo vinculado à CGU, a necessidade do instituto da LAI no ordenamento jurídico nacional, em atendimento à regulamentação do direito previsto no inciso XXXIII do art. 5º da

Constituição Federal. Este dispositivo prevê que “todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado”.

Segundo, com organismos internacionais, como a Unesco, e outros países que regulamentaram institutos semelhantes, como os casos citados do México e do Reino Unido, além dos EUA, com o FOIA (freedom of information act). Esses relacionamentos permitiram verificar as dificuldades na implementação desse tipo de instrumento legal, levando à aprendizagem pela experiência alheia. A opinião que se formou na equipe da CGU foi que somente um sistema utilizado por todos daria resposta ao desafio apresentado e superaria uma série de problemas enfrentados por outros países.

O terceiro conjunto de organizações participantes do processo de interação para a implementação do e-Sic, por meio de reuniões interministeriais periódicas no Palácio do Planalto, foram: Casa Civil e Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (ambos pelo papel de coordenação de governo e de sistema estruturantes); Ministério da Defesa e Ministério das Relações Exteriores (que concentram a maior quantidade de informações classificadas); e, Arquivo Nacional e Ministério da Justiça (representando o Conselho Nacional de Arquivos, e também o Sistema Nacional de Arquivos, cuja competência, organização e funcionamento estão regulamentados pelo Decreto nº 4.073, de 3 de janeiro de 2002). Após a tomada de decisão no sentido de utilizar a nova ferramenta, foram realizados treinamentos com representantes de todos os órgãos do Poder Executivo Federal. A CGU destacou servidores para acompanhar cada órgão, orientando para o processo interno que seria necessário para o cumprimento dos prazos de atendimento às demandas dos cidadãos. Cabe ressaltar que esses treinamentos tinham um sentido mais amplo que o uso da ferramenta e-Sic. Eram destinados precipuamente para conscientizar sobre o novo instituto, que o sigilo havia se tornado a exceção, e ensinar como atender a nova Lei. Foi necessário mudar a cultura do setor público do sigilo como regra. A diversidade de realidades da administração pública nacional significou um desafio na implementação de ferramenta única por todos os órgãos públicos do Poder Executivo Federal. Mas, uma vez funcionando de forma bem-sucedida, o instrumento se tornou um modelo nacional, e a CGU uma referência para outras esferas e poderes. Assim, a CGU passou a incentivar e orientar outros órgãos públicos a respeito de como implementar a LAI, oferecendo o sistema e-Sic, em um processo que o caracteriza como Inovação Aberta.13 A CGU já possuía um programa de fortalecimento da gestão

pública municipal e, dentro dele, foi inserida a questão de transparência e implantação da LAI. Por meio do programa Brasil Transparente, a CGU auxilia Estados e municípios na implementação da LAI

13 Os municípios podem optar pela versão disponível no Portal de Software Público, denominado “e-SIC Livre”,

que pode ser customizado por desenvolvedores locais. A CGU fornece o código fonte original do sistema e-SIC para os órgãos ou entidades que aderem ao Programa Brasil Transparente mediante Termo de Adesão. Ambos disponíveis em: www.cgu.gov.br/assuntos/transparencia-publica/brasil-transparente/aquisicao-do-e-sic

disponibilizando o código-fonte do Sistema Eletrônico de Serviço de Informação ao Cidadão (e-SIC) para órgãos públicos pertencentes aos entes subnacionais (BARBOSA, 2014). Na 18ª edição do concurso da Enap de Inovação, essa experiência do e-Sic foi consagrada em 1º lugar.

Ainda foi constatado na coleta de dados que a experiência se replicou em outros estados e municípios a partir da iniciativa dos próprios participantes nessa inovação. A ferramenta foi implantada no município de São Paulo e no estado de Minas Gerais. Além disso, um programa similar foi incluído no Portal de Software Público, onde é possível baixar gratuitamente o sistema e-Sic público. Da análise da iniciativa, e dos relatos dos entrevistados, nota-se a importância do papel de coordenação política pela Casa Civil da Presidência da República, enquanto no nível técnico a coordenação teve como protagonista a CGU, orientando e facilitando a efetivação da Lei, por meio do Sistema e-Sic. O papel destas duas organizações na implementação da iniciativa será tratada adiante como instrumentos de disciplina e dominação do quadro referencial de Lawrence et al. (2005).