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1.3 Metáfora Gramatical

1.3.3 Metáfora interpessoal

1.3.3.2 Sistema/Metáfora de modalidade

Segundo Halliday, apesar do sistema de Modo que associa com a metáfora gramatical interpessoal, ainda existe um outro que é o sistema da modalidade. Através deste, o falante associa à tese uma indicação do seu estado e a sua validade no seu próprio julgamento; intromete-se e ocupa uma posição discursiva.

A modalidade é a forma de exprimir, por meios linguísticos, atitudes e opiniões dos falantes ou das entidades referidas pelo sujeito sobre o conteúdo proposicional dos enunciados que produzem. (Raposo et al., 2013, p. 623)

A modalidade é uma avaliação do falante acerca da probabilidade, necessidade ou o grau de evidência daquilo que está afirmando. Ou seja, a função interpessoal da linguagem realizada pelo sistema de modalidade encontra-se na revelação da atitude ou o julgamento do falante sobre certa proposição.

A modalidade refere-se à área de significados que se situa entre o ‘sim’ e o ‘não’— o espaço intermédio entre a polaridade positiva e negativa. Em conformidade com Halliday (1994/2000, p. 356), a modalidade pode ser dividida em dois tipos: a modalização e a modulação, os dois são definidos segundo a sua relação com os tipos de orações:

1) É modalização caso a oração seja sobre ‘informação’ (uma proposição, congruentemente é realizada por enunciado indicativo), significa ambos (i) ‘sim ou não’, i.e. “talvez”; ou (ii) ‘sim e não’, i.e. ‘às vezes’; por outras palavras, um certo grau de probabilidade ou de habitualidade;

2) É modulação, caso a oração é sobre ‘produtos-&-serviços’ (um pedido, que é congruentemente realizado por imperativo), significa (i) ‘é desejado para fazer algo’ e é relacionada a uma ordem, ou (ii) ‘quer fazer algo’ que é relacionada a uma oferta; ou seja, um certo

51 grau de obrigação e de inclinação.

Os quatro tipos de todos os diferentes graus da polaridade são mostrados na Diagrama 2, abaixo: MODALIDADE TIPO (1) modalização (tipo indicativo) (2) modulação (tipo imperativo) (i) probabilidade (ii) usualidade (i) obrigação (ii) inclinação

Diagrama 2 O sistema dos tipos de modalidade (M.A.K. Halliday, 1994, p. 357)

Segundo Halliday, a distinção básica que determina como cada tipo de modalidade será realizado é a ORIENTAÇÃO:

…that is, the distinction between subjective and objective modality, and between the explicit and implicit variants. (M.A.K. Halliday, 1994/2000, p. 357)

O sistema da ORIENTAÇÃO na modalidade pode ser resumido como na

Diagrama 3.

ORIENTAÇÃO

subjetivo

objetivo

explícito: penso que, tenho a certeza de que (a) Penso que o João sabe.

implícito: vai fazer algo, haverá que fazer algo (b) O João vai saber.

implícito: é provável, é certo

(c) O João provavelmente sabe.

explícito: provavelmente, certamente (d) É provável que o João saiba.

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Na enunciado (a) e (d), a proposição é a mesma que é ‘o João sabe’, enquanto o julgamento para a probabilidade modal é expressado por orações (“penso que” e “é provável que”). Poderemos verificar a seguinte variante do enunciado:

(a-1) Penso que o João sabe, não sabe?

(mas não “Penso que o João sabe, não penso?”)

Nesse sentido, a opinião do falante não está a ser expressa na forma típica dos elementos modais, tais como advérbios, mas sim por oração projetante separada. Assim se gera uma metáfora interpessoal (modalização da probabilidade), baseada na relação semântica da projeção.

Há também este tipo de ocorrência em outros tipos de modalidade, mas com orientação explícita.

…the explicitly subjective forms and the explicitly objective forms of modality are all strictly speaking metaphorical, since all of them represent the modality as being the substantive proposition. (M.A.K. Halliday, 1994, p. 362)

As orientações implícitas são formas congruentes quanto à expressão das ideias e julgamentos do falante, cujos elementos modais são normalmente realizados por verbos auxiliares ou advérbios.

As quatro orientações e os quatro tipos de modalidade poderão ser combinados como no quadro 8 que vem a seguir. As metáforas interpessoais estão em negrito.

53 Subjetivo explícito Subjetivo implícito Objetivo implícito Objetivo explícito Modalização probabilidade Penso que o

João sabe. O João vai saber.

O João, provavel- mente sabe. É provável que o João saiba. Modalização de frequência

Ele vai almoçar na cantina.

Habitualmente ele almoça na cantina.

É habitual que ele

almoce na cantina. Modulação obrigação Quero que o João saia. O João devia sair. É suposto o João sair. Espera-se que o João saia. Modulação inclinação O João vai ajudar.

O João está disposto a ajudar.

É um prazer para o João poder ajudar.

Quadro 8 A combinação das orientações e os tipos de modalidade

O outro caminho para a metáfora interpessoal é a nominalização. Em vez de se dizer “Poderemos ter uma segunda oportunidade”, diríamos “É possível que

tenhamos uma segunda oportunidade” ou “Sempre existe a possibilidade de termos uma segunda oportunidade.” Neste último enunciado está presente uma

nominalização de modalidade. Estes nomes podem expressar a probabilidade, certeza, regularidade ou compulsão, etc.; cobrem a natureza modal dos adjetivos originais. A função importante deste tipo da metáfora interpessoal é a probabilidade de tornar o enunciado mais objetivo e persuasivo.

A terceira variante na modalidade é o VALOR: alto (dever, sempre, toda a gente sabe, é obrigatório, a certeza, entre outras), médio (era suposto, provavelmente, acho que, é habitual, a probabilidade, entre outras) e baixo (é possível, às vezes, acredito que, a possibilidade, entre outras)22.

22 Na minha opinião, aqui surgirão dificuldades para aprendentes chineses no que concerne em

perceber e dominar bem o grau do valor de verbos modais (dever, poder, ser capaz de, etc.), de verbos plenos com valor modal (obrigar, permitir, desejar, crer, etc.), bem como de adjetivos modais (obrigatório, necessário, desejável, inacreditável, presumível, autêntico, etc.) ou de advérbios modais (possivelmente, aparentemente, eventualmente, inevitavelmente, etc.) (Raposo et al., 2013, Chapter 18)

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Juntos com as duas POLARIDADES: positiva (É possível que ele saiba) e

negativa (negativa direta: É possível que ele não saiba e negativa transferida: Não é possível que ele saiba), teremos um sistema de modalidade como está patente na

Diagrama 4. Modalidade TIPO POLARIDDADE ORIENTAÇÃO VALOR modalização modulação médio exterior positivo negativo subjetivo objetivo explícito implícito alto baixo direto transferido probabilidade de frequência obrigação inclinação

Diagrama 4 O sistema de modalidade (M.A.K. Halliday, 1994, p. 360)

O sistema gere assim 4 × 4 × 3 × 3=144 categorias de modalidade, encontrando-se dentro disso 4×2×3×3=72 tipos da metáfora interpessoal (de modalidade).

A modalidade é um conceito mais amplo, tendo a ver com a expressão de valores semânticos modais através de vários instrumentos linguísticos, enquanto o modo consiste na expressão de valores modais especificamente através de morfemas verbais dedicados a essa função. (Raposo et al., 2013, p. 625)

No sistema verbal, os valores do sistema de modalidade são realizados pelo Modo enquanto a Modalidade é entendida como a atitude que o enunciador ou a entidade referida pelo sujeito da oração principal expressa relativamente ao estado de coisas descrito. Embora os conceitos de Modo e de Modalidade estejam

55 ligeiramente relacionados, será necessário perceber a distinção entre os mesmos e a bibliográfica disponível, muito abundante, não permite raciocínios conclusivos.