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FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

SISTEMA Quadro 1 Síntese conceitual

As relações do contexto de situação (Registro) são sintetizadas no Quadro 1, do nível semântico-discursivo e lexicogramatical. É possível visualizar que a variável Campo relaciona-se com a Metafunção Ideacional, por sua vez sistematizada na Transitividade. Em seguida, tem-se a variável Relações, refletida nas escolhas linguísticas pela Metafunção Interpessoal, assim sistematizada no Modo. Por fim, a variável Modo, referente à organização da mensagem pela Metafunção Textual, que é sistematizada no Tema.

Vale ressaltar que o objeto desta pesquisa está inter-relacionado à variável Relações, por sua vez associada à Metafunção Interpessoal. Assim sendo, a intenção é direcionar o foco da análise para as relações que os alunos, em preparação para o ENEM, estabelecem com suas produções textuais, definidas por meio de escolhas lexicais (os verbos modais) ao apresentarem as propostas de intervenção social solicitadas pelas propostas de redação que seguem o modelo do referido exame. Observa-se que o panorama de discussão da LSF é válido para aplicar a análise das produções textuais dos alunos participantes da Oficina de Produção Textual nas relações que podem representar tomadas de posições de ideias acerca dos temas apresentados. No Quadro 2 é possível visualizar os recorte teórico aplicado à análise do corpus.

Fonte: Elaborado pela autora GÊNERO Redação ENEM VARIÁVEL DE REGISTRO Relações METAFUNÇÃO Interpessoal SISTEMAS Modo e Modalidade Quadro 2 - Relação teoria x corpus

Na perspectiva da LSF desenvolvida por Halliday (1994), a organização das línguas dá-se no sistema de troca de significados. Esses componentes serão explicitados nas subseções seguintes. A discussão, para tal, terá como foco a Metafunção Interpessoal, já que ela apresenta subsídios teóricos suficientes para o processo de análise no nível lexicogramatical (verbos modais). Neste viés, será possível identificar os tipos de escolhas lexicais que conduzem os alunos participantes da Oficina de Produção Textual ao produzirem seus textos.

1.2.1 As metafunções

A linguagem, de acordo com a perspectiva da LSF, desenvolveu-se com o principal propósito de satisfazer as necessidades de comunicação humana, em outras palavras, o propósito de tornar possível ao homem a produção e a troca de significados. Segundo Halliday e Hasan (1989), os significados da língua não podem ser vistos como formas separáveis, no sentido de que os segmentos de uma oração constituintes do texto em particular não podem ser dissociados. É possível, portanto, a partir dessa abordagem, compreender a densa relação dos significados como um todo, que funciona simultaneamente partindo de vários ângulos. Neste sentido, os autores propõem a multifuncionalidade de todo uso da língua.

Como já abordado na seção anterior, a linguagem, nas práticas comunicativas, desempenha simultaneamente três metafunções básicas: a produção de significados ideacionais, interpessoais e textuais. Halliday (1978) pontua que essas metafunções interagem na construção do texto conferindo-lhe um caráter multifuncional. Ainda de acordo com o autor, essas metafunções refletem-se na estrutura da oração e se relacionam diretamente com a lexicogramática de uma língua. É a partir das necessidades da situação, das características do contexto de situação, que as metafunções se realizam.

(i) Metafunção Ideacional

Na perspectiva da LSF, a realização do significado ocorre dentro da oração. Eggins (2004, p. 206) afirma que o significado ideacional é expresso gramaticalmente pelo sistema de Transitividade. Estão envolvidos na configuração desse processo os participantes que realizam as representações de ideias e experiências. Assim, a Metafunção Ideacional distingue-se em dois componentes, o experiencial – opções dentro de um sistema de transitividade – e o lógico – relacionado às inter-relações das orações que estão amparadas pelos processos (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004).

O componente experiencial manifesta o conhecimento de mundo do autor no texto, o conhecimento das ideias. Nesse sentido, a metafunção ideacional da lexicogramática organiza as ideias do indivíduo e as representa. As representações dos significados ideacionais estão envolvidas, sempre, com os construtos sociais e culturais, e são realizadas por um sistema gramatical. Assim, a linguagem reflete a visão de mundo do participante da interação como um construto de acontecimentos (Processos) que envolvem entidades (Participantes) com um pano de fundo de detalhes de tempo, lugar, modo, etc. (Circunstâncias). Portanto, os grupos verbais, nominais e preposicionais são os constituintes das orações respectivamente aos Processos, Participantes e Circunstâncias.

Halliday e Matthiessen (2004, p. 170-172) descrevem seis tipos de processos: Material, Comportamental, Mental, Verbal, Relacional e Existencial. Os processos são representados por verbos ou grupos verbais correspondentes às ações dos participantes. De acordo com os autores, na oração, o processo ocupa a posição central, circundada pelos participantes responsáveis por ações que os afetam. Já os elementos circunstanciais acrescentam informações periféricas, que não estão diretamente envolvidas no processo. Na perspectiva da LSF, a dimensão ideacional do significado permite ao leitor levantar questões sobre quem está agindo, que tipos de ações estão sendo empreendidas e quem ou o que está de acordo.

(ii) Metafunção Textual

A metafunção textual ocupa-se da organização das dimensões dos significados ideacionais e experienciais. Eggins (2004, p. 298) aponta que “este é o nível de organização da oração que permite que esta seja condicionada em formas, pelas quais seja possível transmitir a mensagem dada a finalidade e o seu contexto”.23 Esta metafunção está relacionada

ao significado que é realizado por decisões que o falante/escritor toma com relação à distribuição da informação. De acordo com Halliday e Matthiessen (2004), a metafunção textual permite discernir a oração como uma mensagem que estrutura os significados de representação do mundo e das trocas relacionais nas relações sociais entre falante/ouvinte e escritor/leitor. Esta organização dos significados permite um caráter coeso e coerente para a constituição do texto. Dessa forma, a metafunção textual é organizada a partir das escolhas linguísticas disponíveis para a construção do texto. Portanto, a estrutura temática dessa metafunção contribui para a manutenção do fluxo de informação no texto. A oração, assim, concebida como uma unidade na qual os significados de diferentes tipos são combinados, é organizada em torno da estrutura Tema/Rema.

O elemento Tema é o ponto de partida da mensagem que orienta e situa a oração dentro do contexto. No Tema, ao falar ou escrever uma mensagem sinaliza-se que um componente temático é posicionado na parte inicial da oração. Desse modo, sendo o primeiro constituinte da oração, todo o restante da oração denomina-se Rema. O Rema é a parte complementar para que o Tema constitua espaço na realização da construção da mensagem no nível oracional.

(iii) Metafunção Interpessoal

Como já mencionado anteriormente, no sistema da língua, a oração abarca os significados da representação das experiências de mundo dos falantes, da relevância do contexto na organização da mensagem e das trocas dialógicas entre falante/ouvinte e escritor/leitor no evento comunicativo. Este último significado é denominado Metafunção

23

No original: This is the level of organization of the clause which enables the clause to be packaged in ways which make it effective given its purpose and its context.

Interpessoal. Essa metafunção permite ao falante/escritor participar do evento da fala fazendo com que ele crie e mantenha relações sociais. É através dela que os falantes/escritores expressam suas opiniões, julgamentos e atitudes. Esta metafunção é interacional e pessoal, e constitui um componente da linguagem que serve para organizar e expressar tanto o mundo interno como o mundo externo do indivíduo. De acordo com Halliday e Matthiessen (2004, p. 106), na Metafunção Interpessoal “o falante adota para si um papel de fala específico e, ao fazer isso atribui ao ouvinte um papel de fala complementar que deseja que este adote em seu turno.”24

No processo de interação, os participantes fazem uso de diferentes papéis de fala25. Os papéis de fala fundamentais nas trocas são: dar e demandar, em ambos o falante fornece alguma coisa ao ouvinte (informação) ou requer algo. Halliday e Matthiessen (2004, p. 107), apontam que essas categorias envolvem noções complexas em que fornecer significa convidar a receber e demandar significa convidar a fornecer. Os autores afirmam que o falante não só faz algo para si, como também requer algo do ouvinte. Outra distinção entre fornecer e demandar relaciona-se à natureza do que está sendo trocado: bens e serviços ou informações. Essas duas variáveis definem as quatro funções discursivas primárias: oferta, comando, declaração e pergunta.

O Quadro 3, adaptado e traduzido de Halliday e Matthiessen (2004, p. 107), sintetiza como a oração está sistematizada nas trocas interacionais.

Quadro 3 - Papéis de fala e mercadorias na interação

Fonte: Adaptado de Halliday e Matthiessen, 2004, p. 107.

24

No original: (...) the speaker adopts to himself a particular speech role, and in so doing assigns to the listener

a complementary speech role which he wishes him to adopt in his turn. 25

No original: Speech roles (HALIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 107).

PAPÉIS DE FALA TIPOS DE TROCA