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5. UMA ANÁLISE DA POLÍTICA PÚBLICA DE MICROCRÉDITO: A

5.3 Análise e Interpretação dos Dados

5.3.4 Sobre os Resultados Alcançados

5.3.4.2 Sistemas

O sistema de análise, aprovação e liberação de crédito utilizado pela Crédito Social era o próprio sistema da Caixa. Era o SIMIC, que a própria Caixa admitia, em seus roteiros fornecidos a Crédito Social no início das atividades em parceria, que era uma moderna ferramenta de concessão de crédito. Era uma exigência contratual de que a mandatária somente poderia operacionalizar os microcréditos através de seu sistema SIMIC. Muito lógico, uma vez que a parceria deixava clara em seus instrumentos legais (contrato, normas e instruções), que a Caixa era a responsável pela liberação do crédito na conta do cliente inclusive, através de seu SIMIC.

O manuseio do SIMIC era simples, com acesso via rede mundial de computadores, através de senha fornecida pela Caixa aos seus parceiros operacionais, como a Crédito Social. Não obstante, não eram fornecidas senhas, nem por níveis hierárquicos, nem por limitações de acesso.

O SIMIC, além de oferecer funções informativas de pessoas físicas, como as restritivas, também exercia a função de análise do crédito, além da aprovação e liberação dos recursos. Os parâmetros de análise e aprovação representavam uma lacuna desconhecida para os parceiros da Caixa. Não se tinha conhecimento de como foram desenvolvidos os parâmetros e critérios de avaliação dos dados alimentados. Por dados alimentados, entende-se pelos dados pessoais do prospectado, dados socioeconômicos e muitos dados subjetivos, o que é uma característica de toda a prática do crédito. Estes dados eram alimentados pelos agentes de crédito que, durante as visitas de prospecção de clientes, elaboravam relatórios para apurar as informações necessárias para alimentar o SIMIC.

Para a rotina de uso do SIMIC, era fornecido pela Caixa um manual de instruções de alimentação do sistema muito bem esclarecedor para um operador de sistemas, mas requerendo melhor aperfeiçoamento para um agente de crédito, tendo em vista utilizar-se de muitas informações subjetivas, que precisavam ser adaptadas às linguagens técnicas comuns a todo manual de sistemas, a fim de uma melhor performance de alimentação.

Nesta abordagem sobre o risco operacional no âmbito de sistemas, no segmento de instituições financeiras, sempre emerge a questão da forte preocupação com a garantia do retorno dos recursos emprestados. A compreensível questão da necessidade de reunir condições mínimas para a sustentabilidade do

setor. Entendendo o mesmo sistema financeiro, que a prática do crédito por si já se traduz num grande desafio, principalmente o microcrédito, devido sua complexidade, alta assimetria de informações e muita subjetividade (ver capítulo 1 deste trabalho), assegurar o uso, para este caso, de sistemas confiáveis em questões incontestáveis, pelo menos é condição imperiosa, básica.

As informações objetivas fazem parte de um conjunto de informações que já estão sendo bem trabalhadas, pois quando conferidas, confrontadas por outras bases de informações, podem oferecer maior confiabilidade aos processos e, consequentemente, deixar o desafio para os sistemas financeiros em dissecar as informações subjetivas. Por exemplo, dados documentais pessoais e legais de pessoas físicas, como o número do cadastro nacional da Receita Federal (CPF), são dados básicos que normalmente já podem ser checados com outras bases de informações, como da própria Receita Nacional. A maioria das instituições financeiras já utiliza deste expediente. Portanto, o desafio atual para os sistemas de crédito é trabalhar melhor as informações subjetivas, assimétricas, a fim de oferecer uma perspectiva mais favorável de sustentabilidade do segmento microfinanceiro, via uma experimentação de melhores níveis de eficiência (taxa de inadimplência, entre outras).

O SIMIC demonstrou ter sido um sistema em evolução no período que compreende este estudo, até mesmo com relação a alguns dados objetivos, inclusive utilizando-se de observações empíricas de seus parceiros, como a Crédito Social, para promover progressos especialmente quanto a agilidade, muito pertinente para um segmento muito dinâmico, certamente pelos valores médios envolvidos muito pequenos. O PNMPO, desde a sua instituição, pelo menos em tese, foi sensível à necessidade da sustentabilidade das entidades comprometidas com o programa de microcrédito, confirmado pela sua ação conjunta com o BNDES, cuja Crédito Social, durante os intensos trabalhos de disseminação do microcrédito em 2007, chegou a consultar o PDI do BNDES para obter recursos para estruturação física, operacional e informatização (novo sistema), mas não obteve sucesso pela baixa condição da estrutura de capitais. Manteve-se trabalhando somente com a Caixa com seu SIMIC.

Portanto, a garantia da sustentabilidade das atividades de microcrédito promovidas pela Crédito Social, continuava a ser uma preocupação de seus dirigentes, exacerbada ainda mais pela negativa do BNDES/PDI em aportar recursos

para o aperfeiçoamento estrutural e operacional da entidade em meados de 2007. Aqui, o PNMPO não ratificou sua proposta de apoiar, em ação conjunta com a maior instituição financeira de apoio ao desenvolvimento (BNDES), projetos estruturadores de entidades de microcrédito, especialmente as habilitadas no mesmo PNMPO.

Do universo dos clientes entrevistados 21% priorizaram suas respostas sobre o sistema, destacando-se:

 Os elogios ao sistema, no quesito agilidade, representaram 6%;

 5% reclamou das dificuldades em pagar os boletos após o vencimento, pois os mesmos não possuem instruções sobre juros/encargos por atraso, impedindo-os de ser pago em qualquer outro banco;

 Comentários favoráveis (apenas 3%) sobre a facilidade de renovação dos créditos e da possibilidade de escolher o prazo a pagar;

 Comentários negativos também de 3% sobre a demora de aprovação (sistema lento);

 Um pequeno universo de clientes (2%) reclamou que o sistema liberou um valor diferente do solicitado, e;

 Por fim, também 2% elogiou a possibilidade de possuir seus próprios carnês na modalidade solidário.

5.3.4.3 Processos