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ENTREVISTA BIOGRÁFICA

5. CAPÍTULO 4 POSSIBILIDADES DE ANÁLISE DAS TRAJETÓRIAS PROFISSIONAIS POR MEIO DA ENTREVISTA

5.1.2 A situação após a conclusão da graduação

Quando investigamos a situação imediatamente após a conclusão da graduação, ficou notória uma divisão entre os egressos entrevistados em dois grupos: de um lado estava a maioria daqueles que tinham tido

formação universitária inicial, fato este que os estimulou, em grande medida, a prosseguir os estudos em nível de mestrado; de outro lado, havia o grupo cuja busca pela prática profissional dá-se de maneira imediata, logo após o término da graduação.

Nesse primeiro grupo, a experiência de estar inserido em pesquisa, sob a forma de iniciação científica ou outra modalidade institucional que permita o recebimento de uma bolsa de estudo durante a graduação, além de auxiliar no orçamento dos acadêmicos, imprime marcas que são indeléveis na trajetória de um pesquisador. Não há comprovação de vivência de pesquisa de iniciação científica pautada principalmente pelo fator econômico, ou seja, o recebimento de bolsa de estudo. Os depoimentos expressam muito mais um verdadeiro interesse pelo desenvolvimento de pesquisa, bem como manifestam as influências que afetaram alguns de nossos entrevistados, filhos de professores, traço destacado em alguns depoimentos como condição determinante na opção pela carreira acadêmica, tal como evidencia o relato abaixo:

Fui, durante a graduação, bolsista de iniciação científica por três anos consecutivos e monitor durante vários semestres. Isso gerou intimidade com a pesquisa e gosto pela docência. O fato de ser filho de professores também foi fator de grande peso e influência. Dentro deste contexto, a escolha pelo mestrado foi um processo natural. [...] Iniciei o mestrado em tempo integral, imediatamente após a conclusão da graduação. Ainda durante o último semestre da graduação, fui aprovado para o curso de mestrado. Dias após a graduação, mudei para Florianópolis e iniciei os cursos de especialização e de mestrado em Dentística. Enquanto o mestrado me preparava na parte da pesquisa e da docência, a especialização me dava embasamento e experiência clínica, fundamentais para o bom exercício da Dentística. Escolhi a UFSC por ser referência na área em que queria me pós- graduar, Dentística. (André, Dr. em Dentística e

Prof. na UnB)146

O contato prévio com algum tipo de pesquisa funciona como uma primeira aproximação com o contexto do desenvolvimento de uma

estabelecimento de objetivos, cronogramas e etapas a serem cumpridas, quer seja pela familiarização com um tipo de metodologia e a escolha de um instrumento adequado ao processo investigativo.

Esta primeira experiência, em alguns casos, torna-se critério informal de escolha em processos seletivos para ingresso em mestrados, dado o aligeiramento de sua execução. Uma vez que o prazo é curto (dois anos) para a realização de uma pesquisa de mestrado, alguém iniciado no mundo científico, isto é, na realização de uma pesquisa acadêmica, por exemplo, apresenta vantagens em relação aos que não vivenciaram esta experiência. Grosso modo, os experientes “encurtarão” o caminho a ser trilhado no desenvolvimento da pesquisa, pois já tiveram alguma aproximação com signos necessários para iniciá-la, desenvolvê-la e conclui-la.

Alves, Espíndola e Bianchetti (2010, p. 2) ilustram esta constatação em pesquisa realizada junto a professores de distintos programas de pós-graduação brasileiros:

Ao manifestarem-se sobre os fatores que determinam a escolha de orientandos, muitos orientadores convergiram em suas falas, afirmando que orientandos autônomos, ou seja, que experienciaram a escrita e que demonstram certo conhecimento teórico-metodológico em pesquisa desde a graduação são mais fáceis de orientar. Essa vivência propicia também melhores condições para que se estabeleça uma boa relação entre ambos e o consequente “sucesso” do programa.

O depoimento de Pedro, doutorando em Física, expressa em certa medida, um primeiro aprendizado de leitura, vivenciado pela prática de iniciação científica, o que o auxiliou na elaboração de um projeto para a seleção de mestrado, por exemplo:

(...) eu comecei a fazer Iniciação Científica na Astrofísica e depois comecei a trabalhar um pouco de Física Médica. Não foi propriamente um trabalho, mas comecei a ler. [...] Eu já engatilhei um projeto. Na verdade, quando eu estava para me formar, faltava uma disciplina optativa. Daí eu fiz uma disciplina que era Projetos, porque no nosso curso não tinha TCC, não era obrigatório. Então resolvi fazer um projeto que era quase

Física Experimental, e aí resolvi continuar no mestrado com aquele trabalho que eu havia feito. A disciplina não é propriamente uma disciplina padrão, entende? Eu faço um projeto de pesquisa junto com um professor e, no final, elaboro um relatório que corresponderia a um TCC para Física. Na verdade, [o projeto de mestrado] foi a continuação do trabalho. (Pedro, doutorando em

Física)147

Ou ainda, a partir da prática profissional diária surgem problemas reais que demandam pesquisas mais acuradas a fim de propor encaminhamentos objetivos de intervenção no contexto no qual a materialidade manifesta-se, como expressa o relato a seguir:

Eu entrei no NDI [estágio] em 2002, ano em que me formei e fiquei lá em 2003 e 2004, por contrato. Acho que eu nem tinha colado grau quando fiz a seleção no NDI. A colação foi em 2003. Fiquei no primeiro ano lá e, no segundo, eu passei no mestrado. Na época eu estava trabalhando com os pequenos, e a gente [corpo docente do NDI] já estava discutindo quais eixos deveriam pautar o trabalho com crianças tão pequenas. (Ana, Doutoranda em Educação e

Professora de Educação Infantil no

NDI/UFSC)148

O encontro com a pesquisa pelos entrevistados do segundo grupo, caracterizada grandemente por egressos de cursos de bacharelado, acontece como forma de ocupação ou alternativa para mudar a situação de trabalho instável, precário e descolado da área de formação, como ilustra o depoimento de Nina, egressa de Biologia e Ms. em Eng. Ambiental:

Não estava sendo valorizada como graduada, e aí eu percebi que ou você não conseguia fazer nada ou era melhor fazer mestrado ou doutorado. Porque só ter a graduação é ficar no limbo, sabe? As pessoas preferem contratar alguém que tem mais estudo ou alguém que não é qualificado,

147 Entrevista cedida à pesquisadora em 18.05.2010. 148 Entrevista cedida à pesquisadora em 27.03.2010.

num lugar que era o mesmo para alguém que não tinha nenhuma graduação, e eu não tinha ainda estudado o suficiente, como um mestrado ou doutorado. (...)Eu larguei o trabalho [de 'tira dúvidas' no BB] e estudei um mês para o mestrado da UFSC [Engenharia Ambiental]. Gostei do programa, já engrenei e fiquei. (Nina, Ms. em Engenharia Ambiental e Analista de

Águas do Ministério do Planejamento)149