• Nenhum resultado encontrado

4. UM PRIMEIRO OLHAR

4.2. Situação atual de trabalho

Para melhor visualização dos dados referentes à situação atual de trabalho, faço um quadro comparativo entre as redes de ensino, os turnos trabalhados e se há trabalho fora do magistério ou não:

REDES DE ENSINO NOME

MUNICIPAL ESTADUAL TURNOS21

TRABALHO FORA DO MAGISTÉRIO

1. Adriana Efetiva Efetiva M / T Não

2. Amanda Efetiva Aposentada M Não

3. Amélia Efetiva Efetiva M / T / N Não

4. Fátima Efetiva Efetiva M / N Não

5. Fernanda Efetiva Efetiva M / T / N Não

6. Gabriel Efetivo Designado M / T / N * Vice-diretor na escola estadual

7. Jéssica Efetiva Contratada M / T Não

8. Leandro Efetivo Não M / N Livreiro (T)

9. Luiza Efetiva Não M Professora de academia (N)

10. Marcelo Efetivo Não M Prestador de serviços educacionais (T)

11. Maria Contratada Contratada M / T / N Não

12. Pedro Efetivo Efetivo M / N Não

13. Renato Efetivo Efetivo M / N Desenvolvimento de sistemas (M / T)

14. Roberta Contratada Efetiva M / T / N Não

15. Vanessa Efetiva Não M / T * Dois cargos em escolas municipais 16. Virgínia Efetiva Efetiva M / T / N Professora de balé clássico

Diante desse quadro, podemos constatar que a grande maioria (68,8%) trabalha nas redes municipal e estadual. No entanto, observamos que há aqueles/as que possuem um cargo em cada rede, mas acumulam tripla jornada, com as manhãs, as tardes e as noites ocupadas pelas atividades docentes.

Dentre estes professores e professoras, há os casos de Amélia e de Maria, que trabalham de manhã na escola municipal e à tarde e à noite na escola estadual. Isso acontece, freqüentemente, porque, no momento da atribuição das aulas, o/a professor/a não consegue

pegar o período fechado. Como a classificação dos/as candidatos depende de sua situação funcional (titular, adjunto, contratado), da habilitação exigida para o cargo, do tempo de serviço (na unidade escolar, no cargo e no magistério público municipal ou estadual) e dos títulos (aprovação em concursos, diploma de mestrado e doutorado), nem sempre é possível conseguir o horário de trabalho desejado. Isso faz com que, a cada novo ano, a rotina de trabalho possa mudar radicalmente e, às vezes, dificulta ainda mais o controle dos tempos cotidianos, como veremos posteriormente.

Há também os/as que trabalham em dois turnos — um em cada escola — e aqueles/as que, além da dupla jornada de trabalho docente, completam uma terceira com uma atividade fora do magistério: é o caso de dois professores – um que atua na área de desenvolvimento de sistemas e outro que trabalha como livreiro – e de uma professora, que dá aulas de balé clássico. Em relação aos três professores que trabalham somente no turno da manhã na escola municipal, dois possuem outro cargo fora do magistério. Uma professora dá aulas em uma academia e o professor presta serviços educacionais em um Portal na Internet.

No Brasil, em 2003, apenas 18,2% dos professores e professoras pesquisados declararam ter uma atividade assalariada fora do magistério. Destes, apenas 22,8% disseram que tal atividade era mais rendosa que o magistério (INEP, 2006). Como vimos em relação às estatísticas brasileiras, o grupo pesquisado também possui poucos/as docentes com outra atividade fora do magistério.

Com relação ao número de escolas em que trabalham, considero os dados relativos à cidade de São Paulo, uma vez que, em relação ao Brasil, as condições de vida são muito diferentes – custo de vida, tempo de deslocamento entre uma escola e outra, etc., podendo variar consideravelmente a necessidade de trabalhar mais ou menos. Em 2003, 57,8% dos/as docentes trabalhavam em apenas uma escola; 31,4%, em duas; 4,8%, em três; 2%, em quatro ou mais; e 4% não informaram. Contudo, apesar de a maioria trabalhar apenas em uma escola, isso não significa que os professores e as professoras paulistanos/as trabalhem somente em um turno (INEP, 2006).

Além da docência, apenas um professor exerce outra função escolar: ele se desdobra entre as aulas da manhã e da noite na escola municipal e o cargo de vice-diretor na escola estadual, também pela manhã e durante as tardes.

Com relação ao salário líquido, a maior concentração de docentes encontra-se na faixa salarial de R$2.000,00 a R$3.000,00. Um pouco abaixo, temos os/as que recebem salário líquido mensal entre R$1.000,00 e R$2.000,00. Somente dois professores recebem mais que R$5.000,00. Certamente, fatores como a rede de ensino — valor da hora/aula e horas pagas de

trabalho coletivo e individual —, a titulação, a carga horária de trabalho, o tempo de docência, e, sobretudo, outras atividades fora do magistério mais bem remuneradas, que é o caso destes dois últimos professores, influenciam e explicam conjuntamente os valores aqui apresentados.

Em 1997, o primeiro Censo do Professor, realizado pelo INEP, mostrou que, na Educação Básica, a média de salários era de R$529,92. Quanto mais baixo o nível educacional, menor era o salário. As/os docentes da Educação Infantil ganhavam, em média, R$419,48, enquanto os/as professores/as do Ensino Médio ganhavam em torno de R$700,19 (INEP, 1999).

Em uma comparação feita pelo grupo entre o trabalho docente nas redes de ensino pública e particular, uma diferença é apontada: na maioria das escolas particulares ganha-se, exclusivamente, por hora-aula, o que não inclui tempo de trabalho coletivo, horas-atividades, etc., como é o caso da rede municipal de ensino de São Paulo. No entanto, apesar disso, a hora-aula é, na maioria das vezes, mais bem paga na rede particular, o que faz com o que o salário seja melhor, mesmo com uma menor jornada de trabalho dentro da escola.

Em 1997, havia também uma diferenciação entre as redes de ensino. Enquanto a média de salários dos/as docentes da rede estadual era de R$584,56, a da rede municipal era de R$378,67 e a maior delas era a da rede particular, que girava em torno de R$674,66 (INEP, 1999). Em 2003, pouco havia se modificado. A média de salários aumentou, mas manteve-se a diferença entre os níveis de ensino. Na Educação Infantil, a média dos salários brutos, sem descontos e acrescidas as gratificações, era de R$672,5. No Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries) era de R$680,20, no Ensino Fundamental II (5ª a 8ª séries), R$864,56 e no Ensino Médio, R$1.059,80. Outro fator importante a cons iderar é a grande diferença entre as redes de ensino. Para exemplificar, tomo dos dados relativos às escolas de 5ª a 8ª séries do estado de São Paulo. Se, no Brasil, a média para esse nível de ensino era de R$864,56, nas escolas estaduais do referido estado, a média dos salários era R$1.151,40; nas escolas municipais era de R$1.457,90; e na rede particular era de R$1.342,10 (INEP, 2006).

Como os dados não consideram a carga horária de trabalho, é preciso verificar quais são os outros fatores que explicam essa variação. O primeiro deles é a diferença no valor da hora-aula em cada região e/ou nível de ensino. Em 2003, a média brasileira de valor da hora- aula variava significativamente entre os níveis de ensino. Se, na Educação Infantil, a média era de R$3,27 (R$4,72 para creche e R$7,01 para pré-escola), em um pólo oposto estava o Ensino Médio, cuja média era de R$10,16. Entre eles, estavam os dois níveis do Ensino Fundamental – R$6,39 de 1ª a 4ª séries e R$8,13 de 5ª a 8ª séries (INEP, 2006).

O segundo fator que diferencia os salários é o tempo de magistério, independente do nível e da rede de ensino. Por exemplo, no Brasil, um profissional com menos de um ano de magistério ganhava, em 2003, R$490,00, enquanto um com mais de 25 anos ganhava R$1.100,00. O terceiro refere-se à formação acadêmica. Se o profissional possuísse somente a graduação, a média salarial era de R$720,00, enquanto quem tivesse cursado mestrado ou doutorado tinha um salário de R$1.100,00 (INEP, 2006).

O quarto fator é a diferenciação dos salários, segundo o sexo, de profissionais do magistério. Enquanto a média salarial brasileira para o grupo de mulheres era, em 2003, de R$815,87, para os homens era de R$924,37. No Sudeste, mantinha-se a disparidade, apesar dos índices mais altos – R$1.029,40 para as professoras e R$1.215,60 para os professores (INEP, 2006). No entanto, não está explícito no relatório apresentado pelo Inep o porquê de tal desigualdade. A minha suposição é que dentro das mesmas condições – rede de ensino, tempo de magistério, formação acadêmica e carga horária de trabalho – o que explica é a desigualdade de gênero. Como as mulheres ocupam, na maior parte, a Educação Infantil e o Ensino Fundamental I (1ª a 4ª séries), cujos salários são menores, a faixa salarial feminina acaba sendo mais baixa.

Independente de qualquer fator apresentado, os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2001 confirmam que se trata de uma categoria profissional pouco valorizada, com baixos salários. No Brasil, médicos/as e advogados/as ganhavam, em média, quatro vezes o que ganha um/a professor/a que atua nas séries finais do Ensino Fundamental. Os/as juízes/as, por exemplo, têm um rendimento médio de quase vinte vezes o valor do rendimento médio mensal das/os professoras/es da Educação Infantil (INEP, 2003).

Havia, em 2001, cerca de 2 milhões de professores da Educação Básica, para 271 mil advogados, 257 mil médicos, 137 mil professores universitários e apenas 14 mil delegados e 10 mil juízes. Observa-se, portanto, que, quanto maior é o número de profissionais em determinada carreira, principalmente nos empregos públicos, menores são os salários (INEP, 2003, p. 37).

Freire (2006, p. 49) denuncia a desvalorização salarial, decorrente, em parte, de uma tradição colonial que lida com os gastos públicos de maneira hierarquizada: “Podemos dar um aumento razoável aos procuradores […] porque eles são apenas setenta. Já não podemos fazer o mesmo com as professoras. Elas são vinte mil”. Este argumento não deve ser aceito. É preciso brigar por professoras e professores bem pagos, bem formados e permanentemente em formação.

Além deste quadro geral sobre o grupo pesquisado, no qual teci uma breve caracterização das/os docentes do CEU “Cecília Meireles”, trago, abaixo, um perfil sobre cada um/a dos/as professores/as entrevistados/as, que permite visualizar sua origem familiar, sua trajetória escolar, acadêmica e profissio nal e sua situação atual de vida.