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4. UM PRIMEIRO OLHAR

4.1. Sobre professoras e professores

A análise do material coletado por meio dos questionários, das entrevistas e dos diários de uso do tempo permitiu uma primeira caracterização da docência no Ensino Fundamental II do CEU “Cecília Meireles”.

Os questionários foram aplicados com dezesseis docentes, sendo que, destes, quatro foram entrevistados/as. Com relação aos diários de uso do tempo, tive a devolução de apenas sete. Cabe ressaltar que ter respondido o questionário e preenchido o diário foi condição para ser entrevistado/a, visto que a riqueza de detalhes a serem analisados seria maior.

No intuito de apresentar um quadro geral sobre as professoras e os professores pesquisados, fiz um esforço de análise que articulasse os três instrumentos de pesquisa, pois, apesar de os dados oriundos dos questionários envolverem um maior número de docentes, não são tão detalhados quanto os advindos dos diários de uso do tempo e, principalmente, das entrevistas.

Portanto, teço uma breve caracterização pessoal e profissional sobre os/as professores/as investigados/as e os tempos cotidianos de suas vidas, no que se refere aos usos e à distribuição dos seus dias da semana e dos finais de semana. Quando necessário, faço a distinção entre o que foi obtido por meio do questionário, do diário ou da entrevista.

No quadro a seguir, apresento os dados relativos ao grupo de docentes efetivos do CEU “Cecília Meireles” em 2006 e aos dois ingressantes de 200714:

14 Como a pesquisa de campo foi realizada nos anos de 2006 e 2007, muitos/as dos/as professores/as haviam

mudado sua rotina de trabalho de um ano para o outro. Portanto, por ter sido a maioria dos questionários aplicada em 2006, apresento o perfil do grupo baseando-me nos dados obtidos no início da pesquisa, a não ser pelos/as professores/as que entraram em 2007. Como as entrevistas foram realizadas em 2007, há diferença nos tempos de alguns docentes e, nestes casos, faço as devidas considerações.

NOME15 IDADE COR16 SITUAÇÃO CIVIL FILHOS/AS TEMPO DE MAGISTÉRIO

1. Adriana 43 Branca Solteira Não 17 anos

2. Amanda 55 Parda Viúva Sim 33 anos

3. Amélia 38 Branca Casada Não 15 anos

4. Fátima* 28 Parda Casada Não 03 anos17

5. Fernanda* 35 Branca Solteira Sim 13 anos

6. Gabriel 41 Branca Solteiro Não 09 anos

7. Jéssica 32 Parda Solteira Não 12 anos

8. Leandro 56 Branco Separado Sim 36 anos18

9. Luiza 29 Branca Solteira Não 01 ano

10. Marcelo* 32 Branca Solteiro Não 13 anos

11. Maria 43 Sem resposta Casada Não 15 anos

12. Pedro* 32 Branca Casado Sim 08 anos

13. Renato 38 Branca Casado Sim 16 anos

14. Roberta 38 Branca Solteira Sim 14 anos

15. Vanessa 44 Parda Solteira Não 06 anos

16. Virgínia 29 Branca Solteira Não 01 ano

* Entrevistadas/os = 1 parda, 3 brancas/os e 4 efetivas/os

O grupo constituiu-se de onze mulheres (68,8%) e cinco homens (31,2%), o que confirma a tendência apresentada por diversas pesquisas educacionais, que mostram ser o magistério ainda composto majoritariamente (85%) por profissionais do sexo feminino (INEP, 2006). Todavia, as estatísticas apresentadas pelo Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB)19 a respeito de professores e professoras de Matemática e Língua Portuguesa, no

Brasil, em 2001, mostram que há um recorte de gênero à medida que aumentam os níveis de ensino:

Em Língua Portuguesa, independentemente da série avaliada, a proporção de professores do sexo feminino representa a maioria. No entanto, a proporção

15 Nomes fictícios. 16 Auto-classificação. 17 Em 2007.

18 Em 2007.

19 O Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), é uma avaliação realizada pelo Inep a cada dois anos,

de mulheres vai diminuindo gradativamente conforme a série pesquisada aumenta. Já em Matemática, a proporção de docentes do sexo feminino é maior na 4ª série (91,1%), e diminui gradativamente até a 3ª série do Ensino Médio, quando a proporção de docentes do sexo masculino assume a maioria, representando 54,7% dos docentes (INEP, 2003, p. 38).

Com idades variando entre 28 e 56 anos, a maioria divide-se em duas faixas etárias: de 28 a 37 anos e de 38 a 44 anos. Relacionando-se idade ao sexo, dentre as mulheres, 45,5% delas têm entre 28 e 37 anos e, em igual quantidade, entre 38 e 44 anos. Em seguida, está somente uma professora de 55 anos. Quanto aos homens, dois estão no grupo que delimitei entre 28 e 37 anos, outros dois possuem entre 38 e 44 anos e apenas um tem 56 anos. No Brasil, em 2003, a faixa etária que mais concentrava os/as docentes da Educação Básica era de 35 e 44 anos (35%) (INEP, 2006).

Em relação à cor da pele, temos os seguintes índices: onze docentes se auto- classificam de cor branca, quatro se consideram de cor parda e uma não se declarou. A maioria considera-se como branca, tendência apontada pelo Censo dos Profissionais do Magistério de 2003, realizado pelo Inep, no qual 55,5% dos/as docentes da Educação Básica se auto-declararam de cor branca (INEP, 2006).

No que se refere à situação conjugal e familiar, a maioria é solteira (81,8%) e não possui filhos/as (62,5%), fato que nos chama a atenção. Se, no início do século XX, as professoras eram proibidas de se casar ou, se casadas, não podiam ter filhos/as (APPLE, 1995; FREITAS, 2002; LOURO, 2004), o que as motiva hoje a continuar solteiras? As dificuldades econômicas de constituir família e de criar os/as filhos/as poderiam ser um fator? A independência feminina, defendida pelo movimento feminista, faz com que as mulheres adiem ou recusem o casamento? E no que se refere aos homens?

Dentre os/as seis docentes que possuem filhos/as, temos três com apenas um filho ou filha e três com dois filhos/as, com idades que variam de 03 a 28 anos, demonstrando que o professorado acompanha a tendência das últimas décadas no Brasil, no sentido da redução do número de filhos/as por família.

Com relação às pessoas com quem residem, predominam aqueles/as que moram com familiares – pai e/ou mãe, irmã(s), mãe e filha (57,2%). Nos outros casos, há outras três situações: moram com marido/mulher, sozinhos/as ou com marido/mulher e filho/a. Dentre os/as quatro professores/as casados/as, seus respectivos cônjuges têm as seguintes ocupações: administrador de empresa, monitora de atendimento, professora e taxista. Todos/as possuem curso superior completo, exceto o último, que completou apenas o Ensino Médio.

No que tange à contribuição para o orçamento doméstico, há uma variedade de arranjos, mostrando que o papel de provedor tradicionalmente destinado aos homens nem sempre é assumido por eles. Apesar de a ideologia do “salário complementar” (SCOTT, 1994) ainda ser forte nas sociedades ocidentais, na prática, muitas mulheres assumem grande parte das despesas da casa, quando não são as únicas responsáveis.

Em 2001, cerca de 1/3 dos domicílios brasileiros (32%) tinha uma mulher como principal responsável pelo sustento da casa: 21% das entrevistadas eram as principais provedoras, em 7% dos domicílios, suas mães e em 4%, outras mulheres residentes. Entre as casadas ou amigadas (57% das brasileiras), 87% residiam em domicílios em que o principal provedor era um homem e 12%, em que a principal responsável pelo sustento era uma mulher. Outras 36% eram provedoras auxiliares, o que totalizava a participação na renda familiar de 45% das mulheres com parceiro. Uma vez que, entre os parceiros, outros 10% eram provedores auxiliares, chegava-se a 93% de participação masculina, contra 45% de participação feminina, como responsáveis pelo sustento nos domicílios brasileiros em que havia casais coabitando (VENTURI e RECAMÁN, 2004).

Em minha pesquisa, duas professoras solteiras e com filhos/as são “arrimo de família”, destinando 100% de seu orçamento para as despesas familiares. Outros/as dois docentes (um professor e uma professora), ambos solteiros, têm seu orçamento destinado somente às despesas pessoais, deixando sob a responsabilidade de outrem o sustento da casa; dois (um homem e uma mulher), também solteiros, moram sozinhos e arcam com todos os gastos; uma professora não declarou se contribui; quatro docentes (dois homens e duas mulheres) contribuem com mais de 50%; e três professoras contribuem com menos de 50%.

No que se refere à formação acadêmica, todos/as os/as docentes concluíram o ensino superior, ao contrário dos dados das “Estatísticas dos professores do Brasil”, que mostram que há ainda um longo caminho a percorrer para o pleno atendimento da exigência mínima legal, que é a de licenciatura plena (INEP, 2003).

Em 1997, somente 48,6% dos docentes possuíam formação superior (ou mais). Se especificarmos por grau de ensino, na Educação Infantil (pré-escola ou classes de alfabetização) e no Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries, o índice não chegava a 26%. Por outro lado, no Ensino Fundamental de 5ª a 8ª séries e no Ensino Médio, as taxas eram de 75,3% e 89,1%, respectivamente (INEP, 1999). Em 2002, aproximadamente 32% dos/as docentes do País não possuía m esse grau de formação, chegando a 59% no Norte e 52% no Nordeste (INEP, 2003).

No entanto, com relação à pós-graduação, as estatísticas brasileiras são parecidas com as do grupo estudado. Apenas cinco docentes fizeram pós-graduação, sendo três especializações e dois mestrados. Após a entrevista, temos um mestrado em andamento, que teve início em agosto de 2007. Ressalto, porém, que o professor que inicia o mestrado está incluído no grupo dos três com pós-graduação lato sensu.

A porcentagem média de professores/as brasileiros/as de 4ª série do Ensino Fundamental com capacitação em nível de pós-graduação20 é muito baixa e varia bastante

entre as regiões. Menos de 30% dos/as professores/as tinham pós-graduação, em 2001. A porcentagem cai para 10% na Região Norte, na 4ª série. À medida que a série aumenta, a capacitação dos/as professores/as em nível de pós-graduação também aumenta, tanto em Língua Portuguesa quanto em Matemática. Na 3ª série do Ensino Médio, cerca de 49,4% dos/as professores/as de Língua Portuguesa e 47,8% dos/as professores/as de Matemática possuíam pós-graduação. Considerando-se apenas mestrado e doutorado, o percentual de professores/as com esse grau de formação, na melhor das hipóteses, não chega a 1%, para os/as professores/as da 4ª série; 2%, para os/as professores/as da 8ª série e 5%, para os/as professores/as da 3ª série do Ensino Médio (INEP, 2003).

Em relação ao tempo de magistério, predomina o grupo de docentes que leciona há, no mínimo, sete e, no máximo, quinze anos (50%). Em uma mesma proporção, estão os/as que trabalham há entre dezesseis e vinte anos (12,5%) e aqueles/as que trabalham há mais de 30 anos (12,5%). Com menor representatividade, estão aqueles/as com menos de sete anos de magistério (25%), com destaque para duas professoras iniciantes, em seu segundo ano de magistério.