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DELINEAMENTO DA PESQUISA

SÉRIES ESCOLARES PARTICIPANTES/ IDADE DUPLAS CONSTITUÍDAS

6.5. Procedimento de Análise dos Dados

6.5.3. Situações-problema: Tomada de Perspectiva Social

No caso das duas situações-problema propostas relativas a tomada de perspectiva social, buscamos investigar se o participante evidenciava a capacidade de descentrar-se de seu próprio ponto de vista para aceitar o de outro, ou seja a coordenação da perspectiva e, principalmente se era capaz de analisar duas perspectivas opostas apresentadas no dilema a ser resolvido, a partir de uma terceira, a sua própria perspectiva da situação.

Estaremos mantendo em nossas considerações, o termo “tomada de perspectiva social” (TPS) de Selman (1980), sem que nosso trabalho se comprometa com uma análise mais detalhada e complexa sobre a perspectiva social, que é característica da obra do referido autor.

A análise a ser desenvolvida neste estudo se caracterizará por verificar aspectos sociais que se encontram envolvidos em situações lúdicas. Construímos para isso categorias nas quais, apenas os aspectos significativos ao contexto do Jogo de Regras Xadrez

Simplificado, serão destacados. Estaremos mantendo como categorias de análise, os níveis do autor, bem como as idades sugeridas, entretanto evidenciaremos apenas os aspectos sociais tais como consciência da regra, a aceitação da opinião do outro, elaboração conjunta ou não de estratégias para vencer o jogo, e a presença ou ausência de condutas cooperativas, em cada nível.

Posto isto, reafirmamos que a tomada de perspectiva social, em nosso trabalho, encontra-se circunscrita às relações interindividuais em situações lúdicas, diante de duas situações-problema propostas e não atinge a profundidade da análise de Selman (conceito de pessoas e conceito de relações). A seguir passaremos a descrever os níveis propostos por Selman (1980).

Nível 0 TPS Indiferenciada e Egocêntrica (entre 3 e 6 anos): condutas com predomínio do egocentrismo que é resultante da indiferenciação que a criança faz das características físicas e psicológicas das pessoas. Uma criança deste nível poderia apresentar como resposta à pergunta: “como a dupla deve resolver o uso do videogame ao final do campeonato?” que deveria ser a criança mais alta, a mais velha, etc., quem deveria decidir a situação. Isto porque as regras e conseqüentemente as regras do jogo são para ela ligadas ao ambiente adulto, o que a inibe e a faz considerar os aspectos físicos e psicológicos como sendo um só. Predomina o conceito egocêntrico de relações e isto faz com que as condutas sejam pouco cooperativas. A indissociação entre o eu e o social, constitui uma característica marcante neste nível e impede que a criança reconheça a perspectiva do outro.

Nível 1 TPS: Diferenciada e Subjetiva (entre 5 e 9 anos): O avanço das crianças neste nível em relação ao anterior, está no fato de que ocorre diferenciação entre aspectos físicos e psicológicos das pessoas, permitindo que faça distinção de atos intencionais dos não

intencionais. Aqui ocorre a tomada de perspectiva do outro, entretanto, é percebida em caminho de mão única, ou seja, a criança espera que o outro tenha as mesmas ações suas e responda da mesma forma que ela responderia. Neste grupo, incluímos os participantes que admitem que as regras são elaboradas externamente e são percebidas como arbitrárias, entretanto ainda são mantidas por sua importância, por seu caráter quase sagrado e inquestionável, por uma ordem superior que não pode ser quebrada. Os participantes enquadrados neste grupo não são capazes de coordenar, nas situações-problema propostas, as diferentes posições ou juízos de valor presentes na situação-problema. Ou seja, ignoram as demais perspectivas em jogo para adotarem apenas uma com a qual se identificam.

Nível 2: TPS Eu/reflexivo (entre 7 e 12 anos). As condutas deste nível indicam que a criança já consegue pensar sobre suas próprias ações e as ações do outro. Admitem que uma pessoa é capaz de sentimentos múltiplos e as relações adquirem caráter recíproco. As diferenças ou divergências de opiniões por exemplo em relação às jogadas, ou estratégias escolhidas, são vistas como pertencentes a um sistema de valores e propósitos da pessoa. A limitação entretanto está no fato de que percebem e diferenciam o eu e o outro, mas ainda de forma a manter o isolacionismo entre eles. Não são portanto recíprocos. O sistema de relacionamento entre eles não é percebido. São aqueles que demonstram relativa autonomia da consciência. Dizemos relativa por não atingirem integralmente o patamar da cooperação, entretanto já são capazes de dissociar seu eu do pensamento de outro.

Nível 3: TPS Perspectiva mútua de terceira pessoa (entre 10 e 15 anos). Neste nível podem ser localizados os participantes que são capazes de coordenar relações, ou seja, não vêem cada perspectiva

isoladamente, mas analisam o problema proposto de forma global, considerando como condição necessária à resolução do problema proposto, o diálogo e a decisão consensual dos parceiros do jogo. Isto porque pensam dentro de um sistema de valores e atitudes, admitindo a perspectiva de uma terceira pessoa, saindo da sua própria e imediata visão compreendendo o eu como um sistema, uma totalidade. Dizemos que há mútua relação porque o adolescente agora é capaz de coordenar as perspectivas e as interações entre elas, simultaneamente. Estes participantes concebem como necessária a coordenação de perspectivas recíprocas, mutuamente compartilhadas.

Neste grupo estão os participantes que são capazes de perceber que para cada diálogo ou discussão, o consenso pode ser diferenciado a depender de como reagem os participantes a cada situação, como opinam e como resolvem os problemas na dupla. A resolução do problema proposto transcende seu resultado, para atingir uma dimensão em que o consentimento mútuo é ressaltado. O prazer está em argumentar e não em vencer a discussão ou posicionamento. Localizamos aqui os participantes que foram capazes de discutir a situação de igual para igual, de opor-se livremente, sem receios, à “regra” de obediência que coagia a aceitar a decisão de alguém, no caso da situação-problema, por exemplo, unicamente porque é reconhecidamente superior no jogo e com isto, aceitar seus equívocos. A cooperação atinge aqui seu grau máximo de reciprocidade. As regras deixam de ser exteriores e a heteronomia é sucedida pela autonomia.

Nível 4: TPS Detalhada e de Sociedade Simbólica (de 12 anos até a idade adulta) considerando que nosso estudo recaiu sobre diferentes séries escolares e que o nível 3 de TPS atendeu aos aspectos sociais presentes no contexto do jogo de regras Xadrez, permitindo-nos analisar os participantes mais velhos (7ª série) e considerando que

neste nível são analisados aspectos multidimensionais de comunicação o que difere dos propósitos de análise de nosso estudo, eliminamos este nível de TPS de nossa análise.

Faremos uso do quadro elaborado por Fontes (2004).para sintetizar os níveis de Tomada de Perspectiva Social de Selman.

DESCRIÇÃO DOS NÍVEIS DE TOMADA DE PERSPECTIVA SOCIAL (TPS)