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2.1 DIÁLOGOS ENTRE AS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

2.1.1 Sobre a Sociedade: Informação, Conhecimento e Consumo de Artefatos

A infinidade de benefícios que as tecnologias contemporâneas (TC) oferecem à sociedade é inquestionável, a exemplo das delicadas cirurgias realizadas via videoconferência no campo da Medicina (Telemedicina); dos diversificados e (cada vez mais) sofisticados meios de transporte; ou das ampliadas possibilidades de construção coletiva de conhecimento através das TIC.

mercado mundial destituído de localização física que dita as regras nas esferas sociais, políticas, econômicas e culturais para todos os países. Esse fato propiciou a busca da universalização da produção, do consumo e do mercado; das empresas e das economias; das técnicas e da cultura; ou, ainda, a universalização de uma ideologia mercantil do espaço geográfico (SANTOS, 2008). Por outro lado, a convergência das TIC possibilita a imersão desses educandos e educadores no mundo das inovações e dos usos (como o celular, o computador, entre outros), modificando a maneira de pensar, ser, sentir e agir. Dito de outra maneira, pode-se dizer que a incorporação de conhecimentos científico-tecnológicos aos processos produtivos transformam significativamente as relações sociais – mediadas hoje por bens materiais e serviços.

Nesse sentido, vivemos hoje em um mundo marcado e influenciado pelos conhecimentos que estão diretamente associados à ciência e à tecnologia. Esses termos – ciência e tecnologia – são tomados como indissociáveis e imbricados a poder, sociedade e conhecimento científico, conforme destaca Fourez (1995, p. 207):

Na medida em que a ciência é sempre um 'poder fazer', um certo domínio da natureza, ela se liga, por tabela, ao poder que o ser humano possui um sobre o outro. A ciência e a tecnologia tiveram uma parte bem significativa na organização da sociedade contemporânea, a ponto de esta não poder prescindir das primeiras: energia, meios de transporte, comunicações, eletrodomésticos etc. O conhecimento é sempre uma representação daquilo que é possível fazer e, por conseguinte, representação daquilo que poderia ser objeto de uma decisão na sociedade.

De forma convergente para as reflexões desse autor, percebemos que nas últimas décadas, além da dependência tecnológica, a ciência e a tecnologia têm provocado transformações que ganham dimensões ainda mais amplas e profundas na sociedade. Os avanços científicos e tecnológicos – especialmente o advento e a convergência das TIC – modificaram os usos e significados do espaço e do tempo – compressão do tempo-espaço –, propiciado, dentre outras coisas, pela comunicação instantânea entre pessoas, instituições e equipamentos distantes geograficamente (FRÓES BURNHAM, 2000, p. 283-290; HARVEY, 2009, p. 257-276).

Essa dinamicidade é ocasionada pela volatilidade e constante atualização da informação, implicando significativas mudanças: na produção, na distribuição e na venda de bens e serviços; nas relações trabalhistas; na maneira de usufruir as horas de laser; e, principalmente, na forma como lidamos com o conhecimento. Um exemplo disso são os

jovens que não apenas utilizam mídias digitais13 como também “[...] interagem com as tecnologias digitais [...] e produzem colaborativamente e conectivamente conteúdos” (ALVES, 2010, p. 27). Através da utilização das tecnologias digitais, esses educandos e educadores criam novas formas de entretenimento e aprendizado em espaços não-escolares, isto é, em suas residências, na casa de amigos, em lan-houses e/ou em espaços públicos (Telecentros/Infocentros14), contribuindo para a mudança de seus valores culturais de referência.

Mas será que toda essa informação gerada está se transformando em conhecimento? A Informação em qualquer Sociedade é o bem mais relevante. Porém, atualmente é questionado se as informações produzidas pelos educandos e educadores na “sociedade da informação”, a partir das mídias digitais, estão gerando conhecimento. Segundo Sorj (2009, p. 35), essa designação é inapropriada, pois

A “sociedade da informação” é hoje a denominação mais usual para indicar o conjunto de impactos e consequências sociais das novas tecnologias da informação e da comunicação (telemática). Embora útil como conceito identificador de um tema, não constitui uma teoria ou um arcabouço explicativo da dinâmica das sociedades no mundo contemporâneo, e, em sentindo estrito, é incorreto. Em primeiro lugar, porque em todas as sociedades a informação é relevante. Em segundo lugar, porque a informação por si mesma não tem valor algum; a relevância depende de sua inserção num sistema de produção de conhecimento. Neste sentido, o conceito, também disseminado, de 'sociedade do conhecimento' (knowledge society) seria mais adequado.

Concordamos com essa afirmação, pois o conhecimento também é fundante de todas as sociedades e está nas mãos de poucas pessoas – principalmente o conhecimento científico. Na “sociedade do conhecimento”, o conhecimento científico, além de ser o propulsor do desenvolvimento científico-tecnológico, é também o fomentador da economia no contexto mundial. Sorj (id. p. 35) se refere a “sociedades capitalistas de consumo de bens tecnológicos”, as quais seriam: “sociedades em que a comunicação, a qualidade de vida e as relações econômicas e sociais são mediadas por artefatos tecnológicos (na forma de serviços e produtos) que incorporam conhecimento científico”. Acreditamos que, de forma mais ajustada a essa perspectiva, seria coerente chamar tal sociedade de: Sociedade de Consumo de

13 Meios e/ou equipamentos de comunicação que utilizam as tecnologias que operam em linguagens digitais para transformar informações de textos, sons, vídeos e imagens na linguagem entendível do computador – a linguagem binária.

14 Os Infocentros são espaços públicos que oferecem acesso e ações educativas voltadas para o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) para a população visando a minimizar os índices de exclusão sociodigital da região assistida.

Artefatos Cognitivos15, designação que adotamos aqui.

Cada vez mais, as tecnologias contemporâneas vêm diminuindo o ciclo entre a inovação e o uso (CASTELLS, 2008, p. 69), levando os educandos e educadores a se preocuparem com o “produto” e se distanciando da compreensão de todo um “processo” capitalista de consumo. Ora, o fato é que as transnacionais16 incentivam o consumo exacerbado, pois oferecem artefatos cada vez mais baratos aos consumidores toda vez que um produto é lançado no mercado. Artefatos com mais recursos técnicos/tecnológicos que chamam a atenção dos consumidores. O fetiche da tecnologia provoca – muitas vezes – a troca prematura e/ou a compra de novos produtos, o que leva à obsolescência mais rápida e programada dos artefatos.

Em 2011, o Brasil liderava mundialmente o consumo de celulares e televisões de alta definição17. Pesquisas mostraram que o país era o quinto do mundo em utilização de telefonia móvel18. Portanto, gostaríamos de deixar aqui algumas indagações. Será que a cada troca de artefato o consumidor utilizou – ou sabia de – todos os recursos que ele pode prover? Qual o percentual de utilização desses recursos nos artefatos? Qual o percentual de consumidores que não se deixam levar pelo fetiche da tecnologia?

As questões supracitadas não são para serem respondidas nesta pesquisa, e sim para refletirmos sobre como os artefatos podem interferir na identidade cultural das pessoas e do país, conforme discorremos a seguir.