• Nenhum resultado encontrado

2.1 DIÁLOGOS ENTRE AS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

2.1.2 Sobre Identidade Cultural e Identidade Tecnológica

Com o avanço tecnológico, a maioria dos países – principalmente com a presença das transnacionais – passaram a depender das tecnologias contemporâneas (redes de computadores, banco de dados, aplicativos etc.) no planejamento de atividades econômicas, culturais e políticas. Ou seja, observa-se a crescente dependência tecnológica como fator de (re)configuração sociocultural das sociedades contemporâneas. Segundo Barbero (1986, p.

15 O conceito de “artefatos cognitivos” será explicado na seção 2.2.2.

16 Corporações autônomas que atuam em territórios internacionais no setor comercial, industrial ou de prestação de serviços.

17 Disponível em:

<http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2011/01/110105_eletronicos_relatorio_pu.shtml>. Acesso em: 15 abr. 2011.

18 Disponível em: <http://www.correiodoestado.com.br/noticias/estado-tem-mais-de-1-celular-por-

123), esse momento pode ser tomado como o “início de uma nova configuração cultural, de uma rearticulação das identidades a partir de uma racionalidade tecnológica que se constitui no motor do projeto de uma nova sociedade”.

Esse processo de crescente dependência (re)configura e prefigura um outro modo de olhar para a identidade cultural, que possui como uma das principais fontes a cultura nacional. Como destaca Hall (2006, p. 49), as culturas nacionais:

são uma forma distintivamente moderna. A lealdade e a identificação que, numa era pré-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas à tribo, ao povo, à religião e à região, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, à cultura nacional. As diferenças regionais e éticas foram gradualmente sendo colocadas, de forma subordinada, sob aquilo que Gellner chama de “teto político” do estado-nação, que se tornou, assim, numa fonte poderosa de significados para as identidades culturais modernas.

Entretanto, no desenvolvimento de uma cultura nacional, ocorre uma camuflagem de problemas socioculturais e políticos por interesses das transnacionais, conforme explica Barbero (1986, p. 122): “[...] a imposição acelerada dessas tecnologias [Novas Tecnologias de Informação e Comunicação] aprofunda, irremediavelmente talvez, um processo de esquizofrenia entre a máscara de modernização que a pressão dos interesses transnacionais 'realiza' e as possibilidades reais de apropriação e identidade cultural”.

A identidade é algo que identifica um indivíduo ou grupos de indivíduos, ou seja, é uma marca que atribui características próprias e diferencia um indivíduo ou grupos de indivíduos de outros, como, por exemplo, no modo de pensar e agir. Essas características que definem a identidade são construídas em uma dimensão política, pois não basta conhecer os próprios limites e as preferências ou dominar competências e habilidades, é preciso levar em conta, na constituição da identidade, questões relativas à cultura, à sociedade, ao ambiente que nos cerca e à história.

Ora, acordamos e ligamos a televisão da marca “Mitsubishi”, vestimos a calça jeans de marca “Levi's”, vamos trabalhar conduzindo o automóvel da marca “Fiat”, na hora do almoço vamos comer um sanduíche no “McDonald's”... Trata-se de uma inundação de produtos transnacionais no cotidiano, aliada aos valores culturais, econômicos, sociais e políticos que normalmente direcionam para o consumo exacerbado. Essa invasão provoca uma espécie de fragmentação da identidade cultural de um país e/ou de um grupo e/ou de indivíduos isoladamente.

Segundo Santos (2008), o processo de mundialização da economia, da cultura e da política não ocorre de forma homogênea em todos os pontos do globo, mas afeta diferentemente os lugares, imprimindo-lhes feições particulares.

Isso é fruto da maneira como essas comunidades reagem à lógica dominante. Assim, em determinados espaços, há obstáculos e resistências na adesão a essas estruturas padronizantes e, em outros, a integração dessas estruturas à cultura local.

Para Hall (2006, p. 69), as três possíveis consequências da globalização (ligada a esse processo de mundialização destacado até aqui) sobre as identidades culturais são:

1. As identidades nacionais estão se desintegrando, como resultado do crescimento da homogenização cultural e “pós-moderno global”.

2. As identidades nacionais e outras identidades “locais” ou particularistas estão sendo reforçadas pela resistência à globalização.

3. As identidades nacionais estão em declínio, mas novas identidades – híbridas – estão tomando seu lugar.

Queremos destacar a terceira possível consequência, pois nos coloca a refletir sobre o surgimento da Identidade Tecnológica (IT) dentro do que Hall chama “novas identidades” na sociedade contemporânea. Em que medida essa IT é absorvida em toda sua complexidade por todos os setores da sociedade, especialmente na Educação?

Acreditamos que são duas as faces do contexto em destaque: a primeira é a dependência que se tem das tecnologias contemporâneas e das transnacionais nos processos econômicos, culturais e políticos. Um exemplo de dependência em relação a essas tecnologias é o controle de alguns países sobre outros, porque “deixar aos bancos (de dados) americanos a responsabilidade de organizar […] [a] memória coletiva para contentar-se com sua utilização[,] equivale a aceitar uma alienação cultural” (BARBERO, 1986, p. 125). A segunda – que não necessariamente exclui a primeira – é quando o país se destaca no cenário mundial com a utilização das tecnologias contemporâneas. É oportuno salientar que o Brasil, em 2011, foi o quinto país do mundo em acessos às redes sociais19, o que nos permite identificá-lo como um exemplo de Identidade Tecnológica. Essa identidade, então, é constituída na recorrência de uso das tecnologias e da transformação socioeconômico-cultural que esse uso implica na sociedade contemporânea. Ainda assim, certamente existem problemas advindos dessa

19 Disponível em:

<http://www.comscore.com/por/Press_Events/Presentations_Whitepapers/2011/State_of_the_Internet_in_Br azil>. Acesso em: 15 abr. 2011.

expansão tecnológica a serem considerados pela sociedade.

Portanto, gostaríamos de deixar algumas perguntas, principalmente direcionadas à segunda face, por estar mais próxima do objeto de pesquisa: Será que somente acessar às redes sociais pode caracterizar um país como sendo o destaque de emancipação sociodigital? Estariam os educandos e educadores que têm acesso às mídias digitais – especificamente neste caso, aos meios de comunicação e aos computadores (bem material) –, utilizando todos os recursos que eles podem prover? Será que os educandos e educadores utilizam adequadamente os acessos às redes? Um país que possui a Identidade Tecnológica em destaque não deveria saber o que vai fazer com os seus computadores daqui a cinco anos, depois que eles se tornarem obsoletos? Logo, é coerente colocar em destaque a IT deste país? Mais uma vez, as questões supracitadas não são para serem respondidas nesta pesquisa, e sim para refletirmos sobre como podemos caracterizar e identificar de maneira coerente a Identidade Tecnológica de um país.