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SOBRE AS MOTIVAÇÕES E PROPÓSITOS INVESTIGATIVOS

3. APRESENTANDO A CONFIGURAÇÃO METODOLÓGICA DA PESQUISA

3.2 SOBRE AS MOTIVAÇÕES E PROPÓSITOS INVESTIGATIVOS

Antes de enunciarmos o problema da nossa pesquisa e os propósitos investigativos a ele relacionados, pretendemos situar o quadro no qual se situa este problema, ou seja, a problemática sentida, como se referem Laville e Dionne (1999). As relações entre conhecimento e processamento discursivo ainda se mantêm pouco exploradas na perspectiva da linguística. Avançamos muito nos estudos dos aspectos linguístico-discursivos, mas o conhecimento, enquanto objeto observável, sempre esteve sob os holofotes dos epistemologistas, dos filósofos e dos psicólogos, interessados em explicar a origem, a evolução e a realização

humana do conhecimento. Mas, com a expansão das áreas de estudo da Linguística, surge a Linguística Cognitiva, que analisa o fenômeno da linguagem sob o uma perspectiva integradora, abrindo, consequentemente, espaço para a discussão em torno do conhecimento e das relações que ele estabelece com os fenômenos da linguagem. Assim, consideramos que o campo de teorias e análises linguísticas ainda se mostra bastante fértil para pesquisas que tomem o conhecimento como objeto de investigação. Esta se constitui na motivação primeira para a realização desta pesquisa, fomentando o desejo de tomar como objeto de estudo a tríade conhecimento-linguagem-discurso.

Nessa perspectiva, a justificativa para a realização deste trabalho pode ser apontada em dois focos argumentativos: um que se sustenta pela relevância desse trabalho, ao escolher como tema investigativo o conhecimento na aula expositiva, sobretudo no que se refere à esfera acadêmica ensino superior, que se apresenta ainda como uma área de acesso restrito quando o assunto é tornar-se objeto de estudo. O outro foco argumentativo se fortalece pelo propósito de enunciar um modelo teórico de análise para a atividade discursiva que se baseia numa estrutura interdisciplinar que envolve linguagem, discurso e cognição.

Dessa forma, mostrou-se desafiador pensar no processo de mobilização desse conhecimento no espaço discursivo da aula expositiva, cujo papel é de protagonista na esfera acadêmica de ensino e, paralelamente, se mostra como um importante lugar onde o conhecimento se legitima. Ao mesmo tempo, tornou-se instigante pensar nos fatores linguísticos e cognitivos envolvidos nesse processo, ou seja, pensar como se dá discursivamente e cognitivamente esse processo de mobilização do conhecimento na aula expositiva. Estes aspectos compõem a problemática da nossa investigação.

Em função desta problemática estabelecida, enunciamos, então, o nosso problema Como se processa a mobilização do conhecimento na aula expositiva sustentada por ações sociocognitivas? Este problema se desdobra em três questões fundamentais: Quais as ações linguístico-cognitivas e linguístico-discursivas envolvidas no processo de mobilização do conhecimento? De que forma estas ações mobilizam o conhecimento? Que funções podemos atribuir às molduras comunicativas e as camadas de atividades de linguagem no processo de mobilização do conhecimento?

O principal objetivo dessa ação investigativa consiste em fazer uma descrição analítica de como se dá o processo de mobilização do conhecimento na aula expositiva sob os efeitos de ações sociocognitivas. E articulados a este propósito maior, estão os objetivos específicos: identificar ações linguístico-cognitivas e linguístico-discursivas que mobilizam o conhecimento, destacando o papel dos processos interativos; analisar de que maneira se dá esse processo de mobilização; discutir o papel das molduras comunicativas e das camadas de ações, estabelecendo uma relação entre cognição e linguagem. Tornamos claro que no âmbito dessa pesquisa estamos entendendo mobilização como o processo sobre o qual o conhecimento se movimenta pelo agir dos sujeitos.

Expostos os nossos objetivos convém apresentarmos as asserções que deles decorrem, tomando como referencia a perspectiva adotada por Bortoni-Ricardo (2008) de que nas pesquisas qualitativas, diferente das pesquisas quantitativas não se formulam hipóteses, mas considera-se oportuno propor asserções, cujo conteúdo expresse relação com os objetivos estabelecidos. Confirmando isto, apresentamos aqui as asserções que foram elaboradas durante o nosso trabalho de investigação:

1. A mobilização do conhecimento coexiste na cognição e na interação social, portanto se realiza através de ações sociocognitivas que estão na interface entre cognição, linguagem e discurso.

Para elaborar esta primeira asserção nos reportarmos ao princípio fundamental do sociocognitivimo – a cognição é um fenômeno situado e social. Tal como as ações cognitivas, o conhecimento se mobiliza em contextos interacionais e reais de uso, o que nos permite dizer que esta mobilização só acontece em função de ações linguístico-cognitivas e linguístico-discursivas que são responsáveis, inclusive, por construírem e modificarem o conhecimento ao longo dos processos interacionais.

2. A mobilização do conhecimento na aula expositiva se realiza em função de várias molduras e ações interpostas em diferentes camadas de atividade de linguagem.

De posse da proposta teórica de Herbert Clark, aliada a outros teóricos de mesma base, foi possível elaborar esta segunda asserção. Defender essa posição,

embora pareça uma simples adaptação da teoria clarkiana, significou desvelar o universo discursivo de uma arena de linguagem em particular – a aula expositiva, propondo um novo enquadre para a análise do conhecimento nesta esfera discursiva.

3. Ações linguístico-cognitivas e linguístico-discursivas funcionam como recursos linguageiros ativadores e organizadores do processo de construção e distribuição do conhecimento.

Esta última asserção está diretamente relacionada à primeira e representa a elucidação de uma das questões centrais da nossa pesquisa. Estas ações têm efeitos causais, ativando e interferindo no conhecimento posto em circulação pelos sujeitos em interação. Essa concepção implica considerar que há uma interdependência entre processos sociocognitivos e a produção, distribuição e o uso do conhecimento marcada, certamente, por uma relação dialética entre o domínio discursivo e o domínio cognitivo. Para chegar a esta constatação foi preciso, então, operacionalizarmos em nossas categorias de análises elementos conceituais oriundos tanto da Linguistica Cognitiva quanto da Filosofia e da Sociologia.