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6.2 Lições aprendidas

6.2.1 Sobre Barreiras Técnicas

Para as barreiras técnicas identificadas nesta pesquisa, a área de IHC é capaz de auxiliar tanto na fase de projeto, como nas de desenvolvimento e na fase de ava- liação. No entanto, de acordo com especialistas, e também denotado pela literatura (Capítulo 4), considerando dispositivos de TA avaliados através de métodos existen-

tes, estes precisam incluir em seus experimentos aspectos que considerem a questão da deficiência e as especificidades de cada indivíduo.

Quanto aos Métodos de avaliação em IHC, segundo as respostas dos especia- listas, a importância dos aspectos humanos nas avaliações é evidente. Embora os métodos de avaliação em IHC mais difundidos como Usabilidade e Experiência do Usuário sejam extremamente relevantes e reconhecidos, ao considerar aspectos de TA essas metodologias ainda se concentram na questão do dispositivo em detrimento das necessidades dos usuários.

Algumas métricas de Usabilidade, como velocidade, tempo, precisão na execu- ção de tarefas, que foram as métricas quantitativas encontradas na literatura, usadas para validar dispositivos de interação voltados a TA, não são tão relevantes quando se considera a utilização por pessoas com deficiência.

Quanto aos métodos de avaliação utilizados pelos especialistas, contrariando o cenário encontrado no mapeamento sistemático (Capítulo 4), foram as técnicas: a análise caso a caso, uma vez que os especialistas apontaram que primeiro identifi- cam as partes funcionais do corpo do usuário, estudam o caso clínico e a prescrição médica, e somente após refletem sobre o método de avaliação a ser utilizado. Ou seja, de acordo com os preceitos de TA, descritos na Seção 7.1, não só os aspectos humanos, mas como o indivíduo em si, é a prioridade nas avaliações dos dispositivos TA (BERSCH et al., 2013), na visão dos especialistas.

Para exemplificar, a proposta em OLIVEIRA (2015), foi a utilização de uma esfera automatizada que promove o brincar com crianças com paralisia cerebral. Todo o processo de concepção foi executado com a prescrição de terapeutas ocupacionais, médicos, assistência parental e cuidadores, e a observação das crianças. A avalia- ção ocorreu em várias sessões, terapeutas e familiares observaram a interação das crianças com a esfera robótica utilizada no jogo e como conclusão o ganho estava em poder promover o brincar. O projeto foi executado para uma criança, considerando suas especificidades e necessidades e foi avaliado com a mesma criança.

Quanto à Análise de Resultados, os aspectos de usabilidade foram avaliados nas propostas de dispositivos de interação encontrados pelo MSL, com métricas de de- sempenho, precisão, sensibilidade e tarefa velocidade de execução desses protótipos. Todos os resultados expressos de forma quantitativa e essas análises focadas nas mé- tricas coletadas não são o suficiente para validá-los como dispositivos de Tecnologia Assistiva.

É importante observar que os estudos que relatam o uso de métodos de avalia- ção de usabilidade ou de UX não descrevem como eles o desenvolveram, apesar do reconhecimento de sua importância. Na concepção, desenvolvimento e avaliação de qualquer produto de interação, os aspectos humanos são considerado desde o início, e quando se trata de produtos de TA, espera-se que estes fatores humanos sejam

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explorados ao máximo.

Esses usuários finais apresentam especificidades que não são conhecidas pelos desenvolvedores e precisam ser identificadas, seja com o envolvimento da família, dos cuidadores e sempre com o apoio do usuário final. Segundo OLIVEIRA (2015), aspec- tos multidisciplinares relacionados à prescrição, habilidades e necessidades do usuá- rio devem ser considerados antes desenvolvimento de um protótipo e depois usado para validar a proposta.

Quanto aos sujeitos envolvidos nos processos de avaliação, o trabalho de OLI- VEIRA (2015) contradiz os resultados encontrados nesta revisão de literatura, onde a maioria dos trabalhos desenvolve protótipos de interação TA para pessoas com defici- ência e depois avalia com várias pessoas sem qualquer deficiência. E considerando TA, um dispositivo bem sucedido com uma pessoa, pode ter resultados completamente diferentes com outra.

Como a TA, por definição, lida com recursos de acessibilidade especificamente voltados para pessoas com deficiências (CAT - Comitê de Ajudas Técnicas, 2007). Um pequeno número de artigos relatando experimentos de avaliação, sete trabalhos, conforme Capítulo 4, Tabela 2, incluindo especialistas e pessoas com deficiências, foram identificados no MSL.

Isso expõe a dificuldade de envolver os especialistas e os usuários finais, tanto no projeto como na fase de avaliação. E quando ocorre o envolvimento de pessoas com deficiência, o resultado é apresentado de forma quantitativa, com análise de mé- tricas de execução de tarefas e essas métricas não são suficientes para validar os dispositivos, como dispositivos eficientes de TA.

As respostas dos usuários finais, entrevistados, destaca essa afirmação. Outro aspecto importante é a presença de um especialista em avaliação de produtos TA. Em apenas um dos artigos, (vide Capítulo 4, Tabela 2), o processo de avaliação foi assistido por um profissional com experiência na avaliação de produtos de TA com pessoas com deficiência. Em MANRESA YEE; MUNTANER; ARELLANO (2013) todas as sessões de avaliação foram acompanhadas por um terapeuta que apoiou e orientou o usuário final durante o interação. Essa conexão da área tecnológica com os aspectos clínicos, segundo os especialistas entrevistados, é essencial, devido à experiência obtida, conhecimento sobre a deficiência, histórico da pessoa e prescrição do TA e a própria análise do dispositivo (GALVÃO FILHO, 2013).

Quanto à quantidade de sessões, a maioria dos trabalhos no MSL realiza uma única sessão de avaliação para validar o protótipo do dispositivo de interação voltado à TA desenvolvido (vide Capítulo 4, Tabela 2), mas um experimento de avaliação pontual pode não responder adequadamente a muitas questões subjetivas, como a curva de aprendizagem do dispositivo, como justificou no trabalho de MANRESA YEE; MUN- TANER; ARELLANO (2013).

Primeiramente, porque em muitos casos as pessoas, especialmente as com defici- ência, sentem aquele momento, um momento de excitação, têm o aspecto emocional alterado, inevitavelmente e tendo em conta toda a história, eles geralmente se sentem avaliados. Assim, mesmo que não gostassem, não se sentiriam à vontade para rejeitar a proposta e, portanto, se a avaliação tivesse alguma proposta de auto relato, prova- velmente traria resultados positivos, mas haveria interferência nesse sentido. No caso da pessoa que executa tarefas, experimentar novos protótipos pode trazer resultados numéricos inexpressivos, porque métricas podem ser completamente insignificantes e opostas ao desejo e objetivos dos usuários finais

Para os especialistas, uma avaliação temporal, que leva em conta o aprendizado no uso de um novo dispositivo, requer um período de adaptação e aceitação. No trabalho de MANRESA YEE; MUNTANER; ARELLANO (2013) o período de avaliação foi de três meses com uma frequência de avaliação em sessões semanais, onde puderam observar a melhora, ou não, no uso do dispositivo e se o aprendizado foi efetivo.