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Os participantes da pesquisa são esportistas/atletas e seus treinadores, e professores de Educação Física que atuam na rede pública municipal de ensino da cidade de Uberlândia (MG). A construção dos dados contemplou a pesquisa com atletas, treinadores que trabalham em entidades esportivas e professores de Educação Física de duas escolas da rede pública municipal. Os dados foram coletados nas instituições onde esses participantes atuam.

Para o estudo das ideações de jovens atletas e treinadores a respeito do talento esportivo e da participação que a escola teve em sua identificação e encaminhamento à prática do esporte, foi composta uma amostra de seis atletas e seis treinadores.

A amostra dos atletas contou com pessoas indicadas por entidades esportivas como sendo talentosas. Foram observados também os seguintes requisitos: terem sido premiadas em competições esportivas e estudarem ou terem estudado na rede pública de ensino fundamental. Inicialmente, quando da proposição em realizar a pesquisa, foram feitos contatos com treinadores indicados pela Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer - FUTEL da Prefeitura Municipal de Uberlândia - PMU para verificar sobre a possibilidade de se localizar os atletas.

Sobre os motivos do estudo haver sido estendido aos treinadores dos atletas, ponderou- se que estes estão em contato direto com os atletas participantes. Além de ajudarem a compreender a história desses atletas, poderiam colaborar para a pesquisa, contribuindo com suas ideações e conhecimentos sobre talentos esportivos. No decorrer do trabalho de campo, a configuração do conjunto de treinadores foi alterada de acordo com o que se mostrou mais viável para a realização do estudo. Houve atletas que não foram indicados diretamente por seus treinadores, e algumas vezes foi percorrido o caminho inverso. Ou seja, um dos atletas indicados não pode participar da pesquisa e ainda assim foi mantida a participação do treinador, dada a sua experiência e valorosa contribuição. Outro atleta foi indicado por um dos professores que colaboraram em nosso trabalho. A partir da aceitação de participação por parte desse atleta,

seu treinador foi procurado. Outro caso se refere à atleta internacionalmente reconhecida que, ao ser convidada, prontamente atendeu à solicitação. Por questões não justificadas, e alheias à vontade desta pesquisadora, o treinador dessa atleta não participou da pesquisa. Por outro lado, um dos atletas teve a participação de dois treinadores que o acompanharam ao longo de sua trajetória. Desta forma foi composto o público participante, atendendo aos requisitos propostos na formulação da pesquisa, de equilibrar a quantidade de participantes atletas, treinadores e professores (seis participantes em cada categoria).

A opção por realizar a pesquisa com atletas nomeados pelos treinadores e premiados também se justifica porque sinaliza que possuem características de altas habilidades. Pérez (2004), em sua pesquisa, aplicou questionários aos alunos, pais e professores, nos quais constavam questões para identificação de alunos com habilidades psicomotoras. Ao aluno perguntou: se o aluno já participou ou ganhou prêmios em competições de esportes, quantas horas por semana são dedicadas ao treinamento ou atividade esportiva, e se trocaria a atividade esportiva por outra atividade. Aos pais foram feitos os questionamentos: se o filho já participou o ganhou prêmios em competições de esportes e quantas horas ele dedica, por semana, ao treinamento ou atividade esportiva. Aos professores foi solicitado o nome de dois alunos nos seguintes quesitos: os melhores em atividades extracurriculares, alunos com melhor desempenho em esportes e exercícios físicos, e alunos que se sobressaem em atividades manuais e motoras. Na identificação das altas habilidades, essa autora escreveu a respeito de uma aluna participante de seu estudo:

É difícil detectar a área de AH/SD identificada porque ela não pratica Esportes em nenhuma instituição, mas espontaneamente, em espaços comunitários ou na escola. Talvez o fato de ela ter ganhado diversas medalhas de ouro e prata em competições coletivas e individuais fale nesse sentido, mas a avaliação da capacidade acima da média e inclusive da criatividade, nesta área, só pode ser aferida pelo depoimento dos professores. A motivação para os Esportes é muito elevada, mas as expectativas parecem muito prejudicadas pelo ambiente socioeconômico e cultural que a aluna vive (PÉREZ, 2004, p. 117).

Para cumprir os objetivos do estudo sobre o processo de identificação, encaminhamento e atendimento a alunos com altas habilidades e, também, para verificar e analisar as principais necessidades e obstáculos que os alunos com altas habilidades/superdotação/talento esportivo enfrentam na escola, foi interessante conhecer um pouco da história desses atletas e sua vida escolar.

Considera-se importante a pesquisa com esses atletas por se acreditar que ainda é relativamente pequena a produção acadêmica sobre AH/SD/talentos nos esportes e, parece, pelo que foi possível verificar previamente nas escolas da cidade, que o entendimento sobre o

atendimento a esses alunos requer maiores conhecimentos também por parte dos professores de Educação Física sobre o que é a Educação Especial para alunos com altas habilidades/superdotação. Um dos professores perguntou se a pesquisa sobre superdotação se referia aos paraolímpicos. Assim, a participação dos atletas e de treinadores foi considerada amplamente profícua.

A escolha de seis professores para participarem da pesquisa foi efetivada a partir da proposta de selecionar duas escolas públicas municipais da cidade de Uberlândia. Verificou-se que todas as escolas possuem Atendimento Educacional Especializado, e decidiu-se por selecionar uma escola que não possuísse alunos identificados como altas habilidades e outra escola que tivesse alunos identificados, não sendo necessário que essa escola tivesse alunos identificados como AH/SD em esportes. A este respeito, inicialmente foi procurada a coordenação do Núcleo de Apoio às Diferenças Humanas - NADH, que é responsável pela orientação e acompanhamento pedagógico relativo aos serviços da Educação Especial nas escolas da rede municipal da cidade. Esse Núcleo faz parte do Centro Municipal de Estudos e Projetos Educacionais Julieta Diniz - CEMEPE, subordinado à Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura Municipal de Uberlândia - SME/PMU. Segundo a coordenadora do NADH, existem alunos com AH/SD sendo atendidos na rede pública municipal de ensino. Não soube informar sobre a existência de alunos identificados como AH/SD em esportes. Conforme foi visto posteriormente, não havia alunos com essa especificidade na rede pública municipal de ensino (AH/SD do tipo psicomotor). Foi informada da existência de alunos com indicadores de altas habilidades regularmente matriculados em seis escolas da cidade. Em cada escola havia um aluno com indicadores, e nenhum era relacionado ao tipo psicomotor.

A escolha da escola onde havia um aluno indicado ao AEE por apresentar características de superdotação se deu por proximidade: a pesquisadora lecionou em uma escola de Ensino Médio situada próxima a essa escola municipal, e muitos alunos eram provenientes de lá. Optou-se, então, por procurar a escola quando se soube que havia um aluno sendo atendido no AEE. Posteriormente, no decorrer do trabalho, a professora da sala de recursos multifuncionais informou que as características de superdotação do tipo acadêmico do aluno não foram confirmadas. Essa escola foi criada em 1993, e hoje atende a aproximadamente 1.500 alunos do 1º ao 9º ano. Situa-se na zona leste de nossa cidade.

A escolha da outra escola foi porque um dos atletas entrevistados havia estudado nessa escola. Este fato não foi informado à dirigente escolar, julgou-se preferível agir desta forma porque ela não se manifestou a respeito do atleta quando foi procurada para autorizar a pesquisa e por considerar que a informação poderia, de alguma maneira, ter alguma interferência junto

aos participantes da pesquisa, caso soubessem. A escola iniciou suas atividades no ano de 1994. Sua construção foi realizada com verba federal do projeto CAIC (Centro de Atendimento Integral a Criança e ao Adolescente). Foi construída na periferia da cidade, com o objetivo de dar atenção total às crianças e suas famílias. Atualmente atende cerca de 1.400 alunos, da pré- escola ao 9º ano. Situa-se na zona sul desta cidade.

Ressalta-se que o objetivo do estudo não foi a identificação de alunos, ou seja, o trabalho não buscou identificar Pessoas com Altas Habilidades/Superdotação - PAH/SD, e sim estudar ideações e práticas que contribuam para a compreensão sobre a identificação, encaminhamento e atendimento pelos professores de Educação Física, na escola, de alunos com indicadores de Altas Habilidades/Superdotação/Talentosos nos esportes.

Participaram da pesquisa três professores de cada escola, perfazendo o total de seis professores de Educação Física que lecionam do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A partir dos estudos com esses professores, não houve a necessidade de estender a pesquisa a professores do Atendimento Educacional Especializado para a busca de informações complementares, pois se entendeu que isto só se justificaria caso a escola já tivesse realizado caminhos para a identificação e encaminhamento dos alunos ou tivessem identificado algum aluno com indicadores de superdotação em esportes.

O estudo contemplou, portanto, 18 participantes (seis atletas, seis treinadores e seis professores de Educação Física escolar).

A determinação da quantidade de participantes em pesquisas qualitativas depende da facilidade de acesso aos entrevistados e da disponibilidade de participantes; além disto, a quantidade se define em função da contraposição entre a profundidade e a abrangência da pesquisa, sendo que estudos fenomenológicos requerem maior envolvimento do pesquisador com os entrevistados e, por isto, maior profundidade na pesquisa com um menor número de entrevistados (VIEIRA, 2014).

O número de atletas participantes se constituiu a partir da quantidade de atletas indicados pelos treinadores. Conforme informado anteriormente, a amostra contempla atletas que atendem aos requisitos determinados para a pesquisa com relação ao fato de, além de serem atletas considerados talentosos pelos seus treinadores, tenham sido premiados em competições esportivas e tenham estudado em escola pública. A quantidade de treinadores participantes se deu inicialmente a partir da quantidade de treinadores indicados pela Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer - FUTEL da Prefeitura Municipal de Uberlândia - PMU. A determinação da quantidade de professores se deu proporcionalmente ao número de treinadores e atletas selecionados, de modo a preservar o equilíbrio na quantidade de participantes.

Conforme relatado, houve algumas alterações na escolha do público participante, mantida a quantidade de pessoas e sem prejudicar os objetivos do estudo.

Previamente ao trabalho de campo, por se tratar de pesquisa que envolve seres humanos, o projeto foi submetido para aprovação pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa – CONEP, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde, tendo sido aprovado conforme Parecer 1.833.536, de 21 de novembro de 2016 (vide Anexo 1).

Para a construção dos dados foram realizadas entrevistas semiestruturadas e exames documentais.

As entrevistas foram adotadas porque, de acordo com Rampazzo (2005, p. 110), permitem maior flexibilidade, pois possibilitam ao entrevistador repetir ou esclarecer as questões, formulando-as de forma diferente, e oferecem ao entrevistador “maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistado ser observado naquilo que diz e como diz (registro de reações, gestos, etc.)”. O objetivo foi colher dados básicos sobre os participantes, conhecer suas experiências e aprofundar o conhecimento a respeito de suas ideações sobre as pessoas com altas habilidades nos esportes, e dos saberes e práticas dos professores em seu trabalho com os alunos AH/SD. Foi escolhida a entrevista semiestruturada porque, por seguir um roteiro preestabelecido, proporciona maior objetividade, sem que se perca o fio condutor da pesquisa. O controle e direcionamento do trabalho são importantes uma vez que as pessoas não costumam dispor de muito tempo livre.

A condução do trabalho se deu de acordo com a disponibilidade de cada entrevistado. As entrevistas foram realizadas com os participantes da pesquisa fora do horário de trabalho ou de treinamento, e se deram no ambiente de trabalho ou de treinamento dos participantes. A pesquisadora foi ao local de encontro com os participantes, não gerando gastos de deslocamento para os participantes da pesquisa. Foram utilizados três roteiros de entrevistas (que constam no Apêndice 1): um para treinadores, outro para atletas, e o terceiro para professores de Educação Física na escola. Os roteiros foram empregados como guia, de forma flexível, de modo a direcionar sem cercear a manifestação livre dos entrevistados a respeito do tema objeto da pesquisa. Não foi estipulado o tempo para resposta, embora tenham durado, em média, cerca de uma hora para cada entrevista. As entrevistas foram gravadas sem a imagem dos entrevistados. Conforme Rampazzo (2005, p. 112), o registro das respostas deve ser feito no momento da entrevista “para maior fidelidade e veracidade das informações. O uso do gravador é ideal se o informante concordar com sua utilização”. A concordância do participante se deu por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, no qual constou que após a transcrição das gravações das entrevistas, as mesmas seriam desgravadas.

Os exames documentais foram realizados com o objetivo de verificar os procedimentos já estabelecidos nas escolas pesquisadas com relação à identificação, encaminhamento e acompanhamento de alunos AH/SD. Conforme Gil (2002, p. 45), a pesquisa documental “vale- se de materiais que não receberam ainda tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”.

Foram também verificados os Projetos Político Pedagógicos – PPP1 das escolas, para

saber se contemplam de maneira específica os alunos com altas habilidades, considerando que esses alunos são público alvo da Educação Especial. De acordo com Ropoli et al. (2010), a educação inclusiva prevista na Política Nacional de Educação requer, para sua implementação, que a Educação Especial seja parte integrante do PPP.

Registra-se que não foram encontradas Fichas de Registro e Acompanhamento, Portfólios ou outros documentos relacionados ao trabalho dos professores com os alunos no que se refere às AH/SD nos esportes.