• Nenhum resultado encontrado

O uso de instrumentos para a identificação das altas habilidades/superdotação/talento

4 IDENTIFICAÇÃO, ENCAMINHAMENTO E ATENDIMENTO AOS ALUNOS COM

4.3 O uso de instrumentos para a identificação das altas habilidades/superdotação/talento

Nesta subseção estão apresentadas informações a respeito do uso de instrumentos para a identificação de alunos com altas habilidades. Ainda que faça parte do processo de identificação, optou-se por trazer separadamente o resultado da averiguação sobre os

24 De acordo com o Dicionário Aulete, proprioceptivo significa “condicionado a receber estímulos internos oriundos de um órgão, músculo ou tendão”, e háptico significa “referente ao tato”. Disponível em: www.aulete.com.br. Acesso em: 29 ago. 2018.

instrumentos, apenas por uma questão metodológica. Para a verificação de procedimentos de identificação de alunos com altas habilidades/superdotação é necessário, primeiramente, conceituar o que se entende por “procedimento”. A este respeito, optou-se por utilizar a terminologia definida por Moreira e Monteiro (2010, p. 209): “Instrumentos são meios de coleta de dados”. “Procedimentos são as formas como utilizamos cada instrumento”. Considera-se, então, que a aplicação de instrumentos (observação, entrevista, questionário, formulário) com professores, pais ou alunos, faz parte dos procedimentos.

A Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão – SECADI, que em 2019 passou a se chamar Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação – SEMESP,25 oferece, no portal do Ministério da Educação - MEC, quatro volumes

de livros didático-pedagógicos, para auxiliar as práticas educacionais para alunos com altas habilidades/superdotação. São volumes elaborados por especialistas com orientações para o professor e a família. Os textos de Virgolim (2007) e de Guimarães e Ourofino (2007) trazem informações sobre o processo de identificação. Outra publicação do MEC, na ainda Secretaria de Educação Especial - SEESP26, também apresenta instrumentos para a identificação de alunos

com AH/SD. Nesses textos encontram-se alguns instrumentos, dentre os quais se destacam, conforme o Quadro 4 apresentado na página seguinte:

25 O Decreto nº 9.465, publicado no Diário Oficial da União em 2 de janeiro de 2019, alterou a estrutura e funções de algumas secretarias do Ministério da Educação. Dentre elas, a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão (SECADI) passou a se denominar Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (SEMESP) (BRASIL/MEC/ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, 2019).

26 Essa Secretaria foi extinta devido à reestruturação do MEC, e seus programas e ações foram vinculados a SECADI.

Quadro 2 - Instrumentos apresentados nas orientações do MEC/SECADI Formulário para a identificação da

superdotação Que contém uma lista de comportamentos a serem observados pelos professores, que em associação livre e de forma rápida, anotam os nomes dos alunos que apresentam as características listadas. A lista que consta no texto de Virgolim (2007) foi desenvolvida por Galbraith e Delisle (1996).

Lista de indicadores de superdotação Que foi elaborada por Delou (1987) e oferece parâmetros para a observação pelo professor (GUIMARÃES E OUROFINO, 2007).

Escala para Avaliação das Características Comportamentais de Alunos com Habilidades Superiores - Revisada

De acordo com Guimarães e Ourofino (2007), essa escala foi desenvolvida por Renzulli, Smith, White, Callahan, Hartman e Westberg (2000). Os professores verificam a frequência de determinados comportamentos do aluno e avaliam quesitos como aprendizagem, criatividade e motivação.

Indicadores de observação em sala de aula Desenvolvida por Guenther (2000), apresenta uma série de características a serem observadas. O professor nomeia dois alunos de sua turma, que se destacam nas áreas listadas no instrumento (GUIMARÃES E OUROFINO, 2007; MEC/SEESP, 2006).

Teste Torrance do Pensamento Criativo Que avalia a produção criativa do aluno. Este teste criado por Torrance foi adaptado para a realidade brasileira por (Wechsler, 2002). Trata-se um teste que somente pode ser aplicado por psicólogos (GUIMARÃES E OUROFINO, 2007).

Questionário preliminar de triagem de

superdotados Para observação das características gerais do aluno. Trata-se de uma ficha individual na qual o professor assinala, dentre as características listadas, aquelas que foram observadas (MEC/SEESP, 2006).

Fonte: Virgolim (2007); Guimarães e Ourofino (2007); MEC/SEESP (2006).

Quanto à análise dos instrumentos apresentados nas orientações do MEC/SECADI para a identificação dos indicadores de altas habilidades/superdotação/talento esportivo, que são relativos à capacidade psicomotora, verificou-se o seguinte:

a) O Formulário para identificação da superdotação apresenta características a serem observadas pelos professores, relativas aos aspectos comportamentais dos alunos. A lista com 24 itens pode auxiliar no trabalho, mas não descreve nenhum tópico diretamente relacionado às habilidades esportivas.

b) A Lista de indicadores de superdotação elaborada por Delou27 apresenta os

comportamentos a serem observados pelos professores, relativos à inteligência geral, pensamento criador, capacidade de liderança e capacidade psicomotora. Sobre a capacidade psicomotora existem os itens relacionados ao comportamento: “Comportamento observável: O aluno tem coordenação, agilidade, habilidade para participar satisfatoriamente de exercícios e jogos. Características comportamentais: Possui habilidade física” (DELOU, 1987, apud GUIMARÃES E OUROFINO, 2007, p. 57).

27 Acesso ao documento completo no link: <http://www.sed.sc.gov.br/documentos/orientacoes-sobre-educacao- especial-ano-letivo-2017/4857-anexo-d3-altas-habilidades/file>. Acesso em 22 ago. 2018.

c) A Escala para Avaliação das Características Comportamentais de Alunos com Habilidades Superiores - Revisada não está disponível no texto de Guimarães e Ourofino (2007). As autoras citam apenas exemplos dos itens que aparecem nessa escala que foi criada por Renzulli, Smith, White, Callahan e Hartman em 1976. De acordo com Virgolim (2014, p. 589), a escala (revisada em 2002) auxilia os professores a avaliarem as características comportais dos alunos nas seguintes áreas: aprendizagem, criatividade, motivação e liderança28.

d) Os Indicadores de observação em sala de aula desenvolvidos por Guenther (2000) encontram-se no texto do MEC/SEESP (2006, p. 25), e para auxiliar os professores na identificação das capacidades psicomotoras apresentam os seguintes itens de verificação: “23. Com melhor desempenho em esportes e exercícios físicos; 24. Mais habilidosos em atividades manuais e motoras”.

Cabe relatar que no decorrer desta pesquisa foi encontrada a seguinte informação, relativa à metodologia do CEDET que foi desenvolvida por Guenther (versão 2012):

Após criteriosa análise da prática, resolvemos remover do guia de observação em escolas os indicadores de Capacidade Física, por ser esse um domínio cuja pesquisa está muito avançada na área de educação física, conta com excelente instrumental para identificação de capacidade superior e modalidades de talento atlético, em crianças desde muito pouca idade, e raramente precisa ajuda da escola para detectar potencial em alunos (GUENTHER, 2013, p. 10).

É preciso indagar se ao excluir a observação das capacidades físicas o CEDET estaria deixando de prestar mais um valoroso serviço aos alunos/pessoas com talentos esportivos, pois sua metodologia é, certamente, um referencial para as práticas dos profissionais das escolas regulares.

e) O Teste Torrance do Pensamento Criativo, citado por Guimarães e Ourofino (2007), é prerrogativa dos psicólogos. De acordo com Wechsler et al. (2010) este teste utiliza indicadores emocionais e cognitivos de criatividade verbal e/ou figurativa (desenhos).

f) O Questionário preliminar de triagem de superdotados, do MEC/SEED (2006), apresenta uma lista com 38 características gerais a serem observadas pelos professores. Nenhum dos itens refere-se diretamente à capacidade psicomotora para os esportes.

A respeito dos instrumentos verificados, é relevante informar que foco da verificação foi especificamente a questão da capacidade psicomotora para os esportes, e que outros indicadores constantes nesses instrumentos são, também, importantes para a identificação dos talentos esportivos.

28 Foi encontrada uma versão da Scales for Rating the Behavioral Characteristics of Superior Students no endereço: <http://gifted.education.uconn.edu/wp-content/uploads/sites/612/2014/08/Scales-for-Rating-the-Behvioral- Characteristics-of-Superior-Students.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2018.

No Apêndice 3 são trazidos instrumentos relatados em dissertações e teses que constam na base de dados da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (BDTD-IBICT). A apresentação de uma compilação dos instrumentos localizados nas pesquisas foi considerada importante por constituir uma fonte de informação para futuros estudos e para o desenvolvimento do trabalho de identificação de alunos talentosos nos esportes. Os instrumentos não foram replicados, pois podem exigir direitos autorais para sua reprodução, mas podem ser encontrados nos documentos citados no anexo. Foi observado que as pesquisas que se referem a “altas habilidades ou superdotação” são aquelas que se utilizam da base teórica adotada pela Educação Especial, e os estudos relativos aos “talentos esportivos” estão mais próximos da área da Educação Física.

O Quadro 16 apresenta os instrumentos utilizados para a identificação de altas habilidades ou superdotação relatados nas teses e dissertações sobre altas habilidades ou superdotação (VIEIRA (2005); MARTINS (2006); REIS (2008); MARQUES (2010); ARAÚJO (2011); FERNANDES (2011); CHRISTOFOLETTI (2012); RANGNI (2012); MARQUES (2013); MARTINS (2013); ARAÚJO (2014); ARAÚJO (2014B); DREYER (2014); FERNANDES (2014); OLIVEIRA (2014); MENDONÇA (2015); MARTELLI (2017). O Quadro 17 apresenta os instrumentos para a detecção e seleção de talentos relatados nas teses sobre talentos esportivos (OLIVEIRA (1998); MASSA (1999); ALVES (2001); BERGAMO (2003); SILVA (2005); MASSA (2006); SILVA (2006); RÉ (2007); CÂMARA (2009); RODRIGUES (2009); ANTIPOFF (2010); MEIRA (2011); MONTEIRO (2011); FRANÇA-FREITAS (2012); BOJIKIAN (2013); MEDEIROS (2013); SANTOS (2013); LIGGERI (2014); NOGUEIRA (2014); PINHEIRO (2014); ROTHER (2014); SILVA FILHO (2014); FREITAS (2015); DUARTE (2017).

Os instrumentos verificados se serviram, basicamente, de três tipos de formulação: a nomeação pelos participantes, no qual são indicados os nomes de alunos que se destacam nas áreas de conhecimento constantes da lista; as escalas do tipo Likert, onde são assinaladas as observações para cada aluno por meio da escolha de alternativas com base no grau de concordância a uma afirmação (por exemplo, “sempre”, “quase sempre”, “às vezes”, “nunca”); e as listas de observação nas quais são assinaladas, para cada aluno, as afirmativas que representam as características observadas. A maioria dos pesquisadores utilizou instrumentos que se baseiam em orientações semelhantes àquelas apresentadas pelo MEC. Foram reproduzidos ou elaborados pelos pesquisadores por meio da adaptação das escalas de indicadores ou listas de características sobre AH/SD.

Oliveira (1998) relatou o uso de testes, questionário e inventário a serem respondidos pelos participantes, crianças e jovens de 10 a 14 anos, praticantes de futebol de campo. Os testes foram feitos para a avaliação das capacidades motoras (força, agilidade, flexibilidade, resistência, velocidade de reação e velocidade de deslocamento) e aptidão física (força- resistência abdominal, agilidade, força de preensão manual, mobilidade da coluna vertebral, resistência aeróbica, força explosiva dos membros inferiores, velocidade de reação ao estímulo visual e velocidade na corrida) dos respondentes (p. 76-79). Foram estudados também os hábitos de vida e a motivação para a prática desportiva. A análise das variáveis foi apresentada de acordo com a idade dos participantes. O autor indicou a presença de prováveis talentos desportivos, na faixa de idade de 10 a 14 anos, praticantes de futebol. A pesquisa constatou que “a variável velocidade apenas discrimina os mais jovens e a variável resistência de longa duração surge como discriminatória a partir dos 12 anos” (p. 143).

Bergamo (2003, p. 63-64) analisou o estado de maturação de atletas jovens; o comportamento do crescimento da estatura, peso corporal e gordura no período de adolescência e suas implicações no desenvolvimento metabólico durante a adolescência; as implicações e a treinabilidade das potências aeróbica, anaeróbia, da força, da velocidade e da agilidade das atletas. Além de um estudo longitudinal das características das atletas de basquetebol foi feita uma avaliação da variação individual que observou as características específicas de cada uma das posições do basquetebol. Para as medidas antropométricas, metabólicas, neuromotoras e maturacionais foram utilizados testes de aptidão física geral, desenvolvidos pelo Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul - CELAFISCS.

Nos estudos de Silva (2005), Santos (2013) e Pinheiro (2014) foi relatada a utilização de testes do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR), para avaliação das medidas somáticas (estatura, envergadura e massa corporal) e do desempenho motor (flexibilidade, força, agilidade e velocidade).

Em uma consulta no site do PROESP-BR foram encontradas as seguintes informações:

O Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR) é um observatório permanente de indicadores de crescimento e desenvolvimento corporal, motor e do estado nutricional de crianças e jovens entre 6 e 17 anos. Com o objetivo de auxiliar os professores de educação física na avaliação desses indicadores, o PROESP-BR propõe, através de um método, a realização de programa cujas medidas e testes podem ser realizados na maioria das escolas brasileiras. As informações enviadas ao site do PROESP-BR formam um banco de dados capaz de orientar estudos, sugerir diagnósticos e propor normas e critérios de avaliação da população escolar brasileira no âmbito do crescimento corporal e da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho motor (PROJETO ESPORTE BRASIL, s. d., s. p.).

Defende-se que este instrumento pode ser de grande valia para auxiliar os professores de Educação Física na identificação de talentos esportivos nas escolas. O site do PROESP-BR mostra que apenas uma instituição da nossa cidade, um clube privado, efetuou o registro de avaliações (82 avaliações). É significativo ponderar que os professores da rede pública municipal poderiam se valer do uso dos testes e medidas disponibilizados pelo PROESP-BR.

A pesquisa de Silva (2005) cita iniciativas do Ministério do Esporte para a detecção, seleção e desenvolvimento de talentos, dentre elas os Centros de Excelência Esportiva (CENESP) e o Programa Descoberta do Talento Esportivo. No endereço eletrônico do Ministério do Esporte verifica-se que o Programa:

É uma ação com a finalidade de identificar jovens e adolescentes matriculados na rede escolar que apresentam níveis de desempenho motor compatíveis com a prática do esporte de competição e de alto rendimento (MINISTÉRIO DO ESPORTE, s.d, s.p.).

O Programa faz referência às bases teóricas do PROESP-BR e apresenta a cartilha Descoberta do Talento Esportivo, de 2004, com formulários e instruções para a aplicação e análise da Bateria de Testes do PROESP-BR. No site existem muitas orientações para a identificação de talentos esportivos, inclusive na escola, para alunos de sete a catorze anos, mas somente aparecem ações relativas aos anos de 2004 e 2005.