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4.1 A ESCOLA ESTADUAL SANTOS DUMONT DE SUA FUNDAÇÃO AOS DIAS DE HOJE

4.1.1 Sobre a escolha e composição da turma

A proposta de intervenção pedagógica se deu nas turmas de 3º ano do ensino médio da referida escola, uma das mais antigas de Parnamirim, e como anteriormente citado, esta instituição nasceu no entorno da Base Aérea de Natal, para atender aos filhos dos militares na educação básica.

Tradicionalmente, a Santos Dumont se caracteriza como uma instituição de boa qualidade, tendo em vista a aceitação e a credibilidade conferidas pela população de Parnamirim e de outras localidades e há anualmente uma grande lista de espera de pais que vão à instituição em busca de uma vaga para seus filhos. Isso porque ela apresenta um histórico considerável de aprovação em vestibulares e no ENEM, bem como em exames realizados para admissão dos alunos no Instituto Federal do Rio Grande do Norte – IFRN ou na Escola agrícola de Jundiaí – EAJ, anualmente. Além disso, o número de evasão e desistência é muito baixo; geralmente os que o fazem apontam motivo de mudança para outras cidades ou dificuldade de acompanhar o ritmo da escola.

A organização e os bons resultados da escola em avaliações de desempenho, bem como em processos seletivos das instituições de ensino superior, sobretudo as federais, eram antes atribuídos à gestão partilhada da mesma com o Comando da Base Aérea de Natal. De maneira que muitos dos professores, coordenadores e gestores que passaram pela história da instituição eram militares da ativa e da reserva.

Em 2014, a escola deixa de ser uma instituição mista e passa para a total responsabilidade do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Tal dado acarretou várias mudanças institucionais, tanto no plano político pedagógico como na composição do quadro administrativo. Entre tais modificações, podemos apontar as de maior apreço ao desenvolvimento desta atividade, sendo i) a mudança das instalações físicas de dentro do comando da base área para o perímetro urbano da cidade de Parnamirim; ii) a escola passa de 12 turmas por turno de funcionamento para 20; iii) o quadro efetivo de professores, coordenadores e gestores e quase todo modificado.

Os apontamentos expostos vão direcionar para a principal mudança na composição da escola utilizada nesta atividade: a origem do alunado. Antes com uma dúzia de turmas, a Santos Dumont recebia poucos alunos de outras escolas. A maioria destes era matriculada na escola na 6ª série do ensino básico e, como fluxo natural, tais estudantes eram promovidos naturalmente para as séries seguintes. Deste modo, os alunos que ingressavam no ensino médio eram, com raras exceções, formados no ensino fundamental II da mesma. No

entanto, com a nova realidade de 20 turmas, a escola abre suas portas para alunos vindos de várias localidades e realidades de ensino diferentes. Desde os oriundos do ensino privado, como apontado anteriormente, aos de escolas públicas em situação de muita vulnerabilidade. Passou a receber alunos que sequer tiveram aulas de algumas disciplinas no ensino fundamental, os quais apresentavam os mais variados níveis de formação.

Um segundo ponto a ser considerado neste estudo é o fato de que a escola antes apresentava grande aprovação de alunos nos cursos na área de exatas no ensino superior, com destaque para os cursos de engenharias e licenciaturas em química, matemática e física. Hoje, a maioria dos alunos aprovados está nas ciências humanas, com destaque para o curso de letras língua portuguesa e literaturas, sobretudo na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. De modo que, nos últimos três anos, nove alunos participantes do projeto adentraram nessa licenciatura, na instituição supracitada.

Tais resultados deveriam, de alguma forma, facilitar um trabalho com literatura no ensino médio, mas isso não é uma realidade. Haja vista ser cada vez mais desafiador para o professor, sobretudo de linguagens, convencer e motivar o aluno a se debruçar sobre uma obra de maneira investigativa e experiencial, na atual era da informação. As experiências de leitura estão prontas e dispostas na internet, prontas para serem parafraseadas nas atividades em sala de aula. Deste modo, grande parte do que feito hoje nas aulas de literatura nas escolas é meramente ligado à informatividade. O objetivo é ser bem informado e atualizado essa obsessão pela atualidade, não traz sabedoria. Não gera uma experiência genuína de leitura para\com as obras. O que de alguma maneira justifica a escolha do 3º ano D para a realização da atividade.

Na verdade, o trabalho foi desenvolvido em todas as turmas concluintes do ensino médio, mas para critério de descrição, tal turma foi escolhida porque apresentava, de certa maneira, várias limitações que tornaram o trabalho mais desafiador. A primeira delas é o fato de metade dos estudantes nela matriculados serem de outras instituições de ensino, ou seja, não foram preparados na ―base‖ da nossa escola. Um outro fator a ser apresentado é o fato de a maioria considerável dos componentes da turma terem afirmado (na fase investigativa da atividade) nunca terem lido, escrito ou desenvolvido qualquer experiência de leitura com o texto literário, sobretudo o texto poético. Este mesmo grupo também apresentou o menor desempenho de notas nos dois bimestres anteriores ao desenvolvimento da atividade, apresentando inclusive bastante relutância em participar das aulas em que havia atividades de leitura, compreensão e performance dos textos poéticos. Por fim, o 3º ano D era a turma composta por mais alunos retidos (ou repetentes) na mesma série.

Numa tradição equivocada das escolas públicas com grande número de alunos, os estudantes ―mais interessados‖ acabam sendo reunidos nas primeiras turmas (geralmente A), os alunos ―intermediários‖ nas turmas intermediarias e, por fim, os alunos com mais ―baixo desempenho‖, maior idade e rotatividade (vindos de outras instituições) nas últimas turmas ofertadas (D, E, F e outras letras do alfabeto que apresentem distanciamento da primeira).

A nossa escola não foge a esta tradição. As últimas turmas acabam apresentando os alunos das mais variadas situações de origem e limitações. Acabam também sendo as turmas mais desmotivadas. Todavia, a escolha da turma do 3º ano D deu-se por um desafio profissional próprio, pois compreendo que, para o relato deste projeto de mestrado, todos nós (os alunos e eu) deveríamos estar expostos à dúvida presente na novidade. Deveríamos caminhar e construirmos juntos esta experiência de leitura literária poética para além da escola.

O 3º ano D, a turma escolhida para a descrição das atividades, inicialmente, estava composta por 36 alunos, 22 do sexo feminino e 14 do sexo masculino, todos na faixa etária média de 16 a 21 anos. Vale pontuar que, ao final do ano letivo, matriculou-se mais 1 aluno, que não foi contabilizado na atividade pediu transferência ainda no início do 2º bimestre. A maioria reside no município de Parnamirim, em bairros centrais ou próximos ao centro, exceto três alunos que moram em bairros periféricos (Nova Parnamirim, Emaús e Cajupiranga) e outros cinco, em municípios vizinhos (Monte Alegre, São José de Mipibu e Vera Cruz). São filhos de funcionários públicos das áreas da saúde e educação, profissionais liberais e outros (jardineiros, donas de casa, faxineiras, motoristas, contadores e advogados), com alguns desempregados e outros aposentados. Desses alunos, 03 vieram de escolas privadas de Parnamirim e Natal; os demais, de escolas públicas estaduais, municipais e uma parte considerável (16 alunos) tiveram sua formação de ensino médio completa na própria EESD, sendo frutos da própria escola. 02 alunos estavam retornando à escola para cursar apenas o 3ª ano do ensino médio.

Ao responderem a uma pesquisa prévia para a montagem do perfil da turma, um número de 16 alunos disse nunca haver mudado de escola; os que mudaram alegaram mudança de endereço, oferta de série/nível e/ou motivos pessoais. 18 alunos disseram escolher a Santos Dumont motivados pela qualidade do trabalho oferecido; os demais alegaram vontade dos pais, mudança de endereço ou ainda falta de condições financeiras para se manter em uma instituição privada. Do total de alunos, 20 disseram nunca ter repetido uma série e afirmaram ter sérias dificuldades em Matemática, Física, História, Geografia e Português, e maior facilidade em Educação Física e Biologia; os demais não quiseram

responder. Questionados sobre o gosto pela leitura e pela escrita literárias, 23 alegaram não gostar muito das duas atividades; disseram ler basicamente romances e textos enviados via redes sociais e escrevem só quando precisam fazer as atividades escolares. Para a escritura de textos, alegaram faltar paciência ou criatividade e/ou medo de não escrever ―correto‖. 03 alunos revelaram gosto pela leitura e escrita de textos poéticos. 08 alunos disseram gostar de ler, mas apenas dois afirmaram ler e escrever algo todos os dias. Os demais não se posicionaram ou não estavam presentes na enquete inicial. Mesmo assim, todos foram unânimes quanto à importância de saber ler e escrever com proficiência, sobretudo para ―se dar bem‖ na redação do Exame Nacional do Ensino médio. Quando perguntados sobre o que torna um texto poético 18 alunos responderam que é a linguagem. 10 não souberam responder.

A escolha da turma não teve como justificativa o nível intelectual ou outra característica que a colocasse como uma das melhores opções ao desenvolvimento das atividades. Como foi descrita anteriormente, era bem distinta de todas as turmas com as quais poderia dispor no ano 2018. Composta por um número considerável de repetentes, de certa forma indisciplinados, alguns muito faltosos e/ou pouco interessados em realizar as atividades e com consideráveis restrições vocabulares e dificuldades no componente curricular de Língua Portuguesa.

A seguir, o quadro com a identificação dos alunos, que foi feita por meio de numeração, idade, sexo e origem escolar.

Quadro 1 − Idade, sexo e origem dos sujeitos participantes da atividade

ALUNOS SEXO IDADE SÉRIE

ANTERIOR

REPETÊNCIAS

Aluno 1 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 2 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 3 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 4 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 5 Feminino 18 anos EESD 1

Aluno 7 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 8 Feminino 18 anos NOVATO 1

Aluno 9 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 10 Masculino 17 anos EESD 0

Aluno 11 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 12 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 13 Feminino 18 anos EESD 1

Aluno 14 Masculino 17 anos NOVATO 0

Aluno 15 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 16 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 17 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 18 Feminino 18 anos EESD 0

Aluno 19 Masculino 17 anos EESD 0

Aluno 20 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 21 Masculino 17 anos NOVATO 0

Aluno 22 Feminino 17 anos EESD 1

Aluno 23 Masculino 18 anos EESD 2

Aluno 24 Feminino 16 anos EESD 0

Aluno 25 Masculino 17 anos EESD 0

Aluno 26 Feminino 17 anos EESD 0

Aluno 27 Feminino 19 anos NOVATO 1

Aluno 28 Masculino 19 anos NOVATO 1

Aluno 29 Feminino 18 anos EESD 1

Aluno 30 Masculino 17 anos EESD 0

Aluno 32 Masculino 21 anos EESD 3

Aluno 33 Masculino 19 anos NOVATO 2

Aluno 34 Masculino 18 anos EESD 1

Aluno 35 Masculino 17 anos EESD 0

Aluno 36 Feminino 16 anos EESD 0

4.2 UM BREVE HISTÓRICO DA SOCIEDADE DOS POETAS VIVOS - SANTOS

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