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2. Uma proposta de método

2.6. Sobre a Fundação A e o Projeto B

A Fundação A foi criada em 1994, por meio de um grupo empresarial que lhe deu o mesmo nome, justificado pelo compromisso que o grupo tem com a sociedade brasileira, lutando pela redução da desigualdade e da injustiça social no país. Ao longo desses anos, foi ampliando investimentos, aprimorando suas estratégias de gestão, desenvolvendo modelos para a atuação social, estendendo o quadro de colaboradores, estabelecendo parcerias e,

principalmente aumentando o número de programas e projetos e, conseqüentemente, de atendidos.

A missão da Fundação A é promover a formação integral de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, por meio de programas e projetos desenvolvidos nas áreas de Educação, Saúde e Promoção Social113. As ações da Fundação A focam-se no atendimento de crianças e adolescentes na faixa de 0 a 17 anos e 11 meses, através de mais de 70 programas e projetos, na luta pela inclusão social e conquista da cidadania. Em 2004, a Fundação A realizou mais de 1.430.000 atendimentos. Espalhados por todo o país, a Fundação A conta com uma equipe de mais de 500 colaboradores, além dos inúmeros voluntários que participam de suas ações.

Como fonte de financiamento, a Fundação A conta com 1% do faturamento anual bruto de todas as empresas do grupo empresarial que lhe deu origem, o que em 2004 correspondeu a investimentos que chegaram a mais de R$ 16.300.000,00. Com a verba destinada pelo grupo e pelas parcerias, a Fundação A faz planejamentos em longo prazo e participação na execução e monitoramento de projetos sociais próprios ou em parceria com instituições de referência, universidades, órgãos governamentais e entidades privadas, nas áreas de educação, saúde e promoção social. Também apóia projetos de terceiros com o objetivo de torná-los auto-sustentáveis em médio prazo.

Para que isso seja possível, um de seus princípios fundamentais é o de estar sempre atualizada com novos métodos gerenciais e tecnologias que buscam o aprimoramento e a maior eficácia na ação social. Isso lhe confere o título de entidade de vanguarda no Terceiro Setor, tanto pela administração de ponta quanto pela atuação multidisciplinar, focada no atendimento integral de seu público-alvo. Inúmeros prêmios significativos no meio já lhe foram concedidos.

Três características marcam a Fundação A: a primeira é a de ter transposto a experiência empresarial (técnicas de gestão administrativa e financeira e o exercício do pensamento estratégico) para criar uma estrutura profissional e competente, capaz de combater os problemas sociais brasileiros, ou seja, está em constante sintonia com os métodos e tecnologias gerenciais de ponta. A segunda é ter se especializado na elaboração e organização de programas e projetos, na avaliação de resultados e na multiplicação dessas

113

A mudança principal na Fundação A foi ter abolido essa três áreas, para considerar que todas suas ações são desenvolvidas de forma integral através dos inúmeros programas e projetos. Isso continua em consonância com sua missão, com o adendo de que estas ações, somadas a rede de serviços públicos e privados dos demais atores sociais da comunidade em que atuam, criam condições objetivas de contribuir para a elaboração de um modelo de desenvolvimento local sustentável.

propostas, tendo como objetivo transformá-las em políticas públicas. A terceira é o princípio de reprodutividade, na qual a Fundação A desenvolve uma tecnologia social de vanguarda, que promove e testa programas e projetos, capacita pessoas, adotando modernas técnicas de formação de gestores, para que se possa reproduzir esses modelos testados e aprovados pelo Brasil para criar, influenciar e melhorar as políticas públicas. Como já citado, todas essas iniciativas já foram reconhecidas, premiadas e, no caso de alguns programas e projetos, transformados em políticas públicas.

O organograma da Fundação A é organizado da seguinte forma: no topo está o Conselho Curador, formado por acionistas do grupo empresarial (que lhe deu nome) e personalidades da sociedade civil, além da presidência assessorada por uma superintendência executiva e três coordenações de apoio às áreas programáticas – administração, relações institucionais e governamentais e comunicação. Os programas de cada área são subdivididos em projetos, geridos por coordenadores e equipes técnicas especializadas, encarregada de desenvolver e implantar as ações.

Isto significa que a Fundação A está organizada por coordenadorias (áreas programáticas) e núcleos de atendimentos (espaços construídos e planejados para a atuação das equipes multidisciplinar). As áreas abrangidas são: Educação, Saúde e Promoção Social. Para a implementação da ação, traça-se um diagnóstico na região onde o projeto será desenvolvido. Mobiliza-se a sociedade e voluntários para participarem. Durante a implantação e desenvolvimento, avalia-se o impacto social da ação e as possíveis correções nos rumos da ação. A equipe técnica multidisciplinar deve definir as propostas e pesquisar e desenvolver modelos que possam ser reproduzidos. Depois de testados e aprovados, a Fundação A se encarrega de sua disseminação, para multiplicar o alcance e o impacto social.

2.6.2. O Projeto B

O Projeto B que estudei localiza-se dentro da área de Promoção Social114. Ele faz parte, juntamente com outras 11 unidades que levam seu mesmo nome (mas numerados de 1 a

114

Nos documentos institucionais, ele está localizado na área de Educação. Mas em 2004, ele já fazia parte da área de Promoção Social. Com as mudanças de 2005 (já disponível no site), ele passou a ser considerado como pertencente a um dos inúmeros programas, a saber, o Programa C. Pertencem ao Programa C dez unidades espalhadas pelo Brasil (portanto, dois a menos que na configuração anterior). O objetivo do Programa C é desenvolver e implementar projetos de inclusão e construção da cidadania para crianças, adolescentes, famílias e comunidade, contribuindo para o desenvolvimento social sustentável, realizando atividades a partir de 7 eixos diferentes (que consiste no aperfeiçoamento das ações já praticadas anteriormente com as crianças e adolescentes, mas acrescendo o trabalho com as famílias, comunidade e jovens). O conteúdo desses eixos difere em vários pontos da descrição dos documentos institucionais e do material disponível no site em 2004. Como já mencionado anteriormente, adotei o ano de 2004 para análise (que estava disponível no site e ainda está nos documentos institucionais), pois entendo que essas mudanças ainda não estavam bem firmadas pelo Projeto B no

12), de um programa de inclusão social e construção da cidadania, que tem como objetivo oferecer oportunidades para o desenvolvimento social, educacional e emocional de crianças e adolescentes de zero a 17 anos de idade, em situação de risco pessoal e social, buscando a inclusão na sociedade e a construção da cidadania por meio da educação não-formal, com ênfase na arte-educação. Ações de promoção social junto aos familiares complementam as atividades desenvolvidas pelo programa. Segundo o site da Fundação:

Os Projetos seguem os princípios da arte-educação, utilizando o esporte e as atividades voltadas ao desenvolvimento da expressão artística - música, teatro, dança, desenho, artes plásticas, expressão corporal - para promover a auto-estima e a vivência de experiências motivadoras. Os jovens participam de oficinas e jogos pedagógicos. Também aprendem noções de higiene pessoal e recebem acompanhamento integral do seu desenvolvimento físico, motor e emocional.

O Projeto B estudado localiza-se na Grande São Paulo. O local onde o Projeto B está construído fica na mesma propriedade que a Fundação A. Não há separação entre ambos. De um lado fica a sede da Fundação A e do outro a construção do Projeto B, que tem salas, banheiros com duchas, um salão fechado e outro coberto, um espaço gramado que serve como campo, uma rua pavimentada que serve como quadra, uma sala com computadores e livros.

Atende-se 120 crianças de 7 anos à 17 anos e 11 meses dessa cidade da Grande São Paulo, divididos em três grupos etários, de Segunda à Sexta-feira, no período complementar à escola. Ou seja, uma turma na parte da manhã e outra à tarde.

O organograma do Projeto B é disposto da seguinte maneira: uma equipe técnica (coordenadora do projeto, coordenadora pedagógica e assistente social) e quatro educadores sociais. Por estar do lado da Fundação A, os funcionários que cuidam da limpeza, da cozinha e manutenção são os contratados da mesma. Cada um dos educadores desenvolve os próprios projetos idealizados, mas em consonância com o projeto anual que dá liga a todos os 12 Projetos.

período de 2005 que realizei as entrevistas. Apesar disso, deve-se reconhecer que as mudanças foram fruto, em parte, das ações dos atores institucionais das unidades do Programa C. Dada minha opção de privilegiar o ano de 2004, não descrevo o caráter de cada um dos sete eixos.

3. A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL NO DISCURSO DOS ATORES