• Nenhum resultado encontrado

3.2 Instrumentos e procedimentos da coleta de dados na ação-observação-

3.2.2 Sobre a Observação:

A observação sofreu a descrição concomitante, no diário de campo, por uma das professoras do grupo pesquisado. Foram registrados todos os momentos possíveis durante todas as intervenções, com especial atenção aos momentos considerados mais importantes conforme o roteiro previamente esboçado, com base no sugerido por Saraiva (2003)32. Esse roteiro servia como guia em meio a tantas informações advindas no momento da pesquisa, buscando perceber elementos como: impressões iniciais e características mais aparentes (horário de início da intervenção, condições físicas, ambientais, composição por gênero, etc.), dados estruturais/funcionais (rituais de chegada, conversa inicial e final, deslocamentos, participação das crianças, conteúdos trabalhados, materiais utilizados, etc.), momentos mais significativos (mediações entre o/a professor/a e as crianças, dificuldades, falas mais significativas, possíveis aprendizagens, etc.) e os

31

Ver anexo IV.

32

significados mais aparentes (presença de hierarquias, impregnação de modismos, juízos sobre dança, corpo e gênero, integração e exclusão de grupos, etc.). O registro do diário de campo não se resumiu em apenas descrição e avaliação, mas na obtenção do maior número de informações possíveis, dando ênfase ao processo na forma como as definições se formam e na forma em que os sujeitos/participantes se apresentam e representam diante das intervenções, tal como sugerem Bodgam e Biklen (1994)

Ao recolher os dados descritivos, os investigadores abordam o mundo de forma minuciosa. Sendo sensíveis aos detalhes do meio que nos rodeia e às presunções que nos guiam. Não deixando passar despercebidos os gestos, as palavras, as conversas, os olhares que utilizamos e as quais que nos cercam. Tendo a idéia de que no mundo nada que nos cerca é trivial, que tudo pode nos dar pistas que nos permitam compreender de forma mais esclarecedora o nosso objeto de estudo (p. 49).

Para auxiliar a observação e o registro das intervenções no diário de campo, usei uma filmadora e uma máquina fotográfica, que foram usados em todas as intervenções em momentos oportunos. Estes instrumentos representaram uma documentação visual e também foram utilizados como referências na maneira de

perceber a realidade apresentada. Silva (2003), em seu livro33, faz uma

consideração relevante sobre o uso das fotografias em seu estudo de campo. Ele utilizou a câmara

com intenção de produzir fotografias que se constituíssem em textos e narrativas sem palavras, mas com poéticas próprias e cujas metáforas se configurassem num certificado do real, numa demonstração da realidade. Porém, não se deve esquecer o caráter ambíguo que tem a fotografia, uma vez que pode ser, simultaneamente, sua realidade ou seu simulacro; por outro lado, às vezes a câmara nos revela coisas que o próprio olho não vê (p. 90). Por isso, me inspirou a idéia de que o/a pesquisador/a deve buscar exercitar seu olhar e sua postura de pesquisador observador que “fotografa e observa,

observa enquanto fotografa”34 (Idem, p. 87).

33

Trama doce-amarga (exploração do) trabalho infantil e cultura lúdica (Ver referências).

34

Silva (2003), nos alerta para a importância de socializarmos o resultado das fotografias com as crianças e a instituição envolvida, este cuidado reforça a idéia da relação sujeito-objeto, evitando assim o tratamento dessas crianças como coisas que se pode fotografar e descartar.

Após cada intervenção, eu usava as imagens obtidas pela filmagem e fotografias para complementar o registro feito no diário de campo. Desta forma, um instrumento complementava o outro.

A observação só aconteceu com sucesso devido à colaboração das professoras de sala (Beth e Valdinha) e da coordenadora pedagógica (Bel) que se disponibilizaram em participar desta pesquisa ativamente. Entre elas havia um rodízio, onde um dia uma delas registrava no diário de campo e a outra registrava com a filmadora e/ou a máquina fotográfica. A participação das professoras foi muito importante, porque elas podiam obter no momento da vivencia informações, falas, olhares, que eu nem sempre poderia ter em meio às intervenções.

No início da pesquisa, houve algumas intervenções em que só havia uma professora na sala, deste modo, esta ficava com a responsabilidade de registrar no diário de campo enquanto que eu tinha que propor as tarefas junto com as crianças, filmar e fotografar. Quando isso acontecia havia uma sobrecarga de trabalho dificultando muito o andamento das vivências, como descrevi no diário de campo:

Neste dia, a Beth não estava presente, então a Bel se prontificou em fazer o registro, a Valdinha ficou fotografando e filmando um pouco, eu tentei filmar em alguns momentos (não tinha tripé). Ficou um pouco tumultuado para eu dirigir as tarefas e filmar ao mesmo tempo. Eu não consegui participar das tarefas com as crianças, ficava só falando alto e não conseguia intervir com mais atitude em alguns momentos (17-06-2008).

Neste registro fica claro a importância das outras professoras na participação da pesquisa. Quando uma delas não estava presente havia uma sobrecarga de trabalho em alguma parte. Outra questão importante foi a minha participação junto às brincadeiras das crianças, visto que é muito mais interessante para elas quando as professoras podem estar fazendo parte das brincadeiras e não somente ficar “dando ordens”. Quando nós professoras participamos das brincadeiras com as crianças, temos mais noção do tempo e do espaço que estamos usando; ficamos sabendo com maior nitidez se as brincadeiras estão sendo chatas, divertidas, rápidas ou lentas. Além disso, podemos intervir com mais propriedade nas diferentes situações como as discussões, “briguinhas”, disputa de espaço, etc. (que estão sempre muito

presente durante as brincadeiras das crianças). Podemos também servir de referência para as crianças na hora de criar/experimentar situações que estas não estão acostumadas. E por último, nos aproximamos mais delas, isto transmite certa segurança no que estão fazendo, em si mesmas e em nós, pois elas se identificam conosco quando nos colocamos na mesma posição de inventar, experimentar, negar, etc.