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2 AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E O PROCESSO DE ENSINO-

3.3.2 Sobre P2

3.3.2.1 Sobre o questionário de P2

Analisando as respostas do questionário, podemos afirmar que P2 é de nacionalidade brasileira e não se dedica em regime de exclusividade ao ensino de espanhol. Trabalha há sete anos num CIL, por apenas 20 horas semanais. Aprendeu a língua espanhola em três instituições distintas (escola privada, escola pública-CIL e na própria universidade). Possui graduação em Letras Português/Espanhol, por uma instituição pública de ensino do DF, e pós- graduação, em nível de especialização em Literatura. Já viajou por países da América Latina, tais como Chile, Uruguai, Argentina e Peru.

P2 afirma utilizar o espanhol com a família e também os amigos. Confessa que suas maiores dificuldades de compreensão quando ouve um nativo se expressando recaem sobre as expressões idiomáticas. Ao questionamento sobre as estratégias que utiliza para manter sua atualização em E/LE, diz que se informa através de livros, revistas, cinema, músicas e Internet.

P2 acredita que a cultura de um país deve ser ensinada juntamente com a língua, porque “a cultura interfere na forma de organizar o pensamento”. Quanto ao tema principal do nosso trabalho – as EIs – diz inseri-las em sua fala regularmente “para mantener viva la fluencia o enfatizar contenidos (artificios extrañadores)”. Também acredita que é importante ensinar as EIs aos seus alunos porque “hace parte del uso corriente de la lengua”.

Quanto ao LD, P2 tem uma crítica a fazer, diz que o livro “exalta demasiado la manera peninsular de ser”. Afirma ainda não seguir à risca o LD: “insiro contenidos más cercanos a la realidad del alumno”.

O questionário aplicado a P2 cumpriu, sem maiores transtornos, seu principal objetivo de colher informações básicas a respeito da formação profissional, suas crenças acerca do LD, do ensino de cultura e principalmente sobre o uso e o ensino das EIs na sala de aula de E/LE.

3.3.2.2 Sobre a entrevista de P2

Para realizarmos a entrevista com P2, seguimos os mesmos critérios observados para P1, além dos ensinamentos de Marconi & Lakatos (2002) a esse respeito. Vale lembrar que também mantivemos um roteiro flutuante, no qual o cerne de cada questão foi mantido, sem

obedecer a uma ordem e estrutura exatas das perguntas e aproveitando o momento ideal para abordar cada tema dentro da macroestrutura.

Nessa perspectiva, a entrevista com P2 foi realizada em 18 de julho de 2007, por meio da qual tivemos a oportunidade de nos aprofundar em algumas questões que nos pareciam importantes como LD, ensino de cultura e especialmente das EIs.

Sobre sua relação com a língua espanhola, P2 revela que sua avó materna, com quem morava, era andaluza de nascimento e que chegou ao Brasil por volta dos quatorze anos. Em sua infância conviveu de perto com o espanhol, já não tão puro, falado pela avó, através de canções infantis, além das conversas do dia-a-dia, o que pode ter exercido alguma influência ao optar por dar aulas desse idioma.

Quanto aos seus dois empregos, P2 diz que trabalha durante o dia como técnico de um órgão público, onde tenta utilizar o espanhol nas publicações em sua área de atuação, e “à noite eu sou professor, e me dedico, éééé tento fazer o possível pra ser professor”.

Sobre o LD, P2 diz: “... eu não participei da escolha e é sempre tendencioso falar sobre o livro didático. A gente conhece hã muito material e o material perfeito não existe, porque cada caso, cada turma, dependendo da mentalidade, da formação da turma ééé seria interessante um trabalho específico pra eles. Então, eu preferia não estar muito preso a manuais, a livro didático, e sim construir uma modulação independente pra tentar suprir todas as deficiências dos alunos”. Sobre a forma como o LD se adequa ao ciclo avançado do curso, acrescenta: “geralmente são duas unidades por bimestre. Isso é bem, dividido durante os três anos, né? São nove unidades, teria que ser dez. Só no último ano é que são uma unidade e meia por bimestre”.

Ao perguntarmos a P2 se adotaria outro LD, a resposta nos remonta às preocupações de Moita Lopes (1996) sobre o deslumbramento de alguns professores brasileiros de LE com o universo do Outro. Diz que adotaria vários outros, mas: “...eu tentaria tirar a influência da [Espanha] /.../ dos materiais didáticos, porque nós somos latinos e tem muita coisa pra conhecer, pra descobrir do lado de cá. Eu não quero que o aluno pense como europeu. Ele tem que pensar como um brasileiro, ele tem que pensar como um americano. Lógico que é importante ele ser um cidadão cosmopolita, mas não estar restrito, ter Espanha como base. Ele tem que ter o próprio país, ele tem que conhecer a realidade dele”.

Quanto à utilização do LD, P2 se refere à condição sócio-econômica do aluno e afirma: “o livro didático é um recurso caro pro aluno e o aluno compra, até por respeito ao investimento que ele fez, eu sigo o que está ali, mas éééé eu tento aproveitar cada segundo cada espaço que eu tenho pra introduzir novas coisas”.

Como crítica em geral ao LD, P2 acredita que “eles exaurem demais os conteúdos /.../ O livro acaba ficando pedante, ficando cansativo e pouco interessante pro aluno de língua portuguesa”. Também lhe parece que o LD trata a gramática superficialmente, apesar de fazê- lo de uma maneira interessante. Para P2, “deveria vir um complemento gramatical para reforçar a aprendizagem de temas que já deveriam ser estudados no nível avançado, como complemento, suplemento, complemento circunstancial”.

Apesar de seguir o LD à risca, P2 diz tentar introduzir outras atividades quando lhe sobra tempo em sala. Sobre o que prioriza nessas atividades extras, diz: “o tempo é muito pequeno. Como não existe a capacidade do uso da língua falada, que é bem importante no processo de aprendizagem, então a gente tenta priorizar a parte de leitura para que o aluno aprenda vocabulário, para que ele aprenda a trabalhar com palavras-chave de contexto e pra que ele tenha é é um conhecimento melhor da estrutura e de como a língua possa ser utilizada em benefício dele”. Além da leitura, P2 também utiliza a música como forma de introduzir cultura em sala “porque aprender só por aprender uma língua? A língua tem que apresentar facilidades, tem que apresentar algo atrativo pros alunos”.

Quando perguntamos a P2 o que mais lhe dificulta o entendimento com nativos, menciona a velocidade com que eles falam, “além a cultura, obviamente o vocabulário de uma região”. Sobre um episódio específico de uma viagem que fez ao Chile, P2 relata: “no centro de Santiago éééé um humorista falando e uma roda muito grande de gente em volta. Então, o desenrolar da história dele ali, as pessoas rindo bastante, e você achando muito pouca graça, devido às expressões do vocabulário coloquial deles. Eu diria que ali tinha uns 30% de espanhol, o resto era coisa deles lá”. Nessa perspectiva, P2 acredita que não é necessário conhecer as expressões idiomáticas, apesar de notarmos uma certa confusão no que define como simples vocabulário e expressões idiomáticas. Ainda assim, P2 afirma que não é difícil entendê-los, que “você consegue se comunicar sem necessidade de usar aquelas expressões”, mas que “pode haver um ato falho, pode haver uma ofensa, sem você perceber que está sendo ofendido”.

Ainda sobre cultura, P2 acredita que é um elemento importante no ensino- aprendizagem de LE, afirma: “cultura, é uma das principais formas de organizar o pensamento” e acrescenta uma pergunta: “Como que eu vou ensinar uma língua se a pessoa que está aprendendo não vai conseguir pensar e raciocinar como nativo daquela língua?”. Ao perguntarmos se existe uma programação prévia para inserção da cultura no curso, P2 deixa transparecer que aborda os temas que o LD oferece, sendo a programação do LD a

programação do curso: “Todo material didático em espanhol, é voltado pra isso. Eles se preocupam muito com isso”.

Sobre as EIs, quando quisemos saber se há um lugar reservado para o seu ensino, P2 se refere ao LD: “Esse método, ele é muito bom, porque ele tem uma seção em cada, em cada unidade chamada Dimes y Diretes que é expressão idiomática. Eu já trabalhava isso antes de usar esse método, puxando joguinhos da Internet” /.../ “Muito bom, mas só que são expressões idiomáticas da Espanha”. P2 relata ainda que usa a seção “Dimes y Diretes” para desenvolver uma atividade muito conhecida na qual dá uma parte do refrão e o aluno tenta descobrir a outra que falta. P2 concorda que o LD já trabalha bem questões dos fraseologismos, porém sempre enfatizando a cultura peninsular. Diante das declarações de P2, podemos confirmar mais uma vez que a seqüência das unidades do LD acaba por servir de guia orientador do programa do curso.

Diante do exposto, lhe perguntamos se não seria viável então um trabalho com os fraseologismos da América Latina, ao que P2 respondeu que “não é uma questão muito fácil” e que “a Internet te dá isso. Você entra em sítios específicos de Hispanoamérica, de modismos, né? E você já nota tudo isso. Então, dependendo do uso que você queira fazer, se você for viajar pra um país determinado, entra lá e dá uma olhada nos neologismos e não vai chegar lá [totalmente ingênuo]”. As afirmações de P2 nos levam a acreditar que, em sua opinião, as EIs não mereceriam uma atividade específica para trabalhá-las, levando em consideração as três etapas proposta por Conca (2005): localização e compreensão das UFs, memorização das UFs e reutilização das UFs. P2 acrescenta que quando trabalha com as EIs, não costuma traduzir, “mas a gente tenta empregar a expressão idiomática em uma situação conhecida do aluno” e que incentiva a pesquisa.

Entretanto, quando perguntamos se costuma utilizar as expressões idiomáticas em sua fala comum em espanhol, confessa que não, afirma: “devido ao distanciamento, a gente usa pouco. É uma falha que eu sinto. Devia usar mais”. P2, ao revelar que tem uma boa relação com as EIs na língua materna (português), deixa transparecer uma certa confusão entre dialeto, vocabulário específico de uma determinada região e expressões idiomáticas, mesclando-as com termos isolados e com combinações livres, tais como: “tunda”; “andar de a pé”; “andar de a cavalo”; “ter cheque de ouro do Banco do Brasil”. Quanto ao fato de uma EI ajudar na comunicação, P2 demonstra certa reserva com o assunto, advertindo que “se ela for popular, ela ajuda. Se não for, complica. Vai depender do público”.

Quanto à variante de espanhol que P2 pratica, diz:“você acaba se tornando aquilo que você tem contato” e acrescenta: “o meu espanhol, é um espanhol de “hispanoamérica”. É

uma mistura de espanhol cubano, espanhol mexicano, peruano, e por que não dizer até chileno, também? Aí dá outro país ((risos))”.

Saber em qual abordagem de ensino P2 se enquadrava era muito importante para nossa pesquisa, para termos uma idéia de como eram trabalhadas as expressões idiomáticas em sala de aula. Sobre o assunto, P2 afirma: “eu tento preparar o aluno pra ser um vencedor, pra fazer a diferença, pra ser uma pessoa brilhante”. Admite que esbarra na questão da estrutura maior que é uma escola e que por isso ”infelizmente, atuando nessa instituição, não dá pra ser cem por cento comunicativista”. Para resumir sua opinião sobre o tema, P2 diz que “eu me considero é é setenta por cento comunicativista e trinta por cento estruturalista, até pra manter a pose, andar de bem com a escola”.

Ao final da análise da entrevista de P2, é possível traçar seu perfil como um professor que não se dedica ao ensino de espanhol em regime de exclusividade, dividindo suas atenções e preocupações com a outra área em que atua no serviço público. É um profissional que, em sua opinião, “o espanhol, ainda falta um pouco pra chegar lá, mas pouco a pouco, chega” e que se considera uma mescla de comunicativista (70%) e estruturalista (30%). Segue o LD à risca e tenta inserir outras atividades extra quando lhe alcança o tempo. Acredita na eficácia do ensino da cultura juntamente com a LE. Apesar de demonstrar pouca intimidade com as expressões idiomáticas, poderíamos dizer que P2 tenta incluí-las em sua prática docente, mesmo porque o LD adotado facilita essa tarefa, já que esse material didático enfatiza bastante o ensino dos fraseologismos.

3.3.2.3 Sobre as aulas de P2

Tivemos a oportunidade de observar quinze aulas de P2, sendo sete delas constituídas de dois horários seguidos (duplos), perfazendo um total de vinte e duas aulas. Como instrumentos de pesquisa, foram utilizadas anotações de campo e gravação em áudio. Apresentamos a seguir um quadro-resumo dessas atividades.

Tabela 5 – Observação das aulas de P2 Data Atividades Desenvolvidas

30/04/07

aula dupla - Conversa informal sobre informática, na língua-alvo. - Correção da página 214 do livro didático sobre expressões idiomáticas e explicação de algumas delas por parte do P2.

- Explicação sobre os pronomes de tratamento.

- Realização de atividade da página 216 sobre bons e maus modos.

- Realização de atividade da página 217 sobre os costumes de alguns países. 02/05/07 - Solicitação aos alunos que tragam listas de costumes/exotismos de alguns países.

- Leitura de pequenos textos da página 218.

- Discussão sobre o trabalho cultural com comida, dança, canto e trajes típicos, valendo nota, a realizar-se ao final do semestre.

07/05/07

aula dupla - Correção de atividade da página 219 do livro didático, sobre léxico. - Realização de atividade da página 220 do livro didático, sobre comportamento. - Explicação por parte de P2 de algumas expressões idiomáticas.

- Realização da atividade auditiva da página 221, sobre música de Joan M. Serrat. - A partir da canção, explicação do termo “cantautor” e quais deles existem no Brasil. - Explicação sobre as comunidades autônomas espanholas.

- Leitura das listas de curiosidades sobre alguns países, pesquisadas na Internet por alguns alunos.

- Realização de atividade sobre léxico da página 222.

- Realização de atividade sobre bons e maus modos, da página 223 do livro didático. 09/05/07 - Realização de atividade da página 224 sobre alguns verbos.

- Explicação de P2 sobre esses verbos.

- Realização de outros exercícios sobre os verbos vistos, na página 224. - Realização de atividade da página 226 de compreensão leitora. - Explicação de P2 sobre os ciganos.

14/05/07 aula dupla

- Apreciação/correção da prova escrita referente ao bimestre anterior.

- Realização de atividade da página 227 do livro didático sobre a expressão da finalidade. - Continuação de leitura por parte dos alunos sobre as curiosidades encontradas na Internet. - Realização de atividade para desenvolvimento da oralidade, página 228.

16/05/07 - Correção de exercício sobre cobre compreensão leitora e desenvolvimento da escrita, da página 229.

- Realização de atividade de abertura da unidade 9, página 230 do livro didático.

- Fala de P2 sobre religiosidade, tema da unidade, trazendo ao conhecimento dos alunos algumas curiosidades a esse respeito.

- Realização das atividades 1 e 2 sobre léxico, da página 231 do livro didático. - Fala de P2 sobre as notas da prova do bimestre anterior

- Realização de atividade sobre léxico, da página 232. 28/05/07

aula dupla - Fala de P2 sobre religiosidade e costumes, estabelecendo uma relação com a mistura de raças no Brasil. - Continuação das atividades com termos e expressões idiomáticas sobre religião, da página 231.

- Leitura de poesias feitas pelos alunos, a pedido de P2.

- Fala de P2 sobre alguns detalhes a respeito do trabalho cultural final que os alunos deverão realizar ao final do curso.

30/05/07 - Realização de atividade sobre léxico referente à religião, da página 235.

- Explicação de P2 sobre apócope e elaboração de frases como exemplo por parte dos alunos. - Fala de P2 sobre elementos do folclore brasileiro, como Saci Pererê, Boi-tatá, Negrinho do Pastoreiro e Uiara.

- Explicação sobre os pronomes relativos, constantes da página 236. 04/06/07

aula dupla

- Atividade com vistas à prática da “pasiva refleja”, página 238. - Discussão acerca das datas comemoradas universalmente.

- Explicação sobre os santos que têm seus nomes apocopados em espanhol. - Uso de dicionário para busca de significado de um termo.

- Duas alunas falam por longo tempo, em português, sobre a organização da festa de encerramento do curso.

- Continuação de leitura das poesias feitas pelos alunos.

- Realização de atividade da página 240 sobre a função de cada santo na Igreja Católica. - Realização de atividade da página 241 sobre algumas expressões utilizadas.

- Audição de um tango como exemplo do que se poderia cantar na festa cultural a ser realizada. 06/06/07 - Fala de P2 sobre a fundação do cristianismo e do budismo.

- Realização de atividade da página 242 sobre os costumes de cada país.

- Leitura de pequenos textos escritos pelos alunos sobre os possíveis motivos da diversidade religiosa.

11/06/07 aula dupla

- Fala de P2 sobre os preparativos para a festa cultural a realizar-se ao final do curso.

- Fala de P2 sobre a importância da gramática para uma língua e explanação sobre a colocação pronominal.

orações consecutivas.

- Solicitação aos alunos que falem um pouco das tradições de seu lugar origem ou de seus país. - Realização de teste.

13/06/07 - Audição da canção “Por quien merece amor”, de Silvio Rodríguez. - Projeção de vídeo sobre música e dança mexicana.

18/06/07 aula dupla

- Conversa sobre receitas e indicação de sítios na Internet, com vistas à festa a realizar-se ao final do semestre.

- Realização de atividade da página 245, baseada na expressão idiomática “No se te vaya el santo al cielo”.

- Realização de atividade da página 246 acerca de expressões idiomáticas de cunho religioso. - Esclarecimento sobre as expressões vistas.

- Explanação sobre expressões e termos oriundos do latim.

- Audição de várias canções com vistas à festa a realizar-se ao final do semestre. 20/06/07 - Conversa sobre pratos típicos e canções a serem apresentados na festa cultural.

- Continuação de atividade da página 246 sobre expressões idiomáticas de cunho religioso. - Discussão em pares sobre os temas oferecidos por P2 para prova oral.

27/06/07 - Prova oral – Exposição em pares sobre temas religiosos.

Para analisarmos as aulas de P2, mantivemos como ponto de partida as recomendações de Krashen (1982) de que para a aprendizagem ter sucesso, a sala de aula deve contar com dois aspectos fundamentais: baixo filtro afetivo e insumo compreensível. As aulas de P2 transcorreram em um ambiente fisicamente desfavorável (24 m2 aproximadamente). Os vinte e dois alunos que compõem a turma estão distribuídos em um espaço físico demasiado pequeno para acolher esse número elevado de pessoas. Não se nota uma sensação de comodidade no comportamento dos alunos, fazendo comque as reações pareçam previsíveis e por mera obrigação. A impressão que se tem é que não há algo que os motive de verdade. Para Almeida Filho (1998), a motivação é uma das configurações específicas da afetividade. Entretanto, ao serem interrogados com relação às atividades propostas por P2, obtivemos dados que nos parecem equilibrados, como podemos notar a seguir: 54% dizem que estão dispostos a participar, pois as atividades parecem motivadoras; 14% dizem não estarem dispostos a participar, pois as atividades parecem entendiantes; 27% participam por mera obrigação; e 5% dizem que depende da atividade.

Não há uma manifestação espontânea em relação à língua-alvo por parte dos alunos. Na maioria das vezes, se pronunciam, seqüencialmente, quando interrogados ou chamados a participar de alguma maneira. Quando o assunto não diz respeito às atividades, se comunicam em português, em conversações paralelas. Apesar do nível ser considerado avançado, parece haver um certo incômodo que impede que os alunos se comuniquem na língua-alvo com desenvoltura, ainda que venham a cometer erros, como é natural na fala do aprendiz.

P2, ainda que com sua figura austera e de tom de voz impactante, esforça-se para descontrair o ambiente com comentários mais amenos, como pudemos comprovar em uma

aula realizada em 07 de maio de 2007, ao explicar o significado do termo “gil” em espanhol. Vejamos o excerto a seguir:

P2: Y ¿qué sería un gil? Que no es el ministro de la cultura. Incluso es motivo de chisme en Argentina: Brasil tiene un “gil” en ministro, como ministro de la Cultura. A ver cómo andan las cosas allá. “Gil” es forma apocopada de ((esperando que os alunos completem seu pensamento)) gi-li-po-lla. “Gilipolla” es un tonto. Una persona que llamamos aquí de idiota, “babaca”, ¿no? Entonces es “gil”, de gilipolla. A veces dicen que eso es lenguaje de lunfardo. Lunfardo cosa ninguna. “Gil” es forma apocopada de gilipolla.