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Tipologia: Uma Classificação Externa das Expressões Idiomáticas

2 AS EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS E O PROCESSO DE ENSINO-

2.7 As Expressões Idiomáticas (EIs)

2.7.2 Tipologia: Uma Classificação Externa das Expressões Idiomáticas

Quanto à classificação externa das EIs25, Zuluaga (1980) prioriza o seu valor

semântico funcional no discurso, isto é, a função sintática que elas exercem na oração. O autor toma como ponto de partida o esquema de Casares (1992 [1969], p. 170) – veja-se o quadro resumo no item 2.3 – bem como sua definição para locução que afirma serem combinações estáveis (fixas) de dois ou mais termos que funcionam como elemento oracional.

Partimos então das classificações de Casares (1992 [1969]), Zuluaga (1980), Carneado & Tristá (1985), Corpas Pastor (1996) e Ortiz Álvarez (2000) para elaborarmos a nossa própria. Por adotarmos o termo expressão idiomática e não reconhecermos como tal algumas daquelas categorias propostas por Casares (op. cit.) e Zuluaga (op. cit.), estas não constarão em nossa classificação.

Dessa maneira, descartaremos o que Zuluaga (op. cit) coloca como locuciones prepositivas (a ras de; em aras de; en son de; a flor de; en torno a; a punta de; en cuanto a; a pesar de; en pos de; de acuerdo con; a través de).

Do mesmo modo descartaremos as locuções conjuntivas propostas por Zuluaga (1980) (así y todo, con todo y que, como quiera que, siempre y cuando, con tal que, no obstante). Em nossa opinião, essas são locuções não idiomáticas e acabam por fazer parte, automaticamente, da programação de um curso de espanhol, juntamente com os outros temas gramaticais obrigatórios para o bom domínio da língua-alvo.

Ortiz Álvarez (2000) considera da categoria das conjuntivas apenas aquelas que guardem em seu conjunto algum valor total semântico, impossibilitando o seu entendimento por meio de seus componentes separadamente. Ao observarmos os exemplos dados por essa estudiosa da fraseologia, tais como nadar y guardar lar ropa (ter cautela), entendemos que uma expressão dessa natureza também poderia ser incluída no grupo das EIs verbais, sem que isso causasse nenhum transtorno. Igualmente, nos casos de no se puede estar en misa y procesión (não se pode fazer duas coisas, ou estar em dois lugares ao mesmo tempo), com a faca e o queijo na mão (em português) e muita galinha e pouco ovo (em português), também poderiam ser incluídas no grupo das EIs nominais. Assim sendo, não vemos a necessidade da criação de uma categoria específica para as conjuntivas.

Vejamos a seguir as características morfológicas que as EIs podem assumir num dado contexto.

Expressões idiomáticas verbais

Uma EI verbal é aquela na qual há entre seus componentes a presença de pelo menos um verbo, atuando como tal, cujo papel principal é especificar o número, a pessoa, o tempo, a conjugação. Em outras palavras poderíamos dizer que seu papel é o de esclarecer o significado lexical. Nessa perspectiva, esse componente pode encontrar no sistema léxico da língua um único verbo que o defina. Vejamos o exemplo da expressão echar una mano (em português, dar uma mão), que pode perfeitamente ser substituída pelo verbo ayudar (em

espanhol) / ajudar (em português); estirar la pata (em português, bater as botas) pode ser substituído pelo verbo morir (em espanhol) / morrer (em português); meter la pata (em português, dar um fora) pode ser substituído pelo verbo equivocarse (em espanhol) / equivocar-se (em português); poner pies en polvorosa pode ser substituído por escapar/huir (em espanhol) / escapar/fugir (em português); tomar el pelo (a alguien) pode ser substituído por bularse (em espanhol) / burlar-se (em português).

No caso de Hacerle la pelota a alguien, (ex.: “Deja de hacerle la pelota al jefe”), que significa puxar o saco, em português), notamos a presença do actante26 “a alguien”, assim

como o pronome “le” funciona como um enfático de “alguien”, o que é perfeitamente comum em espanhol, mais especificamente da língua falada. Em debate promovido por ocasião do I Colóquio Galego de Fraseoloxía, Martínez Marín (1998) não concorda com sua aparição, a não ser que esteja entre parênteses, pois na realidade esse “a alguien” não seria parte integrante da UF. Segundo o autor, deve aparecer entre parênteses, pois dessa forma estaria claro que esse elemento não é fixo da UF, podendo variar de acordo com a pessoa envolvida.

Mellado Blanco (1998) não concorda com a posição do Prof. Juan Martínez Marín de que os actantes obrigatórios não sejam parte integrante da UF. Para essa estudiosa, é de fundamental importância que integremos os actantes, pois se não o fizermos, o fraseologismo estará incompleto e pode induzir ao seu uso incorreto. Concordamos com a Profª. Carmen Mellado Blanco (1998), pois não é correto dizer yo hago la pelota (em espanhol), Eu puxo o saco (em português), sem dizer de quem. Ao inserirmos “a alguien”, estamos de certa forma alertando ao usuário, especialmente ao não nativo, que quem hace la pelota (em espanhol), puxa o saco (em português), obrigatoriamente tem que ser a alguien (espanhol) / de alguém (em português).

Ainda tratando de esclarecer a presença de uma pessoa ou de um objeto, vinculado à ação, seja um objeto indireto ou um objeto direto preposicionado (objeto directo de persona, em espanhol), não podemos deixar de mencionar o caso do pronome reflexivo “se”. Tomemos hacerse añicos, como exemplo. É de fundamental importância a presença do pronome

reflexivo “se” ao apresentarmos uma UF como essa, pois assim estaríamos advertindo ao falante – lembre-se a dificuldade do não nativo em manipular a LE – que se trata de um verbo utilizado de maneira reflexiva. Do contrário, um falante sem o devido preparo poderia dizer El espejo cayó e hizo añicos (fazer-se em mil pedaços, em poruguês), quando deveria dizer El espejo se cayó y se hizo añicos. Se levarmos em consideração a condição de um aprendiz

26Actante se refere às pessoas ou objetos que participam do processo expresso pelo verbo, quando se trata de

brasileiro, sem o que poderíamos chamar de “intimidade” com o uso dos pronomes, chegaremos à conclusão de que não se trata de nenhum exagero nos cuidados, senão de uma estratégia didaticamente necessária.

• Expressões idiomáticas com o particípio hecho (em espanhol) / feito (em

português)

A princípio, Casares (1992 [1969]) nos chama a atenção para o fato de que uma EI desse tipo, começada obrigatoriamente pelo particípio de hecho (a), em espanhol / feito (a), empregando-se como complemento nominal de verbos de estado, ou em construção absoluta, poderia se encaixar tanto entre as expressões idiomáticas adjetivais quanto entre as verbais. Entretanto, são diferentes daquelas, pela sua estrutura, pelo seu significado e pela sua função.

Esse autor nos adverte que não é igual se parecer com algo, ser algo ou se transformar em algo. Em seu exemplo, una viuda “estaba hecha un mar de lágrimas”,podemos notar que não seria o mesmo se disséssemos una viuda “estaba como um mar de lágrimas”. Casares (1992[1969]) estabelece uma prova para termos a confirmação de que estamos diante de uma expressão idiomática de particípio: se ao realizarmos a substituição de hecho(a) para como não obtivermos uma mudança de sentido, com certeza não se trata de uma expressão idiomática de particípio.

Também não se trataria de uma expressão idiomática de particípio o caso de “La pérdida del empleo me hizo polvo”, em espanhol (essa expressão relata o fato de alguém ser

reduzido a pó, a nada, por algum acontecimento – nesse caso, o de haver perdido o emprego). O verbo hacer no formato em que vimos, hizo – pretérito imperfecto de indicativo, em espanhol – não confere à expressão a condição de expressão idiomática de particípio, justamente pelo fato de hizo não se tratar de particípio. O verbo obrigatoriamente tem que se apresentar sob a forma de particípio, podendo apenas variar quanto ao gênero masculino ou feminino.

• Expressões idiomáticas nominais

As expressões idiomáticas nominais são aquelas que apresentam um valor categorial de substantivo. São, de uma maneira geral, compostas morfologicamente de um substantivo e um adjetivo, ou de um substantivo e um sintagma prepositivo.

la oveja negra de la familia refere-se à pessoa que atua de maneira diferente dos outros membros, causando-lhes vergonha; um equivalente em português, ser a ovelha negra da família. Exemplo em espanhol: "Las ovejitas negras no nacieron así, sino que se fueron formando de esta manera de acuerdo a su entorno social", explica la psicóloga Ramona González Gutiérrez (http://www.transformacionhumana.com/TERAPIAPSICOLAGICA/ OvejasNegras/).

mala leche refere-se ao mau caráter, à má índole, à má intenção de alguém. Exemplo em espanhol: “Siempre hay un cabrón mala leche que te arruina la vida” (http://malasleches.blogspot.com/2007/08/la-historia-de-sebastian-y-el-gordo.html).

Vejamos alguns exemplos do segundo tipo: substantivo + preposição + substantivo:

cero a la izquierda refere-se àquele que não tem valor para os demais; seu equivalente em português, zero à esquerda. Exemplo em espanhol: “¿Sabéis lo que es sentirse como un cero a la izquierda? Sería lo más parecido a como se sienten los huesos de las aceitunas…”

(http://www.yotambiensoybea.com/diariodeunafea/2007/06/justos_o_ pecadores miercoles_2.html).

lágrimas de cocodrilo refere-se àquelas que vertem alguém, fingindo uma dor que não sente, ser falso; seu equivalente em português, lágrimas de crocodilo. Exemplo em espanhol: “Las clásicas lágrimas de cocodrilos son las que están derramando Ortega Saavedra y sus comparsas por las desgracias que hoy sufren nuestros hermanos mismitos…” (Nicaragua Hoy, edição digital, 10/09/2007).

Também é possível encontrarmos, ocasionalmente, a união de dois substantivos ao mesmo tempo. Vejamos alguns exemplos:

tira y afloja refere-se ao embate entre duas partes, no qual se sucedem ações alternadas de ambas e que, por vacilo de uma delas, a disputa chega ao fim, com prejuízo para uma e êxito para a outra; seu equivalente em português, ser uma situação um estica e puxa. Exemplo em espanhol: “Entre tira y afloja, Evo y EEUU intentan hablar de mercados” (La Razón, edição virtual, 17/03/2006).

la flor y nata refere-se ao melhor, ao mais escolhido, de mais categoria; seu equivalente em português, a fina flor. Exemplo em espanhol: “Esa familia pertenece a la flor y nata de la sociedad” (DRAE).

Nessa categoria das EIs, encontram-se aquelas que Zuluaga (1980) denominou locuções com fixação metalingüística, como é o caso de el que dirán, que se refere a uma angustiante preocupação com o que podem pensar e dizer os outros. Exemplo em espanhol: “Por temor “al qué dirán” el abuso sexual infantil se silencia en las clases más altas” (Perfil.com, edição digital, 26/08/2007).

• Expressões idiomáticas propositivas

Também conhecidas por expressões idiomáticas clausais (de cláusula), entendemos como aquelas formadas por vários sintagmas, nas quais pelo menos um deles é constituído por um verbo. São cláusulas compostas de um sujeito e um predicado, que expressam um juízo, uma proposição.

Para Corpas Pastor (1996), esse tipo de combinação não pode ser considerado uma oração completa por dois motivos: a) necessitam atualizar algum actante no discurso em que estão inseridas, como no exemplo em espanhol Írsele el santo al cielo (a alguien), que se usa para expressar que alguém se esqueceu de dizer ou fazer alguma coisa (Ex.: “Al pobre Gabo se le fue el santo al cielo, se olvidó de San Isidro y se quedó sin entradas”). O actante entre parêntesis (a alguien) é uma casa vazia que precisa ser preenchida, informando o objeto indireto, na estrutura da língua espanhola, a quem se le fue el santo al cielo, que nesse

exemplo corresponde a Gabo; b) são cláusulas que se restringem a funcionar como elementos oracionais e carecem de força ilocucionária, como por exemplo como quien oye llover, (Óyeme como quien oye llover, ni atenta ni distraída...” – Octavio Paz), que se usa para expressar a falta de caso de alguém quando escuta ou ocorre alguma coisa. Nesse exemplo, o verbo oír (ouvir) em imperativo é que vai indicar de quem é a falta de caso e, assim, completar a oração.

• Expressões idiomáticas adjetivais

Esse tipo de EI desempenha papéis básicos de atribuição e predicação, modificando- as, como os adjetivos comuns. Podemos encontrá-las com as seguintes formações:

• Prep. + subst. + adjet.

- del tiempo de Maricastaña refere-se a um tempo muito distante que ninguém mais se

lembra; equivalentes em português, do tempo do bumba, do tempo do onça. Exemplo em espanhol: “Mi abuelo siempre cuenta cosas del tiempo de Maricastaña” (Dic. Señas).

- de capa caída refere-se a padecer grande decadência em bens, fortuna ou saúde; estar decaído. Exemplo em espanhol: “El dólar seguirá bajando y está de capa caída” (La República, edição digital, 11/08/20007).

• Prep. + subst.

- de película refere-se a algo sensacional, maravilhoso, inacreditável; seu equivalente em

português, ser uma coisa de cinema. Exemplo em espanhol: “Tiene una casa de película” (http://www.wordreference.com/definicion/pel% EDcula).

Prep. + particípio + subst.

- entrado en años refere-se à pessoa de idade avançada. Exemplo em espanhol. “Su abuelo

era un hombre entrado en años” (Dic. Señas).

Adj. + adj.

- corriente y moliente diz-se daquilo totalmente comum; um equivalente em português,

segundo o Dic. Señas, “carne de vaca”. Exemplo em espanhol: “No es tan excelente como decías, sino corriente y moliente” (Dic. Señas).

- mondo y lirondo diz-se daquilo que é limpo, sem volteios; um equivalente em português, nu(a) e cru(a). Exemplo em espanhol: “Esa es la verdad monda y lironda” (http://www.5topoder.com).

• Expressões idiomáticas adverbiais

Essa classe de EIs, bastante numerosa, engloba combinações de diferentes estruturas sintáticas, o que às vezes dificulta a distinção entre uma expressão idiomática adjetival e uma expressão idiomática adverbial. Tradicionalmente, se situam nesse grupo aquelas que funcionam determinando uma oração ou formando parte do predicado, onde o verbo é o elemento central da oração. Em sua grande maioria, são formadas por sintagmas prepositivos,

como esclarece o DRAE. Podemos encontrar em grande quantidade as expressões idiomáticas adverbiais de modo. Vejamos alguns exemplos:

• a la chita callando refere-se a uma ação realizada em segredo, ou dissimuladamente; um equivalente em português, na surdina. Exemplo em espanhol: “Estos chinos no hay quien los pare. Ya mismo se hacen dueños del mundo a la chita callando” (http://debates.motos.coches.net/).

• a rajatabla diz-se daquilo que se cumpre fielmente, rigorosamente, inflexivelmente; seu equivalente em português, à risca. Exemplo em espanhol: La norma antitabaco se cumple a rajatabla (El Tribuno, edición digital, 09/09/2007).

• dormir como un lirón diz-se daquele que dorme muito e continuamente, em alusão a esse animal, especialmente o tipo lirón careto, de hábitos noturnos, considerado um dorminhoco (dormilón, em espanhol). Exemplo em espanhol: “Duerma como lirón, sin tener que contar ovejitas” (http://www.cuarta.cl).

como un roble diz-se da pessoa forte, com boa saúde, em alusão à árvore de tronco alto, forte e de aspecto imponente; seu equivalente em português, forte como um touro. Exemplo em espanhol: “…doña Ángela sigue de pie, fuerte como un roble, gozando de buena salud, disfrutando de sus hijos, sus treinta y dos nietos y sus otros tantos bisnietos” (http://weblogs.clarin.com).

• Expressões idiomáticas elativas

Por uma EI elativa entendemos aquela que tem a função de intensificar lexemas. Esses lexemas podem ser um substantivo, um verbo ou um adjetivo. Entretanto, Zuluaga (op. cit.) nos faz lembrar que “do ponto de vista sócio-lingüístico podemos observar que a intensificação é própria da língua popular e coloquial; em geral, o exagero é uma característica normal da fala espontânea, ao menos em nossa comunidade lingüística.”

Compreendemos a posição do autor ao nos fazer tal advertência, porém é importante que se tenha claro que, de as todas as formas, uma expressão idiomática está diretamente vinculada à maneira de falar do povo, na maioria das vezes, num registro bastante coloquial.

Como exemplo das EIs elativas poderíamos citar as seguintes expressões:

Hablar hasta por los codos (Falar pelos cotovelos, em português). Quando usamos essa expressão, sabemos que o objetivo é intensificar o verbo hablar (falar). Ainda que seja um exagero, trata-se de uma expressão totalmente idiomática, uma vez que se torna

impossível que alguém fale, de fato, pelos cotovelos, devendo portanto, ser aprendida como um bloco.

Dormir como un lirón (Dormir muito, em português). Nessa expressão, o objetivo também é intensificar o verbo dormir. Um brasileiro, por exemplo, não seria capaz de deduzir seu significado sem algum esclarecimento prévio. Isto porque só é possível entendê-la como um todo, ao se revelar que o lirón é um animalzinho de hábitos noturnos, considerado um “dorminhoco”. Em nossa opinião, essa EI também poderia ser classificada como uma adverbial (de modo).

Más claro que el água (Mais claro que a água, em português). O objetivo dessa expressão é intensificar o adjetivo claro (transparente).

Más viejo que Matusalén (Mais velho que Matusalém, em português). O objetivo dessa expressão é intensificar o adjetivo viejo. Embora o personagem Matusalém seja conhecido universalmente, por se tratar de uma referência bíblica, a frase só pode ser entendida como um todo.

Más feo que ver morir a la madre (Mais feio do que bater em mãe, em português) é uma expressão totalmente idiomática e tem como objetivo intensificar o adjetivo feo (feio). Alude ao fato de ser essa uma cena muito feia de se ver.

Más terco que una mula (Mais teimoso que uma mula, em português) tem o objetivo de intensificar o adjetivo terco e se refere ao comportamento característico da mula de empacar.

Advertimos que as EIs elativas podem também funcionar como um subgrupo das adjetivais.

• Expressões idiomáticas com diferentes tipos de anomalias

Zuluaga (1980) destaca algumas anomalias na composição das EIs. É importante que as levemos em consideração, como já o havíamos feito no tópico 2.3. As Unidades Fraseológicas: taxionomia.

Elas podem ser: a) com elementos únicos, de origem arcaica ou de outras línguas, como, por exemplo, alma mater, proveniente do latim e que se usa nos dias atuais para se referir à Academia, à universidade; b) com anomalias estruturais, como por exemplo a ojos vistas, que se diz das coisas realizadas de forma clara, aos olhos de quem quiser ver; c) com

elementos metalingüísticos ou auto-designativos, como por exemplo meter las cuatro, em referência às quatro letras dessa palavra e que significa equivocar-se ao dizer ou fazer algo.

Tristá Pérez (1988) faz referência ainda à presença dos elementos onomatopéicos nas EIs, cujo sentido próprio, fora da expressão, não existiria. É o caso de paripé, marcheré, tris e tilín. Vejamos os exemplos que essa autora nos apresenta para esses termos:

• ... y en eso de hacer el paripé no hay quien le gane (simular, fingir). (GONZÁLEZ, R. 8: 207);

• Él y los jota quieren llevarme a la marcharé (refere-se ao rítmo apressado ou sufocante com que alguém deixa um lugar). (NAVARRO, 1972:45);

• … yo me hago cargo del asuntito: en un tris se lo pongo en el camino real. (em pouco tempo). (IZNAGA, 1969:131);

• Adriana se desmayó y sufrió un síncope que estuvo a un tilín de costarle la vida. (a ponto de). (LLÓPIS, 1971:66).

Parece-nos importante o fato de Zuluaga (1980) nos fazer lembrar que existem expressões que ele considera como algum tipo de anomalia. Entretanto, não reconhecemos o termo alma mater ou quid como tal. O correto seria considerá-las como introdução de elementos de uma língua morta. Nessa perspectiva, seria importante considerar que as palavras do latim poderiam ser mais facilmente reconhecíveis, porque se trata de um único contexto. Desse modo, é comum que os alunos aprendam em forma de listas, as palavras mais significativas, como podemos observar no excerto da aula de P2 (tópico 3.3.2.3, do Capítulo III).

Não seria possível ensinar em forma de listas o vocabulário de todas as outras línguas vivas existentes, pois são muitas. Assim sendo, sugeriríamos que o grupo de “anomalias” proposto por Zuluaga (1980) se desmembrasse em: “EIs de origem arcaica”; “EIs com anomalias estruturais”; “EIs com elementos onomatopéicos” (TRISTÁ PÉREZ, 1988) e “EIs com elementos de uma língua ou dialeto”.

Observando o desmembramento que propomos, as EIs com algum tipo de elemento diferente seriam:

ƒ Expressões idiomáticas com elementos arcaicos.

Poderiam incluir-se nesse grupo aquelas nas quais há a presença de palavras latinas, de certa forma integrante e de mais fácil compreensão para as línguas neolatinas.

Ex.: Dar en el quid de la cuestión (Encontrar o X da questão, em português).

ƒ Expressões idiomáticas com anomalias estruturais. Na nossa opinião, essa

categoria proposta por Zuluaga (1980) deve ser mantida tal qual a sua versão original. Nela se enquadrariam aquelas expressões que contivessem algum tipo de problema com a concordância, como nos exemplos já citados: a pies juntillas; a ojos vistas.

ƒ Expressões idiomáticas com elementos onomatopéicos. Somos da opinião de

que esse agrupamento proposto por Tristá Pérez (1988) deve ser mantido tal qual sua versão original. Nesse grupo estariam incluídas aquelas expressões em que algum dos elementos representasse graficamente um som, como os exemplos já citados: paripé, tris, marcharé, tilín, plín.

ƒ Expressões idiomáticas com elementos de outra língua ou dialeto. A

necessidade que vemos na criação de um grupo que contemple a introdução de um elemento “estrangeiro” à língua se dá pelo fato de termos consciência de que o espanhol recebe influência de outras línguas vivas, além do latim (morta).

Nessa perspectiva, é possível que encontremos, principalmente na fala dos jovens,