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SEÇÃO 2 – OS CAMINHOS PARA A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO

2.3 O MÉTODO DIRETO E O CONTEXTO BRASILEIRO

2.3.3 Sobre a relação com os Estados Unidos

A questão do desenvolvimento do Brasil e o seu “atraso” no final do século XIX e início do século XX é tratada por Warde (2000, p. 37), em Americanismo e educação - um ensaio no

espelho, frente à ascensão política e cultural dos Estados Unidos, que culminou em sua posição

de nação ideal. Para a autora, a sociedade brasileira sempre mirou a Europa como fonte de cultura da qual todos deveriam beber, caso desejassem “conquistar o status de civilizados”. Essa admiração, no entanto, passou a mudar de direção ao passo que os Estados Unidos começaram a figurar como a terra prometida e lar das elites intelectuais, com a mudança da imagem do velho continente, que passou a ser visto como decadente e conflituoso. Assim, os Estados Unidos começaram a existir no ideário popular como nação a ser seguida, fato este que se intensificou com o desenvolvimento da política da Boa Vizinhança, a partir da eleição de Franklin Roosevelt como presidente norte-americano, em 1933. Percebeu-se um conjunto de práticas de grande interferência na sociedade brasileira, principalmente após o início da segunda Guerra Mundial, e cujas consequências e sua relação com o ensino de Inglês serão tratadas na Seção III deste trabalho. Warde (2000) aponta, no entanto, que à medida que o Brasil passou a se espelhar nos Estados Unidos, a imagem brasileira refletida nesse espelho tornava-se achatada, pobre e feia.

Moura (1995, p. 15), ao discorrer sobre a política desenhada pelos Estados Unidos para os países da América Latina, em Tio Sam chega ao Brasil – a penetração cultural americana, explica que “desde a independência das nações latino-americanas no início do Século XIX, Tio Sam firmara o pé na ideia de que as potências europeias não tinham o direito de intervir ou de tentar recolonizar a América”. Obviamente, sem objetivos fraternais com os países latinos, os Estados Unidos queriam apenas trocar as intervenções europeias pelas deles próprios e para isso, mesmo com pouca força na época, promulgaram a Doutrina Monroe19, que ratificou

posição contrária à influência dos países europeus. Na corrida imperialista do final do século XIX, os Estados Unidos colocaram em prática uma política intervencionista, que ficou conhecida como big stick, e interveio militarmente em países do continente americano, com mais ênfase no Caribe e na América Central, todas as vezes que acreditaram que havia alguma

19 A Doutrina Monroe, como afirmam Karnal (et al., 2007), em História dos Estados Unidos – das origens ao

século XXI, é conhecida pelo slogan “A América para os americanos”, atribuído ao presidente James Monroe, que governou os Estados Unidos entre 1817 e 1825. A promulgação da doutrina se deu baseada no princípio da não- intervenção da Europa na América em troca da não-interferência dos Estados Unidos nos assuntos europeus. A medida tomada por Tio Sam, recém independente, reafirmava sua posição como liderança continental e visava conter avanços de recolonização pelos países europeus nas Américas.

ameaça aos interesses norte-americanos (MOURA, 1995). Ao analisarmos os primórdios dessa relação, podemos dizer que

os Estados Unidos, portanto, eram vistos numa posição de liderança no caminho do progresso que nações como Brasil buscavam trilhar, o que parece corroborar a hipótese que anunciamos no início deste trabalho de que aquele país emergia aos olhos do Brasil bem mais adiantado em assuntos diversos, sobretudo no que respeitava à instrução popular, do que atestam os relatórios que expusemos anteriormente (SANTOS, 2016, p. 87).

Desta forma, para se desenvolver, o Brasil precisaria se espelhar nos Estados Unidos, o que levou, assim, ao surgimento na sociedade brasileira, de um apreço pelo funcionamento do país e suas práticas, principalmente por meio das Exposições Internacionais, onde o Brasil, “atrasado”, produtor de matéria prima básica, visto de forma caricaturada, apresentava plantas exóticas, café, o folclore dos índios e negros, e comprava produtos de tecnologia e cartilhas de ensino. Como consequência, em um dos exemplos citados por Warde (2000), temos a mudança no magistério no estado de São Paulo, conduzida pelo Diretor-Geral da Instrução Pública de São Paulo, Oscar Thompson. Após uma viagem a uma Exposição Internacional, em 1904, nos Estados Unidos, Thompson, que na ocasião da viagem era apenas um professor primário, voltou convencido da eficácia do ensino analítico, trazido por ele por meio de uma cartilha, traduzida para o português e que, por conseguinte, foi adotada em todas as escolas do estado. O método foi, mais tarde, difundido por todo o Brasil.

É interessante apontar que o desenvolvimento buscado pelo Brasil foi feito via Língua Inglesa, fazendo com que o inglês fosse, lentamente, adquirindo prestígio na sociedade brasileira. O método analítico, visto como moderno, partia do concreto para o abstrato e, assim, agia de maneira mais natural, o que estava em consonância com a escola moderna, defensora dos métodos de ensino naturais, que obedeciam ao desenvolvimento biológico do homem na obtenção de conhecimento (WARDE, 2000).

No entanto, é relevante destacar que essa não foi a primeira vez que o Brasil enviou um encarregado para as Exposições Internacionais nos Estados Unidos. De acordo com as pesquisas de Santos (2017), em jornais oitocentistas, o professor Phillipe Maria Mota de Azevedo Corrêa foi o primeiro encarregado brasileiro enviado aos Estados Unidos, e participou, em 1876, das Exposições Internacionais na Filadélfia, com a orientação de estudar a instrução pública, visitar as principais escolas primárias e secundárias, com especial atenção para a educação primária, e adquirir os livros e materiais que julgasse necessários. As impressões norte-americanas foram registradas nos relatórios enviados ao Brasil, principalmente no que se

refere ao detalhamento do sistema de Kindergarten (Jardim de infância) e às orientações para a construção de um museu pedagógico que pudesse expor todos os objetos adquiridos em tais exposições.

Além das exposições internacionais, Santos (2017, p. 87) destacou outras influências norte-americanas no Brasil oitocentista, como a defesa de Tavares Bastos pelo estabelecimento de school-houses nos moldes estadunidenses e a tentativa de implementação da educação encontrada em Massachussetts, em que “os meninos são obrigados a frequentar a escola e o governo mantém um fundo fixo, com o objetivo de auxiliar, financeiramente, as instituições de ensino”.

É possível apontar algumas similaridades nesse processo de desenvolvimento do Brasil com vistas aos Estados Unidos, principalmente no início do século XX, com o próprio Método Direto, considerado como uma abordagem natural, que respeita as fases do desenvolvimento humano e que “nasceu” em território norte-americano, muito embora o alfabeto fonético internacional seja um produto europeu. A interferência americana no início do século XX só tendia a aumentar e, com isso, não era de se espantar que houvesse um aumento na popularização do ensino do Inglês, até então relegado à segunda língua estrangeira de prestígio, atrás do Francês, o que levaria a uma disseminação do termo Método Direto para o ensino das línguas vivas.