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Sociedade personificada é aquela que possui personalidade jurídica. Essa personalidade lhe confere direitos que não estão ao alcance das sociedades sem personalidade jurídica (o direito ao pedido de falência, por exemplo).

Além disso, com a formalização do instrumento de constituição da sociedade, torna-se clara a distinção patrimonial entre os sócios e a sociedade.

Sociedade simples pura

A sociedade simples pura (também chamada de sociedade simples simples e de sociedade simples propriamente dita) não é uma sociedade empresária. Porém, suas regras são muito aplicadas de forma supletiva a alguns tipos societários. Veja o exemplo de uma sociedade limitada: caso o contrato não preveja regência supletiva pela lei das S.A., serão aplicadas as regras de uma sociedade simples.

Dois exemplos típicos de sociedade simples pura são a sociedade uniprofissional (médicos, músicos, intelectuais, etc.) e a sociedade rural que não opte por registro no RPEM.

O Código Civil trata da sociedade simples pura nos artigos 997 a 1038. São mais de 40 artigos. Além disso, como este tipo societário pode organizar-se segundo alguns tipos societários típicos de sociedade empresária, temos então outras regras específicas aplicáveis a uma sociedade simples pura dependendo da adoção ou não de um tipo societário previsto no Código Civil. Neste tópico vamos tratar das regras mais importantes dos 42 artigos específicos da sociedade simples pura e eventuais referências cruzadas.

Já vamos iniciar com artigo importante seguido de um grande atenção:

Art. 983. A sociedade empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos arts. 1.039 a 1.092;

a sociedade simples pode constituir-se de conformidade com um desses tipos, e, não o fazendo, subordina-se às normas que lhe são próprias.

Atenção !!

Sociedade simples é a sociedade que não é empresária. Esta poderá se organizar segundo qualquer tipo societário expresso no CC.

A sociedade simples pura (ou simples propriamente dita) é a sociedade simples que não adotou nenhum tipo societário regulado pelo CC, ou seja, está subordinada às regras que passaremos a discutir.

Prosseguindo, observe que a sociedade simples não poderá adotar o tipo societário sociedade anônima nem o tipo comandita por ações, por força do parágrafo único do artigo 982.

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Art. 982 ...

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

Para facilitar o entendimento, vamos separar o estudo da sociedade simples pura em 05 tópicos: contrato social, sócios, capital social, administração e resultados da sociedade. As regras gerais sobre a resolução da sociedade com relação a um sócio e a dissolução foram estudadas na aula anterior.

Ao final, vamos apresentar um esquema resumo dos principais pontos apresentados.

Contrato Social

Antes de começarmos a tecer comentários sobre o contrato social em si, devemos lembrar os conceitos de contrato unilateral, bilateral e plurilateral do nosso direito civil.

Contrato unilateral é o contrato de doação pura, no qual somente uma das partes se responsabiliza por obrigação e deveres.

Contrato bilateral é o contrato onde ambas as partes assumem responsabilidades. O contrato de compra e venda é um contrato bilateral.

Contrato plurilateral é o contrato onde várias partes, com interesses distintos, se unem para celebrar um acordo de vontade.

Embora haja certa divergência na doutrina, majoritariamente podemos classificar o contrato social como um contrato plurilateral.

As principais características desse contrato plurilateral seriam:

 O fato de várias partes poderem tomar parte dele.

A affectio societatis.

O artigo 997 estabelece um rol de formalidades que o contrato deve possuir. Vamos aos termos dos artigos 997 e 998:

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

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III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É ineficaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao disposto no instrumento do contrato.

Art. 998. Nos trinta dias subseqüentes à sua constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede.

§ 1o O pedido de inscrição será acompanhado do instrumento autenticado do contrato, e, se algum sócio nele houver sido representado por procurador, o da respectiva procuração, bem como, se for o caso, da prova de autorização da autoridade competente.

§ 2o Com todas as indicações enumeradas no artigo antecedente, será a inscrição tomada por termo no livro de registro próprio, e obedecerá a número de ordem contínua para todas as sociedades inscritas.

O nome denominação é aplicado à sociedade simples pura! A sociedade simples (ou seja, não empresária) poderá adotar a firma (razão social) ou a denominação. Este é o entendimento do CJF, expresso no Enunciado 213:

O art. 997, inc. II, não exclui a possibilidade de sociedade simples utilizar firma ou razão social.

Isso tem o seguinte motivo: a sociedade simples, como dissemos, poderá se organizar por qualquer tipo societário expresso no CC. Assim, caso adote, por exemplo, o tipo societário sociedade em nome coletivo, cujo nome empresarial deverá ser firma, a sociedade simples adotará a firma. O mesmo ocorre caso adote o tipo societário LTDA, cujo nome empresarial poderá ser firma ou denominação. Observe que isso se dá por força do artigo 983. Caso adote o tipo societário sociedade em nome coletivo, a sociedade simples será regida pelas regras da sociedade em nome coletivo!

Atenção !!

A sociedade simples pura (ou seja, que não adota nenhum tipo societário expresso no CC) adotará a denominação!

A sociedade simples (ou seja, a sociedade que não é empresária) adotará firma ou denominação, a depender do tipo societário que ela adote.

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O contrato social deve ser escrito, pois há a necessidade de levá-lo a registro, que, no caso das sociedades simples pura, é feito no RCPJ.

Nesse interim, observe o artigo 1.150:

Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Ou seja, a sociedade simples pura deverá sempre ser registrada no RCPJ (de fato toda sociedade simples deverá ser registrada no RCPJ). Caso adote um dos tipos societários empresários, o RCPJ adotará as normas específicas para o respectivo tipo societário escolhido.

Assinado o contrato, o instrumento deve ser levado a registro em até 30 dias. Este registro confere personalidade jurídica à sociedade, a qual poderá iniciar suas atividades de forma regular.

Importante frisar que o Enunciado 214 da III Jornada de Direito Civil estabelece que:

As indicações contidas no art. 997 não são exaustivas, aplicando-se outras exigências contidas na legislação pertinente, para fins de registro.

O contrato social poderá sofrer modificações, obedecidas algumas regras. Observe que, como citamos acima, o rol de exigências do artigo 997 não é exaustivo, tanto por força de outras legislações pertinentes quanto por força da vontade dos sócios (lembre que o contrato social possui maior liberdade de elaboração que o estatuto).

Assim, as regras para modificação do contrato social dependem do que se pretende modificar. A alteração de matéria contida no rol do artigo 997 depende de unanimidade. Outras matérias dependem de maioria absoluta, exceto se o contrato determinar a deliberação unânime. Vejamos abaixo o artigo 999, CC:

Art. 999. As modificações do contrato social, que tenham por objeto matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime.

Parágrafo único. Qualquer modificação do contrato social será averbada, cumprindo-se as formalidades previstas no artigo antecedente.

Pode o contrato prever deliberação menor que maioria absoluta para algum tópico (como maioria simples)?

A resposta é não. A deliberação mínima é sempre maioria absoluta. O contrato pode dificultar a alteração de cláusula contratual estabelecendo quórum de unanimidade, mas nunca poderá facilitar.

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Pode cláusula que preveja deliberação por unanimidade para item não constante do rol do artigo 997 sofrer alteração e passar a prever quórum de maioria absoluta?

Sim, pois, como cláusula não constante no rol do artigo 997 tem como quórum mínimo maioria absoluta, poderá acontecer uma alteração contratual alterando quórum unânime para maioria absoluta.

Por fim, alterações do contrato social devem ser averbadas no cartório de registro, assim como a criação de sucursal, filial ou agência, como já estudamos.

Sempre importante frisar que estas são as regras da sociedade simples propriamente dita. Caso a sociedade simples adote algum tipo societário regulado pelo CC, serão aplicadas as regras daquele tipo societário.

Sócios

Primeiro comentário é sobre o inciso I do artigo 997: podemos ter pessoas físicas ou jurídicas como sócios de uma sociedade simples pura!

Art. 1.001. As obrigações dos sócios começam imediatamente com o contrato, se este não fixar outra data, e terminam quando, liquidada a sociedade, se extinguirem as responsabilidades sociais.

Bom, após a assinatura do contrato, os sócios passam a assumir obrigações entre si (contrato plurilateral), as quais findam com a liquidação da sociedade, caso extintas as responsabilidades sociais, ou seja, não existindo pendências junto a credores, por exemplo.

Atenção !!

Veja que o artigo 1.001 não demanda que o contrato esteja registrado!

Sem o registro estamos falando da sociedade em comum (não personificada) onde impera o artigo 987 cuja previsão é de que os sócios, nas relações entre si, somente podem provar a existência da sociedade por escrito. Ora, se temos o contrato, temos a possibilidade dos sócios provarem as obrigações assumidas entre si!

A sociedade simples é uma sociedade de pessoas onde a pessoa do sócio é muito importante (intuitu personae). Sendo assim, a substituição do sócio somente poderá ser feita mediante unanimidade, com a devida modificação no contrato social. Da mesma forma, é necessário o quórum de unanimidade para a cessão total ou parcial de cota, sob pena da cessão ser sem efeito.

É o que temos nos artigos 1.002 e 1.003:

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Art. 1.002. O sócio não pode ser substituído no exercício das suas funções, sem o consentimento dos demais sócios, expresso em modificação do contrato social.

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modificação do contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá eficácia quanto a estes e à sociedade.

Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modificação do contrato, responde o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas obrigações que tinha como sócio.

Além de somente ceder a cota mediante autorização unânime dos demais sócios, dentre as obrigações dos sócios podemos citar a de contribuir para a integralização do capital social e participar do resultado.

Por fim, podemos ter sócio incapaz na sociedade simples pura? Vejamos o § 3o do art. 974:

Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais ou pelo autor de herança.

...

§ 3o O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos:

I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade;

II – o capital social deve ser totalmente integralizado;

III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais.

Veja que o parágrafo terceiro cita RPEM a cargo das Juntas. Ou seja, estamos diante de uma sociedade empresária, onde, via de regra, se tivermos o capital totalmente integralizado e o sócio não exerça cargo de administração, sua responsabilidade será limitada.

Sendo assim, sócio incapaz somente em casos em que sua responsabilidade seja limitada. Na sociedade simples pura a responsabilidade dos sócios é ilimitada, portanto não podemos ter sócio incapaz. Vejamos o artigo 1.023:

Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.

Ou seja, na sociedade simples pura os sócios respondem ilimitadamente, cada um na proporção da sua cota. O contrato pode prever a solidariedade.

Além disso temos o Enunciado 467 da V Jornada de Direito Civil do CJF

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A exigência de integralização do capital social prevista no art. 974, § 3º, não se aplica à participação de incapazes em sociedades anônimas e em sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada nas quais a integralização do capital social não influa na proteção do incapaz.

Vamos explicar este Enunciado. No caso de SA (primeira parte do Enunciado) o sócio é responsável somente pelo capital subscrito (ou seja, pelo capital que se obrigou a integralizar). Portanto na SA podemos ter sócio incapaz mesmo sem ter a total integralização do capital social.

No caso de “sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada nas quais a integralização do capital social não influa na proteção do incapaz” estamos diante de sociedades em que mesmo tendo o capital totalmente integralizado, o sócio continua respondendo ilimitadamente. É o caso da sociedade em nome coletivo.

Nesta sociedade, não podemos falar na aplicação do art. 974, § 3º, pois mesmo com a completa integralização do capital social, os sócios respondem ilimitadamente. Portanto, não aceita sócio incapaz.

Vamos ver uma questão:

(CESPE. TJ-RR. 2013)

Em relação à capacidade para exercício de empresa e ao registro empresarial, assinale a opção correta.

a) O registro de empresário rural na junta comercial, de natureza declaratória, sujeita-o ao regime jurídico empresarial.

b) Caso o empresário seja casado no regime da separação obrigatória, estará vedada a participação do cônjuge na constituição da sociedade, mas não sua participação derivada.

c) A exigência de integralização do capital social não se aplica à participação de incapaz em sociedades anônimas e em sociedades com sócios de responsabilidade ilimitada nas quais a integralização do capital social não influa na proteção do incapaz.

d) A sentença que declarar ou homologar a separação judicial do empresário deve ser oposta por terceiros antes de seu arquivamento na junta comercial, sob pena de preclusão.

e) Pessoa considerada incapaz pode, se autorizada judicialmente, iniciar o exercício de atividade mercantil.

RESOLUÇÃO:

Questão muito pesada com conceitos doutrinários. Inseri essa questão mais para mostrar a posição da CESPE com relação ao tópico que discutimos.

Letra A. Regra geral, o registro é de caráter declaratório, exceto no caso do empresário rural, que possui caráter constitutivo, uma vez que lhe é facultado o registro na Junta Comercial, caso em que será um empresário, ou no RCPJ, caso em que não será empresário. Assertiva errada.

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Letra B. Casados no regime de separação obrigatória ou comunhão universal não podem contrair sociedade entre si, seja via constituição (ou seja, “abrindo a sociedade”) ou via derivada (ou seja, entrando na sociedade depois de ela constituída). Assertiva errada.

Letra C. Literalidade do Enunciado 467 da V Jornada de Direito Civil do CJF. Assertiva certa.

Letra D. Literalidade do artigo 980. Assertiva errada.

Art. 980. A sentença que decretar ou homologar a separação judicial do empresário e o ato de reconciliação não podem ser opostos a terceiros, antes de arquivados e averbados no Registro Público de Empresas Mercantis.

Letra E. O incapaz nunca pode iniciar atividade empresarial. Somente continuar nos casos em que já discutimos. Assertiva errada.

Resposta: C

Capital social

Integralizar o capital social significa passar para o patrimônio da sociedade bens ou direitos. Imagine que o capital da sociedade entre Abel e Muricy seja no valor de R$ 100.000,00 com cada um com 50% do capital social. Assim, Abel poderá integralizar com R$ 20.000,00 em dinheiro, através de uma transferência para a conta da sociedade, mais um título de crédito no valor de R$ 30.000,00 em seu nome (imagine uma nota promissória a que Abel tenha direito) e Muricy poderá integralizar com um veículo com valor igual a R$

50.000,00.

Vejamos os dispositivos do CC:

Art. 1.004. Os sócios são obrigados, na forma e prazo previstos, às contribuições estabelecidas no contrato social, e aquele que deixar de fazê-lo, nos trinta dias seguintes ao da notificação pela sociedade, responderá perante esta pelo dano emergente da mora.

Parágrafo único. Verificada a mora, poderá a maioria dos demais sócios preferir, à indenização, a exclusão do sócio remisso, ou reduzir-lhe a quota ao montante já realizado, aplicando-se, em ambos os casos, o disposto no § 1o do art. 1.031 [resolução da sociedade em relação à sócios].

Imagine que o contrato preveja a integralização em 5 dias da assinatura. Se Abel tiver feito a transmissão do direito da nota promissória (estudaremos melhor em títulos de crédito) porém não tiver feito a transferência do dinheiro, a sociedade poderá notificá-lo. Veja que estamos falando da sociedade notificar, não os sócios.

Nesse momento, Abel é um devedor da sociedade, pois assumiu obrigação de fazer (transferir o dinheiro) e não o fez.

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Bom, passados 30 dias da notificação, Abel não depositou o dinheiro. Existem três soluções para esse caso, sendo decidido pela maioria (absoluta!) dos demais sócios:

 Aceitar o pagamento do valor devido com a mora e indenização pelos danos emergentes da mora

 Excluir o sócio, devolvendo-lhe o valor integralizado

 Alteração do contrato social prevendo novo capital social, contando somente com as cotas já integralizadas

Nada impede, de qualquer forma, que a sociedade venha a juízo contra o sócio remisso.

Com relação à devolução do valor integralizado, devemos olhar para o artigo 1.031:

Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado.

...

§ 2o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário.

Assim, caso a opção seja pela exclusão do sócio, ele receberá de volta o valor da cota integralizada.

Dando sequência ao nosso exemplo, vemos que Abel fez o depósito com a devida indenização. Porém, dada a natureza dos bens integralizados, uma nota promissória e um veículo, o CC resolveu adicionar uma garantia ao patrimônio da sociedade, conforme o artigo 1.005 explicitou abaixo:

Art. 1.005. O sócio que, a título de quota social, transmitir domínio, posse ou uso, responde pela evicção;

e pela solvência do devedor, aquele que transferir crédito.

O sócio que transferir domínio, posse ou uso, como é o nosso sócio Muricy, será responsável pela eventual evicção, ou seja, perda da propriedade por decisão judicial ou administrativa. Assim, caso seja verificado que o carro havia sido roubado e Muricy o havia comprado como terceiro de boa fé, a propriedade do veículo voltará para o dono original e Muricy deverá prover outros meios para integralizar sua cota de R$

50.000,00.

Da mesma forma, o sócio que transferir crédito fica responsável pela solvência do devedor. Assim, caso o devedor da nota promissória que foi transferida por Abel fique insolvente e não cumpra com sua obrigação, Abel deverá prover os meios para integralizar sua cota de R$ 30.000,00.

Claro que nestes casos existe a possibilidade de Abel e Muricy entrarem com as ações judiciais devidas visando o ressarcimento do prejuízo, mas perante a sociedade permanece a responsabilidade dos sócios.

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Art. 1.006. O sócio, cuja contribuição consista em serviços, não pode, salvo convenção em contrário, empregar-se em atividade estranha à sociedade, sob pena de ser privado de seus lucros e dela excluído.

A sociedade simples pura aceita a contribuição de sócio em serviços. Os sócios que contribuem com serviços são chamados sócios de serviço e os que contribuem com bens para a integralização do capital são chamados de sócios de capital. Importante o destaque do trecho que diz que “salvo convenção em contrário”,

A sociedade simples pura aceita a contribuição de sócio em serviços. Os sócios que contribuem com serviços são chamados sócios de serviço e os que contribuem com bens para a integralização do capital são chamados de sócios de capital. Importante o destaque do trecho que diz que “salvo convenção em contrário”,