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e sua inclusão no Plano de Cultura da UFRN

Do relatório apresentado pela comissão de criação do SigaArte à administração central da UFRN, destacamos que as ações deveriam ser implementadas em curto, médio e longo prazos. Deveriam ser incorporadas ao cotidiano da UFRN como metas de gestão a partir da ideia de que arte e cultura não são meros adereços estéticos da condição humana. A criação artística e o fazer são unidualidades da existência, que qualificam a vida. É essa condição que faz com que artistas e obras se eternizem como feitos para a memória da cultura. Portanto, seria necessário que a UFRN ousasse em praticar essas premissas como política efetiva de gestão.

A comissão considerou como pressuposto que a arte é um advento, um vir-a-ser do que nunca existiu antes, conforme nos diz o filósofo Merleau-Ponty, de modo que, a comunidade universitária, por meio do SigaArte na UFRN, seria mobilizada a criar outras percepções e relações artísticas e estéticas a partir do seu mundo vivido na universidade. “por que a expressão do mundo seria sujeita à prosa dos sentidos ou do conceito? É preciso que ela seja poesia, isto é, que desperte e reconvoque por inteiro o nosso puro poder de expressar, para além das coisas já ditas ou já vistas” (MERLEAU-PONTY, 1991, p. 53). Nesse processo, a presença da arte de modo mais cotidiano, poderia ser um caminho favorável a essa concepção. Afinal, como nos diz o dramaturgo Augusto Boal (1975), temos a obrigação de inventar outro mundo, pois sabemos que um outro mundo é possível.

O SigaArte foi pensado como “Itinerâncias e permanências artísticas”, ou seja, algumas ações poderiam circular pelos setores e Campi da UFRN e outras seriam realizadas somente em um local e um momento específico. O Programa deveria ser constituído, em sua maior parte, por ações culturais já existentes na UFRN e que integrariam uma agenda comum realizada em diversos espaços da UFRN. Poderiam ocorrer ações de menor porte, do ponto de vista de sua estrutura e do tempo que fossem realizadas, bem como ações culturais de maior dimensão estrutural e que também poderiam circular pelos Campi da UFRN. Tais ações seriam sistematizadas em formato de festivais, oficinas artísticas, concursos culturais, saraus poéticos, entre outras, e incluiriam música, teatro, dança, cinema, poesia, exposição itinerante de acervos da UFRN, e demais linguagens, bem como seriam executadas em espaços diversificados e mapeados na UFRN.

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De modo específico, a comissão de criação do Programa, apresentou as seguintes proposições:

• concertos e recitais de música;

• esquetes (do inglês sketch), isto é, pequenas peças ou encenações teatrais;

• apresentações de dança;

• intervenções com poesias e literatura, a exemplo de uma mostra de cordéis e cordelistas; saraus

poéticos; instalações poéticas; publicação de coletânea de poesias.

• exposições de acervos da UFRN; • instalações de artes visuais; • performances cênicas; • mostras de cinema e vídeo; • ateliês de pinturas; • práticas de Danças circulares; Tai chi Chuan, entre outras. • outras possibilidades artísticas e culturais.

Para a viabilização do programa, a comissão apontou algumas necessidades metodológicas e de logística, conforme discorremos a seguir:

• identificação das ações artísticas já existentes na UFRN, e que pudessem ser compartilhadas nos

setores;

• mobilização dos coordenadores das ações e criação de uma agenda compartilhada;

• inclusão de ações como resultados de disciplinas de composição artística dos alunos; ou de grupos

artísticos de extensão; entre outras possibilidades.

Ressaltamos que as proposições da comissão, já relatadas, foram em sua maioria executadas entre 2013 e 2019.1. Contudo, o SigaArte na UFRN sofreu certa flexibilidade no que tange à realização de algumas ações propostas pela comissão inicial. Posteriormente, esse Programa começou a integrar o Plano de Cultura da UFRN.

A comissão de criação propôs ainda usar espaços virtuais acadêmicos para promover a arte e a cultura na universidade, tornando-as muito mais cotidiana. Nessa perspectiva do virtual como potência das expressões culturais e artísticas, teríamos inclusive o SigaArte virtual à maneira de um Sigaa. Para isso, seria preciso reunir profissionais de Design, da Superintendência de Informática e do Nac para definirem visual, aspectos técnicos etc. Essa iniciativa ocorreu de outros modos, com a criação de ambientes virtuais, redes sociais, ampliação da divulgação do programa.

78 Outras sugestões presentes no relatório da comissão de criação dizem respeito as seguintes ações:

Luau e/ou Pôr-do-sol na UFRN: inspirado nos Projetos Pôr do Sol no Potengi, realizado no Iate

Clube em Natal/RN e no Projeto Bolero de Ravel realizado na Praia do Jacaré em João Pessoa/PB, o Luau na UFRN seria realizado uma vez a cada semestre durante a lua cheia e no espelho d’água da Reitoria ou em outro local, incluindo sempre a presença de grupos artísticos da UFRN.

Maratona fotográfica Click UFRN: gerada a partir de cursos de fotografias desenvolvidos ao longo do

ano na UFRN, a maratona anual seria temática e com premiação para os três primeiros colocados, conforme critérios estabelecidos em edital público. A comissão de seleção seria composta por representantes das áreas diretamente vinculadas à fotografia e ao tema abordado. Os acervos ficariam na UFRN e poderiam, conforme citado em edital e com registro de créditos dos autores, servir para compor livros, exposições etc.

A FM universitária no cotidiano da UFRN: nos corredores e se, possível, nos auditórios. Tradicionalmente, fomos acostumados a estudar e ou a pensar sem som. Assim, a comissão sugeriu que deveríamos romper com tal tradição e colocar a música no cotidiano universitário. Não podemos esquecer a geração Y, destacadamente, que tem feito dos seus celulares e do uso de MP3-4 e IPOD suportes de audição. Para tanto, devem ser pensados e criados conteúdos informativos de caráter artístico e acadêmico. Posteriormente, houve parceria entre o NAC/Plano de Cultura e a FMU no apoio ao Festival de Música Potiguar Brasileira.

Projeto cultural mensal no Anfiteatro da UFRN: abrigaria feiras de livros, oficinas artísticas,

apresentações artísticas, circuitos culturais (ex.: estudantes do ensino básico poderiam conhecer as instalações físicas da UFRN em um transporte que circularia pelo Campus Central, com um guia cultural que mostraria alguns prédios centrais, a exemplo da EMUFRN, do Prédio da Reitoria, da TVU, do Centro de Convivência, da Biblioteca Zila Mamede, dos Centros Acadêmicos etc.). Posteriormente, essa ação foi configurada e realizada como sendo o SigaArte na Praça.

Pensar programas culturais a partir do uso efetivo da TV da UFRN: criação do canal SigaArte virtual

como meio de comunicação com a comunidade acadêmica. Com a presença da TV digital, inaugurar-se-ia a interatividade, que poderia significar uma prática de comunicação viva e horizontal. Desnecessário dizer que os conteúdos ficariam livremente disponibilizados on-line. Posteriormente, essa ação se efetivou com os apoios e as parcerias estabelecidas entre o NAC/Plano de Cultura e a Televisão universitária, a partir de programas televisivos que focaram na divulgação dos artistas da UFRN e do RN.

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Constituir um polo de cinema na UFRN: construção de uma sala de cinema e, futuramente, a criação

de uma graduação em Cinema. Atualmente, foi criado o curso de graduação em Audiovisual no Centro de Ciências, Humanas, Letras e Artes. Enquanto não se criava um espaço definitivo, a comissão propôs o uso de espaços de projeções já existentes. Tal iniciativa deveria ser combinada com a reforma do Centro de Convivência com o objetivo da criação de um complexo cultural, artístico e acadêmico, no qual a UFRN reuniria em um só lugar: cinema, livraria, ateliê e teatro. Posteriormente, diversas ações de audiovisual e cinema ocorreram no contexto do Plano de Cultura, incluindo a aquisição de equipamentos para instalar o auditório NEPSA 1 do Centro de Ciências, Humanos, Letras e Artes.

FESTIVAIS ARTÍSTICO-CULTURAIS

Na proposta inicial do SigaArte, ainda em 2013, foram previstos o fomento ou a realização de diversos festivais, a saber:

• Festival Universitário da Canção: já havia sido realizado pela Pró-reitoria de Assuntos Estudantis.

Com a criação do Festival de Música da FMU, inclusive com apoio do Plano de Cultura, várias edições desse evento foram bastante exitosas, enquanto que o Festival universitário da canção não teve continuidade na agenda dos gestores que assumiram posteriormente a Pró-reitoria que o coordenava.

• Festival de Cinema, poesia e literatura;

• Festival de charges e comédia;

• Feira de Livros e literatura: organizado pela Editora Universitária, em parceria com a Cooperativa

de livros, a Biblitoteca Zila Mamede e o Departamento de Letras da UFRN, a ação objetivaria realizar rodas de conversas com os autores da UFRN e difundir a produção literária desta universidade. Nesse contexto, o SigaArte provocaria tais unidades para, juntos, viabilizarem a ação.

Ressaltamos que, nesse contexto de festivais artísticos, o Plano de Cultura realizou uma ação extremamente exitosa que foi o Festival de Teatro Universitário, o qual também foi objeto de um dos capítulos do presente livro.

80 PROCESSO METODOLÓGICO DO PROGRAMA SIGAARTE NA UFRN

A comissão entendeu que, do ponto de vista metodológico, para a viabilização do SigaArte, seriam necessárias reuniões internas da comissão executiva; reuniões com a Pro-reitoria de Planejamento e de Extensão; abertura para recebimento de sugestões da comunidade acadêmica; experiência piloto durante o evento Semana do meio ambiente da UFRN; abertura de inscrições para adesão de responsáveis por ações culturais na UFRN; execução semanal ou mensal do programa, a depender da natureza de cada ação proposta.

Por fim, ressaltamos que o SigaArte na UFRN, desde sua criação, bem como com a sua inserção no contexto do Plano de Cultura da UFRN, traduziu-se em um Programa de impacto no cotidiano universitário, de modo que, em muitos momentos, a comunidade acadêmica e administrativa receberam em seus setores de aulas, salas de trabalho, restaurante universitário, auditórios e demais espaços da UFRN, diversas ações artísticas que repercutiram na relação estabelecida entre o humano e a arte, proporcionando momentos de bem-estar, de maior sensibilidade e de atenção para si e para o outro, que tão rotineiramente está ao seu lado realizando as atribuições concernentes ao dia a dia da universidade. Sem dúvida, tais momentos se traduziram em poesia, em silêncios e sonoridades, em movimentos e novos fluxos e, sobretudo, em outros tempos e espaços abertos ao olhar, ao perceber, ao estar, ao sentir e ao significar a sua presença e do outro na universidade. Momentos que podemos constatar nos registros visuais das ações desenvolvidas pelo SigaArte na UFRN. Vida longa e sigamos a arte sempre!!

REFERÊNCIAS

BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975. MERLEAU-PONTY, Maurice. Signos. São Paulo: Martins Fontes, 1991

PLANO DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL (PDI/UFRN): 2010-2019. Universidade Federal do Rio Grande do

Norte. – Natal, RN, 2010.

PLANO DE CULTURA DA UFRN (PC/UFRN): 2015- 2018. Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Natal, RN, 2015. Disponível em http://www.nac.ufrn.br. Acesso em março de 2018.

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Problematização, princípios, ações e desafios