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SUJEITO DE DIREITO E MANIPULAÇÃO IDEOLÓGICA

CAPÍTULO 4: DO SUJEITO DE DIREITO

4.3. SUJEITO DE DIREITO E MANIPULAÇÃO IDEOLÓGICA

Conforme observado, há determinadas características que os indivíduos concretos tendem a gradualmente internalizar desde o momento de seu nascimento, e atinentes ao fato de se considerarem como possuidores de elementos como uma razão intrínsecá, uma

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autonomia de vontade (operacionalizada pela razão), bem como uma esfera íntima, composta de gostos, desejos, inclinações, crenças e atitudes que não poderiam sofrer a interferência de nenhuma espécie de poder externo. Tais fenômenos, então, caso presentes na vida do sujeito, e efetivamente atuantes ou respeitados, apontam para o próprio caminho que a modernidade indica para cada indivíduo que busca a realização ou satisfação dos fins de sua existência.

Os referidos elementos, todavia, mais do que simples reflexos de posturas naturais ou necessárias para que a vida do homem em sociedade possa se realizar, são, em verdade o fruto de uma evolução cultural multissecular que para se processar demandou a articulação de interesses materiais em prol de determinadas categorias sociais e, simultaneamente, em prejuízo de outras categorias.

De forma mais específica e contextualizada, poder-se-ia afirmar que a lenta construção do sujeito do direito, ou do próprio ideal de sujeito burguês, do qual o primeiro conceito se apresenta como materialização no âmbito do Direito, foi feita, em verdade, tendo em vista consolidar determinados interesses econômicos burgueses, que enquanto implementadores de uma ordem capitalista demandavam a criação de uma mão-de-obra que outro vínculo com o mundo da produção não tivesse que não a venda de sua força de trabalho mediante uma retribuição in pecunia, feita por meio de contratos de trabalho ou prestação de serviços celebrados entre sujeitos livres, autônomos, e emancipados de toda e qualquer tutela ou vínculo servil.

Muito embora a articulação do sujeito de direito seja flexionada por um processo de base material que se consolida no século XVI (qual seja, o capitalismo, ao menos em sua primeira fase de natureza comercial), e que lança mão para tanto de elementos culturais por vezes resgatados da própria antiguidade clássica, o fruto de tal processo (que mais de uma vez já se denominou de multissecular e complexo) passa a ser percebido de forma relativamente

lúcida pelos seus contemporâneos apenas no século XIX.

A primeira articulação da consciência autonomizada (e atomizada, conforme já comentado) do homem moderno pode ser observada na obra do filósofo alemão Friedrich Hegel, e mais especificamente, na seção A do capítulo quatro da “Fenomenología do Espírito”, quando o referido autor apresenta a dialética do Senhor e do Escravo. Tomando como pano de fundo uma Grécia Clássica idealizada pela modernidade, cria Hegel duas figuras de caráter especulativo a que denomina de Senhor e de Escravo, sendo que no antagonismo observado entre ambas as figuras acaba por se vislumbrar a necessidade de reinserção, na modernidade, dessas figuras em um conceito de cidadão.

De uma forma mais ampla, a dialeticidade firmada entre os referidos seres acaba por denotar, muito embora encenada na Grécia Clássica, a própria tomada de consciência que o indivíduo moderno realiza, considerado-se como uma singularidade própria e distinta da comunidade onde se encontrava originariamente inserido, e que se opõe igualmente a outra singularidade (pense-se, então, na profunda imersão das individualidades nos meios sociais em que vivia, ocorrida durante o período medievo, e que é totalmente repensada em um novo estágio econômico muito mais dinâmico cuja palavra de ordem é a total desvinculação dos seres da terra onde se encontravam inseridos.275).

Percebe-se aqui que a implementação do novo modo de produção, denominado de capitalista, demandou a destruição dos antigos vínculos feudais que ligavam, de fato e ou de direito, a maioria esmagadora da população à terra que era obrigada a cultivar, ou de qualquer outra organização coletiva sob cuja tutela pudessem estar os indivíduos submetidos.

Mais do que uma simples declaração formal de emancipação dos homens ao solo que habitavam, demandou a estruturação das novas relações de exploração econômicas, a instituição do novo homem moderno, dotado de razão e autonomia inatas que lhe permitiriam celebrar contratos de qualquer espécie, com os sujeitos que melhor lhe aprouvessem. Para tanto, realizou-se a lenta mobilização de certos setores sociais, tidos como essenciais na elaboração, reprodução e imposição de um novo discurso, que proclamasse que eram os homens racionais, livres, singulares, e detentores de um complexo de direitos pelo simples fato de terem nascido com vida. Fala-se, é claro, dos setores já comentados anteriormente, quando da explicação das instâncias de construção da subjetividade moderna, os quais, enquanto promoviam a afirmação de cada indivíduo como um ser autônomo, digno, cuja satisfação dos objetivos por ele racionalmente definidos seria o fim maior de sua própria existência. A intemalização de tais posturas por cada um dos indivíduos concretos demandou a ação conjunta (embora nem sempre concertada e harmônica) de segmentos como Estado, intelectualidade e religião, a qual acabou por permitir que os indivíduos acabassem por se definirem como seres livres e autônomos, bem como que fosse dotado a figura do sujeito de direito de sentido dentro do ambiente que era implementada.

Apesar da clara artesanía que envolve e determina a implementação não só da figura do sujeito de direito, mas da própria subjetividade burguesa, fato é que tão grandes quanto os

275 E por extensão, também uma desvinculação da própria terra, tradicionalmente ligada a determinados grupos de indivíduos (que abrangiam tanto elementos nobres quanto servis), tudo como forma de transformar indivíduos e terra em objetos de livre circulação no dinâmico mercado capitalista que se instaurava com a modernidade.

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interesses que flexionaram a articulação de tais fenômenos foram aqueles que determinaram que tais relações ou interesses econômicos permanecessem totalmente acobertados sob a capa de conceitos como racionalidade ou natureza, apresentados estes como independentes da interferência humana.

Há uma irretorquível realidade histórica de que o sujeito de direito nem sempre existiu, tendo, antes, existido durante milênios formas de organização social que lhe foram totalmente contrárias, sem que tal fato tenha se apresentado como um óbice à permanência ou desenvolvimento dessas mesmas sociedades. Face tal incômoda realidade histórica, acaba por lançar mão a burguesia de um conceito exorcizador de toda querela, conflito, ou dificuldade de percepção, e que seria a noção de razão ou racionalidade. Por tal conceito, então, muito embora existentes realidades históricas milenares não só pré-modemas, mas declaradamente anti-modernas, passam a ser estas denominadas de irracionais, ou seja, incompatíveis com os ditames ditados por uma razão humana que, em última análise, nada mais faria do que refletir e se harmonizar com a natureza das coisas.276

Assim, apenas os produtos da cultura burguesa gozam do privilégio de se encontrarem em harmonia com os anseios e ditames de uma razão universal, sendo que todas as sociedades que mostram não se compatibilizar (tanto no passado como no presente) com aqueles mesmos produtos, são em verdade totalmente artificiais (adjetivo este entendido de forma pejorativa), vale dizer, em desarmonia com os ditames da própria natureza das coisas, demonstrados pelo uso desapaixonado da razão.

A especificidade do discurso legitimador burguês fundar-se na supremacia da razão, muito deve ao fato de não ter podido a classe econômica que implementava a modernidade se basear em elementos de tradição ou antiguidade, que conforme já observado anteriormente, eram firmemente monopolizados por uma instância cujos interesses convergiam muito mais para os interesses da nobreza agrária (segmento hegemônico da pré-modemidade) do que para os interesses da burguesia mercantil e industrial (in casu, a Igreja).

Apesar da referida opção da burguesia por uma visão de mundo em que a demonstração da necessariedade e definitividade da civilização por ela criada fosse feita por meio de uma capacidade tipicamente humana (qual seja, a razão), a finalidade ou missão que

276 E remetendo-se a Hegel novamente, a afirmação histórica do sujeito de direito, tal como percebido por tal autor nada mais faria do que afirmar a evolução da própria autoconsciência, sem se atentar para as controvérsias materiais que se esconderiam por de trás do paulatino desenvolvimento de uma ‘consciência de si’, que, em verdade, nada mais seria que a autoconsciência individualista do homem burguês moderno.

esta idéia acabou por desempenhar no mundo demonstrou haver uma perfeita identidade de função entre o conceito de razão e o de Deus usado anteriormente durante a medievalidade.

Quer-se dizer que, conforme comentado amiúde, acabam a razão ou a natureza que ela se propõe a descrever de uma forma imparcial e objetiva, justificando uma quantidade tão grande de fenômenos que, todavia, nenhuma relação de necessariedade ‘natural’ apresentavam (sendo antes, meras artesanías feitas por interesses determinados), de modo a apresentarem, então, os referidos conceitos idéias tão ou mais transcendentais quanta a própria noção de Deus.

Tendo em vista as considerações já tecidas anteriormente sobre o conceito de ideologia adotado no presente trabalho, chega-se, então, à utilização ideológica do conceito de sujeito de direito, vez que tal figura se mostra aos olhos de seus destinatários (e mesmo aos olhos dos mais consagrados teóricos do Direito) como a materialização de uma razão sem compromissos diretos e deliberados com interesses de exploração econômica ou dominação política.

Sobre o que poder-se-ia denominar de transcendentalização do sujeito de direito, no sentido de se apresentar este de uma forma totalmente desconectada dos interesses materiais que de fato garantiram não só seu surgimento, como também sua permanente reprodução, bem como mostrar-se como a transfiguração de uma ordem natural (e portanto a-histórica) que conseguiria a humanidade realizar, oportunas são as palavras de Bernard Edelman, no sentido de que:

A forma Sujeito de Direito vai produzir, se posso dizê-lo, a sua própria história. Falo, neste momento, de uma Forma Sujeito que é um produto da história, mas que, ao mesmo tempo, pretende produzir a sua própria história.

Esta pretensão é a pretensão última de toda a ideologia: sustentar um discurso antropológico, isto é, manter o discurso do homem eterno enquanto indivíduo. E', por outras palavras, confessar a pretensão de que o processo da história nada mais é do que o seu próprio processo, e que a história acabada e encerrada da propriedade privada.277

Conforme demonstrado ao longo do presente trabalho, foi a implementação da figura do sujeito de direito elemento essencial na consolidação do regime capitalista de exploração econômica, a demandar a desvinculação dos indivíduos de toda organização coletiva ou mesmo dos próprios instrumentos de produção. Tal fenômeno, contudo, longe de encontrar sustentação teórica em alguma razão metafísica, posto que imanente a todo indivíduo,

277 EDELMAN, Bernard. O Direito captado pela fotografía: elementos para uma análise marxista do Direito. Coimbra: Centelha, 1976, p. 106.

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independente dos contextos históricos em que tenha sido criado, ou dela ser a materialização concreta, foi, em verdade, o meio alcançado por uma elite econômica bastante determinada para consolidar e reproduzir suas relações de dominação sobre todo o restante da sociedade.

Outrossim, o estudo de todos os antecedentes culturais utilizados pelo projeto burguês na construção de seu novo modelo de humanidade não demonstra nenhuma linha de evolução linear que permitisse afirmar a consubstanciação cada vez mais perfeita na realidade de idéias como razão ou liberdade, desde a mais remota antigüidade até os tempos modernos, mas, antes, um processo de mudança onde barbárie e civilização evoluem e se sofisticam juntos bem como estão a entrecruzar e influenciar mutuamente em todo o momento do

processo de transformação social.278

Na análise de todo o processo histórico, bem como de todas os fenômenos que estão incessantemente e simultaneamente surgindo, se transformando e se destruindo dentro daquele, é absolutamente imperioso se repudiar a percepção de qualquer criação humana como o coroamento de um processo que, ainda que atravessado por marchas e contra­ marchas, caminhe de forma inevitável para um fim previamente definido. Tal percepção naturalista de um processo civilizatório que se assinala justamente pela ausência de necessariedades, tão comuns nas relações existentes no universo da física, e da qual nem mesmo a tradição intelectual marxista costuma sair totalmente ilesa, deve ser entendida como um dos exemplos mais flagrantes de compreensão ideologizada da realidade social.

Encontra-se o cerne da ideologia, conforme já observado anteriormente, não exatamente na transmissão de mensagens que nenhum vínculo ou conexão tenham com a realidade concreta que se proponham a descrever (posto em que tal situação encontrar-se-ia diante de uma mentira vulgar, facilmente afastada pelo uso do próprio senso-comum), mas, antes, na transmissão de mensagens que além de descreverem a realidade por meio de enunciados que tem com esta uma certa conexão facilmente auferível, trazem também de forma implícita outras afirmações para consumo dos sujeitos que já não são tão reais assim.

Falando de forma mais específica sobre afirmações ‘que já não tão reais assim’, tem- se em mente então a tentativa feita invariavelmente com sucesso pela ideologia, de apresentar partes (normalmente vitais) da sociedade, como simples reflexo de uma ordem natural das coisas, contra a qual a vontade humana, mesmo que articulada em grandes programas

278 Sendo se lembrar que para Marx, tal como colocado em passagem do Manifesto, já referida anteriormente a própria crise dentro do sistema de produção burguesa, que arrasta a sociedade para um estado de barbárie, é causada por um excesso de produção, ou, nas palavras do autor, por um “excesso de civilização.” MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do..., p. 51).

coletivos tendo em vista tentar transformar essa mesma ordem, pouco ou quase nada poderia fazer.

Como cerne da ideologia burguesa (embora nisso ela reproduza uma postura feita com perfeição pela ideologia medieval) há a demonstração de que, por maiores que sejam os poderes que o homem desenvolva sobre a natureza, ele mesmo em sua vida em sociedade deverá obedecer passivamente a certas inflexões fruto de uma ordem entendida como efetivamente supra-humana, uma vez que obedece a desígnios que pelo homem não podem ser alterados de forma alguma.

Gigantesca falácia que nada obstante tenha se tentado parcialmente desconstituir por meios das considerações sobre a historicidade intrínseca de todo fenômeno cultural, feitas no presente trabalho, é cotidianamente e insistentemente reproduzida por falas oriundas de todos os meios de comunicação, e que estão a mostrar aos indivíduos não só a inutilidade, mas também a irracionalidade, de querer se posicionar contra os principais movimentos de transformação articulados em prol dos interesses dos detentores da hegemonia econômica. E é essa especificidade da farsa ideológica, qual seja, a tentativa de demonstrar como naturais fenômenos sociais que detém, de todo o modo, uma existência concreta, que explica a própria perenidade das falas ideologizadas, posto que sempre escondidas ou camufladas no meio de uma miríade de informações verdadeiras (empiricamente constatáveis).

Apresentar a figura do sujeito de direito, ou a própria visão burguesa de homem que com ela permanece fundida como uma mensagem ideológica (ou em outras palavras, como elementos da superestrutura ideológica) não significa apresentar tais figuras como simples delírios de uma mente totalmente apartada da realidade efetiva das coisas, reconhecendo-se antes, que além de tais construções culturais poderem ser empiricamente constatáveis, desempenham uma função de tamanha importância na reprodução dos interesses materiais no âmbito do capitalismo, que delírio seria, em verdade, alegar a pura e simples ausência de correspondência com o meio concreto das referidas figuras.

Conforme demonstrado pelas descrições do próprio processo de transformação social responsável por sua gênese, a figura do sujeito de direito possui inegável substância histórica, sendo de fato o conceito que ela consubstancia um elemento precioso para a compreensão da realidade moderna. Já sobre a forma como se dá a percepção desse mesmo sujeito, possível se identificar vários pontos de divergência que de certo modo refletem as desarmonias que se processam no campo dos interesses materiais.

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Falando de forma mais específica, poder-se-ia dizer ser o sujeito de direito passível de ser pensado a partir de urna postura socialmente hegemônica ou a partir de uma postura crítica. Remete-se a primeira postura diretamente às posições adotadas pelo discurso jurídico dominante, e para o qual, ou o sujeito se apresenta como a formalização (poderíamos dizer, positivação) de uma certa ordem natural das coisas, ou como o produto acabado da própria evolução de determinados valores, como liberdade e racionalidade, e que permitiriam entender a referida figura, conforme as já citadas palavras de Caio Mário da Silva Pereira, como uma verdadeira “conquista da civilização jurídica” .

Pela postura crítica tenta se descrever o sujeito do direito não como o fruto terreno de uma razão imanente que governaria a história de forma a levá-la a objetivos pré-determinados e independente da vontade dos próprios homens, sobre os quais, aliás, pairaria de forma altaneira, mas, antes, como apenas um dos vários produtos de uma estrutura cultural articulada tendo em vista promover a consolidação e reprodução de interesses econômicos bastante determinados, os quais não seriam compreendidos como sujeitos a processo de evolução pré-estabelecido, mas, antes, vistos como demandando uma afirmação contínua onde a uso da violência nunca está excluído, haja vista os interesses sociais antagônicos com as quais está incessantemente sendo obrigado a se defrontar, e que caso consigam se tomar eventualmente hegemônicos, poderão colocar a sociedade rumo a formas de desenvolvimento “naturais” absolutamente próprias e singulares.

Retomando à postura já denominada de socialmente hegemônica, poder-se-ia dizer inicialmente a seu respeito que é cotejando o discurso feito pela ciência ‘oficial’ a respeito das formas e implicações do sujeito de direito na sociedade, com todas as outras relações e implicações ‘não faladas’ por tal teoria, que se compreende melhor a própria afirmação marxista de que a ideologia teria por escopo fazer com que os homens enxergassem o mundo de uma maneira invertida.

Segundo a doutrina dominante, a consolidação do sujeito de direito seria uma espécie de avanço de uma visão humanista (ou humanizadora) do direito moderno sobre, por exemplo, o direito romano, o qual, conforme sabido, não reconhecia a todos os homens (como por exemplo os escravos) a capacidade genérica de ser sujeito de direitos e obrigações (no que não se diferenciava de todos os demais sistemas jurídicos da antigüidade, produzidos dentro de economias esclavagistas). Deste modo, para a ciência oficial, o sujeito de direito asseguraria (e isso é quase uma obviedade falar) uma igualdade jurídica (isonomia) entre todos os homens que vivessem sob o jugo de uma dada organização política,

consubstanciando dentro desta uma igualdade e uma harmonia aparentemente inspirada na própria igualdade e harmonia que prometia o cristianismo aos seus fiéis numa vida p o st

mortem.

Funda-se o projeto de implementação do sujeito de direito, conforme já comentado anteriormente, na realização concreta (no sentido de terrena) de promessas ou ideais antes vistos como típicos de uma realidade transcendente a qual os homens só poderiam ter acesso pela via do espírito. Tal promessa, ao seu turno, aponta bem para o destino da mensagem ideológica do sujeito de direito face a sociedade, voltado para reproduzir no âmbito desta a impressão de que a igualdade e liberdade efetivamente se implementavam com a consolidação da civilização burguesa (ou, ao menos a liberdade e a igualdade que permitiria a “natureza” das coisas). Materializa, então, o instituto do sujeito de direito, aos olhos de todos os seus destinatários, que de fato a igualdade ou a liberdade naturais do homem encontram-se finalmente asseguradas pelo Estado, dentro de uma quadro de harmonia onde a singularidade

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