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VII – MÉTODO

2. Sujeitos e amostra

Foram estudados 150 sujeitos, de três diferentes faixas etárias: 50 sujeitos cursando o pré-primário (ou primeiro ano), entre 5 e 6 anos; 50 na quarta série (ou

quinto ano), entre 9 e 10 anos; e 50 na oitava série (ou nono ano), entre 13 e 14 anos. Os sujeitos estudados estão cursando o ensino fundamental em escolas públicas da zona oeste da cidade de São Paulo, tanto municipais quanto estaduais. As escolas concordaram em participar do estudo mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido em anexo. As faixas etárias foram escolhidas por representarem a finalização de ciclos acadêmicos estabelecidos, o fim da pré-escola, o fim da primeira etapa e da segunda etapa do ensino fundamental, nos quais se supões que as aquisições cognitivas e de desenvolvimento global da idade já tenham sido adquiridas. A primeira faixa, que começa aos cinco anos, refere-se à idade onde se espera que todas as crianças já sejam capazes da representação gráfica de figuras diferenciadas.

Em cada faixa etária há metade dos sujeitos de cada sexo.

Optou-se por uma amostra grande, com a finalidade de oferecer oportunidade para que a diversidade dos diferentes tipos de resposta pudesse ser representada. A amostra total foi de 150 sujeitos, igualmente distribuídos por sexo e nas faixas etárias previamente definidas.

3. Instrumentos

Os instrumentos usados para a coleta de dados foram dois desenhos que foram pedidos a cada criança, em duas folhas separadas de papel sulfite A4, com o material gráfico que a própria criança escolheu entre: lápis preto, lápis de cor ou de cera, caneta hidrográfica. Primeiramente foi pedido um desenho de Deus, e depois um desenho de Deus fazendo alguma coisa. Não houve instrução específica quanto à posição da folha.

Ao entregar o trabalho à pesquisadora, os comentários espontâneos da criança sobre seu desenho foram registrados.

Entendendo o instrumento como o meio pelo qual se provoca, em pesquisa, a expressão do sujeito, e buscando o instrumento adequado para facilitar a expressão aberta nas faixas etárias estudadas, escolheu-se o desenho, já que “Os instrumentos apóiam-se em expressões simbólicas diferenciadas das pessoas, entre as quais terão um maior valor aquelas que constituem as vias preferenciais de expressão para cada sujeito concreto.” (GONZÁLEZ REY, 2005, p. 43). Os desenhos facilitam a expressão das crianças na medida em que são habituais em suas rotinas cotidianas, são rápidos, podem ser aplicados coletivamente, embora a produção seja individual.

Segundo González Rey (2005), os desenhos têm sido ainda usados em pesquisa como vias para produzir uma informação “não esperada, desconhecida, que contribuiria para o conhecimento do problema estudado” (p.66), como foi o caso de presente estudo. Como desdobramento do uso do desenho, foi permitido que algumas crianças que quisessem fazer comentários os fizessem e os comentários foram anotados pela pesquisadora na própria folha do desenho. Tratou-se de uma oportunidade de expressão livre, respeitando as eventuais dificuldades de verbalização de conceitos abstratos e por si indefiníveis, das faixas etárias estudadas. Os comentários, entretanto, podem ser utilizados enquanto enriquecimento dos dados obtidos através dos desenhos, ou até como uma chave para a compreensão dos mesmos.

4. Procedimentos

4.1. Período de coleta de dados: Os dados foram coletados no primeiro semestre de 2007, durante a aula, pela pesquisadora, junto com a professora, buscando interferir o menos possível com a rotina escolar da criança.

4.2. Local de coleta de dados: Os locais da coleta dos dados foram as salas de aula, durante o período escolar, em escolas públicas municipais ou estaduais, da zona oeste da cidade de São Paulo, que, depois de convidadas a participar da pesquisa de forma voluntária e gratuita, assinaram o termo de consentimento. Tais termos de consentimento livre e esclarecido foram assinados pelos responsáveis pelas escolas.

4.3. Randomicidade da orientação religiosa: Fazendo o estudo em escolas públicas leigas tentou-se garantir a randomicidade da amostra quanto à filiação religiosa. O levantamento da afiliação religiosa específica geraria um problema metodológico e ético, na medida em que, na tentativa de colher amostras de um número significativo de grupos religiosos, encontramos algumas religiões que não permitem a representação de Deus, como a judaica e algumas linhas do protestantismo tradicional. No Judaísmo não se nomeia Deus, e muito menos se permite que seja representado em imagens, e pedir que as crianças representem Deus seria induzi-las ao pecado da “idolatria”, conforme informado por líderes religiosos à pesquisadora. De qualquer modo, a intenção da pesquisa é apenas o estudo das representações enquanto que a interdição bíblica refere- se à reprodução de imagens de culto:

Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem esculpida de nada que se assemelhe ao que existe lá em cima, nos céus, ou embaixo na terra, ou nas águas que estão

debaixo da terra. Não te prostrarás diante desses deuses e não os servirás, porque eu, Iahweh teu Deus, sou um Deus ciumento, que puno a iniqüidade dos pais sobre os filhos até a terceira ou quarta geração dos que me odeiam, mas que também ajo com amor até a milésima geração para aqueles que me amam e que guardam meus mandamentos. (Ex 20, 3-6)

Respeitando, apesar disso, os limites éticos da doutrina, o estudo restringiu-se, então, a crianças de escolas públicas leigas, sem especificação quanto à religiosidade, que se propusessem espontaneamente a submeter-se à tarefa.

Manter a variável “afiliação a grupos religiosos” randomizada, mas não manipulada, está de acordo com o pressuposto teórico junguiano, no qual se parte da premissa de uma universalidade do funcionamento psíquico, que, na sua própria estrutura, representa um Deus que pode ser observado na produção das crianças, para além das variações de sua representação decorrentes de estimulação religiosa específica.

A caracterização da população estudada quanto à religião corresponde à da periferia da cidade de São Paulo, com grande maioria de indivíduos que se colocam dentro da religião cristã e seus desdobramentos e sincretizações.

4.4. Aplicação dos instrumentos: Em primeiro lugar a escola foi contatada pela pesquisadora, que explicou o objetivo e o procedimento da pesquisa ao responsável, pedindo que este assinasse um termo de consentimento. Com a permissão do responsável, as crianças, durante o período normal de aula, foram convidadas a fazer dois desenhos, em um único encontro de aproximadamente 15 minutos de duração. Ao entrar na classe, a pesquisadora foi apresentada às crianças pela professora, que pediu a elas para participarem de uma atividade que consistia de dois desenhos, para uma pesquisa a respeito do desenvolvimento de crianças. Em seguida os papéis foram

errado, apenas desenhem como vocês quiserem ou imaginarem que Deus é”. Depois de feito, o desenho foi entregue pela criança para a pesquisadora, que anotou algum comentário livre sobre seu desenho. A próxima folha de papel com a nova instrução foi então distribuída: “Desenhem Deus fazendo alguma coisa.”. Quando as crianças entregaram seus desenhos, novamente foi permitido àquelas que quiseram explicar seus desenhos ou comentarem o que fizeram. Tais explicações ou comentários foram anotados na própria folha do desenho.