• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

3.4 Sujeitos e Gestão

Segundo Guará (2006), a perspectiva da educação como formação integral implica compreender o processo educativo como condição para a ampliação do desenvolvimento humano. A autora destaca que para garantir a qualidade da Educação Básica é preciso

considerar que o processo educativo engloba a relação da aprendizagem dos alunos com a sua vida e com sua comunidade. Nesse sentido, o rol de sujeitos que passa a fazer parte do processo ensino-aprendizagem se amplia e conta com a participação do poder público, dos estudantes, da comunidade escolar e da comunidade local.

O público alvo do Programa Mais Educação é o estudante da Educação Básica. A LDB, no art. 4º, inciso I, prevê que a Educação Básica é obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade e está organizada da seguinte forma: Pré-escola, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Cada escola, contextualizada com seu projeto político-pedagógico e em diálogo com sua comunidade, será a referência para se definir quantos e quais alunos participarão das atividades, sendo desejável que o conjunto da escola participe nas escolhas. Ressalte-se que a proposta da educação integral considera a ampliação da jornada escolar como um meio de se diminuir as desigualdades educacionais e, por consequência, sociais. Assim, caso não seja possível atender a todos os estudantes, a instituição deve definir o público a partir dos seguintes critérios (BRASIL. 2013a):

 estudantes em situação de risco, vulnerabilidade social e sem assistência;  estudantes que congregam, lideram, incentivam e influenciam positivamente

seus colegas (âncoras);

 estudantes em defasagem série/idade;

 estudantes das séries finais da 1ª fase do ensino fundamental (4º / 5º anos), nas quais há uma maior evasão na transição para a 2ª fase;

 estudantes das séries finais da 2ª fase do ensino fundamental (8º e/ou 9º anos), nas quais há um alto índice de abandono;

“A ação integrada das esferas de governo e dos entes federados é a tarefa imediata para a ampliação das escolas e da jornada escolar, de modo a viabilizar a proposição progressiva para uma educação integral de tempo integral” (BRASIL, 2009c, p. 45). Nesse processo, o Estado deve ressaltar a importância de que o aluno é o foco do processo integrado, que movimenta a parceria entre agentes públicos (gestão intersetorial) e sociedade civil (gestão comunitária participativa).

Essa parceria, que envolve outros setores das políticas públicas, torna viável a inserção de temáticas ligadas à vida cotidiana do aluno no currículo. É necessário promover maior articulação entre as atividades desenvolvidas no campo da educação formal, pelos estabelecimentos de ensino e órgãos de gestão – e os demais setores – saúde, cultura, esporte,

lazer, justiça, assistência social, entre outros. Por isso, o Programa Mais Educação tem como signatários os Ministérios da Educação, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Cultura (MINC), Esporte (ME), Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e Meio Ambiente (MMA). “O projeto de educação integral, ora proposto, dá concretude ao princípio da transversalidade das políticas públicas” (BRASIL, 2009c, p. 45).

Dessa forma, verifica-se que o Programa delineou uma educação integral que intensificasse os processos de territorialização das políticas sociais, articuladas a partir dos espaços escolares, por meio do diálogo intragovernamental e com as comunidades locais. Essa estratégia promove a ampliação de tempos, espaços, oportunidades educativas e o compartilhamento da tarefa de educar entre os profissionais da educação e de outras áreas, as famílias e diferentes atores sociais. Isso porque “a Educação Integral, associada ao processo de escolarização, pressupõe a aprendizagem conectada à vida e ao universo de interesse e de possibilidades das crianças, adolescentes e jovens.” (BRASIL, 2009a, p. 4).

As Secretarias de Educação, especificamente, desempenham um papel importante na implementação do Programa Mais Educação. É por meio delas que estados e municípios participantes do Programa organizam equipes para a gestão, a orientação pedagógica e o acompanhamento da aplicação de recursos. À frente dessas equipes nas Secretarias, está o Coordenador Municipal ou Estadual do Programa. Cabe a ele as seguintes tarefas (BRASIL 2013a):

 coordenar a implementação e execução do Programa na secretaria e nas unidades de ensino da rede;

 participar de Comitês Territoriais de Educação Integral1 , se houver, ou fomentar a criação do referido comitê;

 dialogar com a instância federal (SEB/MEC);

 fomentar e articular parcerias, em especial, com as universidades, e ações intersetoriais;

 elaborar e realizar ações de formação de professores e de educadores que desenvolvem atividades nas escolas ou em espaços sob sua responsabilidade; Na implementação da educação integral nas escolas, compete ao Diretor, por meio de sua atuação com o Conselho Escolar, incentivar a participação e o compartilhamento de informações em meio aos professores, funcionários, estudantes e suas famílias. Cabe a ele promover o debate da educação integral em jornada ampliada nas reuniões pedagógicas, de

planejamento, nos conselhos de classe, nos espaços do Conselho Escolar e nas atividades realizadas com a comunidade escolar.

Compete, também, ao Diretor a articulação junto à Secretaria de Educação, a tomada coletiva das decisões acerca das escolhas das atividades formativas do Programa Mais Educação, a garantia da transparência na prestação de contas dos recursos recebidos, entre outras tarefas. O resultado final desempenhado por ele deve desencadear o envolvimento de toda a comunidade, em especial dos estudantes, para a construção de um ambiente favorável à aprendizagem. “Isso porque a Educação Integral representa o debate sobre o próprio projeto educacional da escola, da organização de seus tempos, da relação com os saberes e com os espaços potencialmente educadores da comunidade e da cidade” (BRASIL, 2013a, p. 17).

A Educação Integral abre espaço para o “trabalho dos profissionais da educação, dos educadores populares, dos estudantes em processo de formação docente e dos agentes culturais, que se constituem como referências em suas comunidades” (BRASIL, 2013a, p. 15). Nessa nova dinâmica, reafirma-se a importância e o lugar dos professores e gestores das escolas públicas e o papel da escola, sobretudo porque se quer superar a frágil relação existente entre a escola e a comunidade, expressa, inclusive, na dicotomia: turno x contraturno e currículo x ação complementar.

Para Pio e Czernisz (2015), tendo em vista a inserção de outros sujeitos que não os profissionais de educação, o trabalho de monitoria pode representar um problema. Segundo os autores, essa previsão evidencia a desresponsabilização do Estado, uma vez que previu-se a contratação de profissionais não formados para atuarem com os alunos, colocando em questionamento a educação de qualidade desejada. De um lado, os gastos com educação podem ser reduzidos; de outro, os estudantes são privados de terem aulas com professores formados e capacitados.

Resgatando a importância do poder público como sujeito vetor que inicia o processo de implementação da educação integral, no texto referência para o debate nacional tem-se que:

A insubstituível ação indutora do Governo Federal, no entanto, é coadjuvante, pois a oferta dos serviços educacionais para o atendimento dos direitos sociais é parte da tarefa mais ampla de construção de um Sistema Nacional Articulado, responsável por institucionalizar o esforço organizado, autônomo e permanente do Estado e da sociedade, por meio da gestão democrática e participativa. (BRASIL, 2009c, p. 42).

É preciso que a gestão democrática seja fomentada entre os diversos sujeitos que contribuem para o processo educativo. Ela está ligada à qualidade da educação, pois a participação social constitui um método de avaliação e de fiscalização do desempenho

escolar. A prática da gestão democrática, todavia, não se confunde com autonomia indiscriminada e à revelia dos sistemas. “Trata-se de compartilhar responsabilidades e tarefas, conferindo à escola a possibilidade de criar sua identidade sem, necessariamente, precisar emoldurar-se ao cartesianismo das políticas de cunho global” (BRASIL, 2009c, p. 41).

Ao tratar sobre os desafios para a gestão escolar em contextos de implementação de programas federais, Leclerc (2011) reflete sobre a aproximação entre os sistemas de ensino e o chão da escola, mediada pela assistência técnica e financeira do MEC. As tarefas de caráter teórico-metodológico dos programas a serem implementados, a exemplo do Programa Mais Educação, são dependentes da experiência de gestão democrática, na qual, a escola é compreendida como a primeira das esferas públicas a desempenhar esse papel. Assim, “a educação integral será a soma das condições de partida oferecidas pelos governantes com o que for construído em cada escola, em cada rede de ensino, com a participação dos educadores, dos alunos e das comunidades” (BRASIL, 2011, p. 20).

Em que pese a normatização da educação integral ter ocorrido em nível federal por meio do Programa Mais Educação, ele terá efeitos diferenciados dependendo da gestão de cada escola e da região onde está localizada. Da gestão escolar porque as instituições possuem autonomia para criar seu projeto político-pedagógico e da região porque outros sujeitos participam da formação do aluno. Destaca-se que já nos considerandos da Portaria Interministerial nº 17/2007 afirmou-se que a educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência comunitária, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.