• Nenhum resultado encontrado

Permitam-me uma breve recapitulação. Uma guerra nuclear em grande escala, ao que nos é dado prever, deixaria quando muito sobreviventes esparsos no Hemisfério Norte, e esses sobreviventes enfrentariam frio intenso, fome, falta de água, smog espesso, etc.,etc., e enfrentariam tudo isso na penumbra ou no escuro, e sem o apoio de uma sociedade organizada.

Os ecossistemas de que em grau extremo eles seriam dependentes sofreriam fortes distorções, transformando- se em modos que dificilmente podemos predizer. Seus processos seriam entravados. Os ecologistas não conhecem suficientemente esses sistemas complicados para poderem prever a sua exata condição depois de "recuperados". Se a biosfera voltaria a ser um dia algo parecido ao que é hoje, ninguém é capaz de dizer.

É altamente improvável que a sociedade do Hemisfério Norte perdurasse. Na zona tropical do Hemisfério Sul, os eventos dependeriam em grande parte do grau de propagação dos efeitos atmosféricos do norte para o sul. Mas podemos estar certos de que, ainda que não houvesse essa propagação, as populações que vivem nessas áreas seriam fortissimamente afetados pelos efeitos da guerra - pelo simples fato de ficarem isoladas do Hemisfério Norte.

E, repetindo, se os efeitos atmosféricos se alastrassem por todo o planeta, não podemos ter certeza de que o Homo sapiens sobreviveria.

Figura 1. Deslocamento urbano provável: Uma semana

após uma guerra nuclear, a quantidade de luz solar ao nível do solo a grandes distâncias dos objetivos do Hemisfério Norte possivelmente se reduziria a uma pequena percentagem da normal. Os sobreviventes urbanos defrontar-se-iam com frio intenso, falta de água, falta de alimentos e de combustíveis e pesadas cargas de radiação, poluentes e doenças. Provavelmente tentariam abandonar as cidades em busca de comida.

Figura 2. Impacto na agricultura: No caso de uma guerra

de primavera ou de verão, temperaturas abaixo do ponto de congelamento destruiriam ou comprometeriam praticamente todas as culturas no Hemisfério Norte. Os baixos níveis de iluminação inibiriam a fotossíntese, e as conseqüências propagar-se-iam em cascata ao longo de todas as cadeias alimentares. Os animais de criação morreriam ou se debilitariam grandemente por efeito da radiação: Os que sobrevivessem em pouco tempo morreriam de sede, pois as águas doces superficiais estariam congeladas no interior dos continentes.

Figura 3. Vazamentos químicos: Explosões nucleares nas

vizinhanças de cidades incendiariam instalações de armazenagem de petróleo e gás e romperiam tanques contendo produtos tóxicos, que se derramariam nas águas correntes, matando os organismos aquáticos.

Figura 4. O frio e a escuridão que se seguiriam a uma guerra nuclear no Hemisfério Norte provavelmente

haveriam de estender-se às zonas sub-tropicais e tropicais de ambos os hemisférios, causando danos generalizados às plantas e animais daquelas regiões e afetando seriamente ou destruindo florestas tropicais úmidas, o grande reservatório da diversidade orgânica da Terra. Em lugares como a América Central (figura) as populações teriam de perambular à procura de abrigo e alimento.

Figura 5. Aqui se mostra uma paisagem tranqüila nas matas do norte. Um castor acabou de construir a sua represa, dois ursos pretos vagueiam à cata de comida, uma borboleta do gênero Papilio adeja no primeiro plano, um mergulhão passa nadando calmamente, um martim- pescador espreita um peixe suculento.

Figura 6. Depois de uma guerra nuclear, formar-se-Ia nos

si temas de água doce uma camada de gelo de considerável espessura, acabando com o alimento dos animais selvagens. A precipitação radioativa mataria as coníferas.

Figura 7. Coníferas mortas e secas serviriam de

acendalhas para extensos incêndios florestais.

Figura 8. Uma vista em corte do oceano em condições

profundidades. Entre eles, arraias-do-mar, cavalas, arenques, meros: atuns, caranhos-vermelhos, jubarte, polvo gigante e tubarão. As águas rasas da plataforma continental sustentam estrelas-do-mar e -corais. Um barco de pesca apanha camarões. Os pequenos organismos do plâncton servem de alimento a outros seres marinhos.

Figura 9. Aqui se vê a mesma seção de oceano da Figura

8 depois de uma guerra nuclear. Em conseqüência do escuro e da cessação da fotossíntese, o fitoplâncton em pouco tempo se extingue, as cadeias alimentares se rompem e a vida marinha degenera. Silte e toxinas drenados da terra contaminam a zona costeira. O diferencial térmico entre as massas continentais intensamente frias e os oceanos mais quentes origina violentas tempestades ao longo do litoral. As fontes marinhas de alimento para a humanidade se perdem e o acesso às remanescentes é muito dificultado.

Perguntas

DR. OWEN CHAMBERLAIN (professor de Física da Universidade da Califórnia em Berkeley; Prêmio Nobel de Física de 1959): O senhor pode fazer o favor de repetir alguns pontos capitais sobre a cultura do trigo? Que queda de temperatura se requer para eliminá-Ia? Imagino que é fácil perder-se a produção de um ano simplesmente porque o sol foi insuficiente para operar um ciclo vital completo do trigo, mas o senhor mencionou alguns dados com respeito à queda de temperatura.

EHRLICH: Eu me referi ao cenário do Dr. Sagan de 3.000 megatons de contra-força - creio que algo em torno de 80C de queda. Veja que não se trata. apenas da

temperatura que uma planta em pé pode suportar num dado espaço de tempo. Por exemplo, se a temperatura média cai, o período de crescimento é abreviado. Na verdade, é uma questão complicada, a que os ecologistas têm dificuldades em responder com precisão. Mas eu julgo razoável afirmar que esse grau de declínio de temperatura, em termos de média em toda a área, é mais que suficiente para estancar a produção de trigo. Além disso, as variedades hoje cultivadas são altamente adaptadas às exatas condições em que são cultivadas. Assim, ainda que fosse teoricamente possível cultivar o trigo, depois da guerra não haveria tempo para reformular a agricultura e desenvolver e plantar variedades ajustadas às novas condições.

ARTHUR KUNGLE, JR. (presidente do Library Tree Project): Além dos problemas de suprimento de grãos, o senhor ou os seus colegas consideraram os efeitos das modificações de luz, temperatura e radioatividade nos organismos do solo, nos micorrizos e em diferentes categorias de algas?

EHRLICH: Eu prefiro parafrasear a pergunta: consideramos o que aconteceria ao sistema ecológico enormemente complexo existente nos solos? A resposta é sim, consideramos, e estamos convencidos de que haveria uma larga variedade de efeitos. O solo não é simplesmente rocha decomposta. É um sistema vivo, que inclui, por exemplo, os fungos micorrízicos, que desempenham uma função capital no transporte de substâncias nutritivas do solo para muitas árvores. Quando se olha uma floresta, pode parecer que as plantas dominantes são árvores. Na verdade, são micorrizos. Se os fungos micorrízicos morressem, as árvores desapareceriam. Infelizmente, nosso

conhecimento dos ecos sistemas do solo é ainda muito precário. A química é muito complexa, a biologia é mal compreendida. Não há dúvida de que haveria problemas, mas ninguém sabe dizer exatamente quais seriam. Esse é um assunto muito sério, e eu desconfio que é um dos aspectos em que os nossos prognósticos foram moderados.

WARD MOREHOUSE (presidente da Council on International and Public Affairs, Inc.): Mesmo num mundo sem guerra nuclear, muitos biólogos, ao que me consta, estão preocupados com a perda acelerada e aparentemente irreversível das reservas mundiais de material genético. No caso de uma guerra nuclear, qual seria o impacto provável sobre essas reservas genéticas, em que medida elas seriam irreparavelmente perdidas e até que ponto isso afetaria a capacidade dos ecossistemas agrícolas de se regenerarem?

EHRLICH: Em nossa opinião, haveria a perda de uma grande parte da variedade genética das plantas de cultivo, obviamente, pela perda de estoques de sementes, e também, se os eventos se estendessem às zonas tropicais, uma enorme perda de variedade. Mas creio que cabe observar que na opinião de muitos - embora neste caso eu fale por mim mesmo - basicamente o que uma guerra nuclear faria em talvez uma hora e meia é o que o Homo sapiens aparentemente está em vias de fazer dentro dos próximos 50 a 150 anos. O efeito de uma guerra nuclear em todas essas frentes é condensar a ação num tempo muito menor.

DR. GERALD O. BARNEY (Barney and Associates, Inc.): Para levar o público em geral e os nossos governantes a entenderem a gravidade deste assunto, é importante

examinar as coisas com base na hipótese pior. E a sua análise, se bem entendo, aplica-se principalmente ao caso de 10.000 megatons...

EHRLICH: Não é verdade.

BARNEY: Poderia dizer-nos alguma coisa sobre a variação de caso para caso e de que modo as conclusões a que os senhores chegaram variam de um cenário para outro?

EHRLICH: A conclusão básica dos biólogos é que mesmo o cenário de 100 megatons com ataque a cidades, ou o ataque de contra-força de 3.000 megatons, teriam conseqüências biológicas incrivelmente desastrosas. O ataque "cirúrgico" de 3.000 megatons, destruindo a agricultura de grãos em grande parte do Hemisfério Norte, poderia, mesmo que nem uma única pessoa fosse diretamente morta ou lesada, produzir uma catástrofe sem precedentes na história da nossa espécie. Alguns números, por exemplo os níveis de radiação, foram tirados do caso de 10.000 megatons porque nos pareceu conveniente apresentar aos biólogos as condições-limite, e alertar os detentores do poder de decisão sobre os riscos máximos plausíveis.

Mas, como observado pelo Dr. Sagan e como agora eu quero sublinhar, esses resultados subsistem ao longo de uma ampla gama de cenários. Os detalhes podem variar. Mas, em qualquer cenário, enormes perturbações afetariam os sistemas ecológicos do Hemisfério Norte pelo menos. E isto por sua vez afetaria em grau catastrófico os sobreviventes humanos. Para os biólogos a principal incerteza não é o que aconteceria nas latitudes médias do Hemisfério Norte, mas que proporção desses efeitos invadiria inicialmente as zonas tropicais do

Hemisfério Norte e em seguida as do Hemisfério Sul. Dada a maneira como funciona o mundo do ponto de vista biológico, se se considera o comércio de alimentos e outras coisas, os resultados seriam terríveis mesmo sem a propagação dos efeitos atmosféricos ao sul do equador. DR. PETER SHARFMAN (Comissão de Avaliação Tecnológica do Congresso dos Estados Unidos): Aceitando que a sua conclusão mais importante é a contestação da afirmativa do estudo de 1975 da Academia Nacional de Ciências, de que com toda a probabilidade a espécie humana sobreviveria, parece-me ainda assim que o senhor deveria focalizar melhor algumas das variações, como aparentemente fizeram o Dr. Sagan e seus colaboradores. Olhando rapidamente, pois não tive tempo para mais, a família de curvas gerada pelos relatórios TTAPS, noto que algumas delas são fortemente onduladas, e outras mais suaves. Evidentemente faz muita diferença para a agricultura quando o senhor fala de uma guerra no verão, que é provavelmente o pior caso, ou logo após a colheita, que provavelmente é o melhor. E a simples afirmativa de que os resultados subsistem para quase todas as variações não é tão convincente quanto seria a análise de alguns efeitos ou ausência de efeitos em algumas das variações mais definidas.

EHRLICH: Ninguém disse que não vamos prosseguir aprofundando o assunto. É claro que, estudando mais, provavelmente encontraremos situações em que se 5.000 megatons explodissem numa certa época do ano os efeitos seriam menos graves que se os mesmos 5.000 megatons explodissem em outra época do ano. Por exemplo, uma guerra de inverno pode ter efeitos piores nos trópicos, e os desdobramentos podem ser piores, pois

na primavera a agricultura é muito mais sensível que em qualquer

outra época do ano. É certo que haverá variações dos efeitos biológicos. O que subsiste é que eles serão terríveis, e que haverá tantos, e de tal modo superpostos, e de tal modo sinérgicos, que é difícil ver em qualquer desses cenários uma situação em que o impacto sobre as populações por intermédio dos sistemas ecológicos não fosse pelo menos tão brutal quanto os efeitos diretos.

Eu não estou dizendo que todos os cenários produziriam os mesmos efeitos. Nem poderia dizê-lo, pois os próprios físicos não são ainda capazes de proporcionar-nos todos os detalhes. E ainda que os tivéssemos, o conhecimento de como funcionam os sistemas ecológicos é tão incipiente que previsões detalhadas do que aconteceria se eles fossem perturbados de diferentes maneiras são sumamente difíceis. Afinal, normalmente não podemos realizar experiências - e no caso da guerra nuclear não desejamos fazê-lo. Desconfio que este é um desses casos, tanto em relação a efeitos atmosféricos como a efeitos sobre ecossistemas, em que teremos de nos contentar com generalidades,. pois nestas próximas décadas não teremos resultados mais precisos, se é que os teremos um dia.

DR. JACK VALLENTYNE (cientista senior do Centro Canadense de Águas do Interior em Burlington, Ontário): Desejo fazer um comentário e uma pergunta. O comentário é que eu acho que muitos aspectos da sua exposição são terríveis, e não acho que o senhor os tenha exagerado. Mas em diversas passagens o senhor empregou os verbos no futuro. E isto implica uma certeza que em realidade não existe.

EHRLICH: Mea culpa. Eu tenho esperança de que as coisas não "acontecerão". Espero que, com informações como estas, os povos do mundo se reunirão e encontrarão meios de acertar suas diferenças por maneiras outras que não a de explodir o planeta. É claro que concordo com o senhor. Não devemos usar o tempo futuro.

VALLENTYNE: Minha pergunta é que não é para mim intuitivamente óbvio que o ambiente marinho viesse a sofrer conseqüências tão graves. Provavelmente uma grande quantidade de substâncias nutritivas é despejada nele. Existem coisas como os pesqueiros de 16cios no lago Erie que, tão logo cessasse a pesca comercial, voltariam a multiplicar-se. Da mesma forma os do Mar do Norte. Os predadores - os pescadores humanos estariam menos presentes.

EHRLICH: Estou de acordo. A recuperação será provavelmente mais rápida nos ambientes marinhos. Mas de imediato eles sofrerão muito com a diminuição da luz, que exterminará o fitoplâncton.

É de presumir que o fitoplâncton não será uniformemente eliminado em toda parte. Haverá de reconstituir-se, e alguns dos sistemas recompor-se-ão. É opinião dos biólogos marinhos neste estudo que se perderia um bom número de espécies, ou pelo menos grandes populações, de peixes comerciais. É provável que os sistemas marinhos se restaurassem mais depressa, mas não estariam imunes só pelo amortecimento térmico da água. INTERPELANTE NÃO IDENTIFICADO: Eu gostaria de observar que, se o senhor não vai discutir política, nós teremos de entregar o assunto à Providência divina. E não está certo o senhor impor o seu ponto de vista político

se nós não vamos discuti-Io. Os pressupostos referentes ao nível de 100 megatons envolvem uma série de questões.

EHRLICH: Nós não vamos tratar de política nesta conferência. Mas, pelo que sei, todos os biólogos que participaram deste estudo, sem exceção, e creio que todos os físicos igualmente, têm idéias próprias em matéria de política. Imagino que todos eles teriam muito prazer em discuti-Ias em reuniões apropriadas. Aqui, não pretendemos impor nenhum ponto de vista político. O ataque de 100 megatons a cidades não é uma previsão. O grupo TTAPS fez simplesmente o que os cientistas sempre fazem quando abordam um assunto muito complicado - tomou alguns casos hipotéticos para analisá- Ios de forma mais detida. Este é simplesmente um caso hipotético. Ninguém imagina que haverá uma guerra nuclear em que exatamente 100 megatons (1.000 bombas de 100 quilotons cada) serão distribuídos por exatamente 1.000 cidades como é o caso no cenário. Nem ninguém imagina que haverá um ataque cirúrgico de exatamente 3.000 megatons. Mas para elaborar modelos é preciso partir de algum ponto.

Eu, pessoalmente, acho que a equipe TTAPS fez um trabalho brilhante selecionando uma série de modelos que cumprem a função dos modelos em ciência, que é a de proporcionar uma maneira de refletir sobre o mundo, de raciocinar a respeito de questões complexas, com um certo grau de simplificação. Na reunião anterior de físicos e climatologistas que examinaram o estudo TTAPS, basicamente não houve reclamações quanto ao modo como foram escolhidos os modelos, embora tenha havido uma porção de perguntas cuidadosamente formuladas a respeito de outros pontos. Mas ao término da reunião, todos os presentes acharam que o grupo TTAPS realizou

um magnífico trabalho analisando com bom senso, embora com recursos limitados, um tema de importância capital, com base num conjunto de modelos perfeitamente razoáveis.

Mas o emprego dos modelos nada tem a ver com política. Eles estão aí, qualquer um é capaz de entender os resultados, e os condutores da política podem fazer uso deles e tirar suas próprias conclusões.

DR ROBERT EHRLICH (Universidade George Mason, Virgínia): Pelo que entendi, os principais danos biológicos são causados pelo frio e pela escuridão. Mas o senhor disse, em sua exposição, que os demais efeitos - em particular a precipitação radioativa, a destruição da camada de ozônio, etc. - também seriam, individualmente, catastróficos para o ambiente. Não é verdade?

PAUL EHRLICH: Em graus variáveis. Depende do efeito e do lugar, mas é verdade.

ROBERT EHRLICH: Creio que o Dr. Sagan mencionou que o efeito relativo à camada de ozônio é basicamente o mesmo referido no estudo de 1975 da Academia Nacional de Ciências, e que naquele estudo o efeito da destruição da camada de ozônio, ou da fração da mesma que se deduziu seria destruída, foi dado como significante mas certamente não catastrófico.

PAUL EHRLICH: Eu não vou argumentar com o senhor a respeito de palavras como significante e catastrófico. Mas não conheço nenhum ecologista que ache possível expor ecos sistemas naturais a um tal fluxo de UV-B e esperar que não ocorra toda uma série de graves alterações, muitas das quais ainda não somos capazes de prever.

Esse é um dos efeitos significantes que poderia ser, por si só, catastrófico.

DR. ED PASSERINI (Carrying Capacity, Washington, D.C.): O senhor deu a entender que um aspecto favorável era a possibilidade de que algumas árvores de folhas grandes sobrevivessem. Mas nem o senhor nem o Dr. Sagan, embora mencionando frio, escuridão e tempestades no mar, falaram muito de chuva. Ora, considerando os perfis de temperatura em função da altitude que temos diante de nós, e a quantidade de poeira que teremos, parece lógico que em pouco tempo haveria lavagem pela chuva. Isto é, que a evaporação dos mares produziria precipitações locais e grande parte das chuvas que normalmente se deslocam para terra não chegariam lá. Os senhores analisaram estes aspectos e qual a sua influência nos efeitos?

EHRLICH: Isso foi examinado e discutido. É certo que algumas árvores poderiam mudar as folhas e sobreviver por possuírem reservas, por exemplo. Mas provavelmente seriam castigadas pela seca. Provavelmente seriam afetadas pelo frio. Quando tentassem lançar novas folhas, é provável que estas fossem comidas. Não há garantia de que as árvores sobrevivessem muito tempo. Elas estariam lançando renovos frágeis e delicados num ambiente em que estariam presentes herbívoros inusitados. Pessoas ameaçadas de morrer de inanição lançariam mão de brotos tenros. Ratos e coelhos famintos buscariam alimentos que normalmente não consomem.

Além do mais, a vegetação que não morresse pelo frio, pela falta de luz e pela radiação enfrentaria uma atmosfera enfumaçada contendo muitos poluentes fitotóxicos, especialmente nocivos a folhas novas e frágeis. Não cabe muito conjeturar se a W-B desorientaria

tantos polinizadores que os ecos sistemas passariam a sofrer sérios distúrbios quando a maior parte das plantas tivesse sido eliminada pelo frio, e o restante pela escuridão e pelo smog. Restariam muito poucos animais e plantas para serem desorientados, cegados, privados de defesa imunológica, queimados, etc., pela UV- B.

INTERPELANTE NÃO IDENTIFICADO: O senhor arriscaria um palpite sobre quanto tempo seria necessário, admitindo-se que o homem sobrevivesse, para que se restaurasse uma civilização comparável, por exemplo, à de 5.000 anos atrás? E depois, possivelmente, uma comparável à de hoje? A minha impressão é de que isso levaria da ordem de centenas de milhares de anos, se é que viria a acontecer. Não umas poucas gerações,

No documento carlsaganeoutros-oinvernonuclear (páginas 108-130)

Documentos relacionados