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4 RESULTADOS

4.2 Conectividades pedagógicas – construindo novas redes nas aulas de Educação

4.2.1 Superando os limites

Uma das dificuldades encontradas durante as intervenções foi: a logística de uso ineficaz em relação aos horários que a escola tem disponível para as aulas de EF no ginásio poliesportivo municipal, localizado ao lado da escola. Essa má distribuição dos horários tem inviabilizado a realização das aulas no horário regular. Após muito solicitar à gestão escolar, conseguimos disponibilizar aos alunos uma aula no horário regular e outras duas, geminadas, no contra turno – entretanto, como a escola não tem espaço para vivências corporais, a aula realizada no horário regular ficou “limitada” ao trato dos conteúdos conceituais.

Nessa perspectiva, chamo a atenção para o limite posto a participação dos alunos que residem na zona rural do município pesquisado a uma aula de EF por semana, já que a prefeitura não disponibiliza transporte para esses alunos virem as aulas de EF no contraturno. Durante o tempo de realização da pesquisa, apenas em uma ocasião tais alunos tiveram a oportunidade de vivenciar corporalmente o conteúdo estudado, quando da realização da I Mostra de Educação Física. A escola dispõe de material limitado para as aulas de EF, tais como: bolas (uma bola de handebol e uma de futsal que é entregue anualmente a cada professor), cones, tatame de borracha, duas minicama elástica e alguns steps recondicionados de sobras de madeira que se encontra em péssimo estado.

Como é perceptível, a EF escolar ainda convive com diversas problemáticas relacionadas à falta de espaço físico (neste caso específico a ingerência quanto ao usufruto desse espaço de forma pedagógica) e a precariedade dos materiais, que dificulta demasiadamente o fazer docente no ensino da cultura de movimento. Outros estudos também demonstram essa realidade nefasta enfrentada pelos profissionais de EF Brasil afora (FREITAS, 2014; NOVAIS; AVILA, 2015; SANTOS et al., 2018), bem como o fato de que tais situações afetam a prática pedagógica dos professores (GASPARI et al., 2006).

Em relação a infraestrutura para a utilização das TDICs, a instituição de ensino conta com um pequeno laboratório de informática, que além de possuir um número insuficiente de computadores, segundo relatado pela direção da escola, nenhum dos equipamentos estavam funcionando. A escola conta ainda com um datashow, dois notebooks, duas caixas amplificadas, dois aparelhos de DVD e três TVS LED de 42” (uma fixa na parede do laboratório de informática e outras duas para uso dos professores

em sala de aula). No entanto, o professor que desejar fazer uso de qualquer um desses equipamentos tecnológicos necessita reservá-lo previamente.

A escola também dispunha de internet, contudo, além da conexão ineficiente (tanto em virtude da baixa velocidade contratada, quanto da quantidade insuficientes de pontos Wi-Fi), ela era limitada para a utilização apenas de aparelhos cadastrados através do Media Access Control (MAC), inviabilizando sua utilização para qualquer atividade pedagógica que necessita-se utilizar mais de um aparelho conectado à internet. As dificuldades em relação a implementação das TDICs no ensino da EF também foram relatadas nas pesquisas de Ferreira (2014) e Farias (2018), tais como: falta de infraestrutura adequada e manutenção do laboratório de informática.

Tais problemáticas apontadas dificultaram/dificultam a inserção das tecnologias enquanto ferramenta educativa no ambiente escolar (DINIZ, 2014; FARIAS, 2018). Assim, além de uma política de formação inicial e continuada voltada ao uso das TDICs no contexto educacional, é essencial que as escolas sejam aparelhadas de forma adequada, que haja equipamentos suficientes, bem como um projeto estruturado de manutenção, que mantenha essa estrutura tecnológica em condições de uso e acesso viável.

Na primeira semana (aulas 03/04), quando da realização da oficina tecnológica, após a exibição de um vídeo que tratou sobre a evolução das tecnologias na educação e do momento de diálogo com os alunos sobre as tecnologias digitais e seus diferentes usos no ambiente escolar e buscando incentivar a comunicação, produção e compartilhamento de conhecimentos na Era Digital, foi proposto que a turma formasse grupos e criassem uma matéria para ser publicada. Para tanto, cada grupo deveria escolher um tema a ser pesquisado.

Entretanto, como o acesso à internet era limitado e o laboratório de informática estava inutilizável, utilizou-se os dados móveis do celular do professor/pesquisador em modo roteador e dois notebooks, também de uso particular (os da escola não estavam funcionando por falta de manutenção). A dificuldade no acesso à internet no contexto escolar, assim como a solução proposta neste estudo, também foi evidenciada na pesquisa de Farias (2018), em que um chip de celular foi utilizado para rotear a internet. Apesar de momentaneamente sanar essas dificuldades estruturais, essa situação dificultou o andamento da atividade proposta, já que grande parte dos alunos ficavam dispersos esperando os outros integrantes do seu grupo terminar sua parte, para poderem

utilizar o notebook. Nesse sentido, sobre os impactos da falta de estrutura para a consolidação do processo de ATH, Farias (2018, p. 83) nos alerta para o fato de que:

[...] os professores, no seu cotidiano escolar, já têm inúmeras demandas e alguns ainda trabalham em duas ou três escolas. Nesse sentido, os estabelecimentos de ensino juntamente com os órgãos municipais necessitam estruturar minimamente a escola para que os docentes possam ter condições favoráveis para inserir de fato as tecnologias no contexto escolar.

Pensando em facilitar a realização da pesquisa e a compilação do conteúdo pesquisado, utilizou-se o instrumento tecnológico notebook. Contudo, podemos constatar a imperícia dos alunos em relação ao manuseio dos recursos presente nesse equipamento tecnológico que não se faz presente na maioria das casas dos alunos pesquisados (aproximadamente 84% dos alunos pesquisado não possuem um computador e 56% não possuem notebook).

Os alunos de ambas as turmas apresentaram dificuldades para realizar tarefas simples, tais como: copiar e colar parte de um texto; fazer download de uma imagem; localizar o arquivo que foi feito o download; assim como, não faziam a mínima ideia sobre como manusear o Microsoft Word (software para edição de texto). Representando a inacessibilidade a grande parte dos alunos de escolas públicas a equipamentos tecnológicos mais elaborados, chamo a atenção para a fala de um aluno:

Aluno 7A19 – “Professor, esses computadores são todos seus? O senhor é rico mesmo, viu!”

Apesar da imperícia dos alunos com esse equipamento tecnológico específico, por conseguirem textualizar (habilidade para identificar e conhecer os ícones e botões necessário para utilização das interfaces digitais), a atividade fluiu e os alunos ficaram bastante entusiasmados em descobrir coisas novas que eram de seus interesses. Cito como exemplo as gargalhadas de um dos grupos ao assistirem vídeos de dança embalados ao som do funk americano, e suas expressões de perplexidade em saber que o ritmo mais escutado por eles (funk brasileiro) foi derivado deste. Assim como as expressões de surpresa de outro grupo em descobrir que o primeiro celular criado pesava aproximadamente 1Kg e que seu criador ainda se encontrava vivo – o grupo conversava entre si: “imagina a pessoa andar com uma rapadura dessa no bolso, não tinha bolso que aguentasse.” (risos)

Quanto ao uso do aplicativo Kahoot para realizar a avaliação diagnóstica, que buscou saber o que os alunos compreendiam sobre a classificação dos esportes, tivemos algumas dificuldades em virtude de o acesso à internet ser bloqueada na escola – em relação ao quantitativo de dispositivos tecnológicos necessários para a realização da atividade proposta não tivemos problemas, pois os alunos fizeram uso dos seus celulares. Mesmo adotando alternativas pontuais para sanar as dificuldades estruturais postas, a execução da atividade teve alguns empecilhos em virtude da conexão limitada com a internet (dados móveis roteado para quatro celulares, por exemplo). As respostas demoravam a ser enviadas e computadas, chegando até a cair a conexão e o pareamento dos celulares com a “sala de respostas virtual” criada pela plataforma do aplicativo.

A partir do apoio dos responsáveis pelos alunos e da direção, a grande maioria dos alunos trouxeram os celulares para as aulas, principalmente para as aulas que foram realizadas no horário regular, sempre tínhamos disponível uma quantidade significativa de celulares. Já nas aulas realizadas no contraturno, constantemente nos deparávamos com um obstáculo: o número de aparelhos celulares insuficientes, que, possivelmente, foi determinado pelo medo de ser roubado (caso os alunos deixassem os aparelhos em algum local enquanto participavam das aulas) e/ou quebrar os celulares (caso os alunos ficassem com os aparelhos enquanto realizavam as atividades).

Outro fator limitante, também relacionado a infraestrutura inadequada, foi não poder realizar a vivência digital guiada do jogo eletrônico mais praticado pelos alunos na escola. Como outra possibilidade, foram realizados três campeonatos online anteriormente a cada vivência corporal das modalidades esportivas escolhidas pelos alunos (boliche, bocha e tiro esportivo). Entretanto, não obtivemos o engajamento esperado. Apesar de os alunos inicialmente aparentarem estar animados com a proposta, no primeiro campeonato (boliche), participaram apenas oito alunos do 7º ano “A” e nenhum aluno do 7º ano “B”; no segundo (bocha), participaram apenas seis alunos do 7º ano “A” e nenhum aluno do 7º ano “B”; e no terceiro (tiro esportivo), apenas um aluno do 7º ano “B” se fez presente (online), inviabilizando a realização do campeonato.

Acreditamos, já que os alunos acessam vários JEs quase que diariamente, que o não engajamento dos alunos com a proposta acima elencada, possivelmente foi ocasionado pelo fato desses alunos não conseguirem enxergar as tecnologias digitais como parte do processo educacional, apenas enquanto meio de diversão e interação social.

Por fim, quando os alunos foram instigados a pensar sobre os benefícios de uma educação que dialoga com as tecnologias, que considera os conhecimentos prévios dos alunos e sua relação com esse universo digital, os alunos relaram alguns fatos do cotidiano escolar, que, segundo eles, dificultam a inclusão desses recursos na rotina da escola, cito:

Aluno 7A17(ZR) – “O professor [...] só fica lendo o livro em sala de aula, coisa que a gente encontra no YouTube bem mais explicado.” Aluno 7A03 – “A escola nem internet tem, professor. E a sala de informática só vive fechada, ninguém pode utilizar.”

Aluno 7A27(APP) – “A maioria dos professores não curtem nossas coisas. Eles são de outra época, não entendem.”

Aluno 7B13(APP) – “Aqui na escola não pode nem pegar no celular durante as aulas que os professores colocam logo para fora.”

Aluno 7B10 – “A gente só usa a internet para acessar as redes sociais mesmo, e só às vezes, para pesquisar os trabalhos da escola.”

Aluno 7B04(ZR) – “Os professores não sabem nem utilizar um celular, ficam perguntando as coisas a gente.”

Como podemos perceber, a pesquisa pontuou algumas limitações que acreditamos fazer parte da realidade vivenciada pela maioria das instituições públicas brasileiras. Entretanto, consciente do contraponto posto por Farias (2018, p. 83) em relação às problemáticas do cotidiano escolar e as inúmeras demandas dos professores que atuam na educação básica, assinalamos ser possível adotar estratégias para controlar suas disfunções e adaptar suas funções para colaborar com o processo de ATH no contexto educacional.

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