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CAPÍTULO II – REFERENCIAL TEÓRICO

2.5 DIMENSÃO: Economia

2.5.2 Sustentabilidade econômica do SUS

À medida que os gastos farmacêuticos continuam a subir e novos tratamentos caros chegam ao mercado, os formuladores de políticas precisam cada vez mais considerar os impactos nos sistemas de saúde e o custo dos cuidados, ao decidirem se financiam ou não novos tratamentos com fundos públicos (WHO, 2015a).

Perguntas sobre o ônus da doença, os tratamentos atualmente disponíveis e a avaliação da necessidade são críticos para os tomadores de decisão. O investimento dos fabricantes de produtos farmacêuticos em pesquisa e desenvolvimento de doenças não transmissíveis (DNTs) é consistente com o fato de que agora as DNT são coletivamente a principal causa de morte na Europa e no mundo; estas são frequentemente doenças crônicas que requerem tratamentos ao longo da vida. Outras necessidades de medicamentos prioritários, no entanto, não estão sendo atendidas. Por exemplo, a pesquisa e o desenvolvimento de novos antibióticos relacionados à necessidade de combater a resistência antimicrobiana são essenciais, mas a menor participação no mercado e a falta comparativa de retorno econômico tornam pouco atraente para as empresas investirem seus esforços de pesquisa nessa direção. Nesse sentido, o setor privado tem uma voz considerável sobre a agenda de pesquisa e quais produtos são levados ao mercado. O aumento contínuo de novos medicamentos de alto preço, um número crescente dos quais pode oferecer apenas avanços marginais em relação às terapias existentes (especialmente na área de doenças crônicas), é em parte resultado disso. Para os formuladores de políticas, portanto, é necessária uma orientação aprimorada sobre os esforços de pesquisa de produtos médicos para garantir que outras áreas prioritárias sejam

abordadas e para melhor atender às tendências do ônus da doença (WHO, 2015b).

Para esse fim, a OMS produziu um relatório sobre medicamentos prioritários para a Europa e o mundo em 2013, encomendado pelo governo dos Países Baixos. Uma lista prioritária de 24 doenças, grupos de doenças e fatores de risco foi desenvolvida. Isso inclui uma lista preliminar baseada no ônus da doença e da mortalidade (KAPLAN et al., 2013):

- doença cardíaca isquêmica, diabetes, câncer, acidente vascular cerebral, HIV / AIDS, tuberculose, malária, doença de Alzheimer e outras demências, osteoartrite, doença pulmonar obstrutiva crônica, distúrbios do uso de álcool (doenças hepáticas alcoólicas e dependência de álcool), perda auditiva, depressão, diarréia doenças, infecções respiratórias inferiores, condições neonatais e lombalgia;

- uma lista preliminar baseada em projeções: o resistência antimicrobiana, influenza pandêmica;

- uma lista preliminar baseada na solidariedade social: o doenças raras, hemorragia pós-parto e mortalidade materna, doenças tropicais negligenciadas;

- uma lista preliminar baseada em fatores de risco: o tabagismo, obesidade. Com isso, objetiva-se solucionar as seguintes lacunas de tratamento:

Gap 1: existem tratamentos, mas logo se tornarão ineficazes. Novos tratamentos são

necessários para tratar, por exemplo, o aumento da resistência a antibióticos; novos tipos de vacina são necessários para lidar com futuras pandemias.

Gap 2: existem tratamentos, mas o mecanismo ou formulação de administração farmacêutica

não é apropriado para a população-alvo. Novos tratamentos são necessários para lidar com doenças isquêmicas do coração, HIV / AIDS, câncer, depressão, diabetes, pneumonia, doenças diarréicas e doenças e condições neonatais, malária, tuberculose, doenças tropicais negligenciadas e hemorragia pós-parto e mortalidade materna.

Gap 3: os tratamentos não existem ou não são suficientemente eficazes. Novos tratamentos

são necessários para derrame agudo, osteoartrite, doença de Alzheimer e outras demências, doença pulmonar obstrutiva crônica, perda auditiva, lombalgia e doenças raras (incluindo órfãs).

Gap 4: existem fatores de risco globais com tratamento farmacêutico inexistente ou

insuficiente. Isso inclui a cessação do uso de tabaco, a obesidade e doenças relacionadas ao álcool (incluindo cirrose hepática).

A inovação farmacêutica é vista como uma das abordagens críticas para solucionar essas lacunas. Entretanto, há a necessidade de superar algumas barreiras gerais à inovação - como um alto grau de pesquisa do setor privado - para estimular ainda mais o desenvolvimento de novos medicamentos nessas áreas. Isso inclui a possibilidade de financiamento público da pesquisa de novos produtos altamente inovadores que oferecem ganhos significativos em saúde e, portanto, têm um preço mais alto em áreas prioritárias identificadas pelas autoridades de saúde. Ao mesmo tempo, os países precisam antecipar e se preparar para o lançamento de - potencialmente muitos - novos medicamentos com preço premium e considerar opções políticas disponíveis para incluí-las nos orçamentos de saúde pública (DICKSON; GAGNON, 2009).

Não somente no Brasil este equilíbrio de gastos públicos é preocupante. Por exemplo, na União Européia (UE), a Innovative Medicines Initiative (IMI), “a maior iniciativa público- privada da Europa que visa acelerar o desenvolvimento de medicamentos melhores e mais seguros para os pacientes”, visa fomentar a inovação promovendo a colaboração entre indústria, pesquisa acadêmica, hospitais, autoridades reguladoras e pacientes selecionados organizações. A IMI é uma parceria entre a UE e a indústria farmacêutica européia, representada pela Federação Européia de Indústrias e Associações Farmacêuticas (EFPIA), que atua em nome da indústria de pesquisa. Melhorar o planejamento das autoridades de saúde para gerenciar melhor a entrada de novos medicamentos, juntamente com a análise de maneiras de liberar recursos dos medicamentos existentes sem comprometer os cuidados, é um método potencial para resolver esse problema. É também um desafio, dadas as ineficiências resultantes de restrições de recursos, associadas à falta de uso adequado de medicamentos (GOLDMAN, 2012).

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2.5.2.1 Gastos farmacêuticos no contexto de novos medicamentos

O gasto farmacêutico aumentou rapidamente nos últimos anos e as crises financeira e econômica levaram muitos países a fazer cortes nos orçamentos de assistência médica, incluindo cortes de preços dos produtos farmacêuticos, como foi a resposta de muitos países

europeus. Em alguns países, no entanto, os gastos com produtos farmacêuticos também foram reduzidos, embora de maneira proativa, para trazer eficiência ao setor, incluindo várias estratégias de contenção de custos; seleção mais cuidadosa de medicamentos, incluindo maior uso de genéricos; gerenciamento mais eficaz de compras e cadeia de suprimentos; e medidas para gerenciar melhor o uso de medicamentos (FIGUEIREDO et al., 2018).(17; 22–24). Embora 6,6% dos gastos totais com saúde no Brasil sejam com medicamentos, dados de anos anteriores mostram que o gasto do SUS com medicamentos passou de R$ 14,3 bilhões em 2010 para quase R$ 20 bilhões em 2015 (crescimento de 40%), caindo para R$ 18,6 bilhões em 2016 (-7% nos últimos dois anos) como provável consequência da crise econômica sobre a capacidade de gasto dos entes subnacionais e do maior protagonismo do Ministério da Saúde na aquisição de medicamentos e no financiamento da oferta de produtos farmacêuticos por meio do programa Farmácia Popular do Brasil. Entre 2010 e 2016, essas despesas do SUS registraram crescimento de 30%. Além disso, outro importante aumento do gasto pode estar relacionado à incorporação de novos medicamentos e pela judicialização da saúde (VIEIRA, 2018; VALOR, 2019)